quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Facebook Caboclo

Do lado de cá do Caribe, como um país vai de queridinho do planeta a uma estrutura podre? Por Rui Daher

Mesmo depois de um ano de pesada argumentação jornalística, acadêmica, política, jurídica, econômica, empresarial e, também, – louvado seja o Senhor  dos inadmissíveis narradores televisivos criminais, os leitores terão conseguido entender, com clareza, como um determinado país pode ser, durante quase 10 anos, o queridinho do planeta e, imediatamente, virar o ânus do mundo, inserido numa estrutura podre, decadente e sem futuro?

O resto não interessa e é perda de tempo ler, foi engano.

A resposta é Facebook, ou melhor, redes sociais das quais ele é o melhor representante nos dias de hoje. Claro que as culpadas não são as redes sociais, mas o mau uso delas pelas populações ingênuas e manipuláveis por outros membros das tais redes, mais inteligentes. 

http://www.cartacapital.com.br/economia/como-um-pais-vai-de-queridinho-do-planeta-a-uma-estrutura-podre-8748.html

Eu havia sido introduzido nas redes sociais por intermédio de uma
sobrinha no Orkut. Quando começou o êxodo de todos para o
Facebook, não embarquei porque não sou de abandonar o barco
quando os ratos estão abandonando, e segundo eu jamais me daria
ao trabalho de recriar outro perfil em outra rede social sem minha
sobrinha, mesmo que o Orkut tenha sido útil para reencontrar parte
da minha família. Agora que o Orkut morreu, tenho conseguido
sobreviver sem rede social e vou muito bem obrigado. 
A seguir, uma historieta envolvendo os milhares de amigos da loteria de João.

Facebook Caboclo, por Luiz Bianco

João entrou no Facebook logo quando virou febre. No início, apenas acompanhava o feed. Comentava algumas fotos, mas achava incrível encontrar tantos amigos da escola, da vida, todos em um único lugar. O Lelei, seu chegado da sexta série já era pai. O Pedro Bolota, apelido ganho por conta de seu formato arredondado na escola agora era bombado e só fala de Whey (soro de leite) no Feice. A Ana, que era a pati da sala e uma bonequinha, inflou e já não tem as mesmas curvas da época da oitava série. E por ali o João ficava sabendo de tudo e de todos.

João postou uma foto que foi muito curtida. O pessoal adorou ver ele com violão na mão mesmo sem ele saber tocar nenhuma nota. E ele pegou gosto. E postou mais fotos e foi ficando popular e ganhando likes e comentários. João se sentia bem, tinha uma sensação de estar perto de todo mundo. Os reencontros já nem tinham tantas novidades pois tudo João ficava sabendo ali mesmo, pelo Feice. E João trocava mensagens e conversava e gastava algum tempo ali teclando, e conversando e ganhando likes e fazendo novos amigos. 

Nunca foi tão fácil demonstrar o amor...
O tempo foi passando e João se tornou pai. Postou foto dos seus filhos. Postou foto do batizado e do casamento. A cerimônia foi linda e a foto que fez sucesso foi a dele com a gravata na cabeça e plantando bananeira. João conversa com seus amigos e nas horas vagas, aproveitava ainda pra reclamar da situação do país, da emissora de TV, da oposição. E todo mundo achava João um cara bacana e politizado. Já eram mais de 2000 amigos no Feice. João sempre tinha uma adição a ser feita e, em certo momento, resolveu que só adicionaria conhecidos. Seu posicionamento político já começava a gerar certo desgaste. E ele não queria desgaste, queria só compartilhar, curtir e conversar.

E ele tinha conversa. Era na mensagem e no mural, sempre conversando com seus 2000 amigos. E o tempo foi passando, João foi amadurecendo e postando. Mas era estranho. João já não era tão popular. Tinha menos notificações. Tinha menos mensagens para responder. Seus posts já não faziam o mesmo sucesso. Ele estranhava. O que estaria acontecendo?

Nunca foi tão fácil arrumar "amizades"...
Já de cabeça branca, João seguia com uma rotina. Depois de seus remedinhos, entrava no Feice. Mas cada dia estava pior. Pelo Feice soube que o Marquinho havia falecido. O Léo, amigo de infância não estava bem. E a cada dia, suas 2000 amizades minguavam. 1500, 1000, 500. Depois de tanto tempo, João começara a pensar em abandonar o Feice. Se não tinha ninguém lá, por que continuar? Foi drástico. Fez um post anunciando sua retirada:

"Amigos, diante dos fatos, vou excluir minha conta do Feice. Quem quiser pode me encontrar pelo telefone. Continuo em casa e vocês sabem onde me encontrar. Gostaria muito de vê-los. Quem quiser, peça o telefone que mando inbox".

Ninguém nunca apareceu. A casa estava sempre em silêncio. O telefone passava dias sem tocar. João pensava desolado: "nunca a proximidade foi tão distante quanto durante todos esses anos". Triste, ligou o computador, olhou para a tela, respirou fundo e fez o que no fundo, ainda relutava fazer: voltou ao Feice e postou um selfie sozinho com cara de triste. Logo, começou a receber alguns likes.

http://opercebedor.blogspot.com.au/2014/05/facebook-caboclo.html

Minha alma inocente quer se conectar com sua alma linda
Pergunta: Perfil de Facebook tem alma?

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