domingo, 25 de outubro de 2015

Tabacaria Real

O título do post anterior foi Bond Street, que é uma marca (não-americana) de cigarros produzidos pela Philip Morris International que parece não ter nada a ver com o texto, mas envolve um "bond" entre pai e filho também representado no inteligente filme Obrigado por Fumar.

Bond Street (rua do bonde, quer dizer, rua da Relação), em Londres
Anteriormente chamada de "Old Bond Street", a história desta marca remonta ao ano de 1902. Philip Morris, o fundador da empresa, tinha uma boca de fumo, digo, uma boutique de fumo na Bond Street, em Londres. 

1902 foi o ano em que um dos maiores admiradores da empresa, o rei Alberto da Bélgica, presenteou a boutique com o título de Real Tabacaria ("Royal Tobacco"). Em meados dos anos noventa houve um processo de re-branding - projeto novo, fresco, de caixa dura. Em uma versão "premium" de 2006, foi lançado o "Bond Street Special". Esta marca de cigarro não está disponível no Reino Unido (fonte Wikipedia).

Já a Morland fabricava cigarros especialmente para o gentleman espião Jaime Tá Ligado, digo, James Bond, usando uma mistura de tabacos da Turquia e dos Balcãs para ele fumar apenas na Inglaterra...

Obviamente que não sou fumante (porque "obviamente"? Veja mais embaixo), mas o nome deste post me surgiu como uma contração do "bond" entre os amigos e o próprio título do filme, "22 Jump Street" (rua Saltitante, número 22), e só depois descobri que esta marca existia (e a rua também).

Bond Street em Sydney
A propósito deste vício, no Brasil ele havia decaído muito até eu emigrar para o exterior, não sei hoje em dia, pois estas coisas só se sabe quando se mora num país e se vive a vida diária, observando-se. E é observando que, desde que cheguei na Austrália, notei que as pessoas aqui fumam muito mais do que no Brasil.

Como parte da mini-pesquisa, segundo minha mulher, atualizada pelos jornais nacionais brasileiros diários, houve uma grande queda no consumo de cigarros no Brasil que perdura até hoje.

Fumar muito na Austrália é um contracenso tão grande quanto o número de mães solteiras jovens que parecem nunca ter ouvido falar em sexo seguro, principalmente quando me lembro que o que mais me chocava na TV australiana era justamente as propagandas do governo contra a tabaquice do tabagismo. As propagandas são chocantes, totalmente inadequadas para crianças, mas passam em qualquer horário. Cá pra nós, tem propagandas na Austrália que passam longe do bom-gosto, assemelhando-se mais a um "freak" show (show de horrores). Tem gente que acha que sátira é grosseria e baixa o sarrafo.

A FEB, viril Força Aérea Brasileira, adotou como lema "A cobra está
fumando", em alusão ao que se dizia à época que seria "Mais fácil
uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da guerra na
Europa". O Brasil varonil participou, enquanto que Senta a Pua! é o
símbolo e grito de guerra do 1º Grupo de Aviação de Caça da Força
Aérea Brasileira, tendo suas origens na Segunda Guerra Mundial.
Em memória a meu pai, ex-marine (marinheiro). Senta a Pua! também
é um documentário brasileiro de 1999 dirigido por Erik de Castro. O
 diretor produziria ainda A Cobra Fumou em 2003 e dirigiria novo
documentário em 2012, O Brasil na Batalha do Atlântico, encerrando
uma trilogia sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial.
A mais recente propaganda que passa hoje em dia mostra uma ex-modelo loura e bonita que tornou-se um caco na vida real e topou fazer a propaganda por alguns trocados a fim de divulgar o mal que o cigarro pode fazer a outras pessoas. Ela fala com voz grossa através de um aparelho instalado na garganta e tem o rosto todo deformado. 

Na propaganda ela dá um exemplo de como se apronta para sair todo dia: bota dentadura, bota peruca, bota o aparelho de falar, e está pronta para sair. 

Uma imagem chocante, mas que, devido à vulgaridade da propaganda, acaba se tornando apenas mais uma pessoa "freak" (bizarra) no meio das outras, ou seja, a mensagem perde a força da indução pela banalidade das monstruosidades, tornando as pessoas insensíveis.

Este blog de uma francesa com 2 páginas acha fumar muito 
charmoso: http://www.prazerdefumar.com/
Nenhuma destas propagandas chocantes tem feito diminuir o número de fumantes. Nem também a obrigação legal dos fabricantes de cigarros colocarem anúncios em 75% da área das próprias carteiras de cigarro dizendo que fumar faz mal e dá câncer com fotos tenebrosas. 

Nem as empresas ficaram satisfeitas, nem nenhuma das fantásticas e inteligentes campanhas boladas por este povo super-esperto tem demovido as pessoas de fumarem. Ao contrário, o "trend" (negócio) tem aumentado. Não adiantou se proibir as empresas de fazerem aquelas legendárias propagandas da Holywood que divulgava os esportes extremos mais recentes com tremendo bom gosto, tentando associar saúde com cigarro. Hoje as embalagens são tão iguais que não se sabe mais nem que marca está-se fumando.

Propaganda norte-americana que passa na TV australiana com 
frequência e aprovada pelos órgãos de saúde, dica de uma 
ex-fumante, em Inglês; se você é de menor, não assista, senão vai
ter pesadelos: 

Se você é de maior e gosta de filmes de terror e de shows realidade, 
esteja avisado, este vídeo tétrico não é para os "fainted hearted" 
(de coração fraco, impressionáveis), embora elas passem na TV 
comercial australiana, o mesmo vídeo acima pode ser appreciado 
nesta segunda série de quatro vídeos mostrando as 40 piores 
propagandas mundiais contra o fumo (em Inglês):
https://www.youtube.com/watch?v=ZyO-2JQR7Fo

Na realidade, não sei como é que se compra cigarros aqui (o único local que conheço é em balcões externos nos super-mercados dentro dos shoppings e trancados em estantes de vidro), nem que raios de marcas ou tipos existem, porque parece mais uma atividade proibida e clandestina. Mas as pessoas continuam fumando, principalmente os jovens. Hoje fuma-se como uma atitude ativista e revolucionária. Antigamente fumava-se para imitar os artistas de Holywood. Para fumar-se hoje, é preciso passar-se por cima da campanha acirrada de informação que lhe solapa, uma campanha milionária mas totalmente inútil, apenas mais um jeito de se ganhar dinheiro, promover o mau gosto, e ainda dar uma de bonzinho.

Aterrorizantes embalagens obrigatórias de cigarros na Austrália desde
2012. Veja as medidas tomadas neste país ao longo do tempo contra
o tabagismo aqui, em Inglês: http://www.abc.net.au/news/2014-01-10/
timeline3a-smoking-report-marks-50th-anniversary/5192838
A vergonha é tanta que, depois destas proibições todas, sem falar nos locais proibidos para fumar, só deixando aos fumantes algumas áreas externas, no meio da rua, que nas prisões não podia ser diferente. Acabei de ler sobre este assunto no jornal The Sunday Morning Herald onde um artigo diz que os preços para conseguir-se fumar nos presídios quadruplicou e tornaram-se uma exorbitância, e no entanto os presidiários hoje fumam mais do que nunca. Cigarro tornou-se uma riqueza a ser contrabandeada, um símbolo de status nas prisões.

É tanto que programas como "Border Security" (Segurança nas Fronteiras, pela Seven Network) ou "Border Protection" (Proteção das Fronteiras), que mostram como a alfândega funciona em países como Austrália, Reino Unido e Canadá, mostram a quantidade de gente tentando contrabandear cigarros em viagens internacionais, fingindo-se de inocente e como se fosse para uso próprio. 

Série de TV realidade Segurança das Fronteiras, Austrália
Chegam ao ponto de viajarem para a Rússia a fim de comprarem cigarros sem impostos e entrarem nestes países como sendo bagagem de uso próprio quando claramente, pela quantidade, é para vender sem pagar impostos, e esta é a preocupação do governo, arrancar dinheiro e não propriamente proteger a população apenas.

Querem sentir o gostinho destes programas para machos que nos intervalos dos esportes? Só alguns exemplos aqui porque há mais sobre patrulhas de cães rastreadores, polícia ao vivo pegando carros na rua e na estrada (as séries americanas são as piores, muita baixaria), resgates médicos de helicóptero, polícia noturna no basfond de Kings Cross, Sydney, reduto boêmio e gay, e os consequentes atendimentos no hospital contíguo, e salva vidas nas praias australianas como "Bondi Rescue" ("Resgate em Bondi"), e outros, tudo em Inglês.
Viajantes internacionais trazem caixas e mais caixas, cerca de 200 ou mais, em malas, ou enviam muito mais do que isso por malotes que frequentemente são descobertos e desmantelados. Cigarros tornaram-se a nova droga contrabandeada diante de tantas proibições, e aparentemente a indústria vai muito bem obrigado.

Filme Obrigado por Fumar
Obrigado por Fumar

Certo dia, meu filho exemplar me veio com este filme para eu assistir, dizendo que era extraordinário, "Thank you for Smoking" ("Obrigado por Fumar", 2006), sem título em Português. Olhei pra cara dele bem direitinho, e bastou isso pra ele sorrir e dizer que realmente o filme era sério e muito bom. Acreditei e resolvi assistir, para no final concordar com ele. Na essência, trata-se do amor de um pai solteiro por seu filho, sob sua guarda.

Não é um filme sobre fumantes, mas uma sátira elegante sobre a indústria do cigarro com Aaron Eckhart e Maria Bello como protagonistas. O filme conta a história do porta-voz de uma fábrica de cigarros que tenta ser um bom modelo para o filho adolescente, dirigido por Jason Reitman, filho de Ivan Reitman ("Ghostbusters", "Caçadores de Fantasmas"), com este emprego desgraçado.

Nick Naylor é o principal porta-voz da Academia de Estudos do Tabaco (Academy of Tobacco Studies), uma empresa que faz lobbies para a indústria do tabaco e promove os benefícios dos cigarros. Naylor utiliza eventos de mídia de grande destaque e uma retórica intencionalmente provocadora para salientar o que seus clientes vêem como uma cruzada injusta contra os produtos que utilizam tabaco e nicotina. O cara é muito inteligente.

Por incrível que pareça, no filme ninguém fuma, o supremo da sátira
A sátira política é acentuada pela associação informal de Naylor com lobistas de outras indústrias que também são submetidas a uma vilificação rotineira na mídia, como Polly Bailey, uma lobista da indústria de bebidas alcoólicas, e a Bobby Jay Bliss, que representa a indústria das armas de fogo. Coletivamente, os três formam o que chamam de M.O.D. Squad, uma referência ao título de um célebre drama policial - embora neste caso a sigla signifique "Merchants Of Death" ("Mercadores da Morte").

Muito charmoso, além do que um isqueiro é sempre útil, não é o que
este blog acha: http://www.cafeinamagica.com/2015/05/cigarro-o-
veneno-dos-idiotas.html
Um ponto-chave na trama ocorre quando Naylor é sequestrado por um grupo clandestino que tenta assassiná-lo cobrindo-o com adesivos de nicotina. A procura pelos responsáveis pelo crime leva a resultados surpreendentes.

Neste ponto, a trama se assemelha a outros romances satíricos de Buckley, como "Little Green Men" ("Pequenos Homens Verdes").

O filme baseado no romance foi lançado em 2005. Embora os personagens sejam essencialmente os mesmos, a trama tem algumas diferenças significativas. Entre estas diferenças, está a relação de Naylor com seu filho, que recebe um destaque maior, e a conspiração para sequestrá-lo tem menos importância. O final do filme também é diferente do final do livro, tanto nos eventos quanto no tom abordado.

Fonte https://pt.wikipedia.org/wiki/Thank_You_for_Smoking

Intimidade entre trabalhadores das docas de Londres por causa
do cigarro... e haja subterfúgios...
E foi justamente esta relação entre pai e filho que reforçou ainda mais a minha própria com meu filho inteligente. O filho do protagonista é muito inteligente também e bola uma estratégia para recuperar o pai. 

É como o assunto que mais advogo aqui, a união entre dois homens os torna inteligentes e invencíveis. E por isso ela é tão combatida pelos fracos vulgo poderosos ao ponto de causarem danos em mais da metade da população masculina mundial onde homens exploram homens ao invés de se irmanarem com eles, ou seja, se amarem como manda a lei divina. Quanto mais ela manda, mais os homens influenciados por uma cultura canhestra caçoam dela.

Versão inglêsa de botar o carro na frente dos bois (com eles são
cavalos)
Este filme merece uma análise melhor. Acontece que o assisti a muito tempo atrás, e preciso revê-lo para clarear as ideias.

Prestígio Aloprado

É incrível como o homem pode criar produtos vergonhosos e, através de maquiagem, embalagem e divulgação, torná-los símbolos de prestígio para os outros passivos que caem na esparrela para o tornarem rico. E este é o grande lance. Tem pessoas que reclamam porque os tais produtos continuam à venda, culpando os governos, e se esquecem que eles vendem porque elas compram. 

É o carro adiante dos bois.

Um detalhe é que, em geral, as críticas de cinema falam sobre tudo, como neste caso, menos na relação pai-filho como esta (em Inglês):

http://www.rogerebert.com/reviews/thank-you-for-smoking-2006

Paul McCartney acende o fogo do bro Damon Albarn
Nela há uma menção dizendo, como sabemos o que é prejudicial à saúde ou não, diante de tanta mentira propagada? Bem, no caso do cigarro é fácil. Se a pessoa morre ao inalar fumaça num incêndio, porque será que não morreria inalando fumaça de cigarro? Raciocínio fácil.

Por isso é óbvio que não fumo.

Quando eu era jovem, achava bonito dois caras iniciarem aproximação simplesmente por acenderam um o cigarro do outro, gentil e seriamente. Sei que este é um dos motivos do fumante tímido, fazer amizades, além do outro clássico de "ter onde colocar as mãos". Para fazer amizades, realmente, não é preciso subterfúgio, e me lembro quando superei este trauma de não saber onde colocar as mãos, simplesmente decidindo deixá-las penduradas e pronto como outras coisas... E depois, sempre existiram bolsos nas calças, e uns até com tamanho adequado para serem mais úteis...

A quem me tentava eu dizia que não era doido de enrolar dinheiro e queimar...

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