Acabei de assistí-lo outra vez na TV, apesar de tê-lo na minha vidoteca, e confirmei porque sempre o considerei um dos meus favoritos filmes de todos os tempos.
Trata-se de um filme feminista, porém no mais sublime e perfeito aspecto deste movimento. Tessa (Rachel) é uma ativista por justiça social inglêsa que seduz o diplomata Justin (Ralph) a fim de levá-la para o Quênia, na África, em sua nova missão diplomática.
Lá ela continua seu ativismo, apesar de casada com o diplomata e grávida, mas não fala nada para ele que mantém-se fazendo jardinagem em sua casa. Em sua cruzada ela descobre um esquema de testes de laboratórios de remédios que nos remota aos experimentos nazistas tão conhecidos depois da segunda guerra mundial, o uso de pessoas humanas durante a guerra como cobaia, para aperfeiçoar drogas a serem vendidas em escala mundial, no caso o povo pobre daquele continente esquecido.
Cidade de Deus, Rio de Janeiro |
Por amar demais sua esposa, o diplomata se arrasa, e ao revisar os pertences dela, vai descobrindo o tipo de trabalho que ela fazia e não falava para não comprometê-lo, e a conspiração contra ela e que a matou. Ele resolve então perseguir até o fim o que ela estava tentando fazer, torna-se um fora-da-lei e acaba denunciando o esquema publicamente na Inglaterra.
O filme deste brasileiro, que conhece bem como países do terceiro mundo costumam ser explorados por potências mundiais, mostra detalhes dos esquemas e também como existem pessoas do outro lado, fazendo o bem e o que podem para ajudar às populações sofridas, inocentes e ignorantes, um verdadeiro sopro de esperança na humanidade. É uma ficção baseada em realidade, uma fantasia que nos dá muito o que pensar.
Cada país que sofre destes tipos de esquemas possui um nível diferente de ignorância e ingenuidade de seu povo. Se para que uma droga, que vai gerar milhões para uma empresa, seja desenvolvida e testada necessitando de cobaias, então pode-se justificar que o sacrifício de alguns acontece em benefício de uma grande maioria. Será que se pode?
"Blindness" |
Até que ponto o bem e os fins justificam os meios? O segundo problema deste "bem" feito à humanidade é que não é de graça, muito pelo contrário, além de muito caro, ele abastece os sócios das tais corporações com lucros irreais para o resto de suas vidas e suas gerações seguintes, indefinidamente. Um "bem" muito caro. Só pra lembrar, muitos milionários estão doando muito dinheiro para ajudar justamente a estas causas "humanitárias". Não é preciso dizer quem...
A ex-modelo e atriz Rachel Weisz |
Um ponto a ressaltar neste filme é a liberdade das mulheres guerreiras, ativistas, liberadas, livres, capazes de usarem seus corpos a fim de conseguirem seus objetivos sociais de justiça, assim seja necessário, passando por cima de tudo que for regra social que as restrinjam de conseguirem seus intentos. Era pra isso que o feminismo devia servir, mas é bom lembrar que muito antes deste movimento, muitas mulheres já fizeram grandes coisas em toda a história da humanidade, e grande parte delas é reconhecida como heroínas.
Modelo corajosa até nesta profissão |
http://variety.com/2015/film/news/rachel-weisz-power-of-women-opportunity-network-1201475892/
Ser herói não depende de sexo, mas de oportunidade... mesmo sem o devido reconhecimento. No Brasil o nome do filme foi atenuado de vigorosa denúncia internacional para mero caso de amor melodramático, pois a palavra "fiel" não tem a mesma conotação de "persistente", mas ambas podem ser tradução de "constant", o que ressalta a irresponsabilidade intrínseca de nossa cultura embriagada mais com sexo do que com justiça social ao ponto de distorcer o objetivo de um filme tão sério como este, vulgarizando-o. Falta seriedade no brasileiro...
O pai de Fernando Meirelles costumava viajar pelo mundo, especialmente pelos Estados Unidos e pela Ásia, o que deu-lhe uma visão global da humanidade. Fernando iniciou sua carreira na televisão independente e depois passou a fazer filmes experimentais. Na TV ele produziu a série Castelo Ra-Tim-Bum da TV Educativa que nossos filhos adoravam assistir mas não conhecíamos mais ninguém que sequer houvesse ouvido falar, por não passar na Globo...
Em 2013, Fernando foi um dos diretores do filme Rio, Eu Te Amo, junto com os diretores brasileiros Carlos Saldanha (A Era do Gelo e Rio), José Padilha (Tropa de Elite) e Andrucha Waddington (Casa de Areia), a diretora libanesa Nadine Labaki (Caramelo), o diretor mexicano Guillermo Arriaga (Babel), o diretor australiano Stephan Elliott (Priscilla, Rainha do Deserto), o diretor italiano Paolo Sorrentino (A Grande Beleza), o diretor americano John Turturro, e o diretor sul-coreano Im Sang-soo (A Mulher de um Bom Advogado, A Empregada - The Housemaid). Olha que "tropa"!
Me impressionam as conexões divinas que me fazem adorar o filme australiano Priscilla, Rainha do Deserto, principalmente por causa da participação de um dos meus atores australianos favoritos, Guy Pierce, Babel com meu outro ator americano predileto Brad Pitt, e Tropa de Elite com um ator que é meu herói brasileiro, Wagner Moura, todos com altas implicações sociais, e também a luta social no trabalho de uma descendente de refugiados judeus, Rachel. Eu precisava vir para a Austrália para adquirir esta perspectiva global que não possuia quando vivia nos guetos dos bairros de classe média enclausurados na mesmice da mediocridade nacional...
Rio, Eu Te Amo é um filme de antologia estrelado por um elenco de atores de várias nacionalidades. O filme é uma espécie de continuação de Paris, Je T'Aime, de 2006, e New York, I Love You, de 2009. É o terceiro filme da franquia Cities of Love, criada e produzida por Emmanuel Benbihy, produção da... Conspiração Filmes.
Mas que nome mais inspirador...!