Xô investimentos, xô, xô, não estão ouvindo não? |
Por Ruth Costas, Correspondente de Negócios da BBC Brasil, São Paulo, 14/11/2014
Foto no artigo: A Jaguar Land Rover estava em clima otimista no Salão de Automóveis em São Paulo.
O otimismo com a economia brasileira tem estado escasso hoje em dia, por isso, quando alguém se atreve a desafiar essa tendência, tende a atrair muita atenção.
As razões para o pessimismo são óbvias - os analistas de mercado esperam que o país cresça menos de 0,3% este ano e muitos críticos acusam a presidente Dilma Rousseff de inépcia na economia.
A inflação está perto do teto da meta de 6,5% e todo mundo mal pode esperar para ver quem a presidenta recém-reeleita vai escolher como seu ministro das Finanças .
Jaguar Land Rover, fabricante do mais belo carro do mundo, o Evoque |
Phil Popham, diretor de marketing da JLR, e Terry Hill, diretor-gerente para a América Latina, disseram que eles estavam altamente otimistas sobre as perspectivas de seus negócios no país.
"O segmento de 'carros luxuosos' tem crescido de forma constante, apesar da desaceleração", explica Popham, que diz que eles estão visando além da época atual. "Nosso foco é no longo prazo."
Land Rover Discovery Sport 2015 a ser fabricado no Brasil |
Espera-se um custo de cerca de US $ 290 milhões ($ 185 milhões de libras) e a criação de, inicialmente, cerca de 400 empregos.
Foto no artigo: A montadora chinesa Chery International tem uma nova fábrica no Brasil.
Mas a JLR não é o único grupo estrangeiro a enxergar além os problemas econômicos atuais do Brasil.
Meu carro de sonho atual, BMW-X4-F26 conceito 2015 e o Range Rover Evoque |
Outra montadora chinesa, a Geely Automobile, também confirmou que está pensando na abertura de uma fábrica no país.
'Vários pontos fortes'
Apesar do crescimento econômico lento, o Investimento Estrangeiro Direto (Foreign Direct Investment - FDI) no Brasil chegou a US $ 66.5 bilhões nos últimos 12 meses, de acordo com o Banco Central do Brasil.
Geely GLEagle G5, chinês |
Dados da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Economic Commission for Latin America and the Caribbean - ECLAC) também mostram que este tipo de investimento no Brasil aumentou 8% de janeiro a agosto em relação ao mesmo período em 2013.
Isso aconteceu num momento em que, em toda a região, tem havido um declínio no FDI de 23%.
Chery TX conceito, chinês |
"Alguns desses investimentos foram de fato planejados anos atrás, quando o crescimento do Brasil era maior", diz o economista Caio Megale, do Itaú Unibanco.
"Mas isso só conta parte da história. Na verdade, o mercado do Brasil tem vários pontos fortes que sustentam o interesse dos investidores, apesar das incertezas econômicas - como a sua estabilidade política e seus relativamente fortes fundamentos econômicos", argumenta ele.
Irene Mia, diretora regional para a América Latina e Caribe para a Economist Intelligence Unit, concorda.
Eles têm planos de abrir um escritório em São Paulo até o final do ano, para "melhor servir a nossos clientes brasileiros e a consumidores internacionais com foco no Brasil".
"O crescimento lento é apenas parte da história e não é de forma alguma o único critério em que os investidores concentram suas decisões de investimento. A atratividade do Brasil para o FDI continua a ser enorme", diz ela.
Planos decenais
Nos últimos anos, milhões de brasileiros foram retirados da pobreza, o que representa uma nova classe média de consumidores. Este processo abrandou recentemente, mas ainda está em curso.
Em 2011, Peugeot fez 10 anos de fabricação no Brasil e teve destaque no filme Rio 1 em parceria com a Fox Filmes |
Ao mesmo tempo, as taxas de desemprego permanecem em níveis historicamente baixos, e a desaceleração econômica não impactou dramaticamente a vida e os hábitos de consumo da maioria dos brasileiros.
"O mercado de cosméticos hoje no Brasil é o terceiro maior do mundo, seu mercado de automóveis é o quarto maior no mundo e seu mercado de laptops ocupa o terceiro lugar no mundo", diz Olavo Cunha, do Boston Consulting Group.
10 anos, como se deve ver o Brasil |
Outro fator de fomento do interesse dos investidores no Brasil é que alguns setores da economia - e algumas regiões geográficas do país - ainda estão crescendo rapidamente.
Petróleo e gás, por exemplo, continuam a atrair a atenção agora que o governo concluiu a primeira rodada de leilões para a exploração das chamadas reservas profundas do "pré-sal".
Mercado de luxo
A infraestrutura também é vista como um setor promissor, de acordo com Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet, um think-tank focado na globalização da economia brasileira.
"Ela tem um enorme potencial para crescer, se o governo for capaz de conseguir montar um ambiente regulatório mais amigável para os negócios", diz ele.
Louis Vuitton, primeira Global Store foi no Brasil em 2012 http://www.bolsasdevalor.net/tag/varejo-de-luxo/ |
O mercado de bens de luxo é outro exemplo. De acordo com um relatório da McKinsey, o número marcas estrangeiras de luxo no Brasil dobrou nos últimos cinco anos. E ainda entre as três principais marcas do país, há só 0,3 lojas para cada milhão de clientes em potencial - em oposição a quatro lojas na China.
Enquanto isso, a JLR prevê a participação de veículos de luxo no país a subir de 2% para 4-5% do mercado de carros no Brasil em 2020. Enquanto que nos países ricos, o segmento em geral representa 10% do mercado mas tem pouco espaço para crescimento.
"Além disso, as empresas estrangeiras também estão descobrindo aos poucos o potencial de crescimento fora das capitais e áreas metropolitanas", diz o economista Rodrigo Baggi, da consultoria Tendências.
"Estimuladas pelos recursos do agronegócio, essas cidades do interior estão se tornando uma nova fronteira de consumo."
Até onde vai a falta de bom senso no mundo. Só um corte de pelo deste cachorro custa 3 meses de patrocínio de uma criança pobre no terceiro mundo através da WorldVision. É uma cachorrada... http://www.petrede.com.br/2010/servicos/mercado/cachorros- levam-vida-de-luxo-em-manhattan/ |
"Um carro que custa $ 15.000 dólares nos Estados Unidos pode ser vendido no Brasil por duas ou três vezes esse valor", diz ele.
Este preço mais alto compensa, em parte, os custos da carga tributária maior do país, sua tarja vermelha e sua infra-estrutura conturbada.
"Mas as empresas também têm margens de lucro mais elevadas aqui. Elas são pressionadas por barreiras protecionistas do Brasil a produzirem no país a fim de poderem acessar os mercados locais. E uma vez que eles estejam dentro, eles também estão relativamente protegidos contra a concorrência externa", argumenta.
"Infelizmente, os consumidores brasileiros são os que perdem."
http://www.bbc.com/news/business-30040739
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