domingo, 27 de novembro de 2022

Richarlison vs Menino Ney

Quem me conhece sabe que não ligo a mínima para futebol, apesar de me considerar bem brasileiro. E não gosto justamente por ser um ambiente alienado. Porém, com o despontar de um novo astro, desta vez conscientizado politica e socialmente, chamado Richarlison, minha atenção foi voltada para o futebol com um interesse no mínimo político. Este sim é um atleta pra se admirar e torcer. Pelo menos até agora. 

Richarlison e Neymar em foto que representa
a esquerda e a direita do Brasil agora

Richarlison tem feito muito pelos outros e agora faz pelo Brasil justo na época em que o brasileiro desperta para o retorno da democracia na figura do presidente eleito Lula da Silva a ser empossado em 1.o de janeiro de 2023. O Lula que já viaja pelo mundo mostrando que o Brasil está com ele de volta no cenário mundial.

A figura de Richarlison só veio a acrescentar-se à eclipse do antes astro mundial, um sujeito chamado Neymar. Esta foto representa bem de quem se trata os dois.

Melhor do que eu, Milly Lacombe, colunista do UOL, escreve muito melhor, tanto que me inspirou para este post. O Hexa campeonato mundial brasileiro bem viria a calhar para resgatar da lama a Copa no Brasil de 2014 como foi atirada pelos quase 50% dos brasileiros fascistas que hoje infernizam a vida dos outros 50% por não aceitarem os resultados da recente eleição em outubro de 2022.

Milly Lacombe

Menino Ney está triste. Se sente injustiçado; não entende por que é tão detestado pelo país cujas cores defende com excelência.

O colega Raphinha foi às redes dizer que o Brasil não merece o Neymar, intensificando a sensação de que o colega é um injustiçado e incompreendido.

O gol símbolo da Copa do Qatar em 2022 por Richarlison
Alguns na imprensa começam a se indignar em nome da dor do menino Ney.

Esqueçam em quem ele votou, pedem. As eleições acabaram, agora é Copa, completam.

A verdade é que o menino Ney não votou porque ele não transferiu seu título de eleitor, mas menino Ney declarou que votaria em Bolsonaro.

Ele tem direito de votar em quem quiser, berram muitos.

Verdade: teria mesmo.

Teria esse direito sagrado se um dos candidatos não fosse alguém de extrema-direita que diz amar a tortura, que tem como herói de vida um torturador que organizava o estupro de mulheres e arrastava os filhos pelas mãos para assistir ao estupro, que acena alegremente para o nazi-fascismo, que defende Hitler, que acha que negros podem ser medidos em arrobas, que mulheres merecem ser estupradas, que gays devem morrer.

Aos que ainda evocam os direitos democráticos de Menino Ney declarar voto em quem quiser eu diria que, nesse contexto, o único dever democrático seria o de se manifestar contra esse candidato.

Qualquer outra posição é apoio direto ou indireto ao nazi-fascismo bolsonarista.

Não é pouca coisa. É coisa demais, aliás.

Mas menino Ney calou sobre os horrores de seu amigo Bolsonaro e depois fez uma dança juvenil para declarar voto avisando que dedicaria um gol a ele na Copa.

Bem, esse gesto de amor a Bolsonaro não acontecerá na primeira fase. Menino Ney está fora por contusão.

Saiu de campo chorando. Pouco vibrou pela vitória. Está atento a si mesmo.

A Copa era para ser dele mas a marcação implacável e violenta o tirou de jogo e da primeira fase.

Neymar não é um menino, como tentam fazer parecer a todo o instante. É um homem de 30 anos.

Ele sabe perfeitamente que, jogando como joga, se não soltar a bola rapidamente vai ser marcado com intensidade. No jogo com a Sérvia ele segurou a bola e não deu passes que poderiam ter virado gol de seus colegas.

Optou por chamar para si a responsabilidade e quem viu o jogo com olhos atentos entendeu o que ele fez e o que ele deixou de fazer.

Aos que dizem que o posicionamento político dele está no passado e que agora é hora de Copa do Mundo eu diria o seguinte: posicionamento político nunca está no passado.

Posicionamento político é todo dia.

É o que a gente faz das nossas vidas, é como a gente trata outros, é as lutas que a gente escolhe lutar e as lutas que a gente escolhe ignorar.

É tentar driblar o fisco, ser multado e agir para negociar a multa mesmo sendo bilionário.

É fazer isso mesmo sabendo que os 88 milhões de reais da multa poderiam ser usados na construção de hospitais, escolas, estradas.

"Ah, mas no Brasil tem muita corrupção. O dinheiro não vai ser usado pra isso".

Bem, se você não pagar impostos o dinheiro certamente não será usado.

Mas se pagar existe uma chance que é estatisticamente boa de ele ser usado sim.

E se parte dele for usada já é melhor do que nada.

(Para entender a treta com a receita: em 2015 Neymar foi autuado em R$ 188 milhões por não ter declarado seu imposto de renda no valor de R$ 63,6 milhões de 2011 a 2013. Sobre o valor inicial, houve multa e juros de 150%. Os advogados de Neymar recorreram da multa e conseguiram anular parte das sanções. Os 88 milhões é o valor dos 63,6 corrigidos).

Posicionamento político é colaborar com a investigação de uma acusação de violência sexual. Mas Neymar não fez isso quando foi acusado por uma funcionária da Nike e, ao não fazer, teve seu contrato interrompido pela empresa.

Posicionamento político é todo dia. É, também, entender que o jogo é para o time e pelo time. Que segurar tantas bolas não ajuda o coletivo.

Posicionamento político é usar seu poder simbólico como um dos maiores atletas vivos e falar em nome dos excluídos.

É usar de privilégios e oportunidades para ser responsável pela comunidade.

Posicionamento político é optar por se manter um adolescente nas barras das calças do pai mesmo sendo um homem adulto.

Homenagem a los hermanos da Argentina que perdeu
o primeiro jogo da Copa do Qatar logo de cara

Posicionamento político é escolher não entender dos negócios bilionários que ele mesmo gera para apenas jogar bola.

E é também zombar de um colega de profissão usando sua condição de pessoa que enfrentou o inferno do vício para tentar diminuí-lo.

Tudo isso é se posicionar politicamente.

Aos meus colegas que pedem que esqueçamos o que fez Neymar porque as eleições acabaram eu digo: as eleições não acabaram.

Elas seguem acontecendo.

Num país com 33 milhões de famintos e com 125 milhões de pessoas que não sabem quando farão a próxima refeição as eleições nunca acabam porque precisamos estar atentos e fortes como no período eleitoral durante todos os dias.

Pedir que a gente esqueça o que fez Neymar e se concentre no futebol é pedir que nos alienemos completamente. É abrir espaço para anistias. É separar política e futebol de forma perversa. É dar as costas para a devastação do país.

O atleta não se separa do homem. E é por isso que tanta gente hoje detesta Neymar.

Foram muitas mortes, muita dor, muita opressão para ele desse os ombros e se mandasse para jogar vídeo game depois de apoiar um monstro.

Neymar não é vítima de absolutamente nada e se ele buscar amadurecer terá que encarar essa verdade.

Ser patriota não é vestir a camisa amarela e dizer que vamos ganhar o hexa. Longe disso.

É possível torcer contra a seleção e ser mais patriota que Neymar.

Traições à pátria vêm também na forma de dribles no fisco e de silêncios convenientes quando o presidente usa um vírus como arma biológica contra sua própria população.

É por tudo isso que o choro de Neymar não comove muita gente.

Choramos por anos e não tivemos um sinal de solidariedade vindo dessa seleção que agora exige nosso amor e carinho.

Se esse amor e carinho vier, ele terá vindo muito na conta do único cara que se manifestou em nosso nome.

E que, quiseram os deuses do futebol, fizesse um dos gols mais bonitos da história das Copas logo na estreia. [Richarlison]

Em 24 de novembro de 2022
Então, Raphinha, se tem alguém que não merece a força, a luta e a garra do povo brasileiro é essa seleção de alienados políticos e de apoiadores da extrema direita.

E agora, como escreveu no Twitter a comunicadora Ana Flor, Neymar terá que lidar com o fato de defender as cores de um país que ou não gosta dele ou não liga tanto assim para ele.

Mas seria importante que ele também soubesse que não tem nada mais bonito do que reconhecer erros, amadurecer e se redimir. Sendo quem é - um dos maiores artistas desse jogo que tanto amamos - tenho certeza de que o Brasil que hoje o despreza estaria pronto para acolhê-lo e celebrá-lo.

Por Milly Lacombe, Colunista do UOL em 26/11/2022

https://www.blogdomello.org/2022/11/milly-lacombe-e-o-menino-ney.html

https://www.uol.com.br/esporte/colunas/milly-lacombe/2022/11/26/neymar-tera-que-lidar-com-o-fato-de-defender-um-pais-que-nao-gosta-dele.htm

Vídeo NEYMAR NÃO MERECE o BRASIL e terá que lidar com fato de DEFENDER país que NÃO GOSTA DELE, diz Milly, 3:55 Min, UOL Esporte

https://youtu.be/skdofKjIVvs 


quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Um Brinde ao Amor

Mensagem atribuida a Peter Pál Pelbart - filósofo, tradutor, ensaísta, professor húngaro, residente no Brasil, que talvez dê um pouco de alento e entendimento a todos os brasileiros (2018).

"Eu acho tudo isso que está acontecendo é positivo no macro, embora esteja sendo dificílimo no micro. Explico: todo esse ódio, toda essa ignorância, essa violência, isso tudo já existia ao nosso redor. Agora é como se tivessem tirado da gente a possibilidade de fingir que não viu. Caíram as máscaras. O Brasil é um país construído em bases violentas, mas que acreditou no mito do "brasileiro cordial".

"Um país que deu anistia a torturadores e fingiu que a ditadura nunca aconteceu. Que não fez reparação pela escravidão e fala que é miscigenado e não é racista. Nós fechamos muitas feridas históricas sem limpar e agora elas inflamaram. Estamos sendo obrigados a ver que o Brasil é violento, racista, machista e homofóbico. Somos obrigados a falar sobre a ditadura ou talvez passar por ela de novo. Estamos olhando para as bases em que foram construídas nossas famílias e dizendo “Essa violência acaba em mim. Eu não vou passar isso adiante.”

"Como todo processo de cura emocional, esse também envolve olhar pras nossas sombras e é doloroso, sim, mas é o trabalho que calhou à nossa geração.

"O lado positivo é que, agora que estamos todos fora dos armários, a gente acaba descobrindo alguns aliados inesperados. Percebemos que se há muito ódio, há ainda mais amor. Saber que não estamos sós e que somos muitos, nos deixa mais fortes.

"Precisamos nos fortalecer, amores. Essa luta não é dos próximos 15 dias, é dos próximos 15 anos. Mais: é a luta das nossas vidas. Não cedam ao desespero. Não entrem na vibe da raiva. Não vai ser com raiva que vamos vencer a violência.

"E se preparem, tem muito chão pela frente."

HOMENAGEM

Um brinde a você que sobreviveu à longa noite fascista que se instalou no Brasil, desde 2016;

Um brinde a você que foi chamado de petralha, comunista, apenas por ter demonstrado apreço à democracia e à liberdade;

Um brinde a você que inúmeras vezes foi ameaçado e ironizado nas redes sociais;

Um brinde a você que não desistiu de lutar, mesmo quando toda a massa ignara e a grande imprensa insistia no seu discurso neo-fascista;

Um brinde a você que, pra se preservar, cortou laços com tantas pessoas com quem tinha, antes da grande noite, um convívio sadio;

Um brinde a você que não bebeu da fonte do ódio que se espalhou pela Nação, disfarçada de justiça;

Um brinde a você que descartou o rótulo de “cidadão de bem”, enquanto milhões perdiam os direitos previdenciários e trabalhistas;

Um brinde a você que sempre foi solidário com a parcela mais frágil da sociedade;

Um brinde a você que se indignou diante das tragédias ambientais;

Um brinde a você que se entristeceu diante da verdadeira chacina que foi a pandemia de Covid;

Um brinde a você que sempre acreditou na Ciência, na vacina e não na cloroquina;

Um brinde a você que não se curvou aos falsos profetas, disfarçados de Messias;

Um brinde a você que nunca abriu os dedos das mãos pra fazer gesto de “arminha”;

Um brinde a você que resistiu, mesmo, quando milhões acreditavam no falso mito;

O percurso será longo e duro para reconstruir tudo o que destruíram, mas um brinde a você que acreditou que a primavera chegaria.

MOTIVO

O povo brasileiro elegeu Lula presidente do Brasil neste domingo 30 de outubro de 2022. Foi um alívio não só para metade do país, mas para o mundo também, ante a destruição em curso da Amazônia, o pulmão do planeta, principal preocupação global, perpretada pelo governo fascista atual. Com este resultado de uma eleição apertada, que demonstrou que metade da população do país é fascista, homofóbica, racista, misógina, os democratas pela justiça, igualdade e direitos humanos sentiram-se aliviados por um momento que seja, o momento da vitória. 

Lula governou o Brasil de 2003 a 2010, e Dilma continuou seu governo pelo mesmo partido de 2011 até 2016, quando sofreu um processo de impeachment sem provas de crime, assim como foi provado não haver crime que encarcerou o ex-presidente Lula durante 580 dias a fim de impedí-lo de ser eleito presidente de novo em 2018, o que resultou neste atual governo que demonstrou-se fascista durante estes 4 anos de mandato em que a pandemia do COVID-19 ajudou a escancarar sua irresponsabilidade e desumanidade. 

Diante deste cenário, os textos acima refletem exatamente o que metade do povo brasileiro está sentido, porque a outra metade é fascista. Dentro desta metade, estão metade de muitas famílias e de rodas de amigos velhos e antes queridos. O disfarce caiu e a grande maioria foi obrigada a posicionar-se politicamente, revelando os meandros de seus interiores, de suas almas ao mundo.