Furacão |
Porém, um destes desastres foi muito peculiar, o furacão Katrina que destruiu a cidade de Nova Orleans, principalmente.
Logo após o desastre, acompanhei pela mídia um pouco das "providências" tomadas com relação àquela cidade e sua população, e também a controvertida hipótese de que o tal furacão pode ter sido desviado do curso artificialmente através dos projetos "secretos" norte-americanos que estudam como manipular o clima mundial.
Diante do resultado, principalmente como descrito no livro de Naomi Klein, The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism (A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo do Desastre), de 2007, mencionado em artigo do The Intercet - Brasil, a qual estava presente na marcha das mulheres contra Trump, em 21 de janeiro de 2017, parece bastante plausível que aquele desastre foi mais um exercício provocado pela "inteligência" norte-americana para testar resultados positivos para o capitalismo e as corporações.
Artigos "alternativos" impressos ou na internet mostram que a tragetória do Katrina não pode ser considerada "natural". Ele nasceu e veio como tantos outros furacões que acontecem muito no Caribe, porém ao chegar à altura de Nova Orleans, ao invés de entrar nos Estados Unidos mais adiante por sobre Galveston, Texas, como "normalmente", ele desviou em ângulo de 90 graus para o norte, adentrando o território dos Estados Unidos por cima de uma cidade vulnerável que possuia até diques como na Holanda, já preparada para alguma eventualidade até por causa da dimensão do rio Mississipi que lhe corta ao meio em sua foz. Tais diques naturalmente vazaram como na Lava Jato, o que inundou grande parte da cidade, principalmente as partes mais pobres, onde a maioria dos moradores não tinham seguro.
Trajetória do furacão Katrina em 2005 |
Apelidada de "Big Easy" (a grande relaxada), a nova Orleans nomeada a partir da cidade original na França, fundada como colônia francesa em 1718, passando às mãos espanhola e finalmente vendida aos Estados Unidos em 1803, é conhecida por sua vida "noturna" 24 horas por dia, seus quarteirões de arquitetura francesa, espanhol e creoula (nascidos na Lousiana, em geral negros de influência caribenha), sua cena musical vibrante e picante ao vivo, sua cozinha singular refletindo a história de caldeirão Francês, Africano e culturas latino americanas, encarnando o espírito festivo do Mardi Gras, o carnaval de final de inverno, famoso por desfiles fantasiados, estridentes e suas festas de rua, enfim, uma imensa anomalia dentro do "mundo dos negócios" dos Estados Unidos. Parece até um pedaço de Brasil, iá, iá.
Estados escravagistas confederados do sul na guerra civil norte-americana |
Nova Orleans é a cidade onde nasceu o jazz, ou seja, da música negra norte-americana e mundial por excelência, e possui um grande percentual de negros em sua população. É conhecido que o francês tem alta tolerância a negros não só no país deles como fora, diferente dos norte-americanos intransigentes e racistas, onde os negros só obtém mais sucesso na área das artes. Além disso, grande parte daqueles negros da cidade são pobres, mais um motivo para extirpá-los, se houvesse uma forma como um desastre natural. Em Nova Orleans havia muita miscigenação de raças historicamente.
Aspectos de Nova Orleans |
Como nas guerras modernas, o motivo delas é ganhar dinheiro em cima da tal "recuperação", obrigando as riquezas e o poder a mudarem de lado, o que não difere das guerras medievais. Quando não se obtém por bem, se obtém por mal, não interessa o que esteja envolvido para se conseguir o intento, o que significa mesmo morte, sofrimento e possível extinção dos perdedores, e para isso não existe civilização coisa nenhuma. Corporações não têm "coração", e por isso se tenta que elas comandem o mundo atualmente, de modo que tudo não passe de "negócios", ou seja, soberanos frios, bancados por bilionários anônimos, mas válidos e desejados para manter o sistema funcionando.
Em toda parte já há literatura bastante para se armar todo este esquema de exploração do homem pelo homem em escala acima da compreensão do homem mediano e refém da mídia mainstream. Nada do que é importante é reportado pela mídia mainstream, e por isso as questões humanas principais ficam sem respostas e são esquecidas rapidamente, enquanto o entretenimento continua a seduzir as populações em transe.
Depois do furacão Katrina em Nova Orleans, a parte bonita |
O artigo visa preparar as pessoas para o próximo governo dos Estados Unidos em escala mundial.
Apesar dos pontos aparentemente positivos demonstrados pelo novo governo de Trump, Naomi Klein tem razão em suspeitar de suas intenções baseadas em seu histórico, senão por vontade própria e experiência similar, mas talvez até por manipulação das "forças invisíveis" que, ao invés de combatê-lo, podem se aproveitar de suas "falhas" e intenções, o que é mais provável.
A urgência na "recuperação" dos Estados Unidos danificados por tantos anos de "globalização" pode tornar oficial as medidas adotadas na recuperação de Nova Orleans, como melhor exemplo da prática do capitalismo do desastre.
Como os agentes da luz vão parar, reduzir ou desviar este processo?
Prepare-se para o Capitalismo do Desastre de Trump
Naomi Klein em 26 de Janeiro de 2017
https://theintercept.com/2017/01/26/prepare-se-para-o-capitalismo-do-desastre-de-trump/
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Tisunami |
Tudo isso é perigoso o suficiente. Mas o mais grave será a forma como o governo Trump certamente explorará esses choques tanto política quanto economicamente.
Não é preciso especular. Basta um pouco de conhecimento de história recente. Há dez anos, eu publiquei “A Doutrina do Choque”, um livro sobre como crises foram exploradas sistematicamente nos últimos cinquenta anos para promover uma agenda radical em prol de grandes corporações. O livro começa e termina com a reação ao furacão Katrina, pois ele representa um modelo assustador para o capitalismo baseado em desastres.
O Katrina na parte feia de Nova Orleans |
Sob a liderança de Pence, o grupo produziu uma lista de “Ideias em favor do mercado livre para responder ao furacão Katrina e à alta do preço do gás”. Ao todo, 32 políticas retiradas direto da cartilha do capitalismo do desastre.
Para se ter ideia de como o governo Trump reagirá à sua primeira crise, vale ler a lista completa (e atentar para o nome de Pence bem no final).
População evacuada do furacão Katrina no piso do Astrodome na cidade contígua de Houston em 2 de september de 2005. |
Os três primeiros itens da lista do RSC são “suspender automaticamente as leis salariais Davis-Bacon vigentes na área do desastre”, em menção à lei que obrigava empreiteiros federais a pagar o salário mínimo; “fazer de toda a área afetada uma zona de imposto uniforme e livre empreendimento”; e “fazer de toda a região uma zona de competitividade econômica (incentivos fiscais abrangentes e dispensando regulamentações)”.
Outro ponto solicitava que pais recebessem vales para serem usados em escolas autônomas, uma medida em perfeita consonância com a visão adotada pela indicada de Trump para secretária da Educação, Betsy DeVos.
Todas essas medidas foram anunciadas pelo presidente George W. Bush em menos de uma semana. Sob pressão, Bush foi forçado a restabelecer as normas trabalhistas, embora elas tenham sido amplamente ignoradas pelas empreiteiras. Há muitos motivos para se acreditar que esse será o modelo dos investimentos multibilionários em infraestrutura que estão sendo usados por Trump para cortejar os movimentos trabalhistas. Já foi noticiado que a revogação da Lei Davis-Bacon para esses projetos foi discutida na reunião de segunda-feira com líderes e sindicatos do setor de construção.
Em 2005, a reunião do Comitê de Estudos Republicanos produziu outras ideias que também receberam apoio presidencial. Cientistas de clima vincularam o aumento da intensidade de furacões diretamente ao aquecimento dos oceanos. No entanto, essa ligação não impediu que Pence e o RSC exigissem que o Congresso dos EUA revogasse leis ambientais no litoral do Golfo do México, desse permissão para novas refinarias de petróleo nos Estados Unidos e autorizasse a “perfuração do Refúgio Nacional de Vida Silvestre do Ártico”.
Apesar das controvérsias que dizem ser o clima do planeta cíclico, o ambiente afeta o clima minimamente que seja. |
A indústria do petróleo não foi a única a lucrar com o furacão Katrina obviamente. Assim como diversos empreiteiros com bons contatos que transformaram o litoral do Golfo do México em um laboratório privado de respostas a desastres.
As empresas que ganharam os maiores contratos faziam parte da conhecida gangue de empresas que participaram da invasão do Iraque: a unidade KBR da Halliburton faturou um contrato de US$ 60 milhões para reconstruir bases militares no litoral. A Blackwater foi contratada para proteger os funcionários da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) de saqueadores. A Parsons, conhecida por seu trabalho negligente no Iraque, foi chamada para realizar um projeto de construção de uma grande ponte no Mississipi. Fluor, Shaw, Bechtel, CH2M Hill — todas grandes empreiteiras com atividade no Iraque — foram contratadas pelo governo para prover casas móveis para as vítimas evacuadas da áreas apenas dez dias depois do rompimento dos diques. Esses contratos acabaram por totalizar US$ 3,4 bilhões sem passar por um processo de licitação.
E, assim como muitas das decisões de Trump até agora, uma especialização relevante parece não ter nada a ver com a forma como os contratos são alocados. Foi noticiado que a AshBritt, uma empresa que recebeu meio bilhão de dólares para remover escombros, não possuía nenhum caminhão de lixo e terceirizou o todo trabalho para outras empreiteiras.
Ainda mais impressionante foi a empresa a que a FEMA pagou US$ 5,2 milhões para executar a importante função de construir um acampamento-base para os funcionários de emergência na paróquia de St Bernard, no subúrbio de Nova Orleans. A construção do acampamento atrasou e nunca foi concluída. Quando a empresa foi investigada, veio à tona que a Lighthouse Disaster Relief era , na verdade, um grupo religioso. “A atividade mais próxima disso que já realizei foi organizar um acampamento de jovens com minha igreja”, confessou o diretor da empresa, Pastor Gary Heldreth.
Campos de reassentamento da FEMA, Federal Emergency Management Agency (Agência Federal de Gerenciamento de Emergências) lembram campos de concentração. |
Em Mississippi, uma ação civil pública forçou diversas empresas a pagar centenas de milhares de dólares em salários devidos a funcionários imigrantes. Alguns deles não receberam nada. Em um canteiro de obras da Halliburton/KBR, funcionários imigrantes sem visto contaram que foram acordados no meio da noite por seu empregador (um sub-subempreiteiro), que supostamente dizia que os agentes da imigração estavam a caminho. A maioria dos funcionários fugiu para evitar a prisão.
Os infalíveis cortes nos benefícios seja por qual for o motivo da hora |
Após o Katrina, os ataques a indivíduos vulneráveis, feitos em nome da reconstrução e do socorro, não pararam por aí. Para compensar as dezenas de bilhões de dólares gastos nos pagamentos dos contratos com empresas privadas, em novembro de 2005, o Congresso (controlado pelo Partido Republicano) anunciou que precisava cortar US$ 40 bilhões do orçamento federal. Entre os programas que foram cortados estavam empréstimos a estudantes, o programa de saúde Medicaid e vale-alimentos. Em outras palavras, os americanos mais pobres subsidiaram a bonança dos empreiteiros duas vezes. Primeiro, quando o socorro às vítimas do Katrina se transformou em benesses corporativas, sem criar empregos decentes nem prover serviços públicos. Segundo, quando os poucos programas que ajudavam desempregados e pobres por todo o país foram cortados para pagar as contas superfaturadas.
Eu sou o deus do fogo do inferno e lhes trago o \ Capitalismo Desastre 2.0. |
Trump e Pence chegam ao poder no momento em que esse tipo de desastre, como os tornados fatais que acabaram de atingir o sudeste americano, chegam de forma veloz e furiosa. Trump já declarou que os Estados Unidos são uma zona de desastre permanente. E os choques vão continuar a aumentar, graças às políticas imprudentes que foram prometidas em campanha.
O Katrina mostra que esse governo tentará explorar todos os desastres para faturar o máximo possível. Melhor nos prepararmos.
Trechos desse artigo são adaptações do livro: A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo do Desastre.
Tradução: Inacio Vieira