Os brasileiros gostam de dizer que a Austrália é um país amigável, e até os próprios australianos se atrevem a dizer que são um país que "inclui" todas as etnias numa boa.
A verdade é diferente. Veja aqui um australiano comparando Sydney com Nova York, outra cidade tida como desumana. Imagina se ele tivesse ido visitar o Rio de Janeiro ou Salvador...
Eis o seu relato traduzido livremente.
Nova York é muito grande e movimentada - mas o seu povo também pode ser surpreendentemente amigável.
Estou de pé na entrada de um hotel em Upper East Side, Nova York, e uma perfeita estranha me pergunta o que estou fazendo na cidade. Digo a ela que estou aqui para o memorial de meu pai e, um tanto enrubescida, ela me puxa para um abraço e diz: "Eu sinto muito pela sua perda".
Na noite seguinte, estou em um bar no centro e quando me levanto para sair, um homem ao meu lado me acena para parar. "Sua gola está torta", diz ele. "Você não pode sair assim por aí." E por um minuto mais ou menos ele endireita meu colarinho e ajeita meu casaco enquanto sua namorada olha a cena meio desconfiada.
Duas noites depois, meu irmão e eu entramos em uma lanchonete e ao caminharmos através da iluminação amarela fraca até o bar, um cara de aparência formal nos pergunta qual é a nossa banda favorita.
"Os Stones," meu irmão responde.
"Ah, qual é, cara?", ele retruca. "Os Beatles eram muito melhores."
E a partir dessa introdução, a conversa rapidamente salta para “O que vocês estão fazendo aqui? Quanto tempo vocês vão ficar? Venham conhecer minha irmã e seu namorado”. E como a noite vai caindo, seis outros grupos se reorganizam em torno do bar, regalando-nos com perguntas, convidando-nos para seus respectivos círculos, desejando-nos sorte, e no espaço de duas horas, meu irmão e eu recebemos mais gestos amigáveis de completos estranhos do que qualquer um de nós pode se lembar jamais ter recebido de estranhos em nossa própria cidade.
OK, então New York é o grande ponto de encontro do mundo, e talvez devêssemos sair mais em Sydney. Com a excessão de que saímos muito em Sydney mas não é nunca desse jeito. As pessoas nunca são tão solícitas, nem de coração tão aberto. Jamais tal combinação de calor, respeito e cortesia de pessoas que nunca vi antes. Seja nas calçadas, em elevadores, lojas, cafés, bares, restaurantes, lojas de departamento.
Do lado de fora, o tráfego está rugindo, o vento está cortante e o céu da cor cinza de um navio de guerra, mas em face de toda essa barulheira e a tenacidade da superfície úmida, no ar paira uma notável simpatia.
"Você é um cara bonito", diz o sem-teto lá embaixo, no East Village, depois de pedir dinheiro e receber, para o seu espanto, mais do que alguns dólares bastantes para resolverem seu problema." Oh, homem, você fez meu Natal. Você tenha uma boa vida, está me ouvindo?" E então ele me envolve em seus braços errantes e me abençoa, ali mesmo, na Bleecker Street.
Bob Dylan disse uma vez que Nova York era "uma cidade onde você podia congelar até a morte no meio da rua movimentada e ninguém notaria". Não há dúvida de que ainda é verdade. A vida é tênue para muitos. Mas em Nova York você pode sentir que pertence poucos minutos depois de chegar, enquanto em Sydney, pode levar anos até perceber qual é o seu lugar de direito. (Basta perguntar aos Melburnianos.)
Talvez seja a fisicalidade de um grande espaço urbano. Quanto mais bonita naturalmente, mais propenso é seu povo a uma certa fragilidade ou afastamento. Ou, talvez, é o senso de parentesco que aparece apenas por causa de uma terrível perda coletiva. De repente, há um reconhecimento de que a vida é instantaneamente perecível, e que todas as conexões têm um potencial sagrado.
Isso é o que senti aqui em Sydney nos breves dias cheios de flores em Martin Place após o atentado terrorista no Lindt café. Como um fac-símile pálido do 11/09, para falar a verdade, mas eram ligações forjadas na bigorna da destruição.
Eu suspeito que, no entanto, há algo mais em jogo, algo a ver com o espírito de um lugar e a maneira que nós nos sintonizamos com os outros de modo a sermos capazes de convidá-los – ou deixar de convidá-los – aos estranhos para dentro de nós.
Quando viajamos, sentimos este contraste mais claramente porque experimentamos um mundo novo lá fora. Quando testemunhamos uma lua crescente no outro lado do planeta, nós vemos a nós mesmos, e nosso próprio país, de forma diferente. Enxergamos promessas ousadas, novas possibilidades, a todo momento. Nos tornamos mais abertos para atos aleatórios de bondade.
No dia após o meu regresso a Sydney, encontro-me dirigindo em meio do tráfego pesado e vejo outro motorista prestes a tomar a minha frente. Buzino levemente e o motorista me dá o dedo dizendo "vai pra p... que te p...".
É quando eu sei que estou em casa.
David Leser é um ex-escritor de Good Weekend e autor de To Begin to Know: Walking in the Shadows of My Father (Allen & Unwin) Para Começar o Conhecimento: Caminhando nas Sombras do Meu Pai, indicado para o Prêmio Nacional Biogragia de 2015.
A verdade é diferente. Veja aqui um australiano comparando Sydney com Nova York, outra cidade tida como desumana. Imagina se ele tivesse ido visitar o Rio de Janeiro ou Salvador...
Eis o seu relato traduzido livremente.
Nova York é muito grande e movimentada - mas o seu povo também pode ser surpreendentemente amigável.
Upper East Side, Park Avenue, New York (Alto Lado Oeste, Avenida do Parque, Nova York) |
Na noite seguinte, estou em um bar no centro e quando me levanto para sair, um homem ao meu lado me acena para parar. "Sua gola está torta", diz ele. "Você não pode sair assim por aí." E por um minuto mais ou menos ele endireita meu colarinho e ajeita meu casaco enquanto sua namorada olha a cena meio desconfiada.
Duas noites depois, meu irmão e eu entramos em uma lanchonete e ao caminharmos através da iluminação amarela fraca até o bar, um cara de aparência formal nos pergunta qual é a nossa banda favorita.
Bar SevenFive, NY |
"Ah, qual é, cara?", ele retruca. "Os Beatles eram muito melhores."
E a partir dessa introdução, a conversa rapidamente salta para “O que vocês estão fazendo aqui? Quanto tempo vocês vão ficar? Venham conhecer minha irmã e seu namorado”. E como a noite vai caindo, seis outros grupos se reorganizam em torno do bar, regalando-nos com perguntas, convidando-nos para seus respectivos círculos, desejando-nos sorte, e no espaço de duas horas, meu irmão e eu recebemos mais gestos amigáveis de completos estranhos do que qualquer um de nós pode se lembar jamais ter recebido de estranhos em nossa própria cidade.
OK, então New York é o grande ponto de encontro do mundo, e talvez devêssemos sair mais em Sydney. Com a excessão de que saímos muito em Sydney mas não é nunca desse jeito. As pessoas nunca são tão solícitas, nem de coração tão aberto. Jamais tal combinação de calor, respeito e cortesia de pessoas que nunca vi antes. Seja nas calçadas, em elevadores, lojas, cafés, bares, restaurantes, lojas de departamento.
Do lado de fora, o tráfego está rugindo, o vento está cortante e o céu da cor cinza de um navio de guerra, mas em face de toda essa barulheira e a tenacidade da superfície úmida, no ar paira uma notável simpatia.
"Você é um cara bonito", diz o sem-teto lá embaixo, no East Village, depois de pedir dinheiro e receber, para o seu espanto, mais do que alguns dólares bastantes para resolverem seu problema." Oh, homem, você fez meu Natal. Você tenha uma boa vida, está me ouvindo?" E então ele me envolve em seus braços errantes e me abençoa, ali mesmo, na Bleecker Street.
Bob Dylan disse uma vez que Nova York era "uma cidade onde você podia congelar até a morte no meio da rua movimentada e ninguém notaria". Não há dúvida de que ainda é verdade. A vida é tênue para muitos. Mas em Nova York você pode sentir que pertence poucos minutos depois de chegar, enquanto em Sydney, pode levar anos até perceber qual é o seu lugar de direito. (Basta perguntar aos Melburnianos.)
Talvez seja a fisicalidade de um grande espaço urbano. Quanto mais bonita naturalmente, mais propenso é seu povo a uma certa fragilidade ou afastamento. Ou, talvez, é o senso de parentesco que aparece apenas por causa de uma terrível perda coletiva. De repente, há um reconhecimento de que a vida é instantaneamente perecível, e que todas as conexões têm um potencial sagrado.
Isso é o que senti aqui em Sydney nos breves dias cheios de flores em Martin Place após o atentado terrorista no Lindt café. Como um fac-símile pálido do 11/09, para falar a verdade, mas eram ligações forjadas na bigorna da destruição.
Eu suspeito que, no entanto, há algo mais em jogo, algo a ver com o espírito de um lugar e a maneira que nós nos sintonizamos com os outros de modo a sermos capazes de convidá-los – ou deixar de convidá-los – aos estranhos para dentro de nós.
Sydney, Austrália |
No dia após o meu regresso a Sydney, encontro-me dirigindo em meio do tráfego pesado e vejo outro motorista prestes a tomar a minha frente. Buzino levemente e o motorista me dá o dedo dizendo "vai pra p... que te p...".
É quando eu sei que estou em casa.
David Leser é um ex-escritor de Good Weekend e autor de To Begin to Know: Walking in the Shadows of My Father (Allen & Unwin) Para Começar o Conhecimento: Caminhando nas Sombras do Meu Pai, indicado para o Prêmio Nacional Biogragia de 2015.
Sydney Pode Aprender Uma Coisa ou Outra Sobre Amizade com Nova York:
http://www.smh.com.au/comment/sydney-can-learn-a-thing-of-two-about-friendliness-from-new-york-20151229-glw56q.html#ixzz3wKnA3H3M
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