quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Chão de Estrelas

Esta é talvez a expressão mais bela que tenho na minha mente com relação a ser brasileiro. 

Trata-se de ver poesia até debaixo d'água.

Até debaixo da maior desgraça, que no caso é ver a felicidade através das frestas do telhado de um barracão numa favela, no meio da miséria (de antes das pacificações), e ainda sonhar com a felicidade, uma característica que talvez só os brasileiros sejam capazes de esboçar, ser feliz de qualquer jeito.

São aquelas mesmas pessoas que anualmente se fantasiam de reis, rainhas e artistas, protagonizando o maior espetáculo da terra que é o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro (e agora em outras capitais), pessoas pobres, trabalhadores sofridos que moram nos arrabaldes das cidades grandes brasileiras, os desprivilegiados.

Imagine você enxergar poesia e beleza naquelas condições de miséria morando num barraco, um mocambo, cujos furos no teto de lata que lhe enchem de goteiras na chuva, projetam fiapos de luzes obtidas da escuridão da noite, por intermédio da luz da lua, e imaginar que você está rodeado e pisando nas estrelas. Você seria capaz de inventar tanta beleza?

Ala Almirante Pop da Escola de Samba Mocidade Indepedente, Rio,
2013, em homenagem ao time de futebol Vasco da Gama
Chão de Estrelas sempre foi uma das minhas músicas prediletas e mais inspiradoras desde que me entendo de gente. Trata-se da obra prima de Orestes Barbosa, que possui o verso mais belo "Tu pisavas os astros distraída...", disse o poeta Manoel Bandeira em 1956. O poema representa a sensualidade e o conflito entre o homem emocional e o homem combativo.

Música com tendências misoginistas "A ventura desta vida é a cabrocha... (mulata jovem, viçosa e feliz)", o que significa que mulheres não têm direito a esta ventura se não forem lésbicas, ela tem sido cantada por muitas mulheres (Elizeth Cardoso, Maria Betânia, Maysa) que provavelmente aceitam o "cabrochismo" machista como normal.

As Leoas do Samba, cabrochas da Escola Imperadores do Samba
O par cabrocha e malandro tem povoado o imaginário brasileiro como casal padrão nacional assim como o baião de dois (arroz com feijão) representa a refeição básica da população brasileira em geral, principalmente por ser barata. Representar um padrão não significa representar a todos.

Ao ouvir de novo a pomba-rola a cantar do lado de fora de nossa varanda, o som me transportou no tempo e na nostalgia da vida no Brasil, e desta vez me veio à mente um verso desta música, uma das minhas mais queridas músicas de todos os tempos, "Da mulher pomba-rola que voou...".

Como pode esta música ser minha querida, se nunca vivi numa favela? Bem, nunca vivi, mas já visitei para saber o que ela significa na vida de muita gente, além do que para a arte e a beleza, não interessa onde elas estão ou quem as criou, elas são patrimônio da humanidade.


Favela de Kolu Kaen, na Tailândia
Vivendo num país sem favelas por tanto tempo, confesso que desenvolvi uma atracão por grandes conglomerados de gente. A vida é assim, a gente sempre deseja a grama do vizinho que é mais verde. Vivendo no Brasil, para mim o sonho era viver numa cidade com Washington com aqueles parques infinitos. Vivendo em cidades australianas que possuem tais parques me dão uma saudade louca das grandes aglomeracões brasileiras, principalmente as favelas, as quais visito via internet no mundo inteiro. Elas possuem uma mágica, e eu diria que a mágica são as pessoas, muitas pessoas, juntinhas. Deve ser por isso que favelas encantam tantos os estrangeiros.

Cabrocha e Malandro, Raíssa de Oliveira e Neguinho da Beija-Flor.
Chamá-lo por seu nome de Neguinho é preconceito?
É uma prova do quanto todos nós somos belos por dentro, mesmo que a vida transforme algumas pessoas momentaneamente em demônios.

Demônios como Pablo Escobar, o maior traficante de drogas colombiano, personificado pelo ator Warner Moura como numa continuação da série Tropa de Elite, quando no final do segundo filme seu personagem pressagia que, dali em diante, o buraco é mais embaixo, e a corrupção envolve governos e elites nacionais e internacionais, muito mais difícil de serem retratadas num filme, principalmente no próprio país acometido deste mal. 

Pablo Escobar, por Mario, el patron del mal
Portanto, foram retratar a situação histórica e verdadeira da Colômbia como exemplo. Estou assistindo a esta série e vou no décimo episódio pela Netflix, dirigida por José Padilha. A saga de um homem que assassinava todo mundo a sangue frio, mas tinha uma imensa ternura por sua família. 

Mais um exemplo de até onde vai a psicopatia e a mesquinheza de certas pessoas milionárias quando, ao terem algum dinheiro desviado por seus comparsas, os assassinam com requintes cruéis de torturas. 

Como se pode dividir as pessoas em dois tipos, família e estranhos de uma forma tão oposta? Psicopatia me parece um termo adequado...

O filme é um banho de Espanhól colombiano.

Mas não tem agente do mal que apague a beleza de ser feliz.

Chão de Estrelas
Sílvio Caldas e Orestes Barbosa

Como uma pessoa feliz vê uma janela de barraco...
Minha vida era um palco iluminado
E eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões

Cheio dos guisos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações

Meu barracão lá no morro do salgueiro
Tinha um cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou

E hoje quando do sol a claridade
Cobre meu barracão sinto saudade 
Da mulher pomba-rola que voou

... pisavas nos astros destraída...
Nossas roupas comuns dependuradas
Nas cordas qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival

Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco
E a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão

E tu, tu pisavas nos astros distraída 
Sem saber que a ventura dessa vida
É a cabrocha, o luar e o violão

Agora minha versão livre em Inglês, só pra dar uma ideia, sem rima.

Starry Floors

My life was like in a lit stage
I used to dress golden garments
Like a clown of the lost delusions

Tired with the false handcuffs of joy
I walked singing my fantasy
Among the clapping fever of hearts

My miserable shed in Salgueiro hills
Was like a happy singing cage
Before you sent that sound away

And now when the sun in the morning shines
Covers my shed with missing feelings
Of the turtledove women who flew away

Our common clothes usually hanging
In the wires like waiving flags
Looked like an exquisite festival

A feast or our colored hanging rags
Showing that in those poorly dressed hills
It's always like a never ending public holiday

The shed's door had no locker
And the moonlight across our zinc
Sparged stars all over the floor

Distracted you stepped in those silver stars
Not knowing that the venture of life
Is simply a brunette, a moonlight and a guitar

Pisando nas estrelas como a cabrocha pomba-rola
Starpath

Traduzido como Chão de Estrelas, ele aparece na vida real através do novo produto da Pro-Teq Surfacing UK Ltd que pavimenta um parque em Cambridge, Inglaterra. O material espuma de poliuretano elastomérico do pavimento é alimentado a energia solar e brilha durante a noite, tornando desnecessária a iluminação dos parques e economizando nos custos com energia.

Poliuretano (denominado pela sigla PU) é um polímero que tem memória elastomérica, isto é, ele pode ser tencionado mesmo com altas durezas a um alongamento significante e retornar à sua dimensão original.

http://www.pro-teqsurfacing.com/press-release/

Neste site tem um vídeo em Inglês sobre a aplicação do produto. Atente para o impecável Inglês que todo mundo entende.

http://www.homesandhues.com/STARPATH-Glow-in-the-Dark-Pathways/

Tatuagem

Se você ainda insiste em ser contra os gays, pule pro próximo post. No filme pernambucano Tatuagem, de Hilton Lacerda, Chão de Estrelas é o nome da casa de espetáculos gays. Ainda não assisti ao filme todo, mas parece coisa séria, apesar do deboche característico dos gays. Veja o trailler aqui:


Do site http://soulart.org/cinema/tatuagem/ extraí que o filme abrange "as novas configurações de família, a maconha, a recepção da imprensa, o confronto com o poder, o desbunde, o intelectuais cheios de ideias fora de lugar."

O enredo gira em torno dos jovens dos anos 70 em Recife, e toca num ponto nevráugico da cultura nacional ao inserir na repressão militar os espetáculos da contra-cultura que a desafiavam ao retratarem a estória de um soldado seduzido pela trupe do grupo Vivencial.

Originais Dzi Croquettes no Teatro Vivencial
Diversiones
"Tatuagem estabelece um diálogo explicito com o Cinema Novo (que está lá atrás, e que é matriz, pois está obviamente muito adiante do que está sendo feito). Parodicamente, um falso Glauber e uma falsa Glauce/Gláucia aparecem na plateia do espetáculo. Mas muitas são as referências que se sobrepõem: a vida em comunidade (à la Novos Baianos), o papo-cabeça dos intelectuais de esquerda, a mistura tropicalista. Principalmente, por focar o “teatro”, está dionisiacamente projetada no protagonista a figura de Zé Celso, fazendo com que possamos ver no Chão de Estrelas o sol do Teatro Oficina. Está ali também Dzi Croquettes, a produção marginal da Boca do Lixo, e está tudo de melhor que anda vindo de Pernambuco."

No filme, Chão de Estrelas é "um grupo/teatro que no Recife dos anos de chumbo da ditadura cria espetáculos com transgressões, travestismo, nudez e iluminados discursos intelectuais de resistência (da arte) e libertação (à opressão do regime, dos costumes e das ideias)", provavelmente o Vivencial Diversiones.

O filme "Tatuagem vai ao teatro para mostrar o cinema e põe no centro o gueto, afastando-se da estética e da televisão – onde atores replicam cacoetes de interpretação, num realismo constrangedor de reclame publicitário. Um Brasil que não se mostra ao grande público, e por isso é perseguido: pela sua potência libertária, subversiva. A história de gente que entregou-se à utopia de realizar Arte num país fechado, tacanho, reacionário."

Dedicado aos jovens de hoje que acham que podem tudo, não têm a menor noção do que é repressão e ainda clamam pelo retorno dos militares ao poder.

Asa Branca

Pesquisando mais na internet, descobri que o canto do pássaro que ouço na vizinhanca de Sydney se parece mais com o de uma pomba asa branca! Asa branca na Austrália!

E agora 3 pérolas para enriquecer o seu humor.

Pérola é uma ferida. Foto do site
http://www.clipperpearls.com.au/products.html
Pérolas

Pérolas são produtos da dor, resultados da entrada de uma substância estranha ou indesejável no interior das ostras, como um parasita ou um grão de areia. Na parte interna da concha é encontrada uma substância chamada nácar. Quando o grão de areia penetra as células do nácar, estas começam a trabalhar e a cobrir o grão com camadas para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, uma linda pérola vai se formando ali no seu interior.

Uma ostra que nunca foi ferida nunca vai produzir pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada. Em outras palavras, suas feridas são pérolas.

Sentimentos em ondas cerebrais que valem pérolas
Já se sentiu ferido pelas palavras rudes de alguém? Já foi acusado de ter dito coisas que não disse? As suas ideias já foram rejeitadas ou mal interpretadas? Já sentiu duros golpes de preconceito? Já recebeu o troco da indiferença? Então, você já produziu uma Pérola!!

Cubra suas mágoas com várias camadas de amor. Infelizmente, são poucas as pessoas que se interessam por esse tipo de sentimento. A maioria aprende apenas a cultivar ressentimentos, deixando as feridas abertas, alimentando-as com sentimentos pequenos, não permitindo que cicatrizem. Assim, na prática, o que vemos são muitas 'ostras vazias', não porque não tenham sido feridas, mas porque não souberam transformar a dor em pérolas, incapazes de perdoar, compreender e transformar a dor em amor.

Texto reproduzido da página inspirada da bruxinha marinheira a seguir:

http://umjeitoqueesoseu.blogspot.com.au/2007/08/serei-prola.html

Casinha de Sapê
Tim Maia

Casinha de sapê, de Idalina Masson
Não estou disposto
A esquecer seu rosto de vez
E acho que é tão normal
Dizem que eu sou louco
Por eu ter um gosto assim
Gostar de quem não gosta de mim

Jogue suas mãos para o céu
Agradeça se acaso tiver
Alguém que você gostaria que
Estivesse sempre com você
Na rua, na chuva, na fazenda

Ou numa casinha de sapê

Thatched Little House

As pessoas não sabem que são doidas. Eu sei que sou
doido, então eu não sou doido. Isso não é doido?
I am not in the mood
To forget your face at all
I think it's a lot normal
But they say I am crazy
Because I have this taste
Of liking who dislikes me

Raise your hands up to heaven
And be grateful if you have
Someone who you would appreciate
Being always by your side
In the street, in the rain, in the farm


Or in a humble thatched house

Kid Abelha - Na Rua, Na Chuva Na Fazenda (Casinha De Sapê) com Lenine

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Novo Herói

Se você é evangélico, por favor, pule pro próximo post e me evite confusão. Aqui é discussão só para a mundiça*...

A propósito do post anterior, uma prova que o relacionamento é mais importante do que as tarefas profissionais para o brasileiro pode ser exemplificada como se segue em grande estilo.

Pai Edu, o evangélico que registrou os domínios do amigo Jesus 
na net. Perdoe a piada, foi uma falha, devemos respeito aos nossos 
políticos eleitos por nós, principalmente se são amigos do 
governador do planeta.
Olha, vou te falar, fui criado apolítico e jamais discuti política, discutir pra quê? Cresci no meio da ditadura militar. Até que, inacreditavelmente, Lula foi eleito presidente, dalí em diante achei que valia à pena me interessar por política, finalmente. 

Apenas elocubrações para matar sua curiosidade...

Mas o importante é que o herói brasileiro não é mais Lula e hoje atende pelo nome bem alcunhado de Eduardo Cunha.

Você já viu herói mais cínico? Cininismo também é sinal de inteligência. Ele simplesmente roubou a cena nacional com pompa e circunstância. 

Enquanto o brasileiro sai nas ruas, e até acampa nos gramados de Brasília com a aprovação e anuência do nosso herói, sem saberem que ex-policiais do longínquo Maranhão foram contratados para darem tiros a esmos (os quais foram presos) e espalharem a impressão de que Brasília está fora de controle para inglês ver, ele trabalha incansavelmente, continuando a fazer suas manobras e falar suas bravatas, que política é uma coisa muito séria, não dá descanso, e não tem quem segure o santo homem. Não tem oposição, que é a dele própria, já neutralizada, não tem governo, não tem ninguém que detenha a marcha do nosso herói que escapa de tudo com um sorriso maroto de quem sabe que tem imunidade, é intocável e detém super-poderes. Por muito menos ele já teria sido catapultado se fosse na Austrália por ofensa ao decôro público, mesmo havendo corrupção aqui também.

Não vejo ninguém na minha frente
Mas o brasileiro precisa de um modelo assim, um sujeito inquebrantável, inteligente, extremamente esperto, dinâmico, viajado, uma pessoa experiente na arte de ser brasileiro da gema, que sabe lidar com as pessoas ricas, entender suas necessidades e expirações, tratar bem a esposa com mimos, fazer cumplicidade com seus aliados, com as empresas, bancos, contas bancárias, os paraísos fiscais, um cara que sabe negociar e ganhar qualquer parada, um cara de nível. Um cara que não vê ninguém na sua frente. Eis que a irmandade finalmente acha um líder messias à altura.

Este é o maior exemplo do brasileiro tradicional que pertence às altas rodas nacionais. Este é o brasileiro que sempre conheci, considerando-se que durante todo o governo do PT até agora estive morando fora do Brasil, ou seja, mesmo aqui de fora eu não sabia onde estes brasileiros haviam se metido, se escondido, pois não mais se falava neles. Para mim, o alienígena era Lula, de onde aparecera tal fenômeno inexplicável? Finalmente os verdadeirso líderes surgiram de novo como um raio de sol sobre os escombros do que já haviam conseguido destruir por baixo do pano em tempo record, parte do que o partido vermelho fez, e estão mostrando o reflexo da cara nas panelas. 

Desculpa, não sei como isso veio parar aqui...
Mas não adianta, eles se mostram, eles são mostrados, mas os outros brasileiros humildes não conseguem enxergar a realidade, encandeados pela demasiada luz resplandescente propagada nas telinhas multi-coloridas e pelos super-poderes do deus sol, só enxergam o mito do novo herói, e clamam pelos militares para se alinharem a ele e seus amigos celestiais, a fim de defenderem o país à beira do caos, sanitarizarem um país que apodrece a olhos vistos. 

A população está anestesiada, drogada, alcoolizada, está lobotizada pela mídia amiga destes heróis tão inteligentes e iluminados que foram capazes de transferir a responsabilidade pela corrupção secular do país e jogar tudo em cima de outro trem, digo, de outrem. Se a população acordar, imagina o caos se isso acontecer. Quem não é amigo por vontade própria, é amigo por assédio, por sedução, ninguém resiste ao carisma do herói. Heróis como estes sabem afagar justamente o teu ponto mais fraco pra lhe encher de êxtase sob a adrenalina da ira, portanto deixa, abre pra ele... isso.

Para estes heróis que alguns insistem em rotular de corruptos, que se misturam com o governo atual lhe oferecendo apoio como se fossem todos da mesma laia, aí está a prova de que não são. Nosso herói levanta-se das cinzas como uma fênix, depois de uma década de maquinações contra aquele desdedado que um dia se atreveu a ser presidente de um país de tamanha grandiosidade e riqueza e ainda teve o desplante de empurrar uma mulher goela abaixo do machismo brasileiro! Nosso herói e seus amigos hão de se vingarem. Onde já se viu tirar pobre da miséria, isso não acontece em país nenhum.

Super poderes
Cunha não é como uma torre do World Trade Center, não tem terrorista que o derrube. Trata-se de uma das maiores medições de força da história brasileira contemporânea, um herói só contra uma nação de 200 milhões de pessoas (bebês incluidos) que não possuem a sua visão concentrada, a sua vontade de ferro, a sua capacidade de manobras e liderança diplomática sem armas. Ou o seu cinismo.

Há de se convir, temos todos nós que nos curvarmos ao Senhor Cunha, e é melhor querer bem a Cunha do parlamento, presidente da câmara, porque provavelmente ele vai ser nosso próximo chefe supremo. E ele vai proibir que façamos piadas com sua figura, fechando nosso bico, e levando a internet de arrastão. Portanto, desde já, estampo aqui as minhas desculpas pela fraqueza de cair na ironia que atravessa o Brasil de Norte a Sul, não tem culpa eu. Mas, convenhamos, estou falando positivamente, de acordo com a missão deste blog.

Seu cinismo está arrasando a minha apatia
Aprenda com o herói a ser inteligente e cínico. Primeira lição, aprenda como atrasar uma sessão crucial do Conselho de Ética em 10 passos, julgando justamente um processo contra você próprio, atraso este promovido pelos seus fiéis aliados, você nem precisa fazer nada: 
  1. Amigos chegam atrasados: 50 minutos de atraso do quorum mínimo, presença dos 11 parlamentares, para viabilizar a reunião; o que será que atrasou tanto e tantos parlamentares? Só pode ter sido coisa muito séria. O atraso médio brasileiro para efeitos culturais é de 15 minutos.
  2. Mais amigos e aliados dispendem mais tempo com tarefas inócuas, o que menos interessa na realidade é a ética, decência e honestidade para com o povo brasileiro a quem eles teoricamente servem. Deputado do PMDB da Paraíba, o amigo Manuel Júnior do mesmo partido do nosso herói, resolve ler a ata da reunião anterior antes de prosseguir na reunião que, como não estava pronta, o fez pedir o fechamento daquela reunião, dispendendo um pouquinho mais de tempo.
  3. Outro amigo, deputado André Moura, líder do PSC, levanta a polêmica de que 50 minutos de espera é contra as regras da câmara de 30 minutos, o que o fez pedir para terminar a reunião também. Mais um tempinho transcorrido.
  4. Com tanto atraso sem conseguir começar reunião nenhuma, nosso herói acaba entrando no plenário triunfante, e às 10:44 anuncia a ordem do dia, o momento das votações, falando que todo mundo tinha que interromper tudo e avisou que tudo o que viesse depois corria o risco de ser anulado; momento para uma salva de palmas para o nosso herói impagável! 
  5. A ordem do dia então começou com 180 deputados no plenário, pois já havia dado tempo desta tropa todinha chegar, por causa dos problemas de trânsito, carro manual sem ar-condicionado, sabe como é, mas o número mínimo seria de 257 parlamentares.
  6. O presidente da sessão e do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo do PSD da Bahia, então resolveu interrompê-la para recomeçar depois da ordem do dia, como se o dia tivesse ordem.
  7. O debate que se prosseguiu presidido por outro amigo do nosso herói, deputado Felipe Bornier do PSD do Rio, então discutiu a validade da sessão concluindo que a sessão não valeu nada e não podia ser prosseguida. Mais um tempinho transcorrido.
  8. Deputado Chico Alencar, líder do PSOL, que não é amigo do nosso herói mas possui um lugar ao sol, o denuncia à imprensa do lado de fora por atrapalhar a justiça com relação aos seus pequenos deslizes inconsequentes, usando seu cargo para prejudicar uma investigação do Ministério Público, como só os grandes heróis sabem, se atrevem e podem fazer.
  9. Os parlamentares então foram embora ressabiados após nosso herói tê-los tratado como imbecis afugentando-os para deixarem o plenário, disse a deputada Mara Gabrillli do PSDB de São Paulo com palavras finas demais para a ocasião.
  10. Mesmo assim a reunião foi reaberta, mas só para debates e nenhuma deliberação; deliberacões só mais tarde, à noite, digo, no dia seguinte, digo, no fim de semana, digo, na próxima semana, ah sim, na próxima terça-feira. De terça em terça a galinha enche o papo e chega-se ao recesso anual de 3 ou 4 meses sem trabalhar, férias mais longas do que as férias das universidades australianas. Eles devem merecê-las, não é mesmo? Afinal, trabalham tanto... Enquanto isso, nada é deliberado e o futuro do país continua em sério risco, enquanto as pessoas vão empobrecendo de novo sem saberem porque. A sessão era só para analisar o relatório que pede a continuidade do processo de cassação do nosso herói; veja bem, pede a continuação, por favor, por misericórdia, não deixe o samba morrer... 
Reportagem de Gioconda Brasil, que a Globo sabe fazer as coisas quando quer, ou por equívoco...

A arte de Yue Minjuns, com o seu humor, cinismo, ênfase nas cores
fortes e vivas que são temas centrais em todas as suas exposições
individuais, características comuns do movimento realismo cínico.
Como é que os evangélicos se sentem e permitem tal representação? Você já se perguntou isso?

Eu não inventei essa história acima. Veja a reportagem de 4:25 minutos da amiga Globo na íntegra aqui:

http://globoplay.globo.com/v/
4620172/ 

Veja mais na Globo aqui também:

http://globoplay.globo.com/v/
4625867/

Agora uma melhor descrição do nosso ídolo.

O herói do golpe (impeachment do governo do PT) está nu. E daí? Eduardo Cunha permanece cheio de si como peça chave do esquema golpista, apadrinhado pela grande mídia e pela direita dos panelaços, de que se tornou ídolo. Quanto a estar nu, ele só pensa grande mesmo e quer proporcionar o melhor para o Brasil.

http://www.blogdoporfirio.com/2015/10/o-heroi-do-golpe-esta-nu-e-dai.html

Pausa

Para descontrair ou ir no toalete.

Somos cada vez mais monitorados.

“No mês passado, gastei tanto no cartão de crédito com flores, chocolate, jantares, vinhos e jóias, que a empresa de cartão de crédito me ligou perguntando:

- “E aí, comeu?”

http://recebiporemail.com.br/2012/03/somos-cada-vez-mais-monitorados.html

* Mundiça

Quem sabe o que é "mundiça"? 

É como o nordestino do sertão fala "imundície", ou pessoas miseráveis e analfabetas, que viviam na imundície porque mal tinham dinheiro para comer, quanto mais para cuidar da higiene própria ou do barraco antigamente, uma classe extinta no Brasil de hoje. Gente má se aproveitou para associar o termo a gente mal-educada, "barraqueira" e sem moral, mas não necessariamante isso é verdade, tratava-se de mais uma discriminação de ricos contra pobres, pois poucos são cafajestes só porque são pobres. 

É mais fácil se achar um rico cafajeste do que um cafajeste pobre.

domingo, 22 de novembro de 2015

Vitamina de Cultura

Fiquei muito feliz hoje de ter sido avaliado como estando no meio das nossas duas culturas, brasileira e australiana, pois é isso o que mais me empenho em papaguear, digo, propagar, que o melhor das nossas culturas deveria ser a mistura das duas no que cada uma tem de melhor. Pois agora fui promovido à própria personificação desta minha ideia.

As marcas negras são do neguinho aqui. As azuis são brasileiras
(deviam ser verdes) e as vermelhas da Austrália (deviam ser azuis
 
por causa da bandeira) para não se apossarem da cor do PT.
Este foi o resultado de uma pesquisa que colocou meu perfil de brasileiro vivendo no exterior nesta posição, feita por uma das principais organizações do mundo, a qual concentra-se em ajudar os indivíduos e organizações a se tornarem mais eficientes ao trabalharem numa escala global, através de uma ferramenta cultural on-line desenvolvida pela empresa. Àqueles que utilizam a ferramenta são fornecidas informações sobre a forma de interagir eficazmente com pessoas de cada parte do mundo. Como o acesso é restrito a certas empresas e universidades, suponho que não possa divulgá-la aqui, infelizmente.

De acordo com a figura acima, do lado esquerdo estão, na ordem, independência, igualitarismo, risco, objetividade, fóco no trabalho, e do lado direito, o contrário, respectivamente, interdependência, hierarquia, segurança, evasão, relacionamento.

Através das respostas a perguntas meticulosamente elaboradas, o sistema conclui o que dirige o comportamento de cada um dos respondentes individualmente. Juntando todo mundo de um mesmo lugar, a média representa a cultura do país.

Pesquisa on-line
O lado esquerdo dos resultados apresenta mais objetividade e menos interação social, enquanto que o lado direito apresenta mais relacionamento social do que rigor nas tarefas do trabalho. É o caso de conversar muito e tomar cafezinho enquanto o outro fica dando duro na mesa de trabalho. Já no Brasil, eu não me encaixava muito bem no padrão nacional, então não se pode dizer que virei a casaca ao morar no exterior.

No quesito independência versus interdependência, ser independente se contrapõe a depender dos outros sendo "interdependente", ou seja, enquanto um trabalha só e prefere interagir socialmente no decorrer do trabalho, o outro só trabalha em grupo, ou perde mais tempo construindo relações sociais do que trabalhando.

Pregando...
No quesito igualitarismo versus hierarquia, o primeiro prega a igualdade das oportunidades e dos direitos, enquanto que o segundo implica em pessoas com mais direitos e mais autoridade do que outras. Neste aspecto suponho que as respostas não reflitam a honestidade dos respondentes, porque aqui na Austrália as pessoas se submetem mais à autoridade do chefe do que no Brasil, onde esta autoridade pode ser obedecida pessoalmente, mas pelas costas ela é desafiada. Suponho que era assim que os austrailanos queriam ser, mas não é o que tenho observado in-loco.

No quesito risco versos segurança, o sujeito que aceita riscos pode ser doido ou ter apoio para fazer isso, enquanto que o que prefere a certeza da segurança para tomar decisões que não lhes tragam problemas na realidade dependem do julgamento de seus superiores de quem ele morre de medo de ter que enfrentar e justificar-se. Naturalmente que não sou suicida de correr riscos sem me preocupar com as consequências, mas pelo jeito o australiano se gaba de ser suicida, o que duvido muito. O suicídio deles é outra história. Me vejo desafiando e correndo riscos muito mais do que a média deles no trabalho, mas como isso é o que eles aprendem na escola, então devem responder conforme o esperado para atingirem a maior pontuação, os sabidinhos. Não se esqueçam que a Austrália se divide em australianos e imigrantes ou filhos de imigrantes altamente especializados em suas próprias universidades, e estes realmente correm riscos, ousam e avançam o país tecnologicamente, mas para efeitos de divulgação, eles são australianos.

Uma das perguntas envolve a capacidade de dizer NÃO!
No quesito objetividade versus evasão, ser objetivo ou evasivo baseia-se na capacidade da pessoa enfrentar suas decisões na frente dos outros, ser capaz de dizer não ou criticar abertamente, sem subterfúgios ao contrário de indiretamente. Esfregar o dedo na cara do outro sem temer que ele o pegue na esquina.

No quesito fóco no trabalho versus relacionamento, ter fóco nesta pesquisa foi colocado em oposicão a dar mais ênfase ao relacionamento. Eu não vejo assim, você pode ser focado no trabalho e manter relacionamentos do mesmo jeito. A melhor prova disso é o nosso filho, extremamente aplicado na universidade e no trabalho, porém com um grande número de relacionamentos reais e humanos, e não apenas digitais. E outro exemplo sou eu mesmo, enquanto treino minha nova subordinada, a transformo em mais uma amiga na vida. Se o povo australiano tem problemas em manter amizades sinceras, este não é o meu problema, o que posso fazer, eu faço.

Choque cultural mesmo entre irmãos
Mais um exemplo de choque cultural: minha mulher estava acabrunhada na academia de ginástica quando chegou uma colega, perguntou porque, e falou, que tal um café? Minha mulher respondeu, e café é bom pra isso (levantar o moral)? Ela ficou descabreada e passou a evitá-la nos dias seguintes. Nossa filha, que assistira a tudo, falou que minha mulher havia dado um fora nela. O lance foi que a australiana não foi clara ao chamá-la para tomar um café, mesmo sabendo que minha mulher não domina o Inglês como ela, e por conta disso recebeu uma resposta que lhe pareceu um fora. Que fazer?

Outro exemplo: uma colega chega pra minha mulher na academia e fala, "não estou muito bem hoje". Minha mulher naturalmente diz, "é, você não parece bem mesmo". A mulher ficou enfesada, deu uma rabissaca e disse, "mas eu vou ficar melhor!" Isso foi porque a resposta esperada por ela seria assim: "minha filha, vai ficar tudo bem, você vai melhorar". Do jeito que minha mulher falou como brasileira, mostrando que já tinha notado que ela não estava bem claramente, para ela soou como "você está horrrível, está um lixo, valha-me Deus".

Nada melhor do que conspirações para levantar dúvidas
De modo que, apesar de feliz com o resultado da pesquisa, ela está longe de ser infalível principalmente porque o que as pessoas dizem não é o que as pessoas fazem. Elas são sempre do tipo que aconselham "faça o que eu digo, não faça o que eu faco". Resultado muito aristotélico (lógico) e pouco platônico (emocional, intuitivo, psicológico). Eu, o Espírita, vou mais longe...

Atraso Cultural

O conhecimento de outras culturas ajuda nos negócios. Por exemplo, um australiano não deve pensar que, se um brasileiro chega atrasado numa tele-conferência ou reunião, ele o está desrespeitando, como é o que eles estão preparados pra pensar, do alto do pedestal de suas arrogâncias. 

Ele deve saber que chegar atrasado é uma instituição brasileira tolerável, mesmo que ele a odeie. Enquanto todos não chegam numa reunião, as outras pessoas tomam cafezinho e conversam entre si promovendo o contato social e expandindo a tal "network" de amigos e conhecidos. Os australianos não gostam disso porque significa falarem de si mesmos, de suas vidas, e eles não curtem o que consideram invasão de privacidade porque, realmente, costumam ter muito a esconder. 

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço
E como eu vejo este aspecto cultural? Bem, detesto atrasos e gosto de começar reuniões na hora exata como os anglos, indo direto ao ponto a ser resolvido. A diferença para os anglos é que, depois da reunião, para mim é hora da sociabilização, da descontração, tendo resolvido tudo o que era pra ser resolvido na reunião, mas para eles é hora de desaparecer depois da missão cumprida e nada de lero-lero. Do meu jeito une-se o útil ao agradável e podemos eat the cake and have it too (manter o bolo mas comê-lo também, um dos mais conhecidos jargões anglos que eles adoram mas dizem que detestam).

Este tipo de comportamento se deve à tal da independência sob a qual eles são criados, o que é uma coisa boa em si, mas é ruim quando ela afasta as pessoas, pais filhos e amigos que não se atrevem a se meter na vida deles por causa da tal independência e da tal privacidade, então eles fazem o que querem e frequentemente escolhem péssimas opções sem ter consultado ou se aconselhado com ninguém. 

O brasileiro não tem tanto a esconder até porque, se descobrem, ele tá lascado, e geralmente se descobre, pois brasileiro gosta de ser xereta e de falar dos outros. A contrapartida disso é que cada um pode contar com uma pá de gente pra ajudar quando ela precisa, enquanto os australianos têm que confiar nos serviços impessoais tipo polícia, bombeiros, ambulâncias e assistência social, todos sem conexão emocional nenhuma, ou seja, nenhum comprometimento de amizade ou amor, nenhum compromisso além do profissional que depende de cada um. É um salve-se quem puder.

Perna errada...
Para o brasileiro as decisões tornam-se mais difíceis porque tendem a agradar a todos, senão o criticam, enquanto os australianos têm mais autonomia, o que não impede dos outros criticarem do mesmo jeito, porém pelas costas, o que o faz sentir-se mais independente, senhor de si, e consequentemente, mais arrogante.

Conclusão

A conclusão que tiraram sobre mim, de certo modo me contrariou. Fiquei com tendências a ser dependente, algo execrável, e minha capacidade de interação social ficou um pouquinho pior do que o australiano, quando me considero bem mais sociável do que eles. O que ando fazendo de errado? Muita internet?

Gostei da posição com relação a ser direto pois não gosto de evasivas ou mentiras, mas realmente não sou radical, nesta parte posso concordar com o resultado da pesquisa. Sei sobre minhas limitações quanto a riscos e prefiro assim, enquanto no quesito equalitarismo, não gostei de ter sido colocado quase no meio do caminho entre ele e a obediência e defesa da hierarquia. Pensei que era melhor do que isso em termos de justiça humana. 

Pai às avessas... o famoso caso do pai alemão cujo filho mandou
nele e tornou-se o seu modelo masculino. Homem usar saia não é
problema em certas culturas. Para este pai fazer o sucesso que fez,
era preciso usar um vestido. Me engana que eu gosto...
O que mais detesto é submeter-me à vontade de alguém, exceto se esse alguém tem autoridade natural como um Jesus Cristo, porém suspeito que esta conclusão foi tirada porque respondi que no trabalho nem apoio liberdade total nem autoridade total, mas alguém tem que ter alguma autoridade. 

Sou mesmo a favor da liberdade total, mas reconheço que nem a todo mundo pode ser dada total liberdade. Então estas conclusões têm sempre algum "porém" que deveria ser levado em consideração. Dentro da liberdade total é onde aparece a liderança natural.

Uma prova que o relacionamento é mais importante do que as tarefas profissionais para o brasileiro pode ser exemplificada no próximo post.