segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Amizade Psico-Cyber

Um ano passado nas aldeias mais remotas na Amazônia e no Peru não soa como a melhor receita para um documentário sobre a Internet, mas isso é exatamente o que o cineasta Michael Kleiman fez no documentário Web passado no dia 25/02/2016 no canal de TV digital SBS 2 da Austrália. Ele foi atrás da iniciativa One Laptop per Child (Um Laptop por Criança) - uma ONG que traz tudo o que a conectividade que nós temos de lambugem para a juventude menos conectada do mundo.

O documentário Web capta as primeiras interações das crianças pesquisando no Google, vendo trechos de filmes antigos no YouTube e percebendo quanta informação está na Wikipedia. É uma exploração envolvente da Net como um agente de mudança positiva e negativa... o que nos leva a pensar nos outros documentários que têm revelado o imenso poder da internet.

By Shane Cubis 

Em Inglês6 Documentários de Tirar o Fôlego que Vão Fazer Você se Curvar Diante do Poder da Internet:

http://www.sbs.com.au/guide/article/2016/02/25/6-gripping-documentaries-will-make-you-bow-power-internet?cid=sbs:guide:tile1

Assisti um pouco deste documentário caindo de sono depois de uma viagem, mas peguei alguma coisa, e dentre elas a mais poderosa de todas, em conexão com o teor deste blog.

Michael Kleiman e equipe filmando o pai peruano
No final do documentário, o cineasta prepara-se para ir embora. Diga-se de passagem que trata-se do tipo de documentário em que a equipe não aparece, apenas as pessoas locais, como se eles fossem uma formiguinha ou uma mosquinha convivendo alí, tomando notas e sussurrando pra gente. É assim, faz de conta que não estamos aqui, e fingem que não estão mesmo, ficando caladinhos e só observando...

Mas o fato é que o cineasta se hospedou na casa de uma família bem simples do interior. Foi quando o dono da casa, pai de família, enquando juntava o capim em seu trabalho diário no campo, disse para o cineasta, "quando você for embora, não se esqueça da gente".

De volta à casa o cineasta continua finalizando a entrevista perguntando, "porque você pergunta constantemente se eu vou esquecê-lo ou à sua família?" O campesino diz, "é porque depois de todo esse tempo na nossa casa, você tornou-se mais um membro da família, e a tendência é que quando você for embora, que estiver na sua casa lá bem longe, vá se esquecer de nós e não vá nem ligar mais para conversar. Você sabe, como membro da família agora, indo embora, todos vão sentir sua falta, a casa vai ficar vazia sem você, teremos menos coisas para conversar e sorrir". O campesino, homem bruto, do mato, sentado na frente de sua casa, disse isso na maior das ingenuidades e simplicidades para outro homem, um estrangeiro estranho, e com a maior sinceridade que se lia em seus olhos e se via no sorriso meio sem graça de sua boca, o sorriso triste de uma pessoa que sabe que vai perder uma outra muito querida.

Então, isso é amizade?
Aquilo foi irradiado para os vários entrevistados como Vint Cerf, "Pai da Internet", Jimmy Wales, vice-presidente do Google, Nicholas Negroponte, fundador da Wikipedia, Robert Wright, fundador do One Laptop per Child, Clay Shirky, autor do best-seller Nonzero do New York Times, Richard Clarke, aclamado autor de Here Comes Everybody & Cognitive Excedentes, Walter Bender, primeiro conselheiro de segurança cibernética da nação ao Presidente, Sugar Labs, co-fundadora do One Laptop per Child, cada um exibindo uma reação de espanto e surpresa.

Foi um espetáculo à parte ver a reação deles ao voto singelo de amizade verdadeira do campesino. Eles sorriram meio sem jeito cada um e a câmera também pegou isso, descabreados, encantados, um sorriso meio de lado também, dizendo "... isso é amizade...". E o espanto foi aumentando, "isso realmente é o que amizade significa". E partiram para comparar esta amizade real, coisa que eles não conhecem assim, nesse grau de sentir falta, ter saudades, no país deles, na cultura deles, com as amizades modernas regadas a internet, todo tipo de jeitos de se fazer "amigos" online, desde as redes sociais até os sites de namoro e os chats via Skype mostrando imagens de gente se divertindo, celebrando, sorrindo, se abraçando, mas nada chega aos pés do que aquele homem simples falou e transmitiu do coração em corpo presente. De repente todas aquelas cenas exuberantes via a internet que praticamente todos conhecem e curtem hoje em dia passaram a assemelhar-se a um imenso vazio... está faltando algo...

Internet Personalizada

4,6 bilhões de pessoas no meio do total de 7 bilhões no mundo em 2013 ainda não têm acesso à internet, ou seja, 68% da humanidade vermelha, quero dizer, encarnada (incluindo bebês e anciãos).

http://ahumanright.org/ Projeto Internet para Todos 

Um dos maiores objetivos da internet de graça é expandir a gama de anúncios e propagandas para acertar no gosto individual de cada um, assim aumentando as chances de cada pessoa consumir mais produtos e contribuir para o sucesso dos bilionários acionistas da grandes corporações globais, dizia Mark Zuckerberg, o hacker norte-americano fundador do Facebook que chutou seu parceiro brasileiro idealista Eduardo Saverin na primeira oportunidade (conclusão minha, não dêem crédito pois sou muito judgemental - julgador, crítico, mordaz, invasor de privacidades, características de brasileiro), não necessariamente com estas palavras.

Seriado britânico Cuffs
Ontem, num episódio da série de TV britânica Cuffs (algemas), que mostra o dia-a-dia de um grupo de policiais e seus dramas na TV australiana, a polícia é chamada por uma mulher vítima de violência doméstica, mas quando a polícia chega em sua casa e a vê toda arrebentada, ela se retrai e não faz queixa. Apesar do parceiro ser preso por 24 horas, ao ser solto pela manhã, sua mulher vai lhe buscar e saem abraçados. Quando um dos policiais que a visitou vê a cena, diz para seu companheiro, "mas isso é um absurdo". O companheiro dá-lhe um safanão grosseiro lhe encostando na parede e dizendo para ele jamais se atrever a julgar alguém! 

Bem, certamente que tal policial está certo, mas é este tipo de "educação e respeito à privacidade" alheia que permite tais abusos continuarem e as pessoas sofrerem até se matarem ou serem assassinadas. Até que ponto a "educação" de "alto-nível" está certa quando comparada à verdadeira mania do brasileiro em se meter na vida dos outros e com isso não permitir que tais abusos aconteçam tanto quando nestes países "educados"? Eu mesmo sou partidário do meio termo, todo mundo sabe disso, nem tanto, nem tampouco.

Adaptar-se a outra cultura nem sempre é fácil
Minha mulher me recrimina porque eu dizia que ela deveria se adaptar à cultura australiana, coisa que já não digo mais pois não devemos aprender o que não presta. Hoje eu digo para ela aceitar porque não podemos mudar o mundo, mas permanecer com seus valores morais brasileiros que são melhores do que os dos australianos em muitos aspectos, mas ser capaz de conviver com eles, pois afinal somos cidadãos deste país. Agora imagine um muçulmano imigrado do Oriente Médio, ou um asiático da China, como ele se sente? Se as nossas culturas não são tão próximas mas diferentes, imagina a deles.

No caso, a mulher não denuncia por vários motivos, dentre eles o de que ela tem medo de ser morta caso deixe o marido violento, ou acha que o ama mesmo assim, e que ele também a ama, que é só o "jeito" dele, e que ele um dia vai mudar.

Se interessar, leia artigo A História por Trás do Diaspora, a Rede Social que Queria Acabar Com o Facebook, escrito por Alec Liu em Português aqui, para saber como existem ainda muitas pessoas altruístas no mundo:

http://motherboard.vice.com/pt_br/read/diaspora

"Para expandir sua base de usuários e lucros com anúncios, o Facebook aos poucos erodiu a proteção aos seus usuários através de redesigns, persuadindo-os a compartilhar mais e mais, com maior frequência. O fluxo constante de mudanças fez parte do ethos de Zuckerberg, por meio da sua máxima que agracia muitos murais de verdade em Menlo Park (eleita pela CNN como uma das 15 melhores cidades americanas para os solteiros ricos, na Califórnia, entre Silicon Valley e São Francisco): “Sempre esteja criando”. Mas também refletia a maior regra do Facebook: ganhar dinheiro com anúncios a partir dos dados de seus usuários.

Desculpem, não são sapos mas rãs... como era o nome da minha rã
de estimação?
Desde seu lançamento, o Facebook fez alterações em suas configurações de privacidade – a partir da pressuposto de que os padrões de privacidade estavam mudando – deixando os usuários de fora disso, que descobriram sobre certos abusos depois de ocorridos. Era como a metáfora do sapo, aos poucos cozinhando na panela. O sapo pula fora se a temperatura sobe rápido demais. Mas se ela sobe gradualmente, o sapo nunca percebe, e fica na água até morrer fervido. Exceto pelo fato de que esta anedota é falaciosa. Na maioria das vezes, o sapo percebe sim."

Assim mesmo é a população brasileira neste momento, réfem do Facebook que manda na vida dela, e que ela não percebeu como tudo começou e não sabe como nem quer se livrar. O caso do Brasil é mais grava, tem sido usado como laboratório assim como outros países. A febre online no celular se agrava no mundo inteiro. Ontem, esperando o sinal de frente para uma avenida em Sydney, vi que em todos os ônibus que cruzavam na minha frente, 80% das pessoas sentadas estavam alheias e conectadas nos seus celulares, 10% estavam com ele na mão mas olhando a paisagem, e o resto era normal.


Se todo mundo fosse como eu, nenhuma destas estratégias de pegar o idiota funcionaria. Até hoje se eu cliquei num só anúncio "personalizado" destes que eles se propõem a nos presentear enquanto usamos os serviços da internet baseados nos nossos dados pessoais e gostos privados ou preferências de acessos, foi muito. Esta estratégia tem falhado longe comigo porque, simplesmente, eles não acertam uma. Nada do que oferecem me interessa. Dificilmente um anúncio de qualquer coisa me interessa, mas convenhamos, alguns funcionam realmente, porém entre os "personalizados" ficou muito pior de escolher, eles erram todas. Eles pensam que eu gosto de alguma coisa quando não tem nada a ver e só perdem tempo tentanto me incentivar a sequer visitar um dos sites promovidos.

Um corolário de "se o mundo fosse como eu" seria que não haveria drogas nem bebidas alcoólicas, mas podia continuar existindo Ferraris e mansões, desde que cada africano tivesse seu Mini ou Fiat 500...

Fiat 500
Talvez isso aconteça porque meu acesso à internet se dá randomicamente atrás de novidades de tudo quanto é tipo, o que faz os algorítimos ficarem perdidos no que se refere a captar os meus gostos. "Esse cara é 'eclético' demais".

Enquanto a TV comercial de graça endereça anúncios e propagandas pra todo mundo em geral, divididos talvez pelas especializações de cada canal de TV (por exemplo, canais para crianças, produtos para crianças), a internet tem mais acesso às particularidades de seu público com mais esperteza, ou pelo menos é o que os desenvolvedores acham.

Para mim, e talvez para algumas pessoas como eu, receber propostas só sobre as mesmas coisas que eu supostamente gosto me soa bastante entediante. Salte com novidades, minha gente!

A metáfora do sapo é muitas vezes usada como para indicar a incapacidade ou falta de vontade das pessoas para reagirem ou estarem cientes das ameaças que ocorrem gradualmente. Mas o que ocorre na realidade é que a pessoa começa a sentir-se desconfortável, e finalmente chega um momento em que ela decide modificar seu habitat, sem saber exatamente porque, mais por intuição mesmo. Os sapos morrem se a temperatura é aumentada muito devagar, o que quer dizer que décadas de educação baseada em paradgmas equivocados realmente mudam a sociedade e a cabeça das pessoas para acreditarem nas raízes de tais paradigmas sem discutirem, questionarem nem raciocinarem mais.

https://en.wikipedia.org/wiki/Boiling_frog

The Aftermath (Sequelas)

Conectando a Amazôniaem Inglês:

http://www.nytimes.com/2014/05/20/opinion/wiring-the-amazon.html 

‘Wiring the Amazon’ (Conectando a Amazônia) mostra como ficaram as coisas depois daquele documentário até 2014. O telefone ficou mudo por anos, a internet caiu por mais outros, as crianças ficaram sem laptops, mas nos últimos anos a conexão retornou de outro jeito e as crianças hoje têm telefones celulares. Os pais condenam dizendo que isso as distrai e faz as notas caírem nas escolas, e completam dizendo que ainda é preciso sair da localidade para saber o que realmente rola lá fora. Enquanto tinham laptops, ao invés de pesquisarem coisas sérias, se divertiam com vídeos do Youtube sobre desfiles de modas e celebridades. Hoje colocam fotos peladas no Facebook (não, isso foi criação do crianção aqui...).

Links em Inglês

webthefilm.com Site oficial to documentário WEB
http://webthefilm.com/see-the-film/#mainPanel Assista o filme aqui mas precisa de "tugg"da Sundial-Pictures
https://www.linkedin.com/in/michael-kleiman-57547030 Currículo do Michael Kleiman
http://www.ahumanright.org/web/ Trailer de Web, 2014
https://vimeo.com/85694398 WEB trailer 2014
http://thenextweb.com/media/2014/09/26/web-personal-documentary-one-laptop-per-child-spread-internet/#gref WEB: Um comovente documentário sobre One Laptop Per Child e a disseminação da Internet
https://play.google.com/store/movies/details/Web?id=wMzMFuxpqJU&hl=en Compre ou "alugue" no Google Store

Sonho

Nem bem publiquei meu post sobre sonhos e lá vem uma proposta bem bolada de impedir as pessoas de entrarem em conexão com o mundo espiritual através de tecnologia e química associadas para permití-las dormirem apenas 2 horas e permancerem "produtivas" por mais horas, ou seja, mais tempo no mundo material, e menos tempo dedicado à recuperação de suas mentes através do sono. A piada vai ser, coitado, aquele precisa de 8 horas de sono, huá, huá! Veja aqui Como a Tecnologia do Sono Aumentará a Diferença entre Ricos e Pobres:

http://motherboard.vice.com/pt_br/read/como-a-tecnologia-do-sono-aumentara-a-diferenca-entre-ricos-e-pobres

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