sábado, 28 de janeiro de 2017

Katrina Trump

Furacão
Os Estados Unidos de repente se transformaram em zona de desastre de uns anos para cá. Os desastres "naturais" aumentaram muito em quantidade, quem sabe por efeito das "mudanças climáticas", naturais ou provocadas. E o mais interessante é que eles atingem o centro das imensas planícies descampadas em geral, até porque montanhas quebram suas potências.

Porém, um destes desastres foi muito peculiar, o furacão Katrina que destruiu a cidade de Nova Orleans, principalmente. 

Logo após o desastre, acompanhei pela mídia um pouco das "providências" tomadas com relação àquela cidade e sua população, e também a controvertida hipótese de que o tal furacão pode ter sido desviado do curso artificialmente através dos projetos "secretos" norte-americanos que estudam como manipular o clima mundial.

Diante do resultado, principalmente como descrito no livro de Naomi Klein, The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism (A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo do Desastre), de 2007, mencionado em artigo do The Intercet - Brasil, a qual estava presente na marcha das mulheres contra Trump, em 21 de janeiro de 2017, parece bastante plausível que aquele desastre foi mais um exercício provocado pela "inteligência" norte-americana para testar resultados positivos para o capitalismo e as corporações.

Artigos "alternativos" impressos ou na internet mostram que a tragetória do Katrina não pode ser considerada "natural". Ele nasceu e veio como tantos outros furacões que acontecem muito no Caribe, porém ao chegar à altura de Nova Orleans, ao invés de entrar nos Estados Unidos mais adiante por sobre Galveston, Texas, como "normalmente", ele desviou em ângulo de 90 graus para o norte, adentrando o território dos Estados Unidos por cima de uma cidade vulnerável que possuia até diques como na Holanda, já preparada para alguma eventualidade até por causa da dimensão do rio Mississipi que lhe corta ao meio em sua foz. Tais diques naturalmente vazaram como na Lava Jato, o que inundou grande parte da cidade, principalmente as partes mais pobres, onde a maioria dos moradores não tinham seguro.

Trajetória do furacão Katrina em 2005
Nova Orleans, estado da Louisiana à beira do legendário e imenso rio Mississipi, é uma cidade norte-americana sui-generis porque tem forte influência francêsa num país de cultura que em geral é antagônica aos francêses. Aparentemente os francêses conseguiram implantar núcleos de cultura francêsa naquele país assim como no Canadá (Montreal e Quebec). É uma cidade que atrai muitos turistas por ser liberal, musical e promover festas de rua, uma cidade mais festiva do que sisuda em termos dos negócios que são a marca do capitalismo puro implantado naquele país. 

Apelidada de "Big Easy" (a grande relaxada), a nova Orleans nomeada a partir da cidade original na França, fundada como colônia francesa em 1718, passando às mãos espanhola e finalmente vendida aos Estados Unidos em 1803, é conhecida por sua vida "noturna" 24 horas por dia, seus quarteirões de arquitetura francesa, espanhol e creoula (nascidos na Lousiana, em geral negros de influência caribenha), sua cena musical vibrante e picante ao vivo, sua cozinha singular refletindo a história de caldeirão Francês, Africano e culturas latino americanas, encarnando o espírito festivo do Mardi Gras, o carnaval de final de inverno, famoso por desfiles fantasiados, estridentes e suas festas de rua, enfim, uma imensa anomalia dentro do "mundo dos negócios" dos Estados Unidos. Parece até um pedaço de Brasil, iá, iá.

Estados escravagistas confederados do sul na guerra civil
norte-americana
Não basta suas conexões históricas com o movimento de libertação dos negros escravos. A guerra civil ou da Cecessão americana parece ter sido maquiada, mas significa que estados escravagistas do sul queriam ser independentes, guerra entre brancos e negros, e a vitória foi manter unidos o norte e o sul dos Estados Unidos e ter que tolerar a convivência entre brancos e negros que naquele país tem um longo histórico de preconceitos, discriminação e perseguições com assassinatos, e ainda hoje negros não se misturam com brancos, bem diferente do Brasil que se dizia sem preconceitos até poucos anos atrás, antes da campanha para o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, quando tudo veio à tona e tornou-se muito claro para o brasileiro e o resto do mundo, assassinando nosso melhor estereótipo de povo feliz, miscigenado e tolerante.

Nova Orleans é a cidade onde nasceu o jazz, ou seja, da música negra norte-americana e mundial por excelência, e possui um grande percentual de negros em sua população. É conhecido que o francês tem alta tolerância a negros não só no país deles como fora, diferente dos norte-americanos intransigentes e racistas, onde os negros só obtém mais sucesso na área das artes. Além disso, grande parte daqueles negros da cidade são pobres, mais um motivo para extirpá-los, se houvesse uma forma como um desastre natural. Em Nova Orleans havia muita miscigenação de raças historicamente.

Aspectos de Nova Orleans
O plano de destruir a cidade visava ver até onde o esquema de contratação de empresas funcionaria para mais transferência de riqueza dos pobres para os ricos. Todo o processo de ajuda e "recuperação" da cidade foi caótico e completamente desorganizado em termos de atitudes governamentais, porém o artigo do The Intercept - Brasil, baseado no livro de Naomi Klein deixa bem claro o porque de tanta desorganização. Na realidade a desorganização só se referiu ao povo, mas não às corporações.

Como nas guerras modernas, o motivo delas é ganhar dinheiro em cima da tal "recuperação", obrigando as riquezas e o poder a mudarem de lado, o que não difere das guerras medievais. Quando não se obtém por bem, se obtém por mal, não interessa o que esteja envolvido para se conseguir o intento, o que significa mesmo morte, sofrimento e possível extinção dos perdedores, e para isso não existe civilização coisa nenhuma. Corporações não têm "coração", e por isso se tenta que elas comandem o mundo atualmente, de modo que tudo não passe de "negócios", ou seja, soberanos frios, bancados por bilionários anônimos, mas válidos e desejados para manter o sistema funcionando.

Em toda parte já há literatura bastante para se armar todo este esquema de exploração do homem pelo homem em escala acima da compreensão do homem mediano e refém da mídia mainstream. Nada do que é importante é reportado pela mídia mainstream, e por isso as questões humanas principais ficam sem respostas e são esquecidas rapidamente, enquanto o entretenimento continua a seduzir as populações em transe.

Depois do furacão Katrina em Nova Orleans, a parte bonita
Levando-se em consideração o grau e a escala da possibilidade de uma catástrofe como aquela ter sido manipulada e engenheirada de uma maneira que não se supõe e nem se acretida e com objetivos camuflados, tudo fica muito claro. O que não se conseguia entender na época, fica claro depois que os objetivos são confirmados.

O artigo visa preparar as pessoas para o próximo governo dos Estados Unidos em escala mundial.

Apesar dos pontos aparentemente positivos demonstrados pelo novo governo de Trump, Naomi Klein tem razão em suspeitar de suas intenções baseadas em seu histórico, senão por vontade própria e experiência similar, mas talvez até por manipulação das "forças invisíveis" que, ao invés de combatê-lo, podem se aproveitar de suas "falhas" e intenções, o que é mais provável.

A urgência na "recuperação" dos Estados Unidos danificados por tantos anos de "globalização" pode tornar oficial as medidas adotadas na recuperação de Nova Orleans, como melhor exemplo da prática do capitalismo do desastre.

Como os agentes da luz vão parar, reduzir ou desviar este processo?

Prepare-se para o Capitalismo do Desastre de Trump

Naomi Klein em 26 de Janeiro de 2017

https://theintercept.com/2017/01/26/prepare-se-para-o-capitalismo-do-desastre-de-trump/

READ IN ENGLISH 

Tisunami
JÁ SABEMOS que o governo Trump pretende desregulamentar o mercado, travar uma guerra sem limites contra o “terrorismo islâmico radical”, destruir a ciência que estuda o aquecimento global e desencadear uma corrida por combustíveis fósseis. Essa é uma abordagem que certamente gerará um tsunami de crises e choques: choques econômicos, com bolhas de mercado estourando; choques de segurança, com efeitos internos da reação ao militarismo externo; choques ambientais, à medida que o meio ambiente é desestabilizado; e choques industriais, com vazamentos em oleodutos e colapsos de plataformas, que tendem a ocorrer, em especial, quando são pouco regulamentados.

Tudo isso é perigoso o suficiente. Mas o mais grave será a forma como o governo Trump certamente explorará esses choques tanto política quanto economicamente.

Não é preciso especular. Basta um pouco de conhecimento de história recente. Há dez anos, eu publiquei “A Doutrina do Choque”, um livro sobre como crises foram exploradas sistematicamente nos últimos cinquenta anos para promover uma agenda radical em prol de grandes corporações. O livro começa e termina com a reação ao furacão Katrina, pois ele representa um modelo assustador para o capitalismo baseado em desastres.

O Katrina na parte feia de Nova Orleans
Esse fato é relevante por conta do papel central, e pouco lembrado, desempenhado pelo homem que agora ocupa a Vice-Presidência dos EUA, Mike Pence. Quando o Katrina atingiu Nova Orleans, Pence era presidente do Comitê de Estudos Republicanos (RSC), um órgão poderoso e extremamente ideológico. Em 13 de setembro de 2005, apenas 14 dias após os diques romperem, com partes de Nova Orleans ainda submersas, o RSC realizou a fatídica reunião nos escritórios da Heritage Foundation, em Washington, D.C..

Sob a liderança de Pence, o grupo produziu uma lista de “Ideias em favor do mercado livre para responder ao furacão Katrina e à alta do preço do gás”. Ao todo, 32 políticas retiradas direto da cartilha do capitalismo do desastre.

Para se ter ideia de como o governo Trump reagirá à sua primeira crise, vale ler a lista completa (e atentar para o nome de Pence bem no final).

População evacuada do furacão Katrina no piso do Astrodome na
cidade contígua de Houston em 2 de september de 2005.
O que mais se destaca no pacote de pseudopolíticas de “socorro” é o comprometimento com uma guerra sem limites às normas trabalhistas e à esfera pública — o que é irônico, já que foi justamente o fracasso da infraestrutura pública que transformou o Katrina em uma catástrofe humanitária. Também é impressionante a determinação em usar qualquer oportunidade para fortalecer o setor de petróleo e gás.

Os três primeiros itens da lista do RSC são “suspender automaticamente as leis salariais Davis-Bacon vigentes na área do desastre”, em menção à lei que obrigava empreiteiros federais a pagar o salário mínimo; “fazer de toda a área afetada uma zona de imposto uniforme e livre empreendimento”; e “fazer de toda a região uma zona de competitividade econômica (incentivos fiscais abrangentes e dispensando regulamentações)”.

Outro ponto solicitava que pais recebessem vales para serem usados em escolas autônomas, uma medida em perfeita consonância com a visão adotada pela indicada de Trump para secretária da Educação, Betsy DeVos.

Todas essas medidas foram anunciadas pelo presidente George W. Bush em menos de uma semana. Sob pressão, Bush foi forçado a restabelecer as normas trabalhistas, embora elas tenham sido amplamente ignoradas pelas empreiteiras. Há muitos motivos para se acreditar que esse será o modelo dos investimentos multibilionários em infraestrutura que estão sendo usados por Trump para cortejar os movimentos trabalhistas. Já foi noticiado que a revogação da Lei Davis-Bacon para esses projetos foi discutida na reunião de segunda-feira com líderes e sindicatos do setor de construção.

Em 2005, a reunião do Comitê de Estudos Republicanos produziu outras ideias que também receberam apoio presidencial. Cientistas de clima vincularam o aumento da intensidade de furacões diretamente ao aquecimento dos oceanos. No entanto, essa ligação não impediu que Pence e o RSC exigissem que o Congresso dos EUA revogasse leis ambientais no litoral do Golfo do México, desse permissão para novas refinarias de petróleo nos Estados Unidos e autorizasse a “perfuração do Refúgio Nacional de Vida Silvestre do Ártico”.

Apesar das controvérsias que dizem ser o clima do planeta cíclico, o
ambiente afeta o clima minimamente que seja.
O conjunto dessas medidas representa uma forma infalível de aumentar as emissões de gases de efeito estufa, que são a maior contribuição humana para as mudanças climáticas. No entanto, foram defendidas pelo presidente sob o pretexto de remediar uma tempestade devastadora.

A indústria do petróleo não foi a única a lucrar com o furacão Katrina obviamente. Assim como diversos empreiteiros com bons contatos que transformaram o litoral do Golfo do México em um laboratório privado de respostas a desastres.

As empresas que ganharam os maiores contratos faziam parte da conhecida gangue de empresas que participaram da invasão do Iraque: a unidade KBR da Halliburton faturou um contrato de US$ 60 milhões para reconstruir bases militares no litoral. A Blackwater foi contratada para proteger os funcionários da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) de saqueadores. A Parsons, conhecida por seu trabalho negligente no Iraque, foi chamada para realizar um projeto de construção de uma grande ponte no Mississipi. Fluor, Shaw, Bechtel, CH2M Hill — todas grandes empreiteiras com atividade no Iraque — foram contratadas pelo governo para prover casas móveis para as vítimas evacuadas da áreas apenas dez dias depois do rompimento dos diques. Esses contratos acabaram por totalizar US$ 3,4 bilhões sem passar por um processo de licitação.

Efeitos da mudança climática que já se oberva em ordem crescente
ao longo do últimos anos: Mudanças no padrão de chuvas e
nevascas; tormentas mais fortes; mais altas temperaturas e mais
ondas de calor; mais secas e incêndios florestais; menos neve e
gelo; degelo da camada permanentemente congelada (permafrost);
mudanças no ciclo de vida das plantas; aquecimento dos oceanos;
aumento do nível do mar; danos nos corais
Nenhuma oportunidade de lucro foi deixada de lado. A Kenyon, uma divisão do grande conglomerado dedicado a funerais Service Corporation International (doador da campanha de Bush), foi contratada para resgatar corpos nas casas e nas ruas da cidade. O trabalho foi incrivelmente lento e alguns corpos ficaram expostos ao sol forte por dias. Equipes de emergência e agentes funerários voluntários foram proibidos de ajudar porque o manuseio dos corpos interferia no território comercial da Kenyon.

E, assim como muitas das decisões de Trump até agora, uma especialização relevante parece não ter nada a ver com a forma como os contratos são alocados. Foi noticiado que a AshBritt, uma empresa que recebeu meio bilhão de dólares para remover escombros, não possuía nenhum caminhão de lixo e terceirizou o todo trabalho para outras empreiteiras.

Ainda mais impressionante foi a empresa a que a FEMA pagou US$ 5,2 milhões para executar a importante função de construir um acampamento-base para os funcionários de emergência na paróquia de St Bernard, no subúrbio de Nova Orleans. A construção do acampamento atrasou e nunca foi concluída. Quando a empresa foi investigada, veio à tona que a Lighthouse Disaster Relief era , na verdade, um grupo religioso. “A atividade mais próxima disso que já realizei foi organizar um acampamento de jovens com minha igreja”, confessou o diretor da empresa, Pastor Gary Heldreth.

Campos de reassentamento da FEMA, Federal Emergency
Management Agency (Agência Federal de Gerenciamento de
Emergências) lembram campos de concentração.
Após todos os níveis de subempreiteiros levarem sua fatia, não restou quase nada para os funcionários. Por exemplo, o autor Mike Davis descobriu que a FEMA pagou à Shaw US$ 175 por pé quadrado para instalar lonas azuis em telhados danificados, embora as lonas tivessem sido fornecidas pelo governo. Depois de os subempreiteiros embolsarem sua parte, os funcionários que de fato instalaram as lonas receberam apenas US$ 2 por pé quadrado. “Todos os níveis da cadeia alimentar de contratados, em outras palavras, é grotescamente bem-alimentada, exceto a camada inferior”, escreveu Davis, “por quem o trabalho é de fato realizado”.

Em Mississippi, uma ação civil pública forçou diversas empresas a pagar centenas de milhares de dólares em salários devidos a funcionários imigrantes. Alguns deles não receberam nada. Em um canteiro de obras da Halliburton/KBR, funcionários imigrantes sem visto contaram que foram acordados no meio da noite por seu empregador (um sub-subempreiteiro), que supostamente dizia que os agentes da imigração estavam a caminho. A maioria dos funcionários fugiu para evitar a prisão.

Os infalíveis cortes nos benefícios seja por qual for o motivo da hora
Esse nível de corrupção e abuso é especialmente relevante porque o plano de Trump é usar grande parte dos gastos com infraestrutura com empresas privadas no que chama de parceria público-privadas.

Após o Katrina, os ataques a indivíduos vulneráveis, feitos em nome da reconstrução e do socorro, não pararam por aí. Para compensar as dezenas de bilhões de dólares gastos nos pagamentos dos contratos com empresas privadas, em novembro de 2005, o Congresso (controlado pelo Partido Republicano) anunciou que precisava cortar US$ 40 bilhões do orçamento federal. Entre os programas que foram cortados estavam empréstimos a estudantes, o programa de saúde Medicaid e vale-alimentos. Em outras palavras, os americanos mais pobres subsidiaram a bonança dos empreiteiros duas vezes. Primeiro, quando o socorro às vítimas do Katrina se transformou em benesses corporativas, sem criar empregos decentes nem prover serviços públicos. Segundo, quando os poucos programas que ajudavam desempregados e pobres por todo o país foram cortados para pagar as contas superfaturadas.

Eu sou o deus do fogo do inferno e lhes trago o \
Capitalismo Desastre 2.0.
Esse é o modelo do capitalismo do desastre que se alinha perfeitamente ao histórico de Trump como homem de negócios.

Trump e Pence chegam ao poder no momento em que esse tipo de desastre, como os tornados fatais que acabaram de atingir o sudeste americano, chegam de forma veloz e furiosa. Trump já declarou que os Estados Unidos são uma zona de desastre permanente. E os choques vão continuar a aumentar, graças às políticas imprudentes que foram prometidas em campanha.

O Katrina mostra que esse governo tentará explorar todos os desastres para faturar o máximo possível. Melhor nos prepararmos.

Trechos desse artigo são adaptações do livro: A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo do Desastre.

Tradução: Inacio Vieira

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