domingo, 3 de janeiro de 2016

Religiosamente Música

E Você, Sabe Cantar?

Eu sabia quando era pequeno. Depois achei que minha voz perdeu alcance quando ela engrossou, e parei de cantar, mas hoje em dia venho descobrindo que posso melhorá-la através de exercício. Foi quando vi uma entrevista com Adam Lambert em que ele explica que a voz é um músculo, e por conseguinte, pode-se exercitar, desenvolver-se e alcançar notas mais altas. Ele que o diga, dificilmente um homem atinge notas altas como as suas. 

Junto com Adam, descobri este cara engraçado que, com pose de macho, canta como a canadense Celine Dion mas com voz masculina, Jeremy Jordan, It's All Coming Back To Me Now (Broadway Loves Celine Dion) - "Estou Lembrando de Tudo Agora" (Broadway Adora Celine Dion), com perdão do côro semitonado (na Broadway? Pois é... quero meu dinheiro de volta):

https://www.youtube.com/watch?v=TppJMa8apkc

Cantores assim me surpreendem, eles vendem música popular descartável, mas por trás de um trabalho aparentemente superficial, existe um grande artista muito sério e afinado.

E o que dizer de gays que parecem mais machos do que os auto-proclamados machões, como Cheyene Jackson? Aqui, ouça seu incrível alcance de voz masculina com I'm Blue Skies (Eu Sou o Céu Azul):

https://www.youtube.com/watch?v=1ff40PZ_zPw

História

Absorvi alguns rudimentos da arte de cantar com minha mãe que tinha uma bela voz cristalina e afinadíssima, mas só nos abrilhantava com uma colherzinha de chá em média uma vez a cada 5 anos porque saía sem querer.
 

Cantar é uma arte. Algumas pessoas já nascem sabendo como cantar bem, mas isso não significa que elas sejam as únicas que podem soltar a voz. Uma aula de canto pode tanto corrigir as falhas de pessoas desafinadas como pode aprimorar a técnica daqueles que já sabem cantar, dizem os especialistas.

Para mim, ou você tem ouvido, ou não tem. Contudo, suponho que mesmo quem não tenha "ouvido" saiba como reconhecer uma boa música afinada, senão estes seriam a platéia dos maus artistas, algo assim como as platéias dos trios elétricos no Brasil. E por falar em trio elétrico como exemplo de má música, Netinho é um cara que me fez tornar-se seu fã por ser fora do comum.


A extraordinária pessoa humana que é Netinho é um cantor de trio elétrico que não desce para a baixaria (que eu saiba), aqui cantando Fim de Semana, de 1999:

Do blog até 2013 http://blog.netinho.com.br/ migrou para o Face

Música, Maestro

Maestro, dá o tom: Lá bemol, e começa a tocar.

Você começa a cantar no tom, mas para atingí-lo, é preciso ter um bom ouvido e ouvir-se a si próprio, por isso os cantores hoje em dia usam aparelhos dentro das orelhas, para que o barulho externo não os perturbem e eles possam ouvir os instrumentos e suas próprias vozes, conseguindo cantar bem e afinado no meio de qualquer zoeira.

Para chegar no tom, você solta a voz mais ou menos no que acha que vai ser o tom e rapidamente ajusta, tão rapidamente que ninguém nota, e se nota, acha que é charme.

Ney Matogrosso, rei do falsete brasileiro
Você deve saber que aquela música, naquele tom, você consegue cantar todinha, senão vai ser um fiasco. Vai ter nota alta que você não vai conseguir cantar nem com falsete, ou nota baixa que vai lhe fazer tossir.

O falsete é um recurso usado por quem não tem alcance de voz, se você canta, sabe disso. Geralmente a voz em falsete é fraquinha, e é preciso quase comer o microfone para se fazer ouvida, mas também pode ser bem forte. Ney Matogrosso, por exemplo, o que tem de grosso no nome tem de fino na voz de falsete. Ele apenas gostou de cantar com aquela voz por óbvias razões, mas ela é fraca por si e ele, quando quer, pode cantar com sua voz normalmente grossa.

Hoje em dia os homens cantam mais em falsete do que com suas vozes masculinas, virou moda talvez por influência do feminismo que cada dia avança mais em seu domínio global. Porém, alguns raros tanto cantam em falsete quando querem soar mais românticos, como dão as mesmas notas em voz cheia, mostrando suas potências.

Eu, por exemplo, só posso cantar certas músicas, e em geral em tons que quase ninguém canta, por causa do alcance da minha voz. Porém, tem muita gente de voz limitada que tira o maior proveito dela, como aparentemente Suzanne Vega (My Name is Luka), 1987 (a gente nunca sabe o que se esconde atrás de certos artistas que fazem "tipo"):



Tem gente que canta sem ousar, canta como esperado, sem nenhuma criação musical que a personalize. Cantores estrangeiros em geral primam por carimbarem uma marca em suas perfórmances regadas a criatividade, floreios, trinados, gorjeios, vibratos, firulas e malabarismos vocais que lhes tornam únicos e imitados.


Ivete Sangalo também sabe cantar, é compositora, produtora, mãe
e atriz: http://www.ivetesangalo.com/
Gostaria muito de ver brasileiros fazendo isso sem ser nas igrejas, e principalmente que eles criassem suas próprias firulas procurando não imitar os estrangeiros. Eu não diria que Tim Maia e seu sobrinho É de Morte, digo, Eddy Motta, imitavam os cantores de jazz e soul norte-americanos, mas não se pode negar a influência destes naqueles.

O mesmo se diz daqueles que cantam no estilo Reggae como Cidade Negra, mas influência não é coisa ruim, principalmente quando é adaptada ao gosto do brasileiro.

Uma cantora pode até ter voz como Ivete Sangalo, mas se quando ela canta, todo mundo canta também, não dá pra ouví-la e qualquer coisa é a mesma coisa. Quando dizem que Dalva de Oliveira é que era cantora, é porque ela ousava e usava toda a sua voz imensa. Tenho a impressão de que a maioria dos artistas brasileiros tem vergonha de soltar a voz, é como se evitassem ouvir gozações ao invés de elogios.


Djavan
Tem músicas que são muito difíceis de cantar por causa das alternâncias de acordes e melodia. Há um truque muito usado por cantores experientes como mais uma forma de desafio à extensão de seus alcances, mas como também uma forma nova de cantar a mesma coisa, que é subir uma nota ou meia-nota, o que muda tudo, não só nos instrumentos, como na voz da pessoa que pode até não conseguir cantar naquele sobre-tom mais alto. 

Tem músicas cuja sequência de acordes é inesperada, imprevidente, o que as torna mais bonitas e mais desafiantes, enquanto que a maioria pode ser predita de um jeito que qualquer um pode cantar sem sequer saber como é a música. Músicas difíceis devem ser muito boas para exercitarem os compositores para eles serem capazes de atingirem patamares mais complexos, sem perderem a mágica da beleza. Djavan é mestre em música complexa.

Mas algumas pessoas tentam criar, e são até bem criativas, mas não acertam, e caem na vulgaridade, na mediocridade, ao fazerem músicas e letras.

INXS

A banda INXS australiana criava primeiro a batida diferente, depois lançava uma música em cima, e por final inventava uma letra, como mostra seu filme muito bem feito, cujo trailer pode ser visto aqui.



O filme "Never Tear Us Apart: The Untold Story de INXS" (Nunca Nos Separaremos: A História Não Contada do INXS" concentra-se nos seis membros da banda e a relação artística e emocional no coração do INXS de Sydney, Austrália, montado por Michael Hutchence e Andrew Farriss. O drama em duas partes traça sua incrível ascensão ao topo das paradas internacionais - e as consequências amargas de lidar com a perda de Michael Hutchence. O filme promete um olhar autêntico, por trás das cenas, sobre o que realmente aconteceu.

Formada como Os Irmãos Farriss (The Farriss Brothers) em 1977, em Sydney, os 3 irmãos tecladista Andrew, baterista Jon e guitarrista Tim Farris, haviam se unido à boa aparência e presença magnética e sensual do vocalista Michael Hutchence (morto em 1997) que fizeram dele o ponto focal da banda, e também ao outro guitarrista Kirk Pengilly e ao baixista Garry Gary Beers, sobrevivendo 20 anos com o INXS, produzindo rock pop new wave alternativo que incluiram elementos funk e dance num estilo pub rock (rock de barzinho).


Michael faleceu intoxicado por heroína no que foi considerado suicídio, depois de passar por depressão e sofrer danos físicos ao participar de uma briga entre bêbados na Dinamarca, tudo bem típico dos jovens australianos, praticamente um clichê. Apesar de todo o sucesso, toda a perfeita coordenação da banda e da equipe de amigos de escola durante tantos anos, ele não se satisfazia com nada e foi se deteriorando.

Quanto ao músico, o instrumentalista, o desafio está em tocar qualquer música em qualquer tom, para adaptar-se ao cantor do momento. Fora as sequências de acordes que dá pra advinhar em todas as músicas em geral, tanto o instrumentalista quanto o cantor devem saber música muito bem ao ponto de olharem para uma partitura e saírem cantando e tocando tudo no tom certo sem sequer conhecerem a harmonia. Eu jamais consegui isso porque não fui bem treinado, e tocava de ouvido, o que me fazia errar muito. É o domínio do instrumento que faz o artista, seja a voz, o violão, o piano ou o pincel.

Como declarado por Adam Lambert, quando escuto uma nota fora de tom, dói-me no coração como uma pontada.

Apoteótico Fabio Vaz

E minha pesquisa na internet foi prosseguindo e me deixando maravilhado com a quantidade de coisas que encontrei, inclusive na língua portuguêsa. Acabei achando um cara extraordinário chamado Fabio Vaz que, pra variar, tinha que ser evangélico. Ele simplesmente faz tudo o que o Adam Lambert faz e talvez melhor ainda. 

O cara é uma virtuose em suas aulas de canto na internet, mas procurei algo sério para demonstrar seu poder e não consegui. Ele só canta músicas evangélicas que considero medíocres porque sou arrogante, que me desculpem o meu defeito. Este vídeo tem 12 minutos e ele começa a cantar aos 2:54 min, então você pode pular pra lá se não quiser ouvir seu recado religioso, que é o preço da aula. Gostei mais dessa aula que é uma continuação de outra, sobre melisma e apogiatura - aplicação prática.



Ele é professor de técnica vocal em Curitiba, na escola D'Voz, 
www.dvoxcompany.com.br. Interessante notar como o Inglês está substituindo o Português aos poucos (referência ao nome do site), mesmo na era PT em que o Brasil deixou de ser quintal dos Estados Unidos, sem falar que os próprios exercícios do Fabio soam como norte-americanos, sofrendo de inegável influência que, infelizmente, no caso é benéfica, na falta da mesma qualidade de exemplos no Brasil.

Este outro vídeo tem 21 minutos e devia ser visto antes do anterior. Ele começa a cantar nos 4:20 minutos. O vídeo é sobre melisma, apogiatura e escala vocal.



E fui aprendendo mais, porém, lembrem-se, não sei nada, sou totalmente ignorante, só tive um tiquinho de prática de canto empírico na infância e este post é mais pra mim mesmo do que pra qualquer outra pessoa, a fim de registrar o que aprendi, para reler de vez em quando. Daqui a uns anos provavelmente virei revisitar este post e direi, mas que cara mais burro...

Pra comemorar o dia dos mortos de 2015, atrasado, aqui vai a extraordinária voz de Silvinha Araújo, mais conhecida como esposa do cantor de rock Eduardo Araújo que lhe roubava toda a cena, cantando músida do humorista Moacyr Franco, Suave É a Noite:


Site Descomplicando a Música:


Country

Não gosto de música country, mas algumas músicas tocadas me levam a outras paragens. Aqui alguns exemplos envolvendo instrumentos como do violão dobro com características de banjo e guitarra havaiana, a rabeca (ou fiddle, espécie de violino), o bandolin (ou mandolin) e a harpa eletrônica.

http://musiteca.com.br/aguarde/conheca-o-dobro/

Aqui estão dois exemplos da mais refinada música country que conheço, inteiramente do meu gosto. Greg Booth toca o clássico Folsom Prison Blues (Blues na Prisão de Folsom) de Johnny Cash no violão dobro (não gosto do original, perdoe). A guitarra é uma Scheerhorn L corpo '09. A afinação é de sintonia G regular enquanto o baixo G caiu para E. Não sei o que isso significa, está escrito lá no Youtube.


Aqui no filme musical Hair, a finíssima música instrumentada "Don't Put It Down" (Não Bote pra Baixo), na cena de 2 minutos que começa no minuto 1:34, em que a sofisticada nova iorquina Sheila Franklin (Beverly D'Angelo) troca de roupa com um oficial bêbado dentro de um carro pelo meio do deserto. Não consegui informação sobre esta música na internet e nem no DVD Hair, e ficou pior porque na peça homônima da Broadway, usaram o mesmo título para uma música totalmente diferente, com letra e tudo. Detesto quando as pessoas tentam enganar as outras...


Então, o que aprendi?

Que existe a voz forte que vem do peito e voz fraca de ressonância na cabeça que é o falsete.

Que sem "vibratto", geralmente a voz não tem vida e parece pouco profissional.


Mostra o teu que eu mostro o meu. Quer saber?
Mostro o meu assim mesmo.
Que o que diferencia um cantor profissional de um amador é sua capacidade de acrescentar harmônicas e sobre-tons.

Que o excelente cantor quase não passa de 4 registros ou oitavas.

Que um cantor pode extender suas notas graves e agudas através de treino.


Que podemos melhorar nossa voz se nos ouvimos a nós próprios, e um meio mais fácil do que gravar nossa própria voz é falar com duas orelhas de elefante.


Certamente que todas as opiniões aqui partem da minha cabeça, o que quer dizer que tem muita coisa errada, mesmo com o respaldo do que existe na internet. Muita gente pode discordar fragorosamente. O que posso dizer é que costumo ter um senso de direção aguçado, e costumo perceber coisas que quase ninguém percebe facilmente, ou até mesmo se recusa a perceber mesmo diante de fortes argumentos. Tenho que ficar repetindo isso pra mim mesmo porque, se for depender do apoio de outras pessoas, simplesmente minha personalidade é desmontada completamente. Sim, eu já tentei isso, por isso resolvi acreditar mais nas minhas próprias percepções. Se elas estão erradas, mostre-me o seu caminho, meu Pai! Senão eu mostro o meu... caminho! Poxa, tudo tem duplo sentido aqui...

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