terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A Outra Vida Interestelar

Teatro IMAX em Cockle Bay, Darling Harbor, Sydney, aquele prédio
quadriculado
Ontem assisti a Interstellar no cinema IMAX de Sydney, em Darling Harbour, como presente de aniversário do meu filho que não recebi no dia certo porque ele estava hiper-ocupado com seus trabalhos da universidade.

O filme impressionou, porém foi mais pelo fato da tela ser imensa, com mais de 4 andares, capaz de lhe envolver quase totalmente de baixo pra cima e dos dois lados, quando a imagem foi filmada nesse estilo, porque a maior parte do filme é normal, apenas em telão. As partes extras em cima e embaixo, que lhe imergem na imagem, só esporadicamente. Na realidade eu achei redundante, mas convenhamos, a impressão foi tão boa que fiquei pensando até hoje.

Não entendi o filme completamente porque nem mesmo meu filho, quase totalmente australiano, soube decifrar o que ouvia, mas deu pra imaginar, inventar e preencher as lacunas. Depois de ter lido uma crítica do website Socialista Mundial, me consolei ao saber que o filme não tem mesmo muita ligacão entre as cenas e tampouco com os envolvimentos sociais e políticos das questões. O filme trata mais da viagem interplanetária, e o resto é só para constar, não convencendo muito.

No meio da cena
Achei interessante a trama jogar com as teorias do buraco negro e das ondas gravitacionais além da viagem no tempo do físico Kip Thorne, colega de Stephen Hawking, e também Carl Sagan, mas também joga com conceitos explicados pelo Espiritismo e pelos Gnósticos.

Na quinta dimensão, que seria o ambiente dos espíritos, embora o filme passe muito longe disso, o espírito tem conhecimento do passado, presente e futuro tudo ao mesmo tempo. Meu filho me perguntou como é que o astronauta foi parar naquele ambiente tridimensional onde ele se encontrou atrás da estante de livros da filha quando era pequena. Eu lhe disse que aquele ambiente foi arranjado para tornar possível a comunicação entre o pai e a filha na Terra, pois é preciso adaptar os ambientes para poder haver comunicação espiritual. Quem providenciou isso? Não ficou claro no filme, extremamente árido, mas naquele ambiente os astronautas não estariam tão solitários, haveria muitos espíritos providenciando as coisas para eles, se bem que invisíveis para eles. Afinal eles não haviam morrido, e continuavam homens (e mulheres), portanto, sem acesso a conhecer como aquele mundo se processa.

O telão nos transporta para as espinhas do rosto de Matthew
McConaughey.
Por isso sua filha achava que tinha um fantasma na estante, era o seu pai, muitos anos mais tarde, com acesso àquele presente. Alí naquele ambiente, os espíritos também tem várias vidas ao mesmo tempo, e Matthew McConaughey, o astronauta Cooper, vê-se a si próprio em tempos anteriores, por trás da estante. No caso, o pai conseguiu comunicar-se com a filha com muita dificuldade gerando um código Morse na poeira, lhe dando dicas para a construção da sua própria nave, uma vez que ela era interessada na carreira do pai e tentava entender desde pequenina. Ela, na realidade, "salva" a humanidade transportando-a para outro planeta (Saturno) em sua nave, já que a Terra estava condenada pelas tempestades de poeira, resultado da exaustão da vegetação, algo meio exagerado de quem não conhece a Amazônia.

Darling Harbor (Porto Querido) à noite, uma festa, vendo-se o
teatro/cinema IMAX redondo entre os viadutos e o shopping do
outro lado da baía
Naquele ambiente, cada hora significava 7 anos na Terra. O tempo é relativo, o tempo não existe, e nem o espaço, é tudo criação deste mundo material, regulado pelo relógio irreversível e pelo espaço tridimensional cujas paredes o corpo físico não pode atravessar.

É a ciência se aproximando de provar que o mundo espiritual existe e como é que ele funciona, mas estas leis novas de cabeça para baixo são difíceis para nós, humanos, entendermos. Tudo o que temos que fazer é aceitá-las primeiro, pra depois provar através da observação e dos estudos. O filme brinca também com os conceitos de amor e família, mencionando que o amor é a única coisa que transcende o tempo e o espaço. Mas que conveniente, não? Quanto a isso tenho mais a dizer sobre um filme que assisti no dia anterior, na TV, chamado Hereafter - Outra Vida.

Junto com as cenas imensas, apesar das cadeiras apertadinhas em que ficamos roçando no vizinho, o som estava extremamente bem dosado porque, apesar de altíssimo, não feria os ouvidos como em certas festas que eu ia no Brasil e tinha que empurrar guardanapo dentro das minhas orelhas senão até no outro dia eu continuaria escutando os zumbidos.

Primeira vista do cinema ao entrar, escadarias íngremes
Muito estranho este cinema. Para quem conheceu os cinemas extraordinários brasileiros dos anos dourados, este se parece mais com um arranjo de circo. Apesar da imponência do prédio do lado de fora por ser um bloco fechado e metálico, achei os corredores muito tacanhos e a entrada tortuosa da fila em estilo aeroporto também. Lá dentro, apesar do tamanho avantajado de tudo (menos das cadeiras), as escadarias chegavam a serem perigosas com os degraus muito curtos. Fiquei imaginando os velhinhos rebolando até lá embaixo, mas depois pensei, velhinhos não vão a cinemas como estes, e se forem, são velhinhos bem espertos que usam Facebook e WhatsUp.

Chega uma hora em que dá medo de cair lá de cima, é preciso cuidado redobrado. No final, o escoamento foi até rápido para o número de pessoas e o labirinto a ser percorrido. Para sair, meu filho já foi me liderando, porque naturalmente que, se subi, haveria de descer, mas, não, era pra continuar subindo! Subindo pra onde, meu Deus? Pra pegar o helicóptero? Subindo até o final do salão, saindo-se por uma porta, e descendo-se de novo. Mas isso não é uma solução de Pacheco?

Teatro LG IMAX, Sydney, o maior telão do mundo
Tudo bem, conversando-se não se sentiu a descida, mas de tanto rodar nas escadas, resolvi olhar pra ver onde ia parar. Não consegui ver o fundo, me assustei, e quando mencionei o quanto ainda haveríamos de descer, meu filho disse, chegamos, a saída é aqui. Ah, ainda faltavam vários lances até lá no fundo, provavelmente para alguma garagem, mas como seria aquilo, se já estávamos um pouco mais alto do que o nível do mar do porto Querido (Darling Harbor)?

Caminhando no meio do povaréu por aquela grande área social, talvez a única e melhor de Sydney, pude notar os saltos altíssimos das mulheres de hoje, um absurdo, e também o foguinho preso em gaiolinhas de vidro como se fosse um longo copo. Que foguinho inusitado! Meu filho me disse então que aquilo era para esquentar. Esquentar o que? Estava mais de 20 graus. Melbourne também tem uns foguinhos daqueles no centro, na beira do rio, na frente do cassino, mas eles são bem maiores e ao ar livre. Fogo é sempre belo, quando controlado.

Fabulosa decoracão de Natal...
Passando pela decoração de Natal, uma dúzia de papai-noéis agarrados uns nos outros boiando no porto, de gosto bastante discutível, iluminados de dentro pra fora, ligavam um cais ao outro, sendo que neste outro acharam de construir uma espécie de balsa que não descobrimos pra que serviria, com cara de ser desmontável, porque tomou quase toda a visão da baía. Talvez seja para o reveillon, então nos dirigimos ao estacionamento.

Para chegar no estacionamento, entramos no Shooping e descemos 2 andares. Ora, não dá pra entender, se já estávamos ao nível do mar. As escadarias do shopping não são no mesmo lugar, é preciso andar muito pra encontrá-las perdidas aqui e ali. Em Sydney, parece que tudo não passa de um grande arranjo em que, cada parte construída é anexada à anterior, sem planejamento nenhum. Sem dúvida, a cobertura do shopping, transparente e com luz azul por dentro, nos transmite uma sensacão de maravilha, junto com aqueles foguinhos. Nem pensar em parar pra comer alí, se não for pra sair sem as calças de tão caro.

Harbourside shopping centre (na Austrália "center" é "centre")
labiríntico
Finalmente, o estacionamento de vários andares. E agora? Tudo foi comprado online, mas na hora de entrar no estacionamento, uma falha. Meu filho teve que ligar para o escritório a fim deles explicarem como é que sairíamos. No email dizia "inserir o cartão na entrada". Que cartão? Cartão de crédito? Ainda nem sei, mas não havia buraco pra enfiar o cartão de crédito nem nenhuma indicação, apenas o buraco de retirar o cartão do estacionamento. Então meu filho tirou o cartão do estacionamento e não soube onde enfiar o outro cartão.

Quando ele ligou para o escritório, ouvimos o chamado do outro lado da parede. Ora, o cara estava alí mesmo, ao lado dos caixas, porém todo trancafiado. Como era preciso ele pegar o cartão do estacionamento para trocar por outro, ele levantou a cortinazinha, e nos atendeu, um chinês descortês. Conhecendo meu filho e os australianos, portanto, enquanto ele falava polidamente com o tal cara, eu falei alto pra o cara ouvir, "o sistema está errado!" Meu filho não gosta quando dou uma de brasileiro, mas sinceramente, não falta ocasião onde esse povo daqui merece uma bela de uma grosseria.

Cyren Bar Grill no Harbourside Shopping e suas coluninhas de fogo
(bem em frente)
Mas, mas pra cá, mas, mas pra lá, eu sei que tive que engrossar de novo e dizer, "não tinha nada escrito lá, não podemos advinhar como proceder, você vai ter que dar um jeito". Meu filho mostrou o email da reserva no telefone para ele. Ele disse, aqui está escrito pra enfiar o cartão no buraco. Que buraco, meu senhor? O buraco onde se retira o cartão do estacionamento? O diabo é quem enfiava meu cartão de crédito alí pra ficar encalacrado com todo mundo atrás de mim buzinando. Ah, mas agora todos os estacionamentos desta companhia em Sydney são assim, é um buraco só pra levar tudo de todo mundo. Ah, meu senhor, não podemos advinhar, é a primeira vez que usamos estes sistema. E ele teve que emitir outro cartão para nós.

Lá na saída, a maquininha tinha escrito "aceita todos os cartões", com a lista de cartões, mas na maquinhinha da entrada não tinha nada disso. Enfim, os sistema de "procedimentos" desta Austrália esperta são uns belos de uns buracos negros.

Enquanto o cara jogava o lero, eu disse, "isso é para fazer as pessoas desistirem e pagarem de novo, mais dinheiro pra empresa". Ele emitiu o bilhete rapidinho com a minha cena. Quer resolver as coisas rapidinho? Arme um barraco. Mas que não seja um barraco muito grande, senão a polícia aparece.

Pavilhão Dockside, casa de eventos flutuante que estragou toda a
paisagem do lado de lá
Aqui na Austrália não se dá valor a cliente. É o cliente que tem que implorar pra ser atendido, e todo mundo abaixa a cabeça e reza. Todo mundo aceita tudo, são muito diferentes de nós, brasileiros, acostumados a "pagar" para ser bem atendido. "Eu estou pagando!" Aí é que eles se enfezam mesmo, pois têm complexo de rainha da Inglaterra, jamais o de serviçais ou escravos humildes subservientes. Eles tem a rainha na barriga e não admitem estarem errados, mas quando você prova a eles seus erros, eles consertam rapidinho pra ninguém notar.

É preciso aprender a lidar com esta raça! A mesma capaz de jogar um bebê numa vala, o qual foi encontrado por um casal de ciclistas na semana passada, ou enterrar outro bebê a 30cm de fundura na praia de Cronulla, o qual foi achado hoje em estado de putrefação por dois meninos brincando na areia, os quais estão agora recebendo aconselhamento, coitados. Estas mães solteiras insatisfeitas com o Bolsa Família australiano não são faveladas...

Voltando a Interestelar, o mundo mostrado pelo cineasta lá na quinta dimensão é meio infernal, não tem nada, só rochas feias e duras... e tsunamis. Na realidade o mundo espiritual é mais bonito do que o nosso. Basta assistir ao filme "Nosso Lar" e tentar acreditar. Faltou mais amor no filme. Interessante de se notar o jogo com o conceito de família, supondo-se que um pai tem muito mais sentido de preservação por causa dos filhos. Lá isso é verdade, só sabe quem é pai... porém, pai de verdade, e não certas coisas que tem por aí...

Ford Gran Torino Sport 1972, um muscle car (carro musculoso)
Hereafter

O outro filme que assisti no dia anterior foi Hereafter - Outra Vida, do Clint Eastwood. Quem diria, Clint, o protótipo do machão norte-americano, depois de velho tornou-se cineasta para produzir obras espirituais! Me tornei fã do cara. O primeiro filme dele que assisti foi mais por atração pelo seu carro, um Ford Torino 1967. Aquele filme trata do racismo nos Estados Unidos em 2008, porém sua intolerância de ex-soldado da guerra o faz acabar sendo adotado pela família de chineses que mora em frente, e colocá-lo contra as gangues multi-raciais do subúrbio onde mora. Sozinho e ranzinza, seu amor é expresso pelo cachorro e o carro, mas o amor maior de uma família de verdade acaba destruindo seus muros de proteção contra o sentimento.

Matt Damon e Cécile de France, Além da Vida
Desta vez, Hereafter fala da vida de 3 pessoas que não tem nada a ver uma com a outra a não ser pelo fato de lidarem com a morte.

Um garoto perde seu irmão gêmeo, seu guia, filhos de uma mãe solteira alcoólatra e drogada. Uma repórter famosa francêsa é apanhada pela tsunami na Indonésia e vê a morte de perto, tendo aquelas famosas visões que a tiram de tempo. Um ex-médium famoso desiste da carreira para ser um operário comum pois queria se afastar de tanta desgraça e viver uma vida normal.

A repórter fica dispersa depois das visões, pensando na vida, e leva um chute muito bem disfarçado do seu chefe e amante que a substitui por outra mais apetitosa e sem problemas existenciais, apesar de ambos haverem escapado da mesma tsunami. Durante a tsunami, ela quase morre, numa cena extraordinariamente bem filmada. Seu chefe ex-amante sugere ela tirar férias pra descansar a cabeça e aproveitar para escrever o livro que ela tanto queria sobre o ex-presidente François Mitterrand. Ao invés disso, ela decide escrever sobre a vida após a morte, depois de fazer suas pesquisas com cientistas proscritos. Ela também se torna proscrita, pois ninguém quer saber dessa história, porém acaba encontrando uma editora para publicar seu livro, mas é em Londres para onde tem que viajar para o lançamento

A tsunami na ilha de Sumatra, Indonésia, em 2010
O ex-médium perde o emprego porque a empresa está enxugando na recessão mundial e ele é solteiro, então sentirá menos do que se tivesse família. Seu irmão, todo entusiasmado, revive todo o esquema que ele abandonou para remontar sua carreira de médium famoso com website e programas na TV, além de escritório bem montado para atender as pessoas em série, tornando-o milionário de novo, mas antes disso, ele resolve dar um tempo e viaja pra bem longe a fim de descansar e pensar um pouco. Vai para Londres, fazer um tour pela história de seu autor predileto, Charles Dickens, cujos livros ele escuta antes de dormir, um meio de desligá-lo de suas visões.

O menino gêmeo que ficou, usando o boné do irmão falecido, acha o
médium pela internet
Em Londres, o menino está com os pais num shopping, e resolve dar um giro por si próprio, acabando por entrar nesta exposição de livros onde a autora francesa está a assinar seu livro sobre vidas após a morte. Ao mesmo tempo, o ex-médium também acaba dentro da exposição, e naturalmente que se engraça da autora, mas o menino pega no pé dele, diz que o reconheceu de seu website, que ele é o médium famoso. Ele sai correndo dalí, mas o menino vai atrás. O menino quer porque quer falar com o irmão morto, mas àquelas alturas ele já havia consultado vários charlatões, porém ele é bem esperto na idade de mais ou menos 11 anos. A caminho de uma destas consultas, seu chapéu voa dentro da estação de metrô, o que lhe faz perder o bonde. Nem bem ele se volta para esperar outro e aquele trem é explodido em 2005 no ataque terrorista.

Danos no metrô de Londres em 2005
Segue o ex-médium até seu hotel, onde é barrado e fica na rua, tiritando no frio. O médium olha pela janela de vez em quando, e ao ver que o menino é resoluto e não desiste, resolve atendê-lo. O menino consegue falar com o irmão que lhe dá um ultimatum de esquecer ele e seguir com sua própria vida. Diz-lhe que livrá-lo do atentado no metrô foi sua última ajuda ao tirar o boné do menino que na realidade lhe pertencia e ele falou pra ele não usá-lo mais porque era dele. O menino estava vivendo com pais adotivos que não conseguiam se comunicar direito com ele, exacerbando sua saudade do irmão, mas ele aceita os conselhos do irmão e pede desculpas por ter afastado o médium da garota em quem ele estava interessado. Quem, eu? Tais sonhando.

Clint Eastwood
Mas o menino não é besta nem nada, e descobre o hotel em que a escritora está hospedada, dando as dicas para o ex-médium, que resolve topar a parada, pois afinal ele ficou mesmo interessado. E assim acaba o filme, unindo os 3 de uma forma quase impossível, de 3 países diferentes, num mesmo lugar por causa do mesmo motivo, a vida após a morte. O rapaz deixa de ser sozinho e amargurado, o menino deixa de ficar triste com a morte do irmão e retorna para a mãe, recuperada, e a repórter acha outra carreira de sucesso além de um amor melhor do que seu chefe interesseiro.

Clint quando era jovem, parecia com James Dean...
O médium trabalhador de construção em São Francisco, Estados Unidos, é George (Matt Damon), a escritora de Paris que escapa da tsunami do oceano Índico na Tailândia em 2004 é Marie LeLay (Cécile de France) e o garoto é um estudante de Londres que perde o irmão gêmeo, Marcus and Jason (Frankie and George McLaren).

Clint Eastwood também produziu Invictus (2009), com Matt Demon igualmente, e Changeling (A Troca, 2008), com Angelina Joulie irreconhecível no início do século, em busca do filho perdido, sendo que este filme não tem nada de espiritual, mas foi um bom começo.

Ele está chegando lá...

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