Uma outra medida de choque no trabalho a fim de modificar a cultura com a aplicação do "jeitinho brasileiro" envolveu apresentações.
Animações
Para chamar atenção para qualidade voltada aos clientes foi preciso construir apresentações animadas por nossa conta própria de modo a evidenciar os pequenos defeitos invisíveis para os técnicos e desprezados pelos gerentes mas que aborrecem os usuários e os põem em dúvida sobre a integridade do sistema e do prestador de serviço. Tínhamos que chacoalhar aquelas mentes arredias. Construímos a apresentação e esperamos quase um ano pela oportunidade adequada de divulgá-la. Deu resultado.
Pequenas coisas fazem muita diferença |
É preciso mostrar porque raras pessoas são capazes de imaginar por si próprias, usando raciocínio espacial, mas uma animação as surpreende e lhes deixam de boca aberta. As pessoas gostaram tanto que agora a maioria das apresentações das equipes incluem animação e recursos extras para quebrar a monotonia. As pessoas só precisam de um empurrãozinho...
Empurrões, varinhas e água na boca de lado, ao sugestionar tanta pornografia fui de encontro às determinações do meu chefe na época que dizia que eu perdia tempo fazendo coisas que não tinham sido pedidas por ele (ele repetiu esta mesma análise na minha avaliação deste ano, não tem jeito mesmo, pra não dizer que não teve nada pra criticar). É meio arrogante mas vocês sabem o problema que ele tem com autoridade... Ao dizer isso, ele próprio vai de encontro a um dos principais valores fundamentais ("core values") da empresa que é trabalhar-se ao máximo sem precisar de supervisão, tomando-se as próprias iniciativas. Esquece sem querer, digamos assim, mas isso não o isenta de culpa. Às vezes é preciso esfregar na cara das pessoas as evidências, mesmo que elas nos odeiem, pois não existe ninguém perfeito. Perdoe-as, pois elas não sabem o que fazem...
Quem nos odeia hoje, se torna nosso amigo amanhã, pois quem bota defeito, quer comprar. E, não, nada disso nunca me tirou o sono dos justos! Diga-se de passagem, não trabalho demais, tenho vidas balanceadas, privada e profissional desde garoto, nada de excesso de trabalho para pensarem que somos importantes, e tempo para o blog...
Qualidade até uma criança sabe o que é |
Hoje este mesmo chefe finalmente reconhece que, foi fazendo várias coisas extras e enfrentando sua "autoridade" (e também sacrificando minhas promoções pois ele todo ano aumentava meus defeitos em suas avaliações dizendo coisas como que eu não seguia ordens), que eu consegui resultados surpreendentes e revolucionários sem sequer atrasar o que ele "pedia". O diabo é que ele sempre tem que ter o que criticar, senão dizem que ele não é chefe e não está chefiando, conforme explicarei mais tarde quando tratar do formulário de revisão imputado pela gerência global da empresa.
Hoje, este é o carrinho que puxa o trenzinho de outras implementações, a qualidade, mas qualidade de verdade, não é conversa mole não, nem comprada com propinas.
O futuro então parece brilhante agora, com muitos planos para algo que, de outro jeito, estaria no fim da carreira como um sistema velho e capenga, se preparando para ser substituído por "algo mais moderno" de uma concorrente qualquer, e cada um procurando suas melhoras na empresa vencedora da concorrência ou fora.
Se antes os analistas se juntavam e criticavam uma parte do código que tinha sido mal feita e podia ser melhorada, mas davam de ombros e viravam as costas dizendo, ah, deixa pra lá, que se danem, hoje eles fazem questão de descobrirem estas coisas, registrarem e aparecerem como bons samaritanos autores da façanha, dizendo "fui eu quem descobri"!
Merecem um amendoim...
Não deixe passar o defeito, não feche o olho para ele, abra o olho... eu disse, abra o olho... |
Qualidade significa apenas um pouquinho mais de atenção, engajamento e dedicação de cada profissional envolvido no trabalho que ele faz todo dia. Tal dedicação nasce do respeito à individualidade de cada um e do apoio oferecido a qualquer momento necessário, além do exemplo e da vontade de trabalhar em equipe, e da responsabilidade de cada um... E do reconhecimento, de gostar-se do que se faz, e...
Esta simples mudança de atitude que gera tantos resultados, conseguimos implementar através de outros profissionais que ansiavam pela mesma coisa, sem meios de se expressarem ou se comunicarem. Mudar cultura não é mole e leva um tempo, a maioria desiste e bota as mãos para cima ou cruza os braços. Foi preciso perder o medo e enfrentar as feras, jogando com tudo e me aproveitando das promessas das altas direções, de que se denunciássemos não seríamos retaliados. Até agora não me assassinaram... se eu parar de blogar...
Mas o principal é o exemplo, e este papel temos exercido sem visar recompensas, para a glória da empresa. É preciso as pessoas agirem por vontade própria, se auto-motivarem, e não fazerem as coisas por dinheiro como prostitutas, mas por pura vontade própria auto-alimentadora. Para a glória da empresa (pesquem a ironia aqui, por favor)... mas Deus está vendo... sua principal recompensa é sua realização pessoal. O resto vem quando Deus der bom tempo... e se não der, é porque você não merece, recolha-se à sua insignificância e espere mais. A esperança é a última que morre... mas quanto chavão!
Até nisso você tem que respirar fundo: o australiano detesta chavões. Eu não tenho nada contra, chavões lembram meus ancestrais queridos.
Um "patch" (remendo ou atualização) de software |
Quem conserta com ferro, com ferro será consertado... quem não me aguentar mais, que entre por uma perna de pato...
Um avô acaba de reclamar do neto jovem dizendo pra ele deixar de ser tão "físico" num episódio de Home and Away (Dentro e Fora) na TV. O rapaz havia levantado os óculos do velho a fim de ver seus olhos sarados que ele fechou dizendo isso. O rapaz tocou em seu ombro e ele o enxotou com os dedos, como prova do contato físico indesejado. Esse povo é muito doente, minha gente brasileira. Como será que fazem sexo sem ser físico? Ah, desculpem, inocência minha, com aqueles apetrechos comprados em lojas de adultos...
Chamando Nomes
Centenas de documentos e procedimentos |
Vocês sabem, abrir, rolar e fechar um documento no Word demora uns 30 segundos, no mínimo, num sistema com boa resposta. 30 segundos vezes 10 procedimentos dá 5 preciosos minutos perdidos. Olhar os nomes dos arquivos numa lista para decidir-se qual se quer demora 10 segundos. Os outros 4 minutos você palita os dentes, vai pegar um cafezinho (que aqui é uma caneca de café-com-leite) e conversar na copa...
O funcionário também poderia manter uma lista no seu caderninho, que era o que todo mundo fazia, isoladamente, com os códigos e os significados... então, aos códigos, simplesmente acrescentamos o significado no nome dos procedimentos, processos, guias e modelos de soluções, já que hoje em dia não há limites para nomes de arquivos, evoluamos! Oi, mas o dinossauro não sou eu?
Tomando no gargalo... |
Medidas como estas fizeram com que nossa equipe jamais causasse punição financeira à empresa por ter passado do prazo de resolução de um incidente de certa prioridade que faz parar a produção, o qual é rígido, faz parte do contrato e com frequência é motivo de stress. Outras equipes atrasaram. Por exemplo, segundo os princípios ITIL (normas britânicas de padrões internacionais de prestação de serviços em informática), incidentes com prioridade 1 devem ser resolvidos em 5 horas, digamos, de acordo com o acordo de prestação de serviço celebrado. Cada incidente que passa do prazo sem solução atrai punição financeira para a empresa. A essa medição chamamos de KPI (Key Performance Indicator - Indicador Chave de Performance) que é parte do SLA (Service Level Agreement - Acordo de Nível de Serviço) de acordo com as normas ITIL, implementadas a alguns anos atrás.
Nosso controle foi tão eficaz que logo podíamos responder quais os incidentes campeões de audiência, atacá-los e derrotá-los, tirando-os da jogada, ou seja, resolvendo os problemas mais cruciais primeiro, os maiores comedores... de dinheiro e recursos. Foi gloriosa a época em que me perguntaram, quais os problemas que você acha mais urgentes pra serem derrotados? O cômputo da planilha devolveu o resultado imediato, o negão aqui, o grandão caolho alí. Atacou-se os problemas nos meses seguintes, eles desapareceram e logo outros problemas ocuparam seus lugares, com muito menos exigências de custos e recursos, mais mansinhos.
Roteamento de aprovações |
Enquanto isso outras pessoas implementaram outras iniciativas, como a autorização e aprovação eletrônicas de CRs (Change Requests - Requisições de Mudanças), que é onde você escreve os passos a seguir para solucionar um incidente modificando dados, os quais são revisados, aprovados e auditados.
As CRs passaram a ser criadas através de uma macro de documento Word que editavam sua CR já usando uma "template" (padrão ou modelo) que você escolhia pela descrição do problema que gerou o incidente, que é o próprio nome do arquivo do modelo. Neste modelo já estão todos os comandos necessários para se resolver incidentes daquele tipo. Por exemplo, problema é que macaco caiu do cavalo, passos pra resolver é pegar o macaco, tirar a poeira do macaco, colocar macaco sobre cavalo, dar tapinha em cavalo.
Além disso a macro dava entrada automática da CR na planilha de acompanhamento para estatísticas. No modelo da solução já tem o problema associado para computar a quantidade de incidentes. Exemplo, Macaco Caiu do Cavalo e deu problema uma vez hoje, às 3 da tarde, solução foi acionada por fulano usando procedimento Macaco Caiu do Cavalo.
Macaco Perengano montando cavalo Zuada |
Depois que Macaco Está no Cavalo de novo, registra-se manualmente os passos revisados por sicrano, aprovados por beltrano, executados por alano, verificados por mengano e arquivado por citano na planilha de acompanhamento chamada de CR Register (Registro de CRs).
Ganhou-se muita velocidade com este processo e as filas de incidentes eram consumidas como em passes de mágica, gerando mais elogios nas reuniões. É preciso salientar que, nesta instalação, existe muita auditagem, por isso tudo tem que ser registrado nos mínimos detalhes. As provas do crime estão sempre ali, sem câmeras nem DNA nem nada...
Controle de Prazos
O controle de recebimento e entrega dos incidentes, feito pelo Service Controler (Controlador de Serviço), também costumava ser caótico, então outra planilha inteligente foi sendo desenvolvida por outra equipe ao longo dos anos. Hoje quando um incidente é recebido ele entra pelo cano da planilha que já configura a data e hora máxima para resolução, colorindo a linha de acordo. Se a cor da linha muda de verde para laranja, está se aproximando o prazo e o Controlador de Serviço já vai procurar o responsável pra avisar que a guilhotina está se aproximando. Prioridades 1 já entram vermelhinhas na planilha. Cada prioridade 1 ou 2 é divulgada via email para todas as equipes que ficam de prontidão caso a ajuda de alguém seja necessária para cumprir os prazos, o que é bem raro. De manhã cedo, um botão envia emails para cada time com suas urgências do dia, se houverem. Trabalha-se como um relógio, o tempo só não existe na espiritualidade...
Integridade impecável dos dados sem pecados. Você tem dado em casa? |
Toda a excelência do Suporte à Produção praticamente começou com uma medida com a qual também não tive nada a ver e coincidiu com minha entrada na empresa: a criação de "data checkers" (verificadores de dados). São rotinas de auditagem que verificam se todas as relações entre os dados do banco relacional estão corretas periodicamente, e quando não estão, geram incidentes de falta de integração dos dados para ser corrigida.
A falta de integração esporádica de dados se dá por problemas desconhecidos do software, "bugs" difíceis de serem identificados devido à extrema complexidade dos sistemas hoje em dia. Esta foi a primeira medida tomada por causa da reclamação dos usuários com resultados errados sob certas circunstâncias. Mas o que está acontecendo aqui? Perguntavam eles.
Mas o bom usuário saca quando o dado está errado e vai dar azar.
Costumo dizer que meu trabalho é igual ao que tive para criar nossos filhos, ou seja, os resultados são brilhantes, mas o trabalho é diário, imperceptível e ninguém nota. E depois que eles estão criados e bem sucedidos, as pessoas vêm dizer para nós que "tivemos sorte" de termos os filhos que temos. Qual o quê, pois sim, sorte é a mãe!
Trabalho do Espírita no Trabalho
Quando alguém me pergunta porque eu faço algo para o proveito dos outros que nem eu, para encurtar a conversa, digo que é "por causa da minha religião", ponto final. Hoje em dia estou acrescentando que é por causa da minha cultura diferente, que todo mundo sabe que é brasileira pois meu carro tem uma bandeirinha e ninguém ainda me mandou de volta para de onde eu vim!
Na realidade começa que nem religião é, e trata-se mais dos conceitos de socialismo, comunismo, ou seja senso comunitário, respeito aos outros, amor à humanidade, justiça, decência, honestidade, sinceridade, transparência, tudo num bolo só pois é tudo a mesma coisa e parte de um mesmo princípio, o da espiritualidade, do amor. É tudo socialismo na essência misturado com a moral cristã, que ajuda quem precisa e faz todo mundo feliz, sem preconceito nem discriminação. Isso não quer dizer que quem não é cristão não tenha moral, o buraco é mais embaixo.
São todos os valores Espíritas postos em prática, mas outras culturas também tem seus valores similares.
Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam, incomodam muito mais. Três elefantes... |
Parece que o sucesso incomoda muita gente, por esse motivo procuramos não falar sobre sexo...
Porém, não consegui as mudanças no trabalho sem antes ter tido que discutir e confrontar os tais procedimentos estanques naturais desta cultura onde a hierarquia e a autoridade não costumam ser contestadas e as pessoas antes se retraem do que têm coragem de se exporem e peitarem os poderes estabelecidos. Até porque, se elas peitarem, pode dar em processo de assédio sexual...
Viseiras para o filho de uma égua não se entreter com a égua do lado e trabalhar, judiação. |
Quantas vezes não discuti com as chefias que exigiam que eu "seguisse os procedimentos escritos cegamente" enquanto eu respondia que "procedimentos são para ajudar, não para amordaçar ou escravizar", uarf, uarf?
Não se pode seguir procedimento sem raciocinar pois tem sempre algo que não se enquadra, as excessões, e você tem que tomar uma decisão sábia e fora do padrão, de quem sabe o que está fazendo, e não de quem é pulsilânime, só segue o que os outros determinam e é incapaz de enxergar além das viseiras do cavalo Zuada, em outras palavras, tornando-se incapaz de resolver uma simples variação de um mesmo tema de problema.
O medo deles é de que a solução fora do padrão, o jeitinho, prejudique o todo mais pra adiante, então eles têm pavor de que as pessoas errem e todos tenham que responder pelos erros delas. Em outras palavras, eles morrem de medo de confiarem uns nos outros e preferem dizer "eu segui o procedimento", ponto final. Que posso dizer? Tem pessoas que realmente não merecem confiança, infelizmente. Uns poucos prejudicam todo mundo, mas nós precisamos confiar nos outros, é mandatório. Então o jeito é mostrar as vantagens da verdade e da transparência, oferecendo-se para limpar os armários dos outros.
Um dos meus maiores desafios foi abrir o bocão para criticar os maravilhosos e intocáveis procedimentos a fim de impor a confiança em mim e meus subordinados. Aproveitei para enfatizar quanta gente os achava ridículos por sempre portarem erros e muitas vezes serem ininteligíveis (estou falando dos procedimentos, não dos subordinados). Mas eu era execrado por me atrever a duvidar da correção dos poderosos procedimentos (fui eu quem escrevi, como se atreve, mas que chicano afoito esse). Hoje os procedimentos (e processos, e guias, e políticas) que foram revisados estão muito mais claros e confiáveis e os ininteligíveis tem evidenciado críticas aos seus responsáveis. Até a qualidade dos procedimentos também melhorou.
Aí é onde entra outro "jeitinho brasileiro" herdado da antipatia por autoridade dos povos Celtas.
E o que temos a ver com os Celtas?
Eu confronto sem medo, do jeitão suicida profissional que sempre me caracterizou, um jeitão nem sempre apreciado pelos arrogantes e donos do poder. Nem todos os que ocupam posições de liderança são capazes de reconhecer a dimensão de trabalhos como o meu, um trabalho de base, por baixo do pano, nos bastidores, renitente, que não aparece sob os holofotes, que não vive de auto-promoção, mas que valoriza, incentiva e torna todo mundo feliz e produtivo. O trabalho do Espírita de verdade. Muita gente não sabe a preciosidade que tem nas mãos, e prefere baixar o nível para a inveja e a competição barata dos terráqueos, moradores desse hospital chamado Terra.
E o que o brasileiro tem a ver com os Celtas?
A Febre Asiática
Certa vez a empresa, que é global, mudou a gerência australiana para um nível "asiático" a fim de incorporar todas as filiais nos países asiáticos, num movimento lógico das empresas globalizadas. Jogaram a sede da Austrália para uma capital de um país da Ásia. Vocês sabem, a Austrália é asiática mas não é. Toda a Ásia tende a ter uma cultura com muitos pontos em comum, mas a Austrália e a Nova Zelândia são praticamente inglêsas, ou seja, tem cultura ocidental no meio do Oriente. Já tentaram chamar estes países de Oceânia ou mudar o nome da Ásia para Eurásia, mas não teve jeito, estamos na Ásia mesmo. E os indianos, são asiáticos? Chamam eles de "sub-continente"...
Kuala Lumpur onde não tem nem um koala puro, capital da Malásia que fica na Ásia, obviamente... |
A justiça era mais ou menos assim... |
Antes porém, uma das minhas grandes e inusitadas denúncias foi confrontar o mesmo sistema de avaliação anual dos funcionários usado "globalmente" pelos seus chefes, fontes de promoções e gratificações, um sistema que eu odiava e sempre dava um jeito de deixar isso bem claro.
Eles não sabiam o que fazer, não entendiam o que estava acontecendo, nem porque estava dando errado e tanta gente andava insatisfeita, conforme as pesquisas anuais. Parece que só certos grupos obtinham todas as promoções enquanto outros nunca conseguiam nada, anos a fio. Era o nascimento da tal globalização.
Ora, para um brasileiro como eu, era óbvio que certos grupos estavam "pagando propinas", "mentindo", corrompendo e favorecendo, privilegiando seus funcionários ao apregoar que eles eram os melhores do mundo, quando não eram tanto assim. Mas seus chefes diziam que sim, que suas equipes eram as maiorais, por uma questão de cultura e não de maldade ou desonestidade propriamente. Afinal, quem não diz, meu filho é o maior? Nasceu com 7 quilos...
Foi preciso sermos bem claros e dizermos para o diretor pessoalmente que, enquanto que para um gerente australiano de ascenção inglesa como ele, o funcionário fazia apenas o que tinha sido contratado para fazer, outros nacionais como os indianos e asiáticos elogiavam seus funcionários sempre dizendo que eles faziam mais do que era esperado, ou seja, excediam, mesmo que muitas vezes não fosse verdade, até por uma questão de incentivo, apreciação e cortesia. Daí eles ganhavam promoções porque haviam "excedido" e ficado acima da média global.
Avaliação inglesa, mistura de arrogância com exagerada honestidade ferina, como se as pessoas não tivessem sentimentos e a razão sobrepujasse a humanidade... a ciência acima da religião. |
Que no Brasil on na Índia a tendência é sempre o gerente elogiar o funcionário e dizer que ele se saiu muito bem, mesmo que não tenha se saído tão bem assim, por uma questão de incentivo. São culturas do positivismo, em que falar bem significa entusiasmar, incentivar, ser educado, fazer amigos. Se você fala que a pessoa só faz o que é pedido, isso não a leva a lugar nenhum e ela fica descontente: mas só isso? Ele não tem nada melhor pra dizer não? Mas que sacana, eu pego ele na virada, só vou botar o macaco no cavalo e nunca mais vou dar uma piscadinha para ele...
Por mais que ela se esforce, sempre será assumido como sendo exatamente o que ela devia fazer, e isso é muito desestimulante e deprimente. Ela vai se convencer de que não adianta se esforçar porque nunca consegue nada com isso, então só vai fazer o que é pra fazer mesmo, sem nada a mais. Macaco, quer saber, se lasque. Daí ela fecha os olhos para os erros, por exemplo, pois não são da conta dela. Ora, convenhamos.
O inglês e seus descendentes têm a mania falaciosa de que ser honesto é mais importante do que os sentimentos alheios, e esta talvez seja a principal diferença cultural entre nós, a razão na frente da humanidade, da espiritualidade. Mais vale ser amigo do que honesto... bem...
Foi assim que o grand chef inglês Jamie Oliver cometeu uma tremenda gafe que deu muito o que falar mundo afora ao dizer numa estrevista no Brasil da Copa que quindim, brigadeiro e beijinho, as sobremesas nacionais por excelência, eram porcaria, empurrando-as pra lá na mesa. Veja aqui, em Inglês, A Gafe de Jamie Oliver sobre as Emoções Brasileiras Relativas a Comida:
http://www.theguardian.com/lifeandstyle/2014/aug/04/jamie-oliver-brazilian-gaffe-food-emotions
Aqui a entrevista com legendas:
O vídeo abaixo foi removido do Youtube, então encontrei este outro que pode
substituí-lo. Sobre a relação do brasileiro com o doce brigadeiro.
Jamie Oliver entrevistado no programa Saia Justa, onde ele deu uma
saia justa... Jamie é uma figura extraordinária capaz de transformar
delinquentes em chefs ao redor do mundo, pagando tudo para eles,
mas mostrou que não é perfeito, também pode ser muito grosso e
o gosto do gostoso é desgostoso.
mas mostrou que não é perfeito, também pode ser muito grosso e
o gosto do gostoso é desgostoso.
A verdade é que tudo o que tem acúcar ou sal demais para eles faz mal pra saúde. É verdade, mas não é preciso exagerar. Na Austrália tem mais diabéticos do que no Brasil, proporcionalmente, mostrando que a paranóia do gosto não anda funcionando muito bem.
Voltando à empresa, o resultado foi ter que devolver a gerência para a Austrália, de modo que não competiríamos mais com outras culturas. Ainda estou pra ver se isso deu resultado, porque é preciso mais e a luta não terminou... pois, afinal, quem é australiano mesmo?
O Fim da Avaliação
Mais uma vitória aconteceu nesta segunda semana de julho de 2015. Sinto-me vitorioso por ter sido um dos que mais fizeram campanha contra o maldito e famigerado sistema de avaliação anual da empresa. Depois de muitas discussões ano após ano, minhas conclusões foram propagadas e saiu no jornal The Washington Post que a empresa finalmente desistiu de seu clássico e custoso processo de avaliação de performance dos funcionários. Não, meu nome não é citado...
Olha que primor de palavreado que parece ter saído da minha boca:
"A arte da liderança não significa gastar o tempo com medições ou avaliações", disse o diretor da empresa. "Trata-se de como selecionar a pessoa. Se você acredita que selecionou a pessoa certa, então você vai dar a essa pessoa liberdade, autoridade, delegação para ela inovar e liderar, avaliando-a de forma muito simples".
Em outras palavras, você confia na pessoa e é responsável por quem cativa.
Na realidade a empresa está copiando muitas de suas concorrentes de alto gabarito que chegaram a esta conclusão primeiro. Mas, vá lá, vamos dar um creditozinho...
Outra pérola que haveria de ter sido mencionada por mim também:
"Os funcionários que se saem melhor nos sistemas de gestão de desempenho tendem a ser os funcionários que são mais narcisistas e que gostam de se auto-promoverem", disse Brian Kropp, o líder de práticas de RH para a CEB, uma empresa norte-americana de pesquisa sobre gerenciamento." Esses não são necessariamente os funcionários que você precisa para se tornar uma melhor organização daqui para frente."
Eu dizia para meu diretor, você quer que eu escreva que fiz isso, fiz aquilo, que sou bom, que sou o melhor, sou o maioral, e isso é contra a minha natureza. Ele respondeu que, se eu não dissesse, ninguém saberia. Mas que espécie de diretor ou de chefias de meia tijela são estas? Agora vamos ver com quantos paus se faz uma canoa, como eles se adaptam ao "jeitinho brasileiro", pois esta nova forma de avaliação é como funciona no Brasil, olho-no-olho. Estamos regredindo ou estamos abrindo o olho no dito primeiro mundo?
Bendito Jesus Cristo e Santa Maria... que aquele processo era muito antipático. Obrigado Senhor...
Continua...
O Fim da Avaliação
Mais uma vitória aconteceu nesta segunda semana de julho de 2015. Sinto-me vitorioso por ter sido um dos que mais fizeram campanha contra o maldito e famigerado sistema de avaliação anual da empresa. Depois de muitas discussões ano após ano, minhas conclusões foram propagadas e saiu no jornal The Washington Post que a empresa finalmente desistiu de seu clássico e custoso processo de avaliação de performance dos funcionários. Não, meu nome não é citado...
Eh, quer dizer, sim, estou pronto para minha avaliacão... |
"A arte da liderança não significa gastar o tempo com medições ou avaliações", disse o diretor da empresa. "Trata-se de como selecionar a pessoa. Se você acredita que selecionou a pessoa certa, então você vai dar a essa pessoa liberdade, autoridade, delegação para ela inovar e liderar, avaliando-a de forma muito simples".
Em outras palavras, você confia na pessoa e é responsável por quem cativa.
Na realidade a empresa está copiando muitas de suas concorrentes de alto gabarito que chegaram a esta conclusão primeiro. Mas, vá lá, vamos dar um creditozinho...
Outra pérola que haveria de ter sido mencionada por mim também:
Aqui jaz um ateu, todo arrumado pra sair e sem nenhum lugar pra ir |
Eu dizia para meu diretor, você quer que eu escreva que fiz isso, fiz aquilo, que sou bom, que sou o melhor, sou o maioral, e isso é contra a minha natureza. Ele respondeu que, se eu não dissesse, ninguém saberia. Mas que espécie de diretor ou de chefias de meia tijela são estas? Agora vamos ver com quantos paus se faz uma canoa, como eles se adaptam ao "jeitinho brasileiro", pois esta nova forma de avaliação é como funciona no Brasil, olho-no-olho. Estamos regredindo ou estamos abrindo o olho no dito primeiro mundo?
Bendito Jesus Cristo e Santa Maria... que aquele processo era muito antipático. Obrigado Senhor...
Continua...
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