segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O Paradigma Científico e o Criacionismo

Num dos meus grupos de WhatsApp que possui muitos membros acadêmicos de universidades, se postou várias vezes o link para esta nota sobre a indignação do NAP EDEVO-Darwin (Núcleo de Apoio à Pesquisa em Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução “Charles Darwin”) da USP a respeito da introdução do Criacionismo nos estudos científicos do Brasil a partir deste governo repleto de fiascos, pelo novo Presidente da CAPES, ex-reitor do Mackenzie, que defende Criacionismo em contraponto à teoria da evolução. Ora, o próprio nome da instituição já demonstra sua intransigência, alí é só Darwin e pronto.

http://bit.ly/NotaOficialEDEVO_USP

Este documento mostra a ferrenha adesão e adoção do Paradigma Científico reducionista e mecanicista quanto ao método de admissão de resultados científicos como provas evidentes em contradição com qualquer outro método que possa desafiá-lo, como se este fosse a verdade absoluta do universo, e danem-se os religiosos, os quais estão a fim de vingança. O Criacionismo vai de encontro a este método por ser uma hipótese ainda em estudo e que leva em consideração o que há de mais moderno que tem sido observado e considerado no âmbito das observações "científicas" em busca do cohhecimento humano sem restrições nem limites processuais. O livre arbítrio do conhecimento.

A pesquisadora Dra Denise Padilha tem uma visão adiante sobre o Paradigma Científico aplicado a todo o estudo científico no mundo hoje em dia e defendeu um trabalho chamado A Cura Homeopática e a Racionalidade Médica, o qual questiona esta visão em contrapartida com a nova visão holística que tende a governar os estudos no futuro próximo, em outras palavras, uma revolução no campo do conhecimento, se os poderosos permitirem. A homeopatia, por exemplo, não se enquadra nos parâmetros que regem o estudo científico atual dos poderosos, mas a homeopatia funciona, então como explicá-la a fim dela ser aceita pela comunidade científica médica nacional e internacional? Como vencer esta barreira dos arrogantes determinadores da verdade científica acima de tudo? Ora, a verdade científica é a imposição dos pragmáticos hereges ou ateus que desafiam aqueles que acreditam em "algo mais" além dos nossos sentidos cartesianos e lógicos, algo que ainda não se explica, mas que todos em geral "sentem" mas não podem provar senão em forma de escolha de crença ou não.

Ora, "sentir" é coisa espiritual, queira você ou não.

Mas todo início de teoria é assim, começa-se a desconfiar e, através da "crença" de que se está certo, se conduz estudos que finalmente acabam por provarem que sua desconfiança é real. E pode também não provar do jeito que se pensava, mas de outro jeito, através de outro parâmetro, outro paradigma, através da liberdade de pensamento, da "doidice".

Isso significa que, a meu ver, a possibilidade do Criacionismo ser considerado é viável para ser introduzido no estudo universitário nacional não é assim uma elocubração tão absurda quando considerada "evangélica", ele vai muito mais além do que isso, e tem uma história por trás, se bem que boicotada, escondida, trancafiada, queimada, sabotada durante a evolução humana na Terra, porém repleta de indícios que deixam os pensadores mais curiosos no mínimo inseguros, curiosos e embatucados, quando não alucinam de vez, se matam ou são "matados".

Não quis postar minhas ideias no WhatsApp por serem muito abrangentes e por demais bizarras para os não-iniciados, mas como meu blog é livre e posso fazer tudo o que quiser até o momento em que o Google permita, publiquei minha resposta aqui. Então lá vai, a começar pelo embasamento da Dra Padilha.

A CURA HOMEOPÁTICA E A RACIONALIDADE MÉDICA *

Descritores:

  • Paradigmas
  • Modêlo Mecanicista
  • Modêlo Quântico
  • Modêlo Hahnemanniano
  • O Observador
Estamos diante de um tema de considerável complexidade, visto que é possível ser abordado sob diferentes aspectos diante deste abrangente fenômeno relacionado com a cura homeopática e a forma com que a medicina científica racional aborda o conhecimento do organismo vivo, dentro do binômio saúde - doença, enfermidade - enfermo, em contraposição à medicina homeopática.

Neste sentido, escolhi o enfoque que aprecio ser a origem de toda a incompatibilidade na compreensão, para as mentes formadas dentro da racionalidade médico científica, do modelo homeopático de cura, como também dos princípios de sua abordagem terapêutica.

Relacionamento do Ser com o Conhecimento

Chegamos a um determinado estágio de desenvolvimento do conhecimento humano, que as mentes que estão na vanguarda das pesquisas em diversas áreas de busca do saber, da verdade sobre os mistérios da natureza, ainda por desvendar, começaram a questionar, no mundo da ciência ocidental, encabeçado pelos pesquisadores do campo da física quântica, e, por outro lado, as pesquisas desenvolvidas pelo físico e historiador da ciência, Thomas Kunh, sobre a questão fundamental de como o ser pensante se relaciona com o conhecimento, considerando este tríplice aspecto: o observador, o processo do conhecimento, e o objeto observado.

Sócrates e a Contaminação do Raciocínio Humano

Dentro deste enfoque não podemos deixar de lembrar o primeiro filósofo ocidental que considerou esta questão tão essencialmente fundamental. Foi no século IV a. C. que surgiu Sócrates, e o principal aspecto da sua filosofia que interessa ao nosso raciocínio é o deslocamento que ele faz da reflexão sobre a natureza para a reflexão sobre o homem: Como poderemos conhecer as coisas, dizia ele, se não conhecemos sequer a nós mesmos? A filosofia de Sócrates leva à investigação do humano, do subjetivo e sua relação com o conhecimento.

A Falha do Paradigma na Ciência de Thomas Kuhn

A epistemologia, que significa o estudo do processo através do qual o ser humano busca o conhecimento, teve uma considerável evolução neste século, principalmente pelo estudo e pesquisa realizado por Thomas Kuhn, condensado no livro "A Estrutura das Revoluções Científicas."

Este introduziu pela primeira vez o uso sistemático e consciente do termo Paradigma em ciência, que significa em grego, exemplo, ou melhor ainda, modelo ou padrão. Este estudo permitiu a conscientização de que a chamada Verdade Científica que, incontestável até os tempos de hoje principalmente nas universidades como única verdade aceita pelas mentes racionais, está condicionada a um modelo, através do qual o pesquisador acessa determinados aspectos da natureza com a qual ele se relaciona, em busca do saber, que confirmam este modelo de visão criado pela mente humana, a respeito do que é realidade, deixando de fora os dados que lhe são incompatíveis, permitindo assim a operacionalização dos dados da realidade que são acessados dentro dos limites e possibilidades deste modelo de percepção respaldado em uma determinada teoria.

A Falha do Filtro do Método de Estudo

Considero importante ser redundante ao reafirmar que, o cientista, o buscador da verdade, ao utilizar uma teoria e uma metodologia para investigar determinados fenômenos da natureza, esta mesma teoria e metodologia filtra os dados da realidade que são compatíveis com o modelo criado pelo investigador, dentro das limitações e das possibilidades da metodologia que foi utilizada.

O Que É Paradigma?

Os dados que são incompatíveis com estes exemplos de prática científica atual, exemplos que incluem lei, teoria, aplicação e instrumentação, são simplesmente ignorados, não são sequer percebidos. Segundo Thomas Kuhn, um paradigma pode ser definido como uma constelação de crenças, valores e técnicas compartilhadas pelos membros de uma determinada comunidade científica, resolvendo somente problemas que podem ser verificados e confirmados por um determinado sistema de pensamento.

Dentro desta abordagem, lembramos que o método sistematizado pelo chamado racionalismo científico, assimilado nas Universidades como única forma de adquirir o conhecimento verdadeiro, foi desenvolvido a partir de um sistema de pensamento elaborado pelo filósofo francês Renê Descartes e pelo físico inglês Isaac Newton, no século XVII.

A Falha do Conceito Só É Verdadeiro o que For Evidente (Descartes)

Estes sequencialmente construíram a concepção mecanicista que conceitualmente considerou o universo como uma gigantesca máquina, semelhante a mecânica de um relógio governado por leis imutáveis e determinísticas. Para cada efeito uma determinada causa.

Quanto à metodologia descrita por Descartes, no seu "Discurso do Método", tem como base, em seus princípios fundamentais, os preceitos da evidência (deve-se considerar como verdadeiro somente o que for evidente), da análise (deve-se dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quantas forem necessárias para serem resolvidas), da síntese (deve-se começar dos objetos mais simples aos mais complexos) e da enumeração (deve-se realizar enumerações de modo a verificar que nada foi esquecido), este método e este modelo mecanicista de visão da realidade foi responsável pelo grande avanço da ciência e da tecnologia no campo no qual os aspectos da natureza comportam-se de uma forma compatível com este padrão de visão e que podem ser verificados e operacionalizados dentro desta metodologia descrita.

Dentro desta percepção também adotada pelas ciências biológicas, o organismo vivo foi considerado como uma máquina que, para ser melhor conhecida, era necessário ser fragmentada em partes separadas, e o observador, o pesquisador, nestes 200 anos de ciência racional avançou no conhecimento do ser vivo até o limite em que vem sendo considerado as últimas possibilidades deste método: no conhecimento da natureza química dos genes, nas unidades básicas da hereditariedade e na revelação do código genético.

Biologia Molecular

Este conhecimento adquirido dentro do considerado reducionismo científico, que fragmenta o organismo em partes, e, através da análise das partes age sobre o todo quando é possível, permitiu o desenvolvimento de uma nova especialidade, a biologia molecular.

O Ponto de Mutação

No sentido geral, esta expressão refere-se ao estudo de qualquer fenômeno biológico em termos de estruturas moleculares e interações nelas envolvidas. Então, explicar o funcionamento destas máquinas completamente em termos de seus constituintes básicos, tornou-se a essência da abordagem científica, o que levou à distorção considerável no campo da pesquisa dentro das ciências humanas, segundo a compreensão de Fritjof Capra, Ph.D em Física. Este se refere no livro de sua autoria, "O Ponto de Mutação", que as limitações deste modelo revelam-se claramente no fato pelo qual os biólogos de hoje, apesar de conhecerem a estrutura precisa de uma série de genes, sabem muito pouco dos processos pelos quais os genes se comunicam e cooperam no desenvolvimento de um organismo, como eles interagem, como se agrupam, quando são ligados e desligados, e em que ordem.

A abordagem reducionista impede a observação e pesquisa destes processos integrativos.

Estrutura Reducionista versos Modelo Holístico

Outra área em que as limitações da abordagem reducionista são muito evidentes, segundo este pesquisador, é a da neurobiologia. O sistema nervoso superior é um sistema holístico por excelência, cujas atividades integrativas não podem ser entendidas se reduzidas a mecanismos moleculares. Os neurocientistas podem ser, portanto, os primeiros a propor modelos holísticos do funcionamento cerebral para explicar fenômenos tais como a percepção, a memória e a dor, as quais não podem ser compreendidas no âmbito da atual estrutura reducionista."

Física Quântica versus Mecânica Newtoniana

Numa outra visão, chegamos a um aspecto comum entre as ciências física e biológica. O organismo vivo é constituído, em última instância, de átomos que estruturam as moléculas e modelam as células. É de conhecimento comum hoje em dia, para aqueles que estão na vanguarda da busca do saber, que a física quântica, a física que estuda o comportamento das partículas subatômicas, há muito transcendeu o modelo mecanicista do universo como única expressão da realidade, como também a metodologia da ciência racional como forma de compreender todos os fenômenos.

No entanto foi o paradigma newtoniano cartesiano que permitiu desenvolver a tecnologia que possibilitou o acesso ao mundo do microcosmo, o mundo das partículas subatômicas, que surpreendeu durante muitos anos aos físicos. A visão do átomo, não como partículas sólidas, mas sim constituídos de imensos espaços vazios onde turbilhonam diminutas partículas de matéria; elétrons, prótons e muitos outros que não se comportam de acordo com as leis da mecânica newtoniana.

A Distorção do Observador

A observação de que as partículas subatômicas tenham um comportamento dual, dependendo da experimentação que façam sobre elas, às vezes comportando-se como partículas, às vezes como ondas (vibração), levaram os cientistas à conclusão de que elas reagem de acordo com a abordagem do experimentador, revelando assim que não é possível separar o observador do objeto observado.

O observador, isto é, a consciência humana, condiciona o comportamento da coisa observada.

Gostaria de repetir esta fundamental descoberta: "o observador, a consciência humana, dependendo do experimento utilizado, condiciona o comportamento da partícula observada."

Processo Cósmico

Fritjof Capra relata que, "como resultado de décadas de reflexão sobre estes experimentos, a física moderna transcendeu a imagem do Universo como uma máquina para uma visão dele como um todo dinâmico e indivisível, cujas partes estão essencialmente interrelacionadas e só podem ser entendidos como modelo de um processo cósmico."

E aqui nós questionamos: o organismo vivo, também constituído em última instância de átomos, pode ser considerado independente deste modelo?

Força Vital e Natureza Dinâmica de Hahnemann

Quando comparamos este novo paradigma de percepção da natureza, da realidade da física quântica, com os escritos de Sammuel Hahnemann, registrado no livro de sua autoria "O Organon da arte de curar", elaborado no século XVIII, sobre sua concepção a respeito da natureza dinâmica do ser vivo que, a exemplo disto, citamos um trecho do parágrafo 09: "No estado de saúde, a força vital (autocrática) que dinamicamente anima o corpo material (organismo), governa com poder ilimitado e conserva todas as partes do organismo em admirável atividade harmônica, tanto com respeito às sensações como às funções...", a abordagem de Hahnemann sobre a natureza dinâmica e imaterial dos medicamentos preparados segundo o método homeopático, a visão do todo psicossomático em interação dinâmica com o meio ambiente, etc., observamos que Hahnemann antecipou em mais de um século este modelo de visão de realidade não manifesta da física quântica referindo-se à natureza dinâmica de tudo que existe.

A Cura Homeopática e a Visão Holística

Observamos que a cura homeopática no plano dinâmico, preconizada por Hahnemann, é perfeitamente compatível com o novo paradigma da física moderna, ainda não assimilado nos pontos que possui em comum com as ciências biológicas.

Este é um novo campo de visão ainda em processo de confirmação de novas teorias, nas quais não é possível deixar fora da investigação do conhecimento o estudo de como a consciência humana funciona no processo de aquisição do saber.

A Proposta da Mudança de Paradigma no Estudo da Medicina

Neste ponto lanço o seguinte questionamento: Até que ponto os investimentos dos pesquisadores em medicina homeopática, em suas tentativas de comprovar os princípios básicos que regem a terapêutica homeopática, dentro do modelo de pesquisa e visão fragmentada do organismo vivo da ciência médica clássica, objetivando sua aceitação dentro das Universidades, levará também à visão fragmentada do fenômeno de cura homeopática, perdendo-se a percepção dinâmica da totalidade do ser vivo no seu processo de adoecer e curar, aspecto este que vem sendo observado como a maior limitação do modelo de abordagem da ciência médica atual?

Considerando que estamos investigando conceitos que merecem estudos mais aprofundados dos seus diferentes aspectos aqui apenas referidos, nosso objetivo seria o de despertar atenção, e a reflexão a respeito. Poderíamos ficar satisfeitos em não chegar a conclusões, mas sim a questionamentos, porque o exercício da dúvida foi a grande verdade que o pensamento cartesiano nos legou como pedra fundamental para a investigação científica.

Resumo e Avatar®

Após quatro anos de pesquisas teóricas, não sistematizadas, relacionadas ao processo evolutivo histórico do pensamento científico e suas realizações objetivas, enriquecidas por trabalhos experienciais com a tecnologia Avatar® (Crença/Experiência), a autora propõe, para o ensino e pesquisa em Homeopatia, um enfoque epistemológico objetivando tornar consciente o processo do conhecer, que intermedia a relação entre o conhecedor e o objeto observado, considerando as interações existentes dentro deste tríplice aspecto como uma possível e esclarecedora solução para a antiga e vigente divergência entre as abordagens da ciência médica racional, a Homeopatia, e, em última instância, os diferentes modelos de visão homeopática.

A fonte motivadora deste trabalho, foi originada, a princípio, pelo estímulo decorrente de debates sobre pesquisa científica, realizados na Sociedade de Homeopatia de Pernambuco, na gestão 1994-1995.

Dra. Denise Padilha **

¬ Tema apresentado à mesa redonda - A Cura Homeopática e a Racionalidade Médica, IV Jornada de Homeopatia do NE (Recife, 16 a 18 de abril de 1999, Pernambuco, Brasil). 

¬¬Médica homeopata, docente do Curso de Especialização em Homeopatia da Sociedade de Homeopatia de Pernambuco, Brasil.

Bibliografia e Referência a Trabalho Experiencial

  1. KUHN, Thomas, A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 1987.
  2. CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação: a Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente. São Paulo: Cultrix, 1986. 445p.
  3. DESCARTES, Renê, 1596-1650. Vida e Obra. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 324p.
  4. NEWTON, Isaac, Sir, 1642-1727. Newton e Leibniz, Vida e Obra. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 236p.
  5. BACON, Francis, 1561-1626. Vida e Obra. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 272p.
  6. HAHNEMAMN, Samuel. Organon de la Medicina (Sexta edição), Trad. Espanhola. Buenos Aires: Ed. Albatroz, 1986 § 09
  7. ______________ § 11 (nota 7)
  8. DEMARQUE, Denis. Homeopatia. Medicina de Base Experimental R.J.: Gráfica Olímpica, 1973. 425p.
  9. EINSTEIN, Albert. Por Ele Mesmo. São Paulo: Martin Claret Editores Ltda. (org.) 1992. 175p.
  10. PALMER, Harry. Vivendo Deliberadamente: A Descoberta e o Desenvolvimento do Avatar®. São Paulo: Gente, 1995. 127p.
  11. BRANDÃO, Denis M.S, CREMA, Roberto (org.). O Novo Paradigma Holístico: Ciência, Filosofia, Arte e Mística. São Paulo: Sumus, 1991. 160p.
  12. BRANDÃO, Zaia (org.) A Crise dos Paradigmas e a Educação, 3 ed. São Paulo: Cortez, 1996.
  13. GROF, Stanislav. Além do Cérebro. São Paulo: Mcgraw-Hill, 1987.
  14. PADILHA, Denise, Experiência com os Materiais Avatar®: Tecnologia para o Desenvolvimento do Potencial Humano e o Despertar da Consciência. Star's Edge International. Orlando, Flórida, USA. Dezembro 1996.

Considerações do Blogueiro Alucinado

O problema deste governo brasileiro atual é que sua equipe não é muito consistente intelectualmente, mas tem acesso a um conhecimento ultra-avançado em todas as áreas, então ao tentar ser percebida como avançada também, ela peca por tentar implementar um conhecimento que está à frente das instituições mas que ainda está em gestação, análise, pesquisas científicas super-avançadas que ainda não têm consistência para virem a público pela fragilidade das evidências e provas, estando apenas em processo de investigação e o que é pior, vai de encontro ao paradigma científico, o único aceito pelas sumidades que se julgam as donas absolutas da aprovação do conhecimento humano hoje em dia. 

Em outras palavras, é um conhecimento que, de tão avançado, para a maioria se configura como teoria conspiratória, tal como aconteceu com todos os cientistas do mundo antes deles conseguirem provar e terem suas provas aceitas sobre suas teorias pela sociedade, muitas vezes muitos anos depois deles mortos. Considerar como teoria conspiratória significa desprezar, não levar a sério, zombar e nem sequer se dar ao trabalho de levar em consideração, ou seja, uma atitude preconceituosa e discriminatória.

Por exemplo, a física quântica atual já provou a existência de mundos paralelos matematicamente. Este seria o "mundo espiritual", ou seja, o que os religiosos sempre acreditaram que existe, grosseiramente falando, céu, inferno, estas coisas, através da "fé", ou de suas capacidades "extra-sensoriais", assim como algo que você suspeita porque "sente" mas não pode provar, então apenas "acredita" em si mesmo, tem "fé" em que aquilo que você sente é uma realidade e existe. O interessante é que, muitas vezes, a "fé" nasce diante de uma evidência, algo que funcionou, mas que ninguém sabe explicar racionalmente, dentro do Paradigma Científico atual, algo que extrapola o atual conhecimento humano. O sujeito fala assim, "me poupe, mas isso existe sim, me perdoe".

Exemplo, você sente quando um filho está atravessando um problema, mesmo que ele negue, você não pode provar, mas continua acreditando em você mesmo, tendo "fé" nas suas suspeitas de que ele está com um problema, e no fim acaba que ele está com um problema mesmo, e você diz, "tá vendo? eu sabia". O homem tem mais percepção do que aquelas de seus únicos 5 sentidos físicos, ele tem "extra-percepção", mas não desenvolveu. E porque será que não desenvolveu? Aí é onde mora o bizarro deste meu texto.

Isso significa que a ciência está se aproximando de provar a religião, a fé, as crendices, em outras palavras, a "intuição espiritual" dos seres humanos sensíveis de todas as eras que captam mais do que os simples obervadores cartesianos que só usam o lado lógico do cérebro, estão tendo suas "crendices" comprovadas pela ciência. Eles usam o lado direito (para os destros) que é a fonte da criatividade, imaginação e do extra-sensorial, e aí entra uma conspiração tão grande, mas tão grande, que eu sugiro a vocês pararem de ler aqui, agora mesmo. 

Parou Tudo

Para quem se atreveu a continuar, trata-se do sistema de ensino desde que foi criado e universalizado de uma forma que o ser humano jamais viesse a desenvolver seu lado direito do cérebro, ou seja, suas capacidades extra-sensoriais, porque aí se tornariam poderosos demais. A estratégia é conhecida como "paradigma científico". Ou seja, o tal Paradigma Científico foi imposto como grilhões, cadeia, grades, para ninguém ser permitido passar adiante dele, fugir da raia, da imposição das autoridades. Não se atreva...

É muito, né? Pois é, procurem as raízes da educação no mundo e vão cair do cavalo, queridos professores. Mas não procurem apenas na história oficial das bibliotecas públicas, procure nos alfarrábios alternativos. Só uma dica, passa pela dicotomia entre Platão e Aristóteles. Aristóteles é o lógico, Platão sonhava. Para Platão, o mundo dividia-se na utopia e na realidade, a alma perfeita e o ser humano em busca de tal perfeição. Para Aristóteles, ele só acreditava no que podia ver e entender logicamente, transformando em palavras encadeadas. Aristóteles foi eleito e Platão levou os tomates. A lógica domina nossas palavras, o jeito como nos comunicamos, a espiritualidade domina o nosso interior, o intangível, que não pode ser provado logicamente porque relaciona-se a sonho, criatividade, fantasia, emoção. Eita rolo, mas vamos que vamos.

Só para piorar, vocês sabem porque as universidades têm campus? Porque assim os estudantes têm dificuldades de se aglomerarem em manifestações de revolta sem serem vistos. Estudantes sempre foram muito revolucionários porque "aprendem". Procurem onde e quando os campus foram inventados. Existe ou não uma grande conspiração contra os seres humanos se tornarem inteligentes?

Diz-se que Jesus Cristo ensinava por parábolas. Parábolas são exemplos, e este é o jeito árabe de se aprender, o jeito persa, o jeito da civilização que foi massacrada por gregos e troiano, os inventores da Matemática. Os exemplos formam cadeias de conhecimento no cérebro que gravam as imagens mesmo que sejam produtos de fantasias e estas imagens permanecem ao contrário do conhecimento teórico sem exemplos práticos. Tal conhecimento teórico emburrece.

A civilização de Atlântida era mais espiritualizada e foi destruída, sobrevivendo nossa civilização mais embotada e burra. Da Atlântida não sobrou nem a história, exceto nas culturas indígenas da polinésia que passam conhecimento de pai para filho, assim como nossos índios. Se as universidades no mundo tivessem nutrido os estudos do nosso lado "B", hoje o homem se comunicaria por telepatia e se desmaterializaria aqui e se materializaria do outro lado do planeta, tudo de graça. Hoje o homem voava e reconstituia seus membros quando danificados, pela força da mente... e tudo de graça. O homem da plebe seria muito poderoso. E a mulher também.

Para evitar a ascensão das plebes, inventou-se o jeito como a educação seria manipulada para formar apenas escravos incapacitados de pensar fora da "lógica", fora do Paradigma Científico. Deu-se liberdade e conhecimento, porém nem tanto e com restrições, seu safado, pensa que é assim, de graça? Mas a comunicação espiritual não se dá através da lógica, ela vai direto de mente para mente através de imagens. Quer um exemplo de representação? Asissta ao filme Minority Report e tente entender o raciocínio dos "precogs". Um olhar diz muito mais do que mil palavras, uma imagem (retida no subconsciente) tem muito mais poder do que compêndios de bibliotecas escritas com palavras ordenadas. Mas se nada disso é valorizado ou desenvolvido, ninguém acredita na sua eficácia e ainda dá risadas.

Bem, os "políticos modernos" bolsonaristas não têm limites, então se acham no direito de se avançarem mais do que os outros. Só não consegui explicar ainda foi a teoria da terra plana, mas vamos lá, haverei de achar uma "lógica". Então eles querem implantar a dúvida, a possibilidade dos seres humanos terem sido mesmo "manipulados" geneticamente por seres mais avançados, o que seria o Deus deles. Tudo isso se mistura num balaio de gatos dentro das religiões e no meio dos teóricos das conspirações que aumentaram muito mais em número nos últimos anos com o poder da informação. Eles agora querem se apossar das teorias conspiratórias antes que elas atinjam as massas, e logicamente as distorcendo para os seus benefícios.

Por isso, não tenho surpresa nenhuma que este debate chegue agora ao grande público desinformado, e aqui estão incluídos os milhões de cientistas que estudaram nas mesmas faculdades sob os mesmos preceitos impostos como regras e normas do pensamento, o mesmo Paradigma Científico, sob a mesma intransigência dos arrogantes condecorados. 

Platão foi difamado, obviamente, e hoje ele significa "conhecimento inútil" de alguém que contempla mas não age nem prova, só sonha. Esta foi a verdade imposta que se sobressaiu na manipulação da verdade, dos povos, das pessoas comuns, no meio de uma evolução que ninguém pode negar, cuja limitação a Dra Denise Padilha explica, mas que seria muito maior e mais rápida se não tivesse sido manipulada desse jeito. De modo que manipulação de educação, ciência, cultura, costumes, moral não é nada novo, a perversidade vem de longe, de geração em geração, se você "pertence" ou não, e se você se enquadra ou não, depende o seu conhecimento dessa tal manipulação ou não, você tornar-se manipulador ou permanecer na ignorância, mesmo sendo premiado ou por isso mesmo.

Você É uma Evolução de Macaco

Este é um assunto que sempre me intrigou, o fato de sermos "apenas" evolução de macacos ou que a vida surgiu do nada, algo que nunca me convenceu, sou mais pra acreditar que realmente a raça humana foi um cruzamento de "macacos" com "seres mais avançados de outros planetas", uma espécie de "experiência" como hoje fazemos com os alimentos geneticamente engenheirados, e que a vida é mais do que simplesmente aleatória e sem sentido. Ora, se hoje estamos no nível de manipular a natureza, que diria se houvesse seres mais avançados do que nós, o que eles seriam capazes de fazer? Para mim existem trilhões de seres mais avançados neste espaço infinito do universo, apenas usando a "lógica". E no meio deles têm uns bichinhos ruins o bastante para fazerem experiências com cobaias que nós chamamos de "humanos".

Portanto, o que está errado não é a teoria do Criacionismo, mas apenas o estágio onde ela se encontra, que ainda não tem competência para ditar regras no mundo, e no caso estará sendo usada para manipular as pessoas de outro jeito, porém atrelada ao que há de mais avançado, ou seja, competente o bastante para desconcertar quem for fundo mesmo na tentativa de desmerecê-la e difamar seus agentes implementadores. Trata-se da revolução do conhecimento na era da comunicação sendo manipulada de uma forma jamais vista, e o que tem de bom nesta época atual, é que informação qualquer um ainda pode conseguir online para se inteirar melhor sobre o que está acontecendo e sempre aconteceu na evolução da raça humana na Terra. O difícil é você trilhar o conhecimento que foi banido, queimado, retirado da história oficial de todos os livros "permitidos" serem publicados, e agora sendo censurado pelos magnatas da informação. O difícil é você nortear-se por sobre o "caminho das pedras", sabendo onde pisa para chegar a algum lugar, ao invés de seguir o caminho dos outros e driblando suas armadilhas.

Existe sim, uma manipulação na educação, mas o cerne não é o Criacionismo, não é sua veracidade ou não com o que temos que nos pegar, que isso é distração, e porque que tem grandes possibilidades de ser uma coisa real. Devemos sim nos pegar com o caráter de como este item está sendo usado pelos agentes manipuladores a fim de confundir e enfraquecer as futuras gerações que andam muito inteligentes par ao gosto dos dominadores.

Em outras palavras, não devemos lutar contra pois vamos perder. É melhor acatar e estender os estudos a fim de chegar na frente do que combater intransigentemente, porque eles, os evangélicos, estão resolutos com suas milícias e vão longe.

Para finalizar, lembro que ocultar-se o poder espiritual do ser humano faz parte das bases do Capitalismo como promotor do materialismo, pois afinal, se você se torna espiritual demais, você não se interessa mais pelos produtos das corporações multi-milionárias internacionais. Daí que fica ainda mais complicada a reação dos evangélicos que tanto defendem a riqueza material quanto querem defender a "espiritualidade". Isso vai dar um curto cirtuito...

Filme Ponto de Mutação:

domingo, 5 de janeiro de 2020

Os Cúmplices

Eu não conseguiria escrever este texto mas ele me representa então o reproduzo aqui, e não podia ser da nossa tradicional mídia corporativa, é claro, trata-se do El País, jornal espanhol muito mais decente, versão brasileira.

Os Cúmplices

Em 2020, cada um saberá quem é diante de uma realidade que exige coragem para enfrentar e coragem para perder

Fazendeiro caminha em meio a área devastada por incêndio na região de
Porto Velho, Rondônia. CARL DE SOUZA (AFP)
Por ELIANE BRUM em 01 JAN 2020

Nenhum autoritarismo se instala ou se mantém sem a cumplicidade da maioria. É o que a história nos ensina. Não haveria nazismo sem a conivência da maioria dos alemães, os ditos “cidadãos comuns”, nem a ditadura militar no Brasil teria durado tanto sem a conivência da maioria dos brasileiros, os ditos “cidadãos de bem”. O mesmo vale para cada grande tragédia em diferentes realidades. Os déspotas não são alimentados apenas pelo silêncio estrondoso de muitos, mas também pela pequena colaboração dos tantos que encontram maneiras de tirar vantagem da situação. Em tempos de autoritarismo, nenhum silêncio é inocente —e toda omissão é ação. Esta é a escolha posta para os brasileiros em 2020. Diante do avanço autoritário liderado pelo antidemocrata de ultradireita Jair Bolsonaro, que está corroendo a justiça, destruindo a Amazônia, estimulando o assassinato de ativistas e roubando o futuro das novas gerações, cada um terá que se haver consigo mesmo e escolher seu caminho. 2020 é o ano em que saberemos quem somos —e quem é cada um.


Lula livre, sim, mas sem fraudar a história
Há várias ações em curso. E várias mistificações. Quem viveu a ditadura militar (1964-1985) conhece bem, guardadas as diferenças, como o roteiro vai se desenhando. No final de 2019, parte da imprensa, da academia e do que se chama de mercado começou a exaltar os sinais de “melhora econômica”. A alta da bolsa, a “queda gradual” do desemprego, a indicação de aumento do PIB em 2020 são elencados entre os sinais. Ainda que se esperasse mais, afirmam, “os inegáveis avanços do ponto de vista econômico”, entre eles a reforma da Previdência, “a inflação comportada” e os juros fechando 2019 “em patamar inimaginável” permitem —e aí vem uma das expressões favoritas deste seleto grupo de players— um “otimismo moderado”. Até a pesquisa de uma associação de lojistas divulgou uma incrível alta de 9,5% nas vendas de Natal, imediatamente contestada por outra associação de lojistas. É como se a “economia” fosse uma entidade separada da carne do país, é como se houvesse uma parte que pudesse ser isolada e sobre a qual se pudesse discorrer usando palavras enfiadas em luvas de cirurgião. É como se bastasse enluvar jargões técnicos para salvar os donos das mãos de todo o sangue.

Enquanto esse diálogo empolado e bem-educado do pessoal da sala de jantar, dos que sempre estão na sala de jantar, independentemente do governo, é estabelecido, bombas explodiram no prédio da produtora do programa de humor Porta dos Fundos, policiais matam como nunca nas periferias de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, ampliando o genocídio da juventude negra, o antipresidente legaliza o roubo de terras públicas na Amazônia, ambientalistas são acusados de crimes que não cometeram, ONGs são invadidas sem nenhuma justificativa remotamente legítima, adolescentes pobres morrem pisoteados porque decidiram se divertir num baile funk numa noite de sábado, indígenas guardiões da floresta e agricultores familiares são executados, as polícias vão se convertendo em milícias como se isso fosse parte da normalidade, e são também os policiais e “agentes de segurança” condenados por crimes os únicos que são libertados no indulto de Natal. Os sinais estão por toda parte, mas membros respeitados de instituições da República que deveriam ser os primeiros a percebê-los —e combatê-los— seguem inflando a boca para assegurar que “a democracia no Brasil não está ameaçada”.

A qual Brasil se referem estes senhores bem-educados? De qual país estes luminares do presente falam? Certamente não do meu nem do de muitos, não o das favelas onde as pessoas se trancam sabendo que não há porta capaz de barrar a violência da polícia, não este em que os policiais já exterminam os pretos sem responderem por isso há muito, mas esperam mais já que o extermínio vai sendo legalizado pelas beiradas. Não este em que os templos de religiões afro-brasileiras são invadidos e destruídos apesar de o Estado ser formalmente laico. Não este em que as lideranças da floresta enxergam o Natal e o Ano-Novo como os piores momentos do ano porque é o tempo de deixar a família e fugir, pelo menos até que as capengas instituições voltem do recesso.

Neste país, pessoas da sala de jantar, há muita gente escondida neste exato momento para poder virar o ano vivo. Não esperam brindar, desejam apenas não ter o corpo atravessado por uma bala —ou por quatro na cabeça, como ocorreu com Marielle Franco, num crime não decifrado quase dois anos depois. Democracia onde? Os escondidos, os ameaçados, os parentes dos mortos querem saber. Todos nós queremos muito viver neste país em que vocês enxergaram “inegáveis avanços na economia em 2019” e “instituições que funcionam”. Não fiquem com o endereço só para vocês.

As pessoas da sala de jantar, porém, só podem seguir na sala de jantar ditando o que é a realidade porque a maioria assim permite, omitindo-se ou aproveitando-se das sobras. São as pessoas, no dizer da historiadora franco-alemã Géraldine Schwarz, “que seguem a corrente”. A questão é se você, que lê este texto, vai engrossar o rebanho dos que seguem a corrente.

Não o rebanho de ovelhas. Esta imagem evoca passividade, engano, uma obediência absolvida pela inocência. Não. Este rebanho, o dos que agem se omitindo, ou o dos que agem tirando pequenos proveitos, “porque afinal é assim mesmo e quem sou eu para mudar a realidade”, é um rebanho de lobos. Porque o ativismo de sua omissão é cúmplice do sangue das vítimas, estas que tombam, estas que vivem uma vida de terror. É cúmplice também das ruínas de um país. No caso da Amazônia, é cúmplice das ruínas da vida da nossa e de muitas espécies no único planeta disponível.

Géraldine Schwarz escreveu um premiado livro chamado Os amnésicos (Flammarion), infelizmente sem tradução no Brasil. A historiadora, cuja família foi uma dessas que obteve vantagens no nazismo, mas se considerava inocente do Holocausto, deu uma excelente entrevista ao jornalista Fernando Eichenberg, em O Globo. Ela aponta como a adesão aos déspotas do século 21 mantém a estrutura da adesão aos totalitarismos do século 20:

“No imaginário coletivo, temos tendência a dividir a sociedade em três categorias históricas no século 20: heróis, vítimas e carrascos. Na verdade, a maioria da população não se reconhece em nenhuma delas. É a via mais fácil não se incluir em nenhuma das três categorias, mas apenas seguir a corrente. Há o magnífico filme baseado no romance de Alberto Moravia [O conformista, de Bernardo Bertolucci], que mostra muito bem como o conformista acaba aceitando o que antes era inaceitável. No ensino da história, muitas vezes por meio da ficção ou de comemorações, temos uma visão um pouco distorcida do passado. Se tem a impressão de que a população não teve nenhum papel nessa história. E teve, muitas vezes, um papel de pilar e consolidador de ditaduras. É nisso que a democracia tem um papel importante, pois o povo tem os meios de impedir um golpe e a instalação de um regime criminoso. Eleger Bolsonaro, por exemplo, para mim, é brincar com o fogo, pois parece alguém capaz de tudo.”

A historiadora defende a memória como um dos principais instrumentos de defesa da democracia. “O importante é tomar consciência de nossa falibilidade e reconhecer que podemos nos transformar também em um bárbaro”, afirma. "A história não se repete, mas os métodos de manipulação, sim, porque a psicologia humana não muda. Em um contexto de crise, em meio a um grupo, o homem terá reações similares. Um dos métodos é difundir o medo, muitas vezes exagerado em relação à realidade. [...] Trata-se de confundir a fronteira entre o verdadeiro e o falso, desorientando totalmente as pessoas. Perde-se as referências, não se sabe mais no que acreditar. E, como dizia [a filósofa alemã] Hannah Arendt, quem não acredita em mais nada é manipulável à vontade. Ao ponto de inverter seus valores: o que era bom ontem já não o é mais hoje. É o que se observa em várias sociedades do mundo. As pessoas que, hoje, apoiam Jair Bolsonaro, há dez anos provavelmente defendiam os direitos humanos. Por isso que o ensino do Terceiro Reich é capital. Na história há muito poucos exemplos de uma sociedade tão civilizada, moderna, intelectual, que derivou rapidamente para a barbárie. É um ensinamento universal, que serve de alarme a todo mundo.”

O problema é que países como o Brasil não produziram a memória da ditadura justamente para absolver os assassinos, sequestradores e torturadores de Estado. A condição da retomada da democracia foi o perdão ao imperdoável. Essa política de amnésia resultou, em 2018, na eleição de um presidente que tem como herói um torturador e assassino de civis. Diante de uma população desmemoriada, ao final do primeiro ano do governo do déspota eleito vimos um roteiro semelhante se repetir, com as necessárias adaptações a uma época impactada pela Internet. Ainda que a memória no Brasil seja frágil, porém, ela existe. Não há desculpa para omissão. Nem há qualquer inocência no suposto conformismo.

O problema, no Brasil e em outros países que vivem processos políticos semelhantes, é também de memória recente. Esta que está sendo construída agora, não só nas mentiras disseminadas nas redes sociais por Bolsonaro e sua familícia, mas também nas narrativas que isolam a economia da carne que sangra. Como se a evocação do AI-5 por Paulo Guedes não tivesse nada a ver com suas escolhas econômicas, como se o Posto Ipiranga fosse radicalmente diferente do dono do posto. Está em produção uma memória falsa, o que é pior do que desmemória. Pior do que não lembrar é lembrar de um acontecido que nunca aconteceu.

Entre as tantas perversões da ditadura, uma se mostrava particularmente enlouquecedora para aqueles que escolheram lutar contra o regime de opressão. Enquanto homens e mulheres eram vigiados e perseguidos dia e noite, afastados de seus postos, demitidos de seus empregos, transformados em párias e criminalizados, enquanto livros, jornais, filmes e peças de teatro eram censurados, enquanto brasileiros precisavam deixar o país para salvar a vida ameaçada pelo Estado, enquanto os que ficavam eram sequestrados, torturados e mortos por agentes do Estado, uma maioria fingia que nada estava acontecendo. Fingia tanto que acabava acreditando que não eram gritos de dor e de terror o que ouvia. Era o cidadão de bem que apenas seguia a corrente, protegendo os próprios interesses e avaliando o que poderia ganhar com o estado das coisas.

Começamos a testemunhar hoje o mesmo mecanismo perverso. Com todas as desculpas possíveis, auxiliadas pela polarização que desloca o perigo para uma falsa oposição. Com todos os erros e os crimes do PT no poder, o antipetismo não é justificativa aceitável para alguém seguir a corrente. Não tem mais clima para se fingir de iludido. Basta ter vergonha na cara para perceber que não se trata mais do PT. Se trata da corrosão do que ainda resta de democracia no Brasil. Se trata da autorização para roubar enormes pedaços de floresta, desmatá-los e botá-los no nome dos autores do crime. Se trata da conversão das forças de segurança em milícias com autorização para matar. Se trata da criminalização de quem defende os mais frágeis, usando para isso o aparato do Estado. Se trata de genocídio de negros —e também de indígenas.

Há muita gente se fingindo de ovelha para lavar as mãos diante do que vive o Brasil. Mas há também gente angustiada perguntando o que fazer diante do que já não consegue deixar de ver. A estes, respondo que ninguém vai dar a resposta. Esta resposta terá que ser criada, coletivamente, por iniciativa dos que fazem a pergunta. Em cada profissão há o que fazer. Este é um momento em que precisamos fazer melhor o que sabemos fazer, mas também precisamos fazer bem o que não sabemos. Apenas o que sabemos já não é suficiente. O que somos já não é suficiente. Temos que ser melhores do que somos para enfrentar este tempo em que já não há tempo. E temos que ser juntos, fazendo laços e tecendo redes entre nós.

Este é o desafio de 2020. O ano novo não está dado. 2020 só será novo se nossa resistência resgatar o presente das mãos dos déspotas. Esta é a única resolução possível diante do que vivemos e do que testemunhamos. Cada um de nós precisa se responsabilizar pelo horror do nosso tempo.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Brasil, construtor de ruínas, Coluna Prestes - O avesso da lenda, A vida que ninguém vê, O olho da rua, A menina quebrada e Meus desacontecimentos, e do romance Uma duas

Twitter: @brumelianebrum/ 
Facebook: @brumelianebrum/ 
Instagram: brumelianebrum