domingo, 27 de abril de 2014

Revolução Azeda I

No Brasil, a venda de vinagre tem aumentado muito, tornando o país mais "azedo".

O gosto azedo do brasileiro
Não é nada disso, he, he.

Navegando na net à procura de informação confiável sobre os inconcebíveis protestos no Brasil fui parar neste extraordinário relato sobre a atual preocupação do Brasil, os protestos de rua que respondeu-me a todas as minhas perguntas. Caiu-me os queixos ao constatar que o autor não é brasileiro mas sabe muito mais do que todos nós juntos e amontoados num belo monte de m... Um belo trabalho de pesquisa muito bem feita, para que todos aprendamos a fazê-la antes de abrirmos a boca pra falar tanto disparate vergonhoso.

Como é que um país amante do futebol, com vários títulos mundiais, em que praticamente todo mundo pratica o esporte em qualquer terreno baldio, pode se atrever a estar contrário à construção de estádios de futebol em todo o país para acomodarem uma Copa Mundial de Futebol? 

País bom companheiro do futebol, ninguém pode negar
Em que cabeça entra tal coisa, porque na minha não entra.

A fábrica de craques em qualquer terreno baldio, aqui em Oiapoque
Não vou nem lembrar aqui quantos empregos tem sido gerados, e quantos vão continuar sendo gerados no futuro por causa disso, não é preciso escancarar o óbvio, ninguém é tão burro assim que não possa enxergar, convenhamos. Também não vou lembrar que o Brasil é o único país a construir ou atualizar estádios em 12 cidades espalhadas não só para promover o turismo e divulgar a grandiosidade do país para o resto do mundo, mas para mais brasileiros poderem curtir a Copa mais de perto e carrear o desenvolvimento a várias regiões e não apenas no sul-maravilha.

12 cidades
Fiquei tão empolgado que traduzi o artigo para enviar para amigos que não sabem Inglês, e resolvi reproduzí-lo aqui para mais gente, mas não tenho o direito segundo constatei, pois para isso teria que pagar bem caro. Como não estou tendo lucro com isso, quem sabe possa ser tolerado, contudo, se quizerem retirar do ar, por favor, é só mandar-me uma linha que a humanidade e principalmente os brasileiros vão perder muito com isso, apenas tentei fazer minha parte para ajudar a esclarecer todo mundo. Terão que se contentar com a matéria em Inglês.

O conteúdo do artigo pode ser humanitário, mas quem publicou pode não ser bem assim. De outro jeito o brasileiro comum não ia ter acesso a esta informação porque, além de ter sido redigida em Inglês, e nem todo mundo conhece esta língua, está num site que dificilmente alguém vai descobrir. Assim, pelo menos os meus 2 amigos e os 3.5 amigos dos amigos brasileiros podem ter acesso.

O artigo é tão grande, quer dizer, é tão bom que é dividido em 6 partes. Esta é a primeira parte. Pretendo ir publicando as outras paulatinamente. Eu disse paulatinamente, e não pau latinamente!

Ops, aqui tem mais de 6 partes neste motor de
Corvette 
GM 6.2 Litros V8 Supercharged LS9...
É preciso urgente que o brasileiro acorde e recobre sua memória, pois a muito tempo se diz que brasileiro não tem memória. Claro que é tudo causado por uma tremenda manipulação e controle da mente feita através de muitos anos de mídia comprometida e educação controvertida até quando este mesmo povo conseguiu eleger Lula, não sei como. Eu pensava que ia morrer sem jamais ver tal coisa, uma das maiores provas de democracia mundial, um verdadeiro representante do povo sendo eleito como seu líder. Minha conclusão é que "deixaram" Lula se eleger para ele recuperar o país, então tomariam de volta para continuar assaltando. Parece que minhas suspeitas estão a se confimar em breve, no final deste ano, vamos ver.

Brasileiro é sempre tão criativo, porque não para o bem?
A revolução ora em andamento é conhecida como Revolução do Vinagre porque as pessoas portam garrafas ou lenços com vinagre para se protegerem de gás lacrimogêneo (é verdade? Não sei, não estou lá, e nem levaria minhas crianças, caso as tivesse, para o meio daqueles protestos a fim de serem televisionadas). É melhor do que ser conhecida por Revolução Molotov onde as pessoas carregam garrafas de um outro tipo de coquetel (isso eu ouvi falar).

Não é bem assim...
Tudo bem que este texto parece ser comunista demais para o meu caminhãozinho, mas não se pode negar a quantidade de informação útil.

Então vamos ao relato. Aproveitem enquanto está publicado aqui, ninguém sabe o dia de amanhã. Vamos ver quantos dias este post vai sobreviver.

Contaminação da Mídia Internacional

Aliás, antes permita-me dizer que, estando aqui fora, tenho tido a oportunidade de acessar muita informação da mídia internacional eletrônica, a qual não é "tão" filtrada ou manipulada como a mídia brasileira. Aumentaram tanto o número de artigos sobre o Brasil nos últimos anos que eu não conseguia mais traduzir para enviar para os amigos, então alguns deles me pediram para divulgar, já que eles não tem acesso, ou até mesmo por ser em Inglês, num blog porque eles não podem se livrar da manipulação, uma vez dentro do Brasil. 


Acontece que de uns meses para cá ou quase um ou dois anos, as coisas tem se modificado. Comecei a notar que o tom de muitos veículos havia mudado, e pesquisando mais um pouco, descobri que foi porque eles resolveram contratar brasileiros para escrever para eles, seja de dentro do Brasil ou de fora mesmo. Quando eles fizeram isso, os artigos tornaram-se imprestáveis e ficou mais difícil selecionar o que é verdade e o que é contaminado pela famosa percepção corrompida e manipulada do brasileiro, consciente ou inconscientemente, mas estou conseguindo ainda assim, aos trancos e barrancos. Às vezes até os portugueses de Portugal estão mais bem informados do que os brasileiros sobre as matérias do Brasil, estado irmão, como eles dizem.


Vale dizer que talvez a intenção destes veículos internacionais seja "reproduzir com mais clareza os fatos de um país visto por alguém que conhece a cultura a fundo", porém o que eles ainda não levaram em consideração foi a reputação deles ser ameaçada porque as pessoas da tal cultura não seguem os padrões isentos e imparciais da verdadeira imprensa honesta e decente justamente por causa da tal cultura corrompida e intrinsecamente pessimista, algo gerado por décadas de exploração e desmandos. Isso vale para o famoso Guardian, considerado um dos últimos redutos da mídia independente britânica, que também tem sido vítima desta estratégia controvertida, provavelmente insuspeitadamente, achando que estão fazendo a coisa certa. 

Diferentes culturas machistas dominadoras iguais
Ao longo da minha vida já tenho visto vários casos de quiprocós envolvendo funcionários "aculturados" ou não. Uma das coisas que observei foram gerências ocidentais transferidas para países asiáticos as quais causaram tantos problemas que as empresas tiveram que voltar atrás. Outras empresas se deram mal por contratarem gerências de outros países, ou empresas estrangeiras contratando gerentes locais. As diferenças culturais são muitas vezes sutis e difíceis de serem percebidas, as quais só se sobressaem depois de anos de "má" convivência e desentendimentos, depois dos problemas causados por tais decisões equivocadas. Alguns desses casos envolvem o retorno dos call-centers para os países de origem depois de enviados para a Índia e que prejudicaram as empresas porque os clientes não aguentavam mais a falta de fineza de trato e o sotaque que eles consideram insuportáveis.

Diferenças culturais
O assunto "diferenças culturais" é algo que me empolga. Aguardem textos sobre isso.

Agora vamos à Revolução Azeda.



Esquerdista em Formato, Direitista em Conteúdo

Parte 1 de 6
Por Gearóid Ó Colmáin / 26 de julho de 2013

O fascismo tem se apresentado como o anti-partido; tem aberto as suas portas a todos os interessados; com a sua promessa de impunidade tem permitido uma multitude amorfa a fim de acobertar a efusão selvagem das paixões, dos ódios e dos desejos com um verniz de vagos e nebulosos ideais políticos.
- Gramsci

Antonio Gramsci
A classe operária espontaneamente gravita ao redor do socialismo; no entanto, mais difundida (e contínua e diversamente revivida) é a ideologia burguesa que espontaneamente se impõe sobre a classe trabalhadora num grau ainda maior.
- Lênin

Lênin, impróprio para consumo humano
“Não se trata apenas de 20 centavos”. Esta foi a mensagem da estatura de Mark Zuckerberg, cabeça do Facebook na semana passada, uma mensagem que foi transmitida através de várias das principais cidades do Brasil. A mensagem tornou-se um dos slogans iniciais do que muitos agora estão chamando de “a Revolução do Vinagre” que foi alegadamente desencadeada por uma caminhada de protesto contra 20% no aumento das tarifas de ônibus na cidade de São Paulo em 20 de junho.

Não se trata só de 20 centavos, "#mudabrasil", portado por alguém
que provavelmente não pode pagar passagem de ônibus, não é?
A mera menção de Zuckerberg em conexão com manifestações de massa deve imediatamente soar uma campainha de alarme entre aqueles que têm seguido atentamente o Facebook e as “revoluções coloridas” fomentadas pelo Twitter que abalaram vários países orientadas para encobrirem alterações de regime pelo imperialismo norte-americano ao longo da última década. As revoluções coloridas são essencialmente falsas revoluções orquestrada pelas ONGS financiadas pelo governo dos EUA, que são organizadas em países dirigidos por governos que ameaçam serem um obstáculo para a prossecução dos interesses dos EUA.

Caricatura de Mark Zuckerberg, criador do Facebook
Zuckerberg é um associado íntimo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e isso é do conhecimento geral em vista dos escândalos recentes da NSA (National Security Agency) de que o Facebook é uma parte fundamental da comunidade da inteligência norte-americana. Seu aval dos protestos deve, portanto, levar a nos questionarmos sobre as reais origens e motivações por trás de algumas das maiores manifestações vistas no Brasil em mais de 20 anos.

O jovem bilionário por trás dos protestos no Brasil
O ex-governador da Califórnia, Arnold Schwartznegger, bem como as pop stars Beyonce, Lady Gaga e Britney Spears e o crème de la crème das estrelas de novelas do Brasil, foram todos fotografados exibindo slogans apoiando os protestos brasileiros.

“Não é apenas cerca de 20 centavos. Trata-se de muito mais”, dizem os manifestantes; corrupção, aumento do custo de vida, má infra-estrutura pública, saúde e educação. Estas são causas da esquerda, e são as questões que lideram o descontentamento das cidades populosas do Brasil invadidas pela pobreza e desigualdade. Ninguém pode negar o caráter genuíno de tais queixas. Afinal, o Brasil é uma sociedade capitalista no mundo ‘em desenvolvimento’.

Bandeira mal utilizada
Desde a ascensão ao poder do Presidente Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores em 2002, a economia do Brasil atravessou um período de rápido crescimento. Agora está a ultrapassar a França e a Alemanha tornando-se a quinta maior economia do mundo. Mas a orientação política de esquerda de Lula uniu-se em grande medida com políticas econômicas que abriram o país para outros níveis de exploração por multinacionais estrangeiras. De fato, Lula foi tão bom com as multinacionais estrangeiras que conseguiu evitar a demonização pela elite ocidental no poder e foi tomado como uma alternativa adequada às políticas mais radicais de esquerda da Venezuela de Hugo Chávez.

Lula e seus três dedos
No entanto, apesar da cooperação de Lula com o FMI, a economia brasileira manteve-se sob controle nacional numa extensão significativa, porém o processo de desestabilização em curso contra o Brasil é parte de um empurrão final de Wall Street em direção à hegemonia num país que tem vindo a aproximar-se da Rússia e da China e cujas políticas fiscais têm lhe levado para longe de Wall Street e seus planos de ‘livre comércio’.

Não deveria se constituir numa surpresa que centenas de milhares de cidadãos protestassem contra a obscena desigualdade de um país que está investindo milhões construindo luxuosos complexos desportivos para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, enquanto milhões continuam a viver em favelas. No entanto, a revolta, a despeito de suas reivindicações pela prestação de serviços públicos, tem sido qualquer coisa, menos de orientação esquerdista. De fato, muitos daqueles liderando os protestos atacaram os comunistas e socialistas, cantando slogans contra Cuba e Venezuela. Partidos de oposição de direita e a mídia do Brasil sairam-se em apoio aos protestos.

Chile em 8 de agosto de 2012, que coincidência!
A Rede Globo, o grupo de mídia direitista que domina a mídia do Brasil, inicialmente acreditava que os protestos eram de esquerda, então os denunciou como terrorismo. Em seguida, pareceu perceber que os protestos eram de uma orientação inteiramente diferente, que eles eram um ataque ao governo do PT e à ideologia esquerdista em particular, então passou a encorajá-los.

Isto não pode ser Brasil...
Por isso, a questão que estamos colocando aqui é esta: são os protestos contra o capitalismo neo-liberal ou os males evidentes do capitalismo estão sendo veladamente aproveitados por forças externas para provocar a mudança geopolítica de um país que está se aproximando de uma aliança com a Rússia, a China, e inclinando para a esquerda os governos latino-americanos, contribuindo para a possível formação de um novo bloco das economias emergentes anti-imperialista?

Isto é Brasil!
A luta entre a burguesia nacional e a consumista

Lênin, em seu livro Imperialismo, o Mais Alto Estágio do Capitalismo, cita de um autor alemão que observa que a América do Sul “é tão dependente financeiramente de Londres que deve ser quase como uma colônia comercial britânica”.

Getúlio Vargas e o finado Cruzeiro velho
Interesses financeiros anglo-americanos que dominaram o Brasil até que a revolução de 1930 trouxeram Getúlio Vargas ao poder. Vargas, um personagem controvertido, que foi da esquerda liberal para a extrema direita e voltou, é geralmente creditado por ter nacionalizado setores-chaves da economia, a fim de industrializar e modernizar o Brasil. Vargas carreou um vasto apoio da pequena burguesia, mas teve a classe conservadora da elite fundiária centrada em São Paulo como oposição, a qual se levantou em rebelião contra ele em 1932.

É Dilma alí no meio?
Desde os anos de 1930, a política no Brasil tem sido caracterizada por uma luta entre a burguesia consumista, que é a favor do comércio livre e da especulação financeira, uma classe cujos interesses coincidem com os das empresas estrangeiras e dos centros de poder financeiro, tais como Wall Street e a Cidade de Londres (City of London), e a burguesia nacional emergente, cujos interesses requerem tarifas protetoras sobre as importações, investimento em infra-estrutura, e um forte estado intervencionista para regular e promover a indústria doméstica.

Este conflito tem sido muitas vezes ignorado em sucessivos governos brasileiros entre o Banco do Brasil ligado à primeira burguesia consumista e o Ministério das Finanças ligado à segunda burguesia emergente nacional. A burguesia consumista no Brasil tem sempre implementado políticas internas de acordo com interesses dos EUA enquanto a burguesia emergente nacional tende a favorecer uma maior independência política interna e externa.

Getúlio Vargas foi deposto em um golpe em 1954 por elementos da burguesia consumista apoiada por Washington. No mesmo ano ele escreveu uma carta ao povo brasileiro denunciando os “grupos financeiros internacionais” que foram unindo forças com “grupos nacionais” para derrubá-lo.1

Getúlio
Do mesmo modo, os últimos acontecimentos no Brasil devem ser vistos como uma tentativa de desestabilização política por parte da burguesia consumista composta por especuladores e abutres capitalistas trabalhando pelos interesses de Wall Street, os quais, por intermédio de ONGS financiadas por esta última, tem mobilizado a classe média baixa ou pequena burguesia contra as instituições que constituem a base de poder da burguesia emergente nacional, os quais são os órgãos legislativo e executivo do estado-nação.

Eles estão fazendo isso por um lado, através da manipulação do poder judiciário e, por outro lado, através da manipulação dos desejos e egos da nova classe média baixa ou pequena burguesia, que têm sido nutridas por uma dieta de consumismo, vídeo games e cultura pop. O principal ponto de tudo isso é o uso de manifestantes da classe média baixa como um aríete para destruir as instituições do estado, levando assim o país ao total controle de Washington.


Há também um outro pólo de desestabilisação funcionando no Brasil; isso envolve manipulação de comunidades indígenas e ambientalismo, financiados por interesses corporativos. O objetivo desta manipulação é para tomar o controle dos recursos naturais das mãos do estado federal brasileiro e entregá-lo ao controle internacional de entidades corporativas, como o Fundo para a Vida Selvagem Mundial (World Wildlife Fund).

Quando a Presidenta Rousseff sugeriu instituir um plebiscito para saber o que os manifestantes queriam mudar, a proposta foi altamente criticada por membros da oposição que apoiam os protestos. Ela propôs reformas que iriam melhorar muito o processo democrático no Brasil, no entanto, muitos dos oposicionistas nas ruas as tem rejeitado porque eles “vêem os políticos como sendo parte do problema, não como solução, e têm criticado tanto dos esforços da presidenta como os do congresso”.

Dilma Rousseff
Isso é porque os manifestantes não têm um programa político consciente nem coerente. A finalidade desta presente desestabilização imperialista é para quebrar o “patrimonialismo estatale”; isto quer dizer quebrar as tradicionais diretrizes das estruturas governamentais do Brasil que impedem uma desenfreada penetração de investidores estrangeiros, a qual enfraqueceria a soberania do estado federal brasileiro. Em seguida, isso prepararia o terreno para a tomada do poder pela direita através dos militares que re-orientariam a política interna e externa do Brasil em direção aos Estados Unidos, pondo, assim, um termo no eixo multi-polar do BRICS em favor do eixo unipolar da Nova Ordem Mundial (New World Order) dominada pelos anglo-americanos.


A fim de entender o mecanismo de poder dos EUA atualmente em funcionamento no Brasil, precisamos revisitar o golpe militar de 1964.

Organizando a 'Revolução' de 1964

A Agência Central de Inteligência (Central Intelligence Agency – CIA) organizou um golpe militar contra o protegido do ex-Presidente Vargas, João Goulart, em 1964. Como Lula e o Partido dos Trabalhadores, João Goulart era um anti-comunista liberal que tentou implementar modestas reformas sociais e no mercado de trabalho, as ‘reformas de base’ destinadas a modernizar o país. As reformas de Goulart tinham apoio entre a classe operária e a burguesia nacional e incluiam uma campanha de alfabetização em massa, a reforma agrária que permitiria ao governo assumir mais de 600 hectares de terra consideradas improdutivas, e a reforma eleitoral que extendia o direito de voto aos analfabetos.

Terrorismo militar
Como a atual administração brasileira, Goulart também tinha perseguido uma política externa mais independente de Washington. Ele relaxou a perseguição aos comunistas. Isso aborreceu Washington. Goulart favoreceu os oficiais militares nacionalistas em detrimento dos formados pelos Estados Unidos e começou a comprar equipamento militar de países do Bloco Oriental, como Polônia. Leis limitando a quantidade de lucros que as multinacionais poderiam retirar do país também foram promulgadas pela administração João Goulart. Esta intervenção do Estado no ‘livre mercado’ aborreceu a administração das empresas multinacionais, que imediatamente começaram a sonhar com um ‘governo de transição’.

Kennedy e Goulart
Goulart tinha sido o vice-presidente de Jânio da Silva Quadros, que foi deposto em 1961, por um golpe de estado apoiado pelos Estados Unidos depois que ele se recusou a apoiar os planos para a invasão de Cuba do Presidente Kennedy. No entanto, o golpe de Estado apoiado pelos EUA contra Jânio Quadros não conseguiu impedir a eleição de João Goulart em 1964. Goulart não era amigo das causas de esquerda. Ele apoiou Washington durante a crise dos mísseis em Cuba. Ele simplesmente procurou executar uma política diplomática normal com países que os EUA queriam destruir e implementou reformas necessárias para industrializar o país. Isso foi considerado uma anátema por Washington, que considerava o Brasil como sendo uma colônia dos Estados Unidos e, por conseguinte, sujeito às ordens diretas vindas de cima em matéria de política externa e interna.

Getúlio, Jânio, Goulart
A Agência Central de Inteligência caiu em campo. A Federação Americana do Trabalho, o Congresso das Organizações Industriais e a Agência para o Desenvolvimento Internacional foram utilizados como organizações de fachada pela CIA.

Manifestações de massa foram organizadas por agentes da CIA em todo o país. Mais de um milhão de pessoas saíram às ruas pedindo uma revolução nacional. A histeria anti-comunista foi estimulada pela Igreja Católica em conjunto com a CIA. O sacerdote católico irlandês Pe. Patrick Peyton, um agente da CIA, ajudou a organizar a famosa Marcha da Família Com Deus pela Liberdade. Financiamento para o dissimulado golpe do ‘poder popular’ veio de mais de trezentas empresas multinacionais.

Pré-golpe militar de 64, Marcha da Família Com Deus pela Liberdade
A fim de criar a impressão de que a ‘revolução’ era ‘popular’ e que tinha apoio entre os diversos setores da população, a CIA ajudou a numerosas organizações da ‘sociedade civil’. As feministas foram representadas pelo Campanha da Mulher Pela Democracia, que desdobrou-se numa miríade de agrupamentos em todo o país, tais como a Liga das Mulheres para a Democracia em Belo Horizonte, a gaúcha Ação Democrática no Rio Grande do Sul, o Movimento Civil do Ceará, a União Civil das Mulheres de São Paulo e a Cruzada da Mulher em Pernambuco. Estas organizações trabalharam nas favelas, a fim de manipular as comunidades da classe operária para aderirem aos protestos em apoio à classe dominante.

A Cruzada da Mulher
Como parte de sua estratégia ‘revolucionária’ de mudança de regime, o governo dos EUA ajudou a criar o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais em 1961, no Rio de Janeiro. O instituto trabalhou pela coleta de dados sobre as tendências sociais e o comportamento da população brasileira, a fim de criar uma eficaz propaganda anti-comunista e anti-populista através de campanhas de publicidade, cinema e meios de comunicação de massa. Muitas palestras do instituto foram destinadas a donas de casa que foram alertadas para os perigos que o comunismo representava para os valores da família. O instituto também mirou os estudantes através documentários influenciáveis como “Deixem o Estudante Estudar”.

Existe um livro importante em Português escrito pela jornalista Denise Assis intitulado Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe, o qual estuda o uso de programação premonitória pelo Cinema Brasileiro e pelos meios de comunicação de massa no período que antecedeu o golpe 1964.


O levante das massas de 1964 trouxe mais de um milhão de pessoas para as ruas, os slogans utilizados tendiam a ser ‘apolíticos’, simplesmente clamando por mais ‘liberdade’ e ‘democracia’.  Isso aconteceu com o fim de dissimular os seus planos de ultra-direita. O Mercopress escreve:

“Uma indicação da importância que os Estados Unidos atribuíram à sua operação foi que o oficial da Força Aérea com a tarefa de organizar alguns pontos de logística era Paulo Tibbits, que pilotou o avião que atirou a bomba atômica sobre Hiroshima.

Após o golpe, uma comunicação oficial da CIA enviou a seguinte mensagem a Washington:

A mudança de governo criará uma grande melhoria no clima para os investimentos estrangeiros.”

A operação Brother Sam foi divulgada como uma “revolução” pela grande imprensa e resultou no que William Blum descreveu como uma das piores ditaduras fascistas do século XX.

Blum descreve a “democratização” norte-americana no Brasil como se segue:

Castelo Branco
“Em poucos dias o General Castello Branco assumiu a presidência e ao longo dos próximos anos o seu regime instituiu todos os recursos da ditadura militar que a América Latina veio a conhecer e a amar: O Congresso foi fechado, a oposição política foi reduzida a uma virtual extinção, o habeas corpus para ‘crimes políticos’ foi suspenso, críticas ao presidente foram proibidas por lei, sindicatos de trabalhadores foram tomados por interventores do governo, protestos em ascenção passaram a enfrentar tiros da polícia contra a multidão, o uso sistemático de ‘desaparecimento’ como uma forma de repressão, tudo veio à baila na América Latina, casas de camponeses foram queimadas, sacerdotes foram brutalizados... o governo tinha um nome para o seu programa: ‘reabilitação moral’ do Brasil... então lá estava a tortura e os esquadrões da morte, ambos constituídos em grande parte pela polícia e pelos militares, ambos subscritos pelos Estados Unidos.2

A ênfase sobre a falta de “moralidade” do governo de esquerda é, como veremos, precisamente a característica dos recentes protestos em todo o Brasil.

Moralidade ao contrário
O regime militar foi formado por marionetes de empresas multinacionais as quais dirigiam o país em seus lugares, esmagando os sindicatos e os direitos de negociação coletiva e mantendo condições de escravatura em muitas partes do país. Uma assessora do Partido dos Trabalhadores, Maria Helena Moreia Alves, disse ao Monitor das Multinacionais (Multinational Monitor) em 1982 (época do General Figueiredo no poder):

Manipulação de marionete
“Todo o sistema brasileiro, todo o governo brasileiro existe para o benefício de corporações multinacionais. É um paraíso para as multinacionais: o governo criou um sistema de incentivos fiscais que é fenomenal.

As corporações também não têm os mesmos tipos de requisitos de segurança no Brasil que têm em seus países de origem. Um estudo foi realizado sobre a Ford e a Volkswagen em que se descobriu que as mesmas haviam desligado o equipamento de segurança nas linhas de montagem, em especial os relacionados às operações com tornos, o que resultou no Brasil possuir um dos mais altos índices de acidentes industriais em todo o mundo. Dedos foram decepados. Lula (o mais proeminente líder trabalhista do Brasil) não tem um de seus dedos por causa disso; isso é típico em operadores de tornos.

Quem diria...
Trabalhadores entraram em greve para obterem simples máscaras e luvas, apenas por uma questão de segurança – trata-se de equipamento de segurança absolutamente essencial pelos quais as pessoas têm que fazer greves por eles, e uma vez que greves são ilegais, eles enfrentam detenção e julgamento, apenas pelo direito de obterem simples equipamentos de segurança.”

A corporação Fiat deve o seu sucesso no Brasil às políticas financeiras criminosas da ditadura militar. Segundo Alves:

“A Fiat chegou ao Brasil em 1975 ou por volta disso, e estabeleceu-se em duas áreas, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No Rio, a Fiat adquiriu uma fábrica brasileira já existente, a Fábrica Nacional de Motores (FNM), que empregava 6.000 trabalhadores e sempre funcionou muito bem.


A Fiat tinha um empréstimo subsidiado pelo governo brasileiro para a compra da fábrica. O empréstimo foi dinheiro obtido pelo governo brasileiro fora do Brasil – aumentando, assim, a dívida externa – emprestado à Fiat a uma taxa de juro subsidiada, e tudo para a aquisição de uma empresa brasileira que já existia no Brasil. Foi um negócio ridículo. A primeira coisa que a Fiat fez foi demitir 3.000 trabalhadores e automatizar a fábrica.

Em seguida, a Fiat também abriu uma nova fábrica em Minas Gerais. O negócio lá foi que eles operariam durante 10 anos sem pagar nenhum imposto, e mais empréstimos subsidiados durante um certo número de anos. Depois de tudo isso, eles recentemente fecharam a fábrica; decidiram que não estavam conseguindo empréstimos e benefícios suficientes do governo de Minas Gerais.”

O papel da Fiat, da General Motors e de outras corporações manufatureiras gigantes nos eventos atuais será investigado a seguir.

Durante a ditadura fascista, as progressivas leis do trabalho iniciadas em 1943 sob a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foram eliminadas. A CLT tinha tornado difícil para as entidades patronais demitirem trabalhadores. Durante a ditadura novas leis foram aprovadas tornando muito mais fácil para os empregadores despedirem trabalhadores sem justa causa. Sob a Lei de Ajuste Salarial de 1965, o regime militar determinou o salário mínimo dos trabalhadores.

Getúlio e a CLT, Consolidação das Leis do Trabalho
A Constituição Brasileira de 1988 (sob o vice-presidente Tancredo Neves e José Sarney) melhorou muito os direitos de negociação coletiva dos trabalhadores; o número máximo de horas de trabalho dos trabalhadores foi reduzido de 48 para 44; o pagamento mínimo de hora extra aumentou de 20% a 50% dos salários dos trabalhadores, turnos de trabalho foram reduzidos de 8 para 6 horas por dia, uma gratificação de férias que consiste em um terço do salário dos trabalhadores foi introduzida e os custos de demissão pelos empregadores aumentaram em 30%.

Um relatório elaborado em conjunto com o Banco Mundial em 2000, intitulado “Brasil:  Os Pontos de Pressão na Legistlação Trabalista” (Brazil:  The Pressure Points in Labour Legislation), defende um retorno à legislação trabalhista do regime fascista, citando a ‘inclinação trabalhista’ da constituição do Brasil e as leis trabalhistas como sérias causas do ‘Custo Brasil’, os ‘altos custos anormais de se fazer negócios no Brasil”.
  1. Gerassi, John, The Great Fear in Latin America, p. 81.
  2. Blum, William, Killing Hope, US Military and CIA interventions since World War II, p. 171
Gearóid Ó Colmáin é um analista político baseado em Paris que contribui frequentemente para o Russia Today, a Radio Del Sur e o Inn World Report. Seu blog pode ser encontrado aqui: Metrogael (http://metrogael.blogspot.com.au/). Leia outros artigos de Gearóid. De seu perfil no blog: Escrevo artigos sobre globalização e geopolítica para Global Research, Dissident Voice, Information Clearning House, frequentemente  contribuo com o Russia Today e tenho aparecido na rede Al Jazira.

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