terça-feira, 25 de março de 2014

Pai Noviço

Um dos assuntos os quais eu mais gostaria de contribuir para a "humanidade" é sobre paternidade.


Alguns amigos e parentes sugeriram eu escrever sobre isso porque tem muita gente que gostaria muito de aprender a ser pai (ou mãe) e eles acham que tenho (temos) muito o que ensinar.

Isso porque estou bastante satisfeito com meu trabalho de pai (até o momento) de filhos dos dois sexos. Então, suponho que possa me propor a dar umas dicas interessantes sobre como criar crianças e não ter trabalho. É só entregar o trabalho pra mulher e pronto...


Estou brincando, mas nem tanto. Como ser pais inteligentes, e aqui entra a minha mulher também, é claro. Aliás, o trabalho maior foi dela mesmo. Contudo, já que temos que "constar" como pais, então vamos constar direito.

Eu tenho este amigo que ainda está pensando se casa, quanto mais se tem filhos. Ele ouve e lê muitas baboseiras por aí, de "masculinistas", e teima em não acreditar no que eu digo. Então, de vez em quando ele me envia algumas destas baboseiras, e eu aproveito para dar a minha versão sobre o assunto. Eu mesmo me surpreendo como sou "cheio de argumentos".


Então, este amigo me enviou charges sobre as desvantagens de ser pai, em um ano só de paternidade.

Uma delas é que agora, depois que a criança nasceu, existe hora pra tudo: brincar, ler história, tirar soneca, comer, tomar banho e dormir.

Bem, eu não me lembro de nada disso a 20 anos atrás. Não tinha hora pra nada. Aliás, as horas eram reguladas pela mãe, eu só fazia brincar com eles. Na hora da soneca, eles dormiam ali mesmo, no carrinho deles, no meio da sala, no meio do shopping, seja onde estivéssemos, até em festas. Depois os levávamos pra cama. Tem coisa mais gostosa do que essa, tanto pra nós, pais, quanto pras crianças?


Quando eles iam dormir de noite, não havia barulho que acordasse eles, então estávamos liberados pra fazer o que quizéssemos, inclusive aquilo. Podíamos também sair porque ouvíamos se eles chorassem através da secretária eletrônica, e voltávamos correndo, mas isso foi bem raro.

A hora de comer era festiva, mas eles não se sujavam de jeito nenhum. Não faziam bagunça, e desde cedo aprenderam a tirar os brinquedos pra brincar, e colocar de volta quando terminassem. Era tudo arrumadinho, por eles próprios. Eles também não quebravam nenhum brinquedo, a não ser quando o brinquedo quebrava-se por si próprio por ser ordinário, feito na China. Daí ia pro lixo imediatamente, pois a mãe não suportava brinquedos quebrados.


Não havia nada perigoso ao alcance deles, como jogos de facões na cozinha, nada disso. Mas também, as gavetas da cozinha onde as facas eram guardadas, nunca tiveram chave. Fogão quente, nem chegavam perto. Panelas quentes? Maior perigo do mundo, medo neles. Queriam alguma coisa no alto? Pediam, e nos tirávamos. Estávamos sempre prontos a atendê-los, contanto que não se expusessem ao perigo.

Uma outra charge que este amigo me mandou foi sobre os perigos numa casa, como fios, tomadas, sabão, coisas não comestíveis, telas de computadores e TVs, privadas, cachorro e brincadeiras com as coisas sérias, como livros.

Bem, na nossa casa também não foi assim. Não havia bagunça de jeito nenhum. Cedo eles aprenderam a ligar e desligar a televisão, e já havia computadores. Meu menino, com 4 anos, tomou aulas de computação e aprendeu a fazer planilhas financeiras. Ele já usava meu computador em casa. Eles próprios colocavam fitas vídeo-cassetes nos aparelhos e assistiam aos seus filmezinhos, ou então CDs no aparelho de som, e mais tarde os DVDs de filmes. Eu gravava para eles os melhores filmes animados da TV e cortava os lenga-lenga da televisão. Comprávamos muitos discos infantis que eram muito bons na época em que eles eram pequenos. Estas músicas animavam até as festinhas de aniversário deles.


Jamais eles fizeram uma "arte" na casa. Nada de pegar em fios. Até o cachorro da casa, quando passa perto dos fios, passa nas pontas dos pés, cuidadosamente. Tudo é uma questão de seriedade. A gente explica pra eles, com seriedade, e pronto, eles entendem.

Nada de hora de leitura, nada de historinhas, eles cresceram sem precisar dessa baboseira. Mas quando eles saiam com a gente, podiam escolher alguma coisa, como gente grande, e se esbaldar no parquinho, conosco participando, ou serem deixados lá aos cuidados dos profissionais, ou se deleitarem nas lojas de brinquedos, sem que fosse preciso levar alguma coisa, e nem darem escândalo por não levarem. Via, brincava, sorria, e ia embora. Em casa eles já tinham seus brinquedos, os melhores possíveis, como Lego, que começou com peças grandes, e foram diminuindo, até se tornarem técnicos e virarem robôs, quando eles já estavam bem grandes. Brinquedos inteligentes.


Até hoje eles lembram dos brinquedos que tinham, dos trenzinhos que montávamos e rodava a sala inteira, das casinhas de dois andares e mobília, dos jipinhos à bateria. Até hoje os dois adoram desenhos animados e tem em suas coleções digitais todos os filmes de Disney, e mais outros tantos das outras produtoras, que assistem com os namorados. Até um seriado dos Dinossauros que eu gravava da TV, hoje eles tem a série inteira.

Isso quer dizer que eles adoravam o que o pai deles selecionava para eles.

Seus livros eram de plástico lavável. Eles podiam ler na banheira. Contanto que tivessem livros desde que nasceram. Seus livros podiam ir à boca. Não tinha cachorro para eles judiarem. Só ganharam cachorro quando já estavam maiores, lá pros 10 anos de idade. Jamais comeram sabão, jamais ficavam desatendidos nem um só minuto.

Eles costumavam ficar num quadrado, que era um colchãozinho com umas grades de lona circular. Eles tentavam subir e saltar pra fora mas não conseguiam. Alí eles permaneciam com seus brinquedos por horas e horas, sem dar trabalho. Aprenderam a andar em andadores, sozinhos, porém sem forçar as pernas pra não entortarem.


Na hora do banheiro ou toalete, todo cuidado era pouco. Nada de brincar em lugar perigoso e escorregadio. Nada de subir em cadeiras ou mesas. Brincadeira é no chão, o chão inteiro para montar trenzinhos ou casinhas.

Uma terceira charge fala dos medos e incertezas de ser pai, preocupações com o tempo, com o bem estar do bebê, medo que coisas aconteçam com ele, medo do futuro.

Também não passei por nada disso. Ser pai foi tão natural, veio tão na hora certa, que praticamente tudo foi automático. Verdade que, de vez em quando, havia um sufoco por ter que ir parar num hospital para tomar ar ou por qualquer outra coisa, mas no final, tudo sempre dava certo e voltava ao normal rapidinho.


Isso me ensinou a amar mais, a esquecer de mim próprio e a pensar mais nos outros, antes de pensar em mim. Deixei de ser aquele jovem egocêntrico onde o mundo girava em torno de mim, para eu girar em torno da minha família que eu montei.

A última charge falava que o mundo do pai noviço virou de cabeça para baixo porque, antes, o mundo era só ele, ele e ele mesmo. Depois os outros passaram a ser mais importantes. Será que ele está reclamando? Conhecendo o meu amigo que me enviou isso, está reclamando sim, por antecipação.


O que estas charges não contam é sobre o prazer que a gente sente de ter filhos.

Um filho nos completa. É como se tivéssemos nascido só pra aquilo. Um pequeno ser que parece todo com você, uma coisinha tão ingênua e tão vulnerável que constrói em você um super-homem, sabendo que você tem poder de protegê-lo contra tudo e contra todos. Mais tarde, eventualmente, você haverá de virar uma fera pra proteger seu garoto ou seu adolescente, mas isso é muito raro. Isso também faz de você um homem. Você não conhece os limites da sua coragem até que voce tem um filho. Depois deles, você se descobre o homem cheio de ímpetos, de arroubos e capacidade pra fazer muitas coisas que você nem desconfiava que teria. Até sua voz engrossa e se fortalece, afinal é com ela que você impõe sua autoridade...

Ao pensar nos outros, seu mundo muda muito, realmente. Em lugar daquele carro esporte, você compra uma perua pra caber as crianças e seus apetrechos. Isso se chama amor.


E por falar em apetrechos, nada de bolsas espalhafatosas e enormes. As coisas que os acompanhavam nas nossas saídas eram sempre reduzidas e de cores discretas como se fossem um prolongamento de nossas próprias roupas, inclusive na moda, bem na moda. Sua vida de macho não precisa virar cor-de-rosa cheia de florzinhas só porque você teve uma menina. Isso não existe. Sua mulher não precisa regredir e virar infantil porque agora se veste com roupas enormes, ficou enorme, e carrega um montão de cacarecos coloridos. Isso é muito ridículo, e nenhum pai deseja. Ela há de respeitá-lo e comportar-se direito.

Dá muito bem pra todo mundo ter um padrão chique e discreto, como se todos fossem gente grande. Okay, vamos fazer uma excessão. Vamos dar uma camisa com uma estampa muito bacana. A camisa do bebê pode ser preta ou azul escura, mas pode ter um desenho bastante colorido e chamativo. Assim você não tem vergonha de desfilar com ele vestido desse jeito.

Minha menina outro dia me perguntou se usávamos aquele suporte de bebê que livra suas mãos, e você carrega o bebê nas costas ou no peito. Claro que usamos, usamos tanto que até viajávamos com eles desse jeito. Com menos de 1 ano de idade, ambos já viajavam de avião. Até mesmo na barriga, eles viajavam de avião.


Então temos muito o que ensinar em como criar crianças "perfeitas" como são nossos filhos sem nenhum destes pesadelos que tanta gente imagina. Por outro lado, temos muito o que falar sobre o que aprendemos com o fato de termos nos tornado pais. Ser pai é uma das coisas mais importantes na vida de um homem, senão a principal. O mesmo serve para a mãe. Qualquer outra função como ser tio, primo, padastro, amigo ou até mesmo pai adotivo, chega perto mas não é a mesma coisa.

A capacidade física de ser pai e gerar crianças sadias, e ainda por cima bonitas, o que é um bônus, é uma grande benção divina que nos completa, depois de havermos conseguido uma relação com outra pessoa que é estável e promete grandes coisas num futuro interminável. Os filhos nos completam, os filhos nos mostram o que fomos capazes de fazer, depois que eles crescem. E, lógico que, se eles dão para o que preste, mais felizes ficamos nós por termos sido capazes de ensiná-los direitinho. Esta realização não pode ser explicada por palavras, é como o amor, ele acontece e você não sabe que está vivendo ele, porque passa a ser uma coisa tão banal que você não se dá conta. Apenas vive sua vida como se fosse a pessoa mais realizada do universo. Tem preço que pague isso? Você só vai saber isso quando faltar...


E depois, ao longo de sua vida, você tem fotos maravilhosas de toda a sequência de vida em todos os pontos. Nestas fotos não está apenas você, a se admirar, mas estão todos os envolvidos e o que se curtiu na época. Você vai sentir mais prazer ainda ao ver seus filhos mostrando tais fotos para os amigos deles ou na escola. E vai ter que disfarçar para não chorar ao rever os filmes...

Trata-se de uma vida, duas vidas, três vidas, quatro vidas, quantas forem as vidas da sua família, a se completarem e somarem-se à sua, e de repente, todo mundo é mais importante do que você, sendo que, sem você, nada disso existiria.

Para aqueles que não tiveram essa sorte, para aqueles que tiveram filhos antes da época, por um deslize qualquer, para aqueles cujas vidas não deram certo, nem nos casamentos, nem no reconhecimento dos filhos, para aqueles que não puderam ter filhos, sempre há um tempo para recomeçar, para tentar de novo, e não há idade para isso, tudo é possível quando a pessoa quer.

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