sábado, 21 de novembro de 2020

Por um Novo Movimento Espírita

Eu tinha certeza que algo estava errado quando retornei à Federação Espírita no ano passado. Não podia ser, era inacreditável que todos alí fossem a favor de um supremacista branco, fascista, antidemocrático, machista, racista, misógino, antiambientalista e negacionista, defensor da ditadura, da tortura e contra a ciência, a educação, a saúde pública, e contra o que tirou 40 milhões de pessoas da miséria e projetou o Brasil como a maior potência emergente mundial, e isso incluia minha família e quase todas as famílias brasileiras que conheço. O que aconteceu no Brasil nestas duas décadas em que passei fora? Meu Deus, uma hecatombe! Um novo tipo de guerra que enganou a todos sem eles sequer desconfiarem.

Depois de muito procurar acabei encontrando espíritas como eu, graças a Deus, não é? Mas deu trabalho. Tais espíritas dissidentes representam seus pensametos do seguinte modo.

Espíritas Progressistas

"Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil."

(Mateus, 5, 25 e 26.)

Uma grande instituição do movimento espírita brasileiro anunciou mais uma de suas palestras sobre temas comportamentais, temas que ocupam a maior parte do seu calendário proposto para as atividades chamadas "doutrinárias". O tema em questão era uma abordagem sobre o distanciamento geracional e recomendações genéricas sobre o comportamento esperado de pais e filhos espíritas.

Primeiramente, apenas para contextualização, o distanciamento geracional é imanente aos grupos sociais desde que o homem se entendeu como tal. E isso é um dos motores que fazem as comunidades transformarem-se. É óbvio que esse aspecto social e evolutivo não foi tratado na palestra citada, porque o objetivo das exposições nas grandes instituições do movimento espírita não é levar seus assistentes à reflexão de seu papel social, mas à pura emoção temporária e à comoção evangélica de pouco resultado transformador.

Palestras, congressos e eventos que abordam apenas o aspecto comportamental do indivíduo são de pouca efetividade, porque não são capazes de mexer com o cerne do problema das relações sociais, que se traduz no imenso abismo existente entre os dramas e necessidades daqueles que são capazes de pagar por um caro evento federativo e aqueles que representam a maioria absoluta do povo que é pauperizada e incapaz sequer de alcançar as propostas daquelas falas impolutas, arrogantes e alienadas da realidade social brasileira.

Ao se falar do perdão, por exemplo, a essa minoria social que frequenta as grandes casas espíritas, em vez de se falar da briga miúda com o vizinho ou da última confusão com o familiar próximo, deve-se ressaltar que o maior problema para se solicitar o perdão por essa parcela diferenciada da sociedade é o privilégio econômico e social. Enquanto essa gente come e dorme nas melhores condições, muita gente passa fome e não tem um abrigo minimamente decente para repousar seu corpo cansado, e a culpa é justamente do sistema econômico perverso que explora o trabalhador e impede seu acesso a melhores condições de vida, mantido a partir dos privilégios da classe economicamente mais abastada. E é importante destacar essa relação para que não se argumente a falta de vínculos entre essas situações.

Isso quer dizer que a culpa pela indignidade nas condições da vida do outro é exatamente o privilégio da minoria. Ao se contratar, por exemplo, um trabalhador doméstico e recusar-lhe direitos e dignidade, está-se cometendo não apenas uma infração legal, mas uma injustiça social e moral que exige não apenas o perdão, mas a reparação. Ao se lutar por uma reforma trabalhista, em nome do lucro e do aumento do faturamento, que expõe o trabalhador a toda sorte de inseguranças, incertezas e problemas sociais, assume-se o lado perverso do indivíduo que precisa ser mais bem trabalhado nos espaços do movimento espírita. Ao se apoiar uma reforma previdenciária, vendo-se nela um mero balanço atuarial e econômico, que joga o velho e o incapaz na miséria social, mostra-se toda a crueldade de pessoas que não trazem em si nenhuma humanidade ou empatia com o outro.

E esses problemas, muito maiores, infinitamente maiores em escala e em conteúdo, merecem um foco comparativamente muito maior nas discussões tratadas nas casas espíritas, porque enquanto essa classe distinta que frequenta as instituições espíritas achar que o perdão, por exemplo, refere-se apenas à última discussão na reunião do condomínio, o espiritismo não estará cumprindo seu papel transformador e revolucionário.

Também é por conta desse tipo de discurso anódino e insosso, sem alcance transformador e que encolhe o tamanho das propostas espíritas, que o movimento espírita não consegue expandir-se e adentrar as classes economicamente mais vulneráveis; e qualquer análise estatística dos dados demográficos nacionais mostra essa triste realidade: os espíritas são privilegiados econômica e socialmente.

O movimento espírita precisa levar o discurso potente e transformador do espiritismo aos mais necessitados. Seu foco precisa ser mudado urgentemente dos problemas superficiais e quase pueris dos abastados para a indigência material e social dos desvalidos. O movimento espírita precisa conversar com os pobres, dialogar com os deserdados, ouvir e falar com os abandonados pela sociedade, e não apenas dar-lhes um pão eventual que apenas sacia a fome de sentido de vida dos exploradores. O espiritismo precisa tornar-se popular, falar a linguagem do povo, para que não continue a ser essa tolice diletante que hoje cheira a naftalina nas casas e instituições espíritas sem um real objetivo transformador.

Um novo movimento espírita, reinventado, repensado a partir daquilo que hoje é apenas latente dentro das obras espíritas, precisa ser libertado das amarras que intentam conservá-lo impotente dentro duma ortodoxia sem frutos, seca, para que alcance seu propósito precípuo: a transformação do homem e da sociedade em que se vive, porque, afinal, o espiritismo é uma ferramenta poderosa de libertação e conscientização.

Afinal, "os sãos não precisam de médicos"...

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1058329021228088

O Que Fazer?

Ou uma proposta inicial para encaminhamentos dos “problemas candentes do nosso movimento”[1].

“Ninguém coloca remendo novo em roupa velha; porque o remendo força o tecido da roupa e o rasgo aumenta. Nem se põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, os odres rebentarão, o vinho derramará e os odres se estragarão. Mas, põe-se vinho novo em odres novos, e assim ambos ficam conservados.”

Jesus, em Mateus, 9, 16-17.

Em editorial recente da página “Espíritas à esquerda”, publicado no último dia 4 de julho, foi lançada a provocação da necessidade de se constituir um novo movimento espírita. E seu título traduz bem a ideia central proposta: “Por um novo movimento espírita”.

Abaixo, o endereço do texto:

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1058329021228088

No texto citado, foi dito que o “espiritismo precisa tornar-se popular, falar a linguagem do povo, para que não continue a ser essa tolice diletante que hoje cheira a naftalina nas casas e instituições espíritas sem um real objetivo transformador.” Concluindo-se, então, da seguinte forma:

“Um novo movimento espírita, reinventado, repensado a partir daquilo que hoje é apenas latente dentro das obras espíritas, precisa ser libertado das amarras que intentam conservá-lo impotente dentro duma ortodoxia sem frutos, seca, para que alcance seu propósito precípuo: a transformação do homem e da sociedade em que se vive, porque, afinal, o espiritismo é uma ferramenta poderosa de libertação e conscientização.”

Dando continuidade ao tema, e agora focando no aspecto pragmático da práxis espírita progressista, pretende-se, a partir desse novo editorial, propor alguns caminhos à ação.

Primeiramente, deixar claro que essa proposição de novos caminhos ao movimento espírita tem como orientação precípua, como dito acima, o entendimento que “o espiritismo é uma ferramenta poderosa de libertação e conscientização”. Não se pretende propor apenas reformar o movimento espírita, arejando-o com ideias sociais e interpretações políticas, mantendo sua estrutura burguesa e suas instituições carunchosas, pois isso seria apenas remendar a roupa velha. Mas, a partir da compreensão espiritual e material das relações humanas contida nas obras espíritas, transformar a sociedade, as relações de classes e a exploração do trabalho e do homem.

É preciso um novo movimento espírita que se apresente firme e claramente à luta contra todo tipo de exploração, contra todo tipo de discriminação e contra a precarização das condições materiais de vida. Isso significa que novas instituições, com novas práticas, precisam assumir esse papel essencial para a consecução daquilo que foi proposto como transformação da realidade por Jesus e pelos espíritos que auxiliaram Kardec, porque não será possível fazer isso a partir das instituições que hoje, infelizmente, representam esse movimento espírita inócuo e sem serventia.

Portanto, a primeira proposta colocada a partir dessas reflexões é a organização de novos grupos e instituições que se pautem por uma visão transformadora. Mas não aquela transformação puramente individual, que ignora as relações humanas dialéticas, e sim a visão que compreenda que toda transformação humana passa necessariamente pela mudança radical nas relações sociais, porque, afinal, ninguém é capaz de se autotransformar ignorando as condições do contexto em que se insere.

Esses novos grupos e instituições devem ter como objetivo primacial a construção da estratégia de sua inserção na luta pela superação da cruel realidade social existente. Suas reuniões, estudos, conferências e ação social devem ter esse maior propósito colocado como horizonte, como meta à sua atuação, exemplificando o poder revolucionário da filosofia espírita. Afinal, de que adianta decorar perguntas e respostas de livros e não ser capaz de usar esse tipo de conhecimento para transformar a realidade ao seu redor? E transformar não é apenas dar o pão no momento de fome extrema, que também é importante, mas construir uma sociedade em que mulheres e homens não tenham mais que sentir fome.

Muito se ouve e se lê de espíritas progressistas sobre a necessidade de se ocupar espaços espíritas existentes, numa luta inglória e ineficaz para levar seu discurso aos ouvintes de determinada instituição. Entende-se que essa estratégia não traz os resultados necessários por dois motivos principais: a) o público dessas casas espíritas não interessa ao movimento espírita progressista, pois seu foco deve ser o povo, a classe trabalhadora que precisa, além de justas condições materiais de vida, de consciência social e política e de educação; b) as instituições espíritas conservadoras —pois intentam conservar o status quo da realidade— são como roupas velhas, carcomidas, nas quais um remendo qualquer só será capaz de fazê-las rasgar, sem entretanto se as fazer transformar. Seus odres estão velhos e o vinho novo ofertado não terá o condão de os melhorar.

E, indo um pouco além, deve-se abandonar definitivamente tolos escrúpulos e cuidados com as propostas de união ou unificação do movimento espírita. Não interessa a nenhum espírita progressista unificar-se ou unir-se a ninguém para uma luta inconsequente e que não tenha como objetivo claro a transformação da realidade social. Pois se não houver explícito interesse nessa transformação, a omissão pusilânime atuará como resistência a essa proposição, ou seja, “aquele que não está comigo está contra mim; e aquele que comigo não ajunta, espalha”[2].

Afinal, não interessa e não basta aos espíritas progressistas apenas compreender a realidade, incluindo-se a condição da imortalidade, mas ser capaz de agir coletivamente para a transformação dessa mesma realidade[3].

Notas:

[1] O título e o subtítulo trazem a clara referência à brochura leninista publicada em 1902 intitulada “Que fazer?: problemas candentes do nosso movimento”, cuja leitura é fortemente recomendada.

[2] Jesus, em Mateus, 12, 30.

[3] Paráfrase da décima-primeira tese sobre Feuerbach, de Karl Marx.

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1073049716422685

E o Espiritismo Se Faz Povo

"E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo."

Mateus, 4, 23.

Em sequência aos textos propositivos duma nova realidade de ação-reflexão do movimento espírita, discutem-se algumas formas para sua atuação.

Destaca-se que esse é o terceiro texto com reflexões e aprofundamentos sobre essa proposta. Os outros dois podem ser lidos nos endereços abaixo:

"Por um Novo Movimento Espírita"

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1058329021228088

"O Que Fazer? Ou uma proposta inicial para encaminhamentos dos 'problemas candentes do nosso movimento'"

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1073049716422685

Pretende-se aqui esmiuçar um pouco as propostas rascunhadas no segundo texto, em que se afirma:

"Esses novos grupos e instituições devem ter como objetivo primacial a construção da estratégia de sua inserção na luta pela superação da cruel realidade social existente. Suas reuniões, estudos, conferências e ação social devem ter esse maior propósito colocado como horizonte, como meta à sua atuação, exemplificando o poder revolucionário da filosofia espírita. Afinal, de que adianta decorar perguntas e respostas de livros e não ser capaz de usar esse tipo de conhecimento para transformar a realidade ao seu redor? E transformar não é apenas dar o pão no momento de fome extrema, que também é importante, mas construir uma sociedade em que mulheres e homens não tenham mais que sentir fome."

A partir do claro entendimento do objetivo transformador das propostas espíritas, não no sentido individual, mas coletivo, porque não é possível transformar-se sem a transformação de toda a sociedade, o que se propõe é a mudança da atuação do movimento espírita no sentido de se tornar instrumento na busca das mudanças da sociedade desigual e injusta em que se vive.

E isso é radical e revolucionário, pois não se parte da proposta de evangelização, no sentido clássico, apartada do contexto vivido por todos, que pretende apenas formar prosélitos de classe média e experienciar a prática da caridade como simples entrega de fardos e itens aos pobres, como se esses fizessem parte duma outra realidade, dum outro mundo.

Os ensinos de Jesus e dos espíritos que auxiliaram Kardec são recursos valiosos que podem, e devem, compor um mosaico de ações que promovam a construção da autoconsciência transformadora do povo, pois um povo alheio à sua realidade social, econômica e ambiental e à sua identidade jamais conseguirá dar passos no sentido da superação de suas mazelas e dificuldades. Portanto, se se pretende verdadeiramente promover a transformação proposta nos ensinos evangélicos e espíritas, é preciso antes de tudo atuar no sentido de possibilitar ao povo a elaboração de sua autoconsciência, ou seja, o foco do novo movimento espírita dever ser o trabalho de conscientização.

E aqui não há nenhuma pretensão de protagonismo nessa tarefa, pois a conscientização é uma conquista de determinado grupo ou de toda a sociedade. Ela não é algo dado por um terceiro, mas construída a partir da própria realidade em que se vive, pois só quem a vive é capaz de dela tomar consciência. Caberá, portanto, ao novo movimento espírita entender seu papel de ferramenta, de meio, de instrumento, de mero auxiliar que facilita a conquista dessa consciência social.

Os núcleos espíritas desse novo movimento devem, preferencialmente, estar vinculados a comunidades populares, de trabalhadores, para, junto com eles --e jamais para eles--, promover atividades e reflexões, com o apoio indispensável dos ensinos evangélicos e espíritas, que contribuam para a construção da consciência crítica de todos os envolvidos.

Portanto, não haveria espaço nessa nova proposta de ação-reflexão para palestras evangélicas alienantes ou reuniões de estudos de caráter dogmático e ortodoxo. Isso porque não há uma doutrina a ser ensinada, não há um fiel a ser conquistado, mas uma tarefa de construção de consciência coletiva a ser feita por meio das transformadoras propostas espíritas, já que o que se objetiva não é um profitente espírita, mas um homem liberto e consciente.

Reuniões, estudos, eventos devem então se pautar pelo diálogo e pela participação intensiva de todos. E qualquer reflexão de caráter espiritual e evangélico deve partir da realidade concreta em que vive a comunidade que se insere o núcleo espírita. Muitas reflexões, diálogos e estudos espíritas podem ser feitos a partir das condições concretas da vida do povo, como as dificuldades das relações de trabalho, as condições objetivas do bairro em que se vive, a moradia, as dificuldades enfrentadas pelas famílias trabalhadoras no acesso à educação e à saúde, os problemas enfrentados por negros, mulheres e LGBTs da comunidade, a violência urbana, as drogas etc. E, a partir da análise desse contexto socioeconômico e da reflexão dos textos espíritas, será possível encontrar não só o consolo proposto por esses textos, mas a força para transformar a situação concreta, que é o valor maior dos ensinos evangélicos.

Esses novos núcleos espíritas devem também promover incansavelmente a auto-organização em todos os sentidos. Primeiro, a auto-organização do trabalho, motivando o trabalhador a participar de cooperativas, movimentos sociais, organizações de bairro e sindicatos profissionais, mostrando que é por meio da luta coletiva que se conseguirá transformar a realidade, jogando por terra o discurso hegemônico e falacioso da meritocracia individual. Segundo, é preciso também fazer com que o próprio núcleo espírita seja auto-organizado, que a própria comunidade dirija e decida os rumos desse novo movimento espírita. A classe média, maioria dentro do carunchoso movimento espírita retrógrado e conservador, precisa abdicar de seu protagonismo e ser mero instrumento da promoção da participação popular na organização desses novos núcleos.

Por fim, as atividades de caridade material, necessárias dentro das comunidades pobres onde vive o povo trabalhador, devem-se nortear pela reflexão e decisão conjuntas e pelo auxílio mútuo. Ou seja, é a leitura da realidade concreta, feita com a participação de todos, que deverá pautar as ações a serem tomadas por todos, incluindo obrigatoriamente a própria comunidade. Não há simplesmente doação de cestas básicas, roupas ou que tais sem que toda a comunidade participe da definição de suas necessidades e também da própria atividade de auxílio mútuo. Portanto, não é apenas um doar alienante, mas uma ação que constrói relações coletivas e promove a consciência libertadora.

As propostas espíritas trazem consigo esse poder transformador revolucionário. O que se precisa é colocá-lo em ação. Essas propostas foram trazidas há mais de cento e sessenta anos por uma miríade de espíritos como ferramenta de auxílio nesse processo que, como se sabe pela lei de evolução, ocorrerá de qualquer forma, "conosco, sem nós ou contra nós"[1]. E o que aqui, pois, propõe-se é que se coloque o movimento espírita a favor desse processo, mudando o triste rumo em que hoje se encontra.

Nota:

[1] Frei Inocêncio Engelke, em carta pastoral à pequenina cidade mineira de Campanha, em 1950, mostrando sua preocupação sobre a ausência da Igreja Católica no processo de libertação do povo camponês.

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1107200249674298

Os Espíritas e o "Reino"

"A filosofia espírita só estará definitivamente arraigada no mundo no dia em que se dedicar à consideração filosófica, social e religiosa da chamada luta de classes. O problema desta luta absorve quase toda a atenção do homem contemporâneo. Seria um erro não reconhecer que todo pensamento espiritualista dos novos tempos só avançará se souber enfrentar esse tremendo conflito, que se desenvolve entre as classes sociais. Não olvidemos que todo progresso da cultura só é possível no plano da consideração histórico-social. A filosofia espírita, se não tomar uma orientação desse caráter, realmente definida, tal como se deduz do kardecismo, ver-se-á diminuída e reduzida em sua ação, frente ao problema transcendental das questões sociais."

Assim, o argentino Humberto Mariotti, em sua conhecida obra "Parapsicología y materialismo histórico", de 1963, indica o caminho necessário à condução das propostas espíritas pelo movimento espírita.

A ideia de levar as propostas espíritas de transformação social e individual, num enlace dialético contínuo, que se tem defendido nesse espaço, não é original, pois já foi levantada, e convenientemente esquecida e relegada à mera curiosidade histórica, por grandes nomes do movimento espírita nacional e internacional.

Como explicita Mariotti no fragmento acima, não orientar as discussões espíritas ao necessário debate sobre as desigualdades econômicas, a injustiça social, as discriminações humanas, enfim, a luta de classes, é diminuir o alcance revolucionário das propostas espíritas, pois não é possível pensar em espiritismo sem suas óbvias consequências sociais e seu chamamento à ação transformadora.

O que faz o espiritismo, nos textos trazidos pelos espíritos que auxiliaram Kardec, e que apenas ecoam as propostas de Jesus, é delinear os fundamentos do "Reino" anunciado por Jesus, descrito nos textos neotestamentários. Esse "Reino", que traz como fundamentos a justiça, o amor, a fraternidade e a igualdade, só será alcançado quando os homens estiverem conscientes de sua condição de explorados e expropriados em seus direitos e dignidade.

A opção de Jesus pelos pobres, deserdados, explorados, humilhados, oprimidos e desgraçados nessa transformação é muito clara e não permite compreensão distinta. Aos exploradores e detentores de privilégios sociais e econômicos, Jesus apenas os convida a participar, propondo o abandono de sua situação moral aviltante de opressor como "conditio sine qua non". Como não lembrar das passagens em que o jovem rico é instado a doar seus bens para segui-lo, ou quando diz que é mais fácil um camelo passar pelo buraco duma agulha do que um rico alcançar o "Reino"?

A proposta de Jesus, portanto, é clara: só será possível um "Reino" quando não existirem diferenças sociais que permita haver alguns privilegiados e muitos miseráveis.

Cabe aos espíritas, que se dizem seguidores de Jesus, levar adiante tal proposta de viabilização e fundação do "Reino". E o "Reino" nada mais seria do que essa sociedade de homens, nas condições material e espiritual, em que a justiça social seja o norte e orientada por propostas de libertação e conscientização do povo. Porque só um povo livre e consciente será capaz de manter uma sociedade fundada nos valores do amor e da fraternidade propostos há mais de dois mil anos.

Um espiritismo insosso e inócuo, que se propõe apenas a discutir temas fúteis e comportamentais, não tem valor para a transformação em direção ao "Reino", como indicado por Jesus. A construção desse "Reino" demanda verdadeiros espíritas que se proponham à ação-reflexão no sentido de promover a autolibertação e a autoconscientização do povo oprimido, conforme a clara escolha de Jesus. E isso só será possível com um novo movimento espírita transformado e construído a partir das reflexões já trazidas por muitos, como indicado no texto citado de Mariotti.

Há muito a fazer. Há um novo movimento espírita justo e fraterno a ser construído. À ação, espíritas!

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1125002864560703

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

E Se Fosse Assim?

Estes cards sumarizam a natureza da coisa que afeta os brasileiros neste momento. Em face das eleições municipais no fim deste ano de 2020, é preciso saber votar para que se possa voltar ao normal de forma democrática. Aqui está, em linguagem de meme, uma síntese do problema e da solução. Se você ainda está dormindo, está na hora de acordar, gente do céu! Se votar 50, também serve...


























segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O Homem e o Rato

O Homem

Depois de assistir a este vídeo, disse uma amiga: "Lula é impressionante. Quase 75 anos, perdeu a esposa, perdeu o irmão e o neto enquanto preso, 2 anos preso por uma articulação política maestrada por forças anti-democráticas... é muito golpe pra qualquer homem. Discursou como um estadista. Se colocou à disposição do Brasil e convocou brasileiros(as) a lutar pelo voto. É uma força política impressionante..."

Disse outra amiga: "Falou como um grande estadista. Está muito mais preparado para discutir o novo capitalismo que terá de substituir o atual."

E mais outra amiga: "Que pronunciamento emocionante. É um estadista."

Ouça os 23:47 minutos de discurso do ex-presidente Lula aqui:


Leia a íntegra do pronunciamento de Lula neste 7 de setembro

Em discurso pelo Dia da Independência, ex-presidente faz um diagnóstico da situação brasileira, denuncia crimes cometidos por Bolsonaro e se coloca à disposição do povo brasileiro para reconstruir o País.

“Minhas amigas e meus amigos.

Nos últimos meses uma tristeza infinita vem apertando meu coração. O Brasil está vivendo um dos piores períodos de sua história.

Com 130 mil mortos e quatro milhões de pessoas contaminadas, estamos despencando em uma crise sanitária, social, econômica e ambiental nunca vista.

Mais de duzentos milhões de brasileiras e brasileiros acordam, todos os dias, sem saber se seus parentes, amigos ou eles próprios estarão saudáveis e vivos à noite.

A esmagadora maioria dos mortos pelo Coronavírus é de pobres, pretos, pessoas vulneráveis que o Estado abandonou.

Na maior e mais rica cidade do país, as mortes pelo Covid-19 são 60% mais altas entre pretos e pardos da periferia, segundo os dados das autoridades sanitárias.

Cada um desses mortos que o governo federal trata com desdém tinha nome, sobrenome, endereço. Tinha pai, mãe, irmão, filho, marido, esposa, amigos. Dói saber que dezenas de milhares de brasileiras e brasileiros não puderam se despedir de seus entes queridos. Eu sei o que é essa dor.

Teria sido possível, sim, evitar tantas mortes.

Estamos entregues a um governo que não dá valor à vida e banaliza a morte. Um governo insensível, irresponsável e incompetente, que desrespeitou as normas da Organização Mundial de Saúde e converteu o Coronavírus em uma arma de destruição em massa.

Os governos que emergiram do golpe congelaram recursos e sucatearam o Sistema Único de Saúde, o SUS, respeitado mundialmente como modelo para outras nações em desenvolvimento. E o colapso só não foi ainda maior graças aos heróis anônimos, as trabalhadoras e trabalhadores do sistema de saúde.

Os recursos que poderiam estar sendo usados para salvar vidas foram destinados a pagar juros ao sistema financeiro.

O Conselho Monetário Nacional acaba de anunciar que vai sacar mais de 300 bilhões de reais dos lucros das reservas que nossos governos deixaram.

Seria compreensível se essa fortuna fosse destinada a socorrer o trabalhador desempregado ou a manter o auxílio emergencial de 600 reais enquanto durar a pandemia.

Mas isso não passa pela cabeça dos economistas do governo. Eles já anunciaram que esse dinheiro vai ser usado para pagar os juros da dívida pública!

Nas mãos dessa gente, a Saúde pública é maltratada em todos os seus aspectos.

A substituição da direção do Ministério da Saúde por militares sem experiência médica ou sanitária é apenas a ponta de um iceberg. Em uma escalada autoritária, o governo transferiu centenas de militares da ativa e da reserva para a administração federal, inclusive em muitos postos-chave, fazendo lembrar os tempos sombrios da ditadura.

O mais grave de tudo isso é que Bolsonaro aproveita o sofrimento coletivo para, sorrateiramente, cometer um crime de lesa-pátria.

Um crime politicamente imprescritível, o maior crime que um governante pode cometer contra seu país e seu povo: abrir mão da soberania nacional.

Não foi por acaso que escolhi para falar com vocês neste 7 de Setembro, dia da Independência do Brasil, quando celebramos o nascimento do nosso país como nação soberana.

Soberania significa independência, autonomia, liberdade. O contrário disso é dependência, servidão, submissão.

Ao longo de minha vida sempre lutei pela liberdade.

Liberdade de imprensa, liberdade de opinião, liberdade de manifestação e de organização, liberdade sindical, liberdade de iniciativa.

É importante lembrar que não haverá liberdade se o próprio país não for livre.

Renunciar à soberania é subordinar o bem-estar e a segurança do nosso povo aos interesses de outros países.

A garantia da soberania nacional não se resume à importantíssima missão de resguardar nossas fronteiras terrestres e marítimas e nosso espaço aéreo. Supõe também defender nosso povo, nossas riquezas minerais, cuidar das nossas florestas, nossos rios, nossa água.

Na Amazônia devemos estar presentes com cientistas, antropólogos e pesquisadores dedicados a estudar a fauna e a flora e a empregar esse conhecimento na farmacologia, na nutrição e em todos os campos da ciência – respeitando a cultura e a organização social dos povos indígenas.

O governo atual subordina o Brasil aos Estados Unidos de maneira humilhante, e submete nossos soldados e nossos diplomatas a situações vexatórias. E ainda ameaça envolver o país em aventuras militares contra nossos vizinhos, contrariando a própria Constituição, para atender os interesses econômicos e estratégico-militares norte-americanos.

A submissão do Brasil aos interesses militares de Washington foi escancarada pelo próprio presidente ao nomear um oficial general das Forças Armadas Brasileiras para servir no Comando Militar Sul dos Estados Unidos, sob as ordens de um oficial americano.

Em outro atentado à soberania nacional, o atual governo assinou com os Estados Unidos um acordo que coloca a Base Aeroespacial de Alcântara sob o controle de funcionários norte-americanos e que priva o Brasil de acesso à tecnologia, mesmo de terceiros países.

Quem quiser saber os verdadeiros objetivos do governo não precisa consultar manuais secretos da Abin ou do serviço de inteligência do Exército.

A resposta está todos os dias no Diário Oficial, em cada ato, em cada decisão, em cada iniciativa do presidente e de seus assessores, banqueiros e especuladores que ele chamou para dirigir nossa economia.

Instituições centenárias, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES, que se confundem com a história do desenvolvimento do país, estão sendo esquartejadas e fatiadas – ou simplesmente vendidas a preço vil.

Bancos públicos não foram criados para enriquecer famílias. Eles são instrumentos do progresso. Financiam a casa do pobre, a agricultura familiar, as obras de saneamento, a infraestrutura essencial ao desenvolvimento.

Se olharmos para o setor energético, veremos uma política de terra arrasada igualmente predadora.

Depois de colocar à venda por valores ridículos as reservas do Pré-Sal, o governo desmantela a Petrobrás. Venderam a distribuidora e os gasodutos foram alienados. As refinarias estão sendo esquartejadas. Quando só restarem os cacos, chegarão as grandes multinacionais para arrematar o que tiver sobrado de uma empresa estratégica para a soberania do Brasil.

Meia dúzia de multinacionais ameaçam a renda de centenas de bilhões de reais do petróleo do Pré-Sal – recursos que constituiriam um fundo soberano para financiar uma revolução educacional e científica.

A Embraer, um dos maiores trunfos do nosso desenvolvimento tecnológico, só escapou da sanha entreguista em função das dificuldades da empresa que iria adquiri-la, a Boeing, profundamente ligada ao complexo industrial militar dos Estados Unidos.

O desmanche não termina aí.

O furor privatista do governo pretende vender, na bacia das almas, a maior empresa de geração de energia da América Latina, a Eletrobrás, uma gigante com 164 usinas – duas delas termonucleares – responsável por quase 40% da energia consumida no Brasil.

A demolição das universidades, da educação e o desmonte das instituições de apoio à ciência e à tecnologia, promovidos pelo governo, são ameaça real e concreta à nossa soberania.

Um país que não produz conhecimento, que persegue seus professores e pesquisadores, que corta bolsas de pesquisas e nega o ensino superior à maioria de sua população está condenado à pobreza e à eterna submissão.

A obsessão destrutiva desse governo deixou a cultura nacional entregue a uma sucessão de aventureiros. Artistas e intelectuais clamam pela salvação da Casa de Ruy Barbosa, da Funarte, da Ancine. A Cinemateca Brasileira, onde está depositado um século da memória do cinema nacional, corre o sério risco de ter o mesmo destino trágico do Museu Nacional

Minhas amigas e meus amigos.

No isolamento da quarentena tenho refletido muito sobre o Brasil e sobre mim mesmo, sobre meus erros e acertos e sobre o papel que ainda pode me caber na luta do nosso povo por melhores condições de vida.

Decidi me concentrar, ao lado de vocês, na reconstrução do Brasil como Nação independente, com instituições democráticas, sem privilégios oligárquicos e autoritários. Um verdadeiro Estado Democrático e de Direito, com fundamento na soberania popular. Uma Nação voltada para a igualdade e o pluralismo. Uma Nação inserida numa nova ordem internacional baseada no multilateralismo, na cooperação e na democracia, integrada na América do Sul e solidária com outras nações em desenvolvimento.

O Brasil que quero reconstruir com vocês é uma Nação comprometida com a libertação do nosso povo, dos trabalhadores e dos excluídos.

Dentro de um mês vou fazer 75 anos.

Olhando para trás, só posso agradecer a Deus, que foi muito generoso comigo. Tenho que agradecer à minha mãe, dona Lindu, por ter feito de um pau-de-arara sem diploma um trabalhador orgulhoso, que um dia viraria presidente da República. Por ter feito de mim um homem sem rancor, sem ódios.

Eu sou o menino que desmentiu a lógica, que saiu do porão social e chegou ao andar de cima sem pedir permissão a ninguém, só ao povo.

Não entrei pela porta dos fundos, entrei pela rampa principal. E isso os poderosos jamais perdoaram.

Reservaram para mim o papel de figurante, mas virei protagonista pelas mãos dos trabalhadores brasileiros.

Assumi o governo disposto a mostrar que o povo cabia, sim, no orçamento. Mais do que isso, provei que o povo é um extraordinário patrimônio, uma enorme riqueza. Com o povo o Brasil progride, se enriquece, se fortalece, se torna um país soberano e justo.

Um país em que a riqueza produzida por todos seja distribuída para todos – mas em primeiro lugar para os explorados, os oprimidos, os excluídos.

Todos os avanços que fizemos sofreram encarniçada oposição das forças conservadoras, aliadas a interesses de outras potências.

Eles nunca se conformaram em ver o Brasil como um país independente e solidário com seus vizinhos latino-americanos e caribenhos, com os países africanos, com as nações em desenvolvimento.

É aí, nessas conquistas dos trabalhadores, nesse progresso dos pobres, no fim da subserviência, é aí que está a raiz do golpe de 2016.

Aí está a raiz dos processos armados contra mim, da minha prisão ilegal e da proibição da minha candidatura em 2018. Processos que – agora todo mundo sabe – contaram com a criminosa colaboração secreta de organismos de inteligência norte-americanos.

Ao tirar 40 milhões de brasileiros da miséria, nós fizemos uma revolução neste país. Uma revolução pacífica, sem tiros nem prisões.

Ao ver que esse processo de ascensão social dos pobres iria continuar, que a afirmação de nossa soberania não iria ter volta, os que se julgam donos do Brasil, aqui dentro e lá fora, resolveram dar um basta.

Nasce aí o apoio dado pelas elites conservadoras a Bolsonaro.

Aceitaram como natural sua fuga dos debates. Derramaram rios de dinheiro na indústria das fake news. Fecharam os olhos para seu passado aterrador. Fingiram ignorar seu discurso em defesa da tortura e a apologia pública que ele fez do estupro.

As eleições de 2018 jogaram o Brasil em um pesadelo que parece não ter fim.

Com ascensão de Bolsonaro, milicianos, atravessadores de negócios e matadores de aluguel saíram das páginas policiais e apareceram nas colunas políticas.

Como nos filmes de terror, as oligarquias brasileiras pariram um monstrengo que agora não conseguem controlar, mas que continuarão a sustentar enquanto seus interesses estiverem sendo atendidos.

Um dado escandaloso ilustra essa conivência: nos quatro primeiros meses da pandemia, quarenta bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em 170 bilhões de reais.

Enquanto isso, a massa salarial dos empregados caiu 15% em um ano, o maior tombo já registrado pelo IBGE. Para impedir que os trabalhadores possam se defender dessa pilhagem, o governo asfixia os sindicatos, enfraquece as centrais sindicais e ameaça fechar as portas da Justiça do Trabalho. Querem quebrar a coluna vertebral do movimento sindical, o que nem a ditadura conseguiu.   

Violentaram a Constituição de 1988. Repudiaram as práticas democráticas. Implantaram um autoritarismo obscurantista, que destruiu as conquistas sociais alcançadas em décadas de lutas. Abandonaram uma política externa altiva e ativa, em favor de uma submissão vergonhosa e humilhante.

Este é o verdadeiro e ameaçador retrato do Brasil de hoje.

Tamanha calamidade terá que ser enfrentada com um novo contrato social que defenda os direitos e a renda do povo trabalhador.

Minhas queridas e meus queridos.

Minha longa vida, aí incluídos os quase dois anos que passei em uma prisão injusta e ilegal, me ensinou muito.

Mas tudo o que fui, tudo o que aprendi cabe num grão de milho se essa experiência não for colocada a serviço dos trabalhadores. 

É inaceitável que 10% da população vivam à custa da miséria de 90% do povo.

Jamais haverá crescimento e paz social em nosso país enquanto a riqueza produzida por todos for parar nas contas bancárias de meia dúzia de privilegiados.

Jamais haverá crescimento e paz social se as políticas públicas e as instituições não tratarem com equidade a todos brasileiros.

É inaceitável que os trabalhadores brasileiros  continuem sofrendo os impactos perversos da desigualdade social. Não podemos admitir que nossa juventude negra tenha suas vidas marcadas por uma  violência que beira genocídio.

Desde que vi, naquele terrível vídeo, os 8 minutos e 43 segundos de agonia de George Floyd, não paro de me perguntar: quantos George Floyd nós tivemos no Brasil? Quantos brasileiros perderam a vida por não serem brancos? Vidas negras importam, sim. Mas isso vale para o mundo, para os Estados Unidos e vale para o Brasil.

É intolerável que nações indígenas tenham suas terras invadidas e saqueadas e suas culturas destruídas. O Brasil que queremos é o do marechal Rondon e dos irmãos Villas-Boas, não o dos grileiros e dos devastadores de florestas.

Temos um governo que quer matar as mais belas virtudes do nosso povo, como a generosidade, o amor à paz e a tolerância.

O povo não quer comprar revólveres nem cartuchos de carabina. O povo quer comprar comida.

Temos que combater com firmeza a violência impune contra as mulheres. Não podemos aceitar que um ser humano seja estigmatizado por seu gênero. Repudiamos o escárnio público com os quilombolas. Condenamos o preconceito que trata como seres inferiores pobres que vivem nas periferias das grandes cidades.

Até quando conviveremos com tanta discriminação, tanta intolerância, tanto ódio?

Meus amigos e minhas amigas,

Para reconstruirmos o Brasil pós pandemia, precisamos de um novo contrato social entre todos os brasileiros.

Um contrato social que garanta a todos o direito de viver em paz e harmonia. Em que todos tenhamos as mesmas possiblidades de crescer, onde nossa economia esteja a serviço de todos e não de uma pequena minoria. E no qual sejam respeitados nossos tesouros naturais, como o Cerrado, o Pantanal, a Amazônia Azul e a Mata Atlântica.

O alicerce desse contrato social tem que ser o símbolo e a base do regime democrático: o voto. É através do exercício do voto, livre de manipulações e fake news, que devem ser formados os governos e ser feitas as grandes escolhas e as opções fundamentais da sociedade.

Através dessa reconstrução, lastreada no voto, teremos um Brasil um democrático, soberano, respeitador dos direitos humanos e das diferenças de opinião, protetor do meio ambiente e das minorias e defensor de sua própria soberania.

Um Brasil de todos e para todos.

Se estivermos unidos em torno disso poderemos superar esse momento dramático.

O essencial hoje é vencer a pandemia, defender a vida e a saúde do povo. É pôr fim a esse desgoverno e acabar com o teto de gastos que deixa o Estado brasileiro de joelhos diante do capital financeiro nacional e internacional.

Nessa empreitada árdua, mas essencial, eu me coloco à disposição do povo brasileiro, especialmente dos trabalhadores e dos excluídos.

Minhas amigas e meus amigos.

Queremos um Brasil em que haja trabalho para todos.

Estamos falando de construir um Estado de bem-estar social que promova a igualdade de direitos, em que a riqueza produzida pelo trabalho coletivo seja devolvida à população segundo as necessidades de cada um.

Um Estado justo, igualitário e independente, que dê oportunidades para os trabalhadores, os mais pobres e os excluídos.

Esse Brasil dos nossos sonhos pode estar mais próximo do que aparenta.

Até os profetas de Wall Street e da City de Londres já decretaram que o capitalismo, tal como o mundo o conhece, está com os dias contados. Levaram séculos para descobrir uma verdade inquestionável que os pobres conhecem desde que nasceram: o que sustenta o capitalismo não é o capital. Somos nós, os trabalhadores.

É nessas horas que me vem à cabeça esta frase que li num livro de Victor Hugo, escrito há um século e meio, e que todo trabalhador deveria levar no bolso, escrita em um pedacinho de papel, para jamais esquecer:

“É do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos…”

Nenhuma solução, porém, terá sentido sem o povo trabalhador como protagonista. Assim como a maioria dos brasileiros, não acredito e não aceito os chamados pactos “pelo alto”, com as elites. Quem vive do próprio trabalho não quer pagar a conta dos acertos políticos feitos no andar de cima.

Por isso quero reafirmar algumas certezas pessoais:

Não apoio, não aceito e não subscrevo qualquer solução que não tenha a participação efetiva dos trabalhadores.

Não contem comigo para qualquer acordo em que o povo seja mero coadjuvante.

Mais do que nunca, estou convencido de que a luta pela igualdade social passa, sim, por um processo que obrigue os ricos a pagar impostos proporcionais às suas rendas e suas fortunas.

E esse Brasil, minhas amigas e meus amigos, está ao alcance das nossas mãos.

Posso afirmar isso olhando nos olhos de cada um e de cada uma de vocês. Nós provamos ao mundo que o sonho de um país justo e soberano pode sim, se tornar realidade.

Eu sei – vocês sabem – que podemos, de novo, fazer do Brasil o país dos nossos sonhos.

E dizer, do fundo do meu coração: estou aqui. Vamos juntos reconstruir o Brasil.

Ainda temos um longo caminho a percorrer juntos.

Fiquem firmes, porque juntos nós somos fortes.

Viveremos e venceremos.”

Luiz Inácio Lula da Silva

https://www.brasil247.com/poder/leia-a-integra-do-pronunciamento-de-lula-neste-7-de-setembro

O Rato

Agora ouça os extraordinários 3:19 minutos do discurso do outro, que mereceu um panelaço de protesto generalizado através do país que irritou os paneleiros porque demorou muito pouco, arre égua.

https://www.brasil247.com/midia/panelaco-cala-a-boca-bolsonaro-ganha-o-pais-durante-pronunciamento-oficial-do-ex-capitao-video

https://www.brasil247.com/brasil/em-discurso-patetico-bolsonaro-defende-golpe-militar-e-cita-ameaca-de-comunismo

https://www.theguardian.com/world/2020/sep/08/brazils-ex-president-lula-condemns-bolsonaro-over-covid-in-comeback-bid

domingo, 23 de agosto de 2020

Advance Australia Fair


"Advance Australia Fair" é o hino oficial nacional da Austrália. Criado pelo compositor escocês Peter Dodds McCormick, a música foi apresentada pela primeira vez em 1878 e cantada na Austrália como uma canção patriótica. Ela substituiu "God Save the Queen" como o hino nacional oficial australiano em 1984, após um plebiscito para escolher a música nacional em 1977. Quer dizer, é bem nova em termos de história. Antes disso, ela já era popular e cantada em muitos eventos, que dizer, nada seriamente criada com esta finalidade.

O hino oficial da Austrália é um tanto frívolo como a personalidade do australiano em geral, muito superficial e pouco comprometido, embora o capitalismo puro o obrigue a ser eficiente. Primeiro ele fala que é uma nação jovem, que não o será por muito tempo, e se for observar o povo nas ruas, irá se ver que os idosos predominam. Sobre liberdade, o australiano só é livre até certo ponto, pois a Austrália, como uns outros países, se submete à Rainha da Inglaterra, "proprietária" do Commonwealth, que é um agromerado de nações sob protetorado inglês, como Canadá, Nova Zelândia, Austrália e outros.

Em seguida, o hino se refere as extensões territoriais desertas e rodeadas pelos mares como uma verdadeira ilha gigante de terra rica em minérios sendo extraídos e da beleza natural selvagem, sem falar que é venenosa e perigosa e então propaga o bem-estar ou o júbilo de ser australiano através do trabalho.

The National Anthem of Australia
Hino Nacional da Austrália

Fair = Contentamento, Júbilo, Prazer, Alegria. É uma palavra inglesa de difícil entendimento para brasileiros pois também significa "Justiça", muito utilizada na vulgar expressão "fair enough" que significa, "é, faz sentido".

Advance Australia Fair
Avante o Júbilo da Austrália

Australians all let us rejoice
Nós australianos devemos nos alegrar

For we are young and free
Pois somos jovens e livres

We've golden soil and wealth for toil
Temos solo dourado e riqueza a trabalhar

Our home is girt by sea
Nossa casa é circundada pelo mar

Our land abounds in nature's gifts
Nossa terra é repleta de presentes da natureza

Of beauty rich and rare
De rica e rara beleza

In history's page, let every stage
Na página da história, em cada estágio permita

Advance Australia Fair
Avante o Júbilo da Austrália

In joyful strains then let us sing
Com esforço alegre então vamos cantar

Advance Australia Fair!
Avante o Júbilo da Austrália!

Beneath our radiant Southern Cross
Sob nosso radiante Cruzeiro do Sul

We'll toil with hearts and hands
Trabalharemos com mãos e corações

To make this Commonwealth of ours
Para tornar nossa Riqueza Comum (Commonwealth)

Renowned of all the lands
Renomada em toda parte

For those who've come across the seas
Para os que chegaram cruzando os mares

We've boundless plains to share
Temos planícies sem fim para compartilhar

With courage let us all combine
Com coragem, vamos todos nos irmanar

To Advance Australia Fair
Avante o Júbilo da Austrália

In joyful strains then let us sing
Com alegre esforço então vamos cantar

Advance Australia Fair!
Avante o Júbilo da Austrália!

https://youtu.be/K7axhZ2kFH4

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

AMOR como ARMA

O único jeito de lutar contra a poderosa e tentacular inteligência artificial norte-americana que ora contamina grande parte do mundo, incluindo principalmente o Brasil, é usar uma arma que ela não consegue ter. 

Esta arma é o AMOR. Todo mundo sabe que máquinas e psicopatas não compreendem o AMOR embora eles suspeitem que o AMOR existe, por isso o AMOR brasileiro tem estado sob ataque. Antes deste último ataque fatal, o brasileiro também tinha AMOR de sobra como tantos outros recursos em abundância. Este AMOR ainda resiste, como demonstra a existência de alguns grupos de WhatsApp que se formaram e me incluiram.

O que nos falta é uma estratégia de guerra.

Uma Nova Narrativa

Acho que nós, as esquerdas, precisamos de uma nova narrativa simples e unificadora. 

Minha ideia é um tanto pueril mas acho que todos os fraternos, libertos e iguais poderiam tentar promover o AMOR, assim como no slogan Lula Paz e Amor. 

Como estudante dos buracos mais embaixo, todos sabem que os psicopatas não têm empatia porque não conhecem o AMOR, o qual tem o temível super-poder de unir e consequentemente fortalecer, e esta é uma das milhares de tentativas das elites mundiais, a de erradicarem o AMOR na sociedade, porque é algo que elas não têm, não podem ter, e tem raiva de quem tem porque pode tornar-se mais poderoso do que elas. 

Por isso elas vendem o AMOR sob todas as formas artificiais de consumo para enganar enquanto perseguem todas as formas naturais de amor na sociedade. E por isso estão em franca guerra contra o AMOR nacional, promovendo o ódio e dividindo as pessoas que antes se amavam mesmo em meio a seus preconceitos velados. 

Esta guerra subliminar não é de agora, ela tem milênios. Infelizmente esta palavra "AMOR" está conectada com tudo quanto é religião perniciosa enquanto os "isentos" a menosprezam. Mas quando fazemos algo pelos necessitados e injustiçados, isso é AMOR. 

Só precisamos de uma boa narrativa e embalagem para repassar a ideia como verdadeira e usá-las como arma contra quem está destruindo o Brasil e os brasileiros. 

Notem que o AMOR está se expressando nas mais variadas formas durante esta pandemia de COVID-19, desde as dissidências religiosas em direção à essência desta palavra até todo tipo de união em petições e LIVES. 

Seria bom se nós, ditos esquerdistas ou progressistas, pudéssemos explorar este assunto de uma forma séria e sem conotação ridícula, porque isso é muito sério e estamos no limiar desta grande virada da humanidade. Se perdermos mais este bonde, cada dia vai ficando mais difícil a "libertação" dos escravos do sistema.

Quando falei que os psicopatas não conhecem o amor, minha mensagem ficou ambígua. Na realidade, eles o conhecem, apenas não sabem amar, ou não podem amar. A palavra "conhecer" foi dita neste sentido, de que eles não conhecem o poder do amor dentro de si mesmos e só conhecem os frios interesses materiais, mas sabem que o amor existe para os outros, embora o ridicularizem. Eles também sabem que o amor dá poder ao outro, aos seus competidores em união, e friamente se permitem a usar qualquer meio para conseguirem seus objetivos que são eliminar os competidores para acumularem tudo o que é material apenas para eles, pois isso é o que significa vida para eles. Afinal, se eles não têm amor, vão ter o quê? Coisas.

Fábulas

Eu adorava as fábulas de Esopo quando era criança e mais tarde vim a saber que Jesus Cristo falava por parábolas, ou seja, por exemplos, porque esta era a cultura árabe. 

A pessoa aprende muito mais facilmente associando o conhecimento a lembranças de histórias do que a uma sucessão de palavras secas e desprovidas de emoção, e isso também aprendi num curso de memorização como parte de neuro-linguística em que nosso cérebro é limitado por cada linguagem de diferentes formas. 

O evento das palavras então é mais uma peça na manipulação da humanidade para proveito das elites porque nos embota o raciocínio. Como representa aquele filme Minority Report, a comunicação espiritual dos precogs dá-se por associação de imagens que nós, humanos, temos que reinterpretar e encadear num raciocínio lógico sequencial, cartesiano e aristotélico do encadeamento de palavras pelo lado esquerdo do cérebro (para os destros) e não pelo lado direito que interpreta tudo pelo coração, pela emoção, pela sensação, pela percepção extra-sensorial. Isso nos faz perder a noção do todo espiritual, que significa muito mais conhecimento do que simplesmente o encadeamento de palavras que nos tolhem o raciocínio.

Este tipo de conhecimento extra-sensorial também foi suprimido das escolas e universidades propositalmente através do paradigma cientîfico imposto pelas elites para a fundação e permanência das instituições escolares até hoje, porque tal conhecimento fortalece os homens em união, e isso não interessa ao "establishment", ao "sistema". Quer entender? Leia o livro A Guerra Contra o Brasil - Jessé Souza.

Como o conhecimento do extra-sensorial e seu desenvolvimento emprega mais poder a quem o detém, seja porque associa-se ao sobrenatural, aos poderes ditos de magia, seja pela união das pessoas que as torna ainda mais fortes, tipo de conhecimento marcado pela bondade e fraternidade, isso é inacessível aos egoístas do capitalismo e dos reinados que, em desvantagem, trataram de proibir a existência e desenvolvimento dos "espirituais", dos "comunistas", perseguí-los e queimá-los nas fogueiras em praça pública com requintes de  perversidade, como destruíram Canudos no Brasil e Languedoc na França. 

Some-se a isso que tais "espirituais", chamados de magos ou bruxas, também dominavam a arte da cura natural pela natureza, pelas plantas, muitos embrenhados nas matas, e tudo se conecta numa imensa conspiração que atrasou nosso desenvolvimento e evolução espiritual e nos enredou de tal jeito que hoje não temos mais a menor noção de nada e vivemos presos nesta retórica infernal de palavras e mais palavras inúteis, exceto para auxiliar na riqueza das castas superiores das elites como escravos lobotizados...

Trata-se de uma escravatura bastante sofisticada, não acham?

Se o Deus cristão criou o mundo à sua perfeição, o Demiurgo o corrompeu a tal ponto de escravizar os filhos daquele Deus aqui na Terra numa extraordinária prisão conspiratória indetectável.

O texto acima é um sumário de milhares de textos que tenho lido ao longo da vida sobre os mais diversos assuntos, a reunião de todo o conhecimento que absorvi livre de qualquer guia ou instrutor, pois caso contrário jamais chegaria a tais conclusões. 

Quando um amigo meu me sugeriu procurar a National Library (Biblioteca Nacional) em Canberra, Austrália, para basear meu raciocínio, querendo dizer que sem citações reconhecidamente acadêmicas e científicas eu não teria credibilidade por mais que meu raciocínio se mostrasse lógico, eu não segui sua recomendação de adido diplomático internacional porque sabia que, o que eu queria, jamais iria encontrar numa biblioteca pública de um país capitalista ocidental (mesmo que este país se situe no oriente).

Não há como provar o que eu escrevi acima, e nem muitos dos textos que li em revistas sobre conspirações encontradas lá mesmo, na Austrália, porque a concatenação dessa história foi perdida, visto que a história oficial é escrita pelos ganhadores das guerras, então não há como contar outra história que ninguém vai acreditar assim, simplesmente. 

Contudo, muitos de nós insistimos em continuar trilhando a verdade e publicando o que podemos na ânsia de que um dia cada vez mais pessoas vá acordando para a realidade. São vários os projetos de despertar, e posso exemplificar aqui com apenas um deles, o filme The Matrix das irmãs Wachowskis, o primeiro da trilogia que terá um quarto filme em breve.

E tudo o que posso sugerir para aqueles que realmente desejam acordar, é prestar atenção em todas as mensagens repassadas pelos mais diversos artistas e ir montando seu próprio quebra-cabeças até não ter mais dúvidas de que está no caminho certo, e que este caminho é o do AMOR verdadeiro, e não aquele pregado em Hollywood, nos templos ou nas igrejas corrompidas.

Mas vai ser preciso você ousar e acreditar mais em si do que nos outros. Você é capaz?

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Um Novo Movimento Espírita

"Aqueles que abraçam realmente o Espiritismo tornam-se menos espirituais e mais humanos..."

Para quem não entendeu, é preciso voar menos sendo-se "espirituais" dentro de casa ou nos centros e cair na real sendo mais "humanos" lá fora, no sentido de ter humanidade para ajudar aos outros na sociedade como um todo, e para isso é que existe a política. Ser Espírita não é fazer só caridade dando um prato de sopa, mas fazer uma caridade maior eliminando as razões porque alguém precisa de um prato de sopa, e para isso é preciso atuar-se politicamente. Desnecessário dizer-se que, sem eliminar a causa, a pessoa continuará precisando de prato de sopa todos os dias e a caridade menor não resolverá seu problema de uma vez. Ser Espírita não é coletar doações nas campanhas do quilo, mas ser ativista político para eliminar a necessidade de campanhas do quilo.

Texto curto e cirúrgico! Como diz o Krenak, “você economizar água quando toma banho não resolverá o problema de falta de água no mundo, se faz necessário uma ação, uma política, que ajude a resolver o problema de forma mais ampla.” 

Ser espírita é buscar o progresso com a reforma íntima, mas sem se desconectar com o todo. Não ser egoísta achando que a "salvação" é individual.

Espíritas à Esquerda, Novo Movimento

O que fazer?

“O espiritismo é uma ferramenta poderosa de libertação e conscientização”.

Ou uma proposta inicial para encaminhamentos dos “problemas candentes do nosso movimento”[1].

“Ninguém coloca remendo novo em roupa velha; porque o remendo força o tecido da roupa e o rasgo aumenta. Nem se põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, os odres rebentarão, o vinho derramará e os odres se estragarão. Mas, põe-se vinho novo em odres novos, e assim ambos ficam conservados.”
Jesus, em Mateus, 9, 16-17.

Em editorial recente da página “Espíritas à Esquerda”, publicado no último dia 4 de julho, foi lançada a provocação da necessidade de se constituir um novo movimento espírita. E seu título traduz bem a ideia central proposta: “Por um novo movimento espírita”.

Abaixo, o endereço do texto:

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1058329021228088

Capa meramente ilustrativa
Por um Novo Movimento Espírita

No texto citado, foi dito que o “espiritismo precisa tornar-se popular, falar a linguagem do povo, para que não continue a ser essa tolice diletante que hoje cheira a naftalina nas casas e instituições espíritas sem um real objetivo transformador.” Concluindo-se, então, da seguinte forma:

“Um novo movimento espírita, reinventado, repensado a partir daquilo que hoje é apenas latente dentro das obras espíritas, precisa ser libertado das amarras que intentam conservá-lo impotente dentro duma ortodoxia sem frutos, seca, para que alcance seu propósito precípuo: a transformação do homem e da sociedade em que se vive, porque, afinal, o espiritismo é uma ferramenta poderosa de libertação e conscientização.”

Dando continuidade ao tema, e agora focando no aspecto pragmático da práxis espírita progressista, pretende-se, a partir desse novo editorial, propor alguns caminhos à ação.

Primeiramente, deixar claro que essa proposição de novos caminhos ao movimento espírita tem como orientação precípua, como dito acima, o entendimento que “o espiritismo é uma ferramenta poderosa de libertação e conscientização”. Não se pretende propor apenas reformar o movimento espírita, arejando-o com ideias sociais e interpretações políticas, mantendo sua estrutura burguesa e suas instituições carcomidas, pois isso seria apenas remendar a roupa velha. Mas, a partir da compreensão espiritual e material das relações humanas contida nas obras espíritas, transformar a sociedade, as relações de classes e a exploração do trabalho e do homem.

É preciso um novo movimento espírita que se apresente firme e claramente à luta contra todo tipo de exploração, contra todo tipo de discriminação e contra a precarização das condições materiais de vida. Isso significa que novas instituições, com novas práticas, precisam assumir esse papel essencial para a consecução daquilo que foi proposto como transformação da realidade por Jesus e pelos espíritos que auxiliaram Kardec, porque não será possível fazer isso a partir das instituições que hoje, infelizmente, representam esse movimento espírita inócuo e sem serventia.

A espiritualidade nos torna mais humanos?
Portanto, a primeira proposta colocada a partir dessas reflexões é a organização de novos grupos e instituições que se pautem por uma visão transformadora. Mas não aquela transformação puramente individual, que ignora as relações humanas dialéticas, e sim a visão que compreenda que toda transformação humana passa necessariamente pela mudança radical nas relações sociais, porque, afinal, ninguém é capaz de se autotransformar ignorando as condições do contexto em que se insere.

Esses novos grupos e instituições devem ter como objetivo primacial a construção da estratégia de sua inserção na luta pela superação da cruel realidade social existente. Suas reuniões, estudos, conferências e ação social devem ter esse maior propósito colocado como horizonte, como meta à sua atuação, exemplificando o poder revolucionário da filosofia espírita. Afinal, de que adianta decorar perguntas e respostas de livros e não ser capaz de usar esse tipo de conhecimento para transformar a realidade ao seu redor? E transformar não é apenas dar o pão no momento de fome extrema, que também é importante, mas construir uma sociedade em que mulheres e homens não tenham mais que sentir fome.

Muito se ouve e se lê de espíritas progressistas sobre a necessidade de se ocupar espaços espíritas existentes, numa luta inglória e ineficaz para levar seu discurso aos ouvintes de determinada instituição. Entende-se que essa estratégia não traz os resultados necessários por dois motivos principais: 

Capa meramente ilustrativa
a) o público dessas casas espíritas não interessa ao movimento espírita progressista, pois seu foco deve ser o povo, a classe trabalhadora que precisa, além de justas condições materiais de vida, de consciência social e política e de educação; 

b) as instituições espíritas conservadoras — pois intentam conservar o status quo da realidade — são como roupas velhas, carcomidas, nas quais um remendo qualquer só será capaz de fazê-las rasgar, sem entretanto se as fazer transformar. Seus odres estão velhos e o vinho novo ofertado não terá o condão de os melhorar.

E, indo um pouco além, deve-se abandonar definitivamente tolos escrúpulos e cuidados com as propostas de união ou unificação do movimento espírita. Não interessa a nenhum espírita progressista unificar-se ou unir-se a ninguém para uma luta inconsequente e que não tenha como objetivo claro a transformação da realidade social. Pois se não houver explícito interesse nessa transformação, a omissão pusilânime atuará como resistência a essa proposição, ou seja, “aquele que não está comigo está contra mim; e aquele que comigo não ajunta espalha”[2].

Afinal, não interessa e não basta aos espíritas progressistas apenas compreender a realidade, incluindo-se a condição da imortalidade, mas ser capaz de agir coletivamente para a transformação dessa mesma realidade[3].

Notas:
[1] O título e o subtítulo trazem a clara referência à brochura leninista publicada em 1902 intitulada “Que fazer?: problemas candentes do nosso movimento”, cuja leitura é fortemente recomendada.
[2] Jesus, em Mateus, 12, 30.
[3] Paráfrase da décima-primeira tese sobre Feuerbach, de Karl Marx.

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1073049716422685 

Entreato

Não é possível pensar nas lutas das esquerdas sem a incorporação das lutas identitárias. Querer diminuir a importância desses movimentos dentro do quadro de disputas políticas associadas à esquerda é um grave erro de leitura da realidade, de interpretação da conjuntura social e política do séc. XXI.

Autointitular-se marxista ou socialista com análises da sociedade europeia do séc. XIX é um atestado de incompreensão da base das propostas marxistas e leninistas.

Espíritas à Esquerda, Sabe Com Quem Está Falando?

Os que hoje se recusam a usar máscaras em espaços públicos e a seguir as recomendações de proteção da saúde coletiva sempre estiveram presentes nos diversos grupos sociais: aquele tiozão que jogava a bituca de cigarro pela janela do apartamento e emporcalhava o espaço coletivo do condomínio, a amiga inconsequente que se livrava do papel de bala no piso do transporte público e depois reclamava das baratinhas onipresentes ou o playboyzinho do bairro nobre que estacionava seu carrão nas vagas reservadas e impedia o uso por quem dela necessitava.

Eles sempre existiram. E todos os demais relevavam suas muitas infrações em prol duma convivência minimamente harmoniosa, tentando evitar embates por vezes desgastantes, porque eram justamente esses indivíduos, marcados pela perversão social e pela incapacidade de viver a cidadania, que reagiam de forma virulenta e desrespeitosa ao menor sinal de repreensão de suas inconsequentes atitudes. Quem nunca foi confrontado agressivamente por esse tipo asqueroso de gente ao apontar um desses... "deslizes"?

O advento do bolsonarismo deu a essa estranha gente a liberdade de enfrentar a sociedade civilizada de peito aberto. O tiozão não se satisfaz mais em apenas jogar a bituca do cigarro pela janela, ele agora insulta e berra contra o morador que reclama e ainda faz ameaças físicas e verbais; o jovenzinho de classe média não apenas ocupa a vaga reservada, faz questão de fazê-lo e de menosprezar o fiscal de trânsito que o adverte; e aquela moça que antes apenas emporcalhava as ruas sem nenhum receio agora xinga e arrota sua pretensa superioridade social àqueles que a admoestam.

A famosa "carteirada", sempre tão presente no cotidiano das relações sociais brasileiras, agora se tornou uma instituição: não é apenas o "sabe com quem está falando?", a nova arrogância vem na forma de "Sou engenheiro civil, melhor que você!", de "Fale baixo você, me respeite, rapaz, eu sou vereador!" ou de "Você pode ser macho na periferia, mas aqui você é um bosta. Aqui é Alphaville, mano!".

Sabe com quem está falando?
Sou um Brucutu
Esse comportamento, cacifado pela impostura moral e intelectual do governo federal e de vários governos subnacionais, passou a ser o "novo normal" - usando o clichê pandêmico - nas relações sociais brasileiras. A lógica para tal conduta é alicerçada, na mente deturpada e pouco elaborada dessa gente, no pleno direito à liberdade. A liberdade que é, evidentemente, um valor coletivo e que deve ser compartilhada por todos na sociedade. E seus limites estão postos pelas microrrelações sociais e ambientais em que se insere o cidadão. Isso significa que não se tem a liberdade de matar o outro ou de infectá-lo por meio duma atitude inconsequente. Mas é óbvio que essa gente não é capaz de entender o alcance de tal elucubração.

Esses tipos de postura e justificativa são inaceitáveis quando oriundos de pessoas que se dizem espíritas. Respeitar a coletividade e conviver de forma cidadã é o mínimo que se espera de alguém que leu e bem compreendeu as propostas de amor e fraternidade contidas nos ensinos de Jesus e dos espíritos que auxiliaram Kardec. Ao ver algumas "celebridades" espíritas divulgando mentiras sobre a pandemia e promovendo o desrespeito à saúde alheia, compreende-se com clareza que se autoproclamar espírita, frequentar reuniões mediúnicas ou fazer lastimosas palestras evangélicas não é sinônimo de introjeção dos princípios exarados nas fontes citadas.

Amorosidade e respeito amparados pela reflexão madura e responsável são fundamentos da ação espírita ensinados na famosa máxima contida em "O evangelho segundo o espiritismo":

"Espíritas, amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo!".

Espíritas à Esquerda, 12/07/2020

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1064138280647162&id=136884033372596

Espíritas à Esquerda, O Novo Ministro da Educação e a Face Oculta dos Fundamentalistas

Tudo nesse (des)governo pode piorar. Sempre. E o novo ministro da Educação é a prova inconteste desse descaso absoluto com tudo o que importa nesse país: saúde, educação, infraestrutura, moradia, saneamento etc.

Um fundamentalista homofóbico, misógino e que acredita na violência como processo educacional. Pode-se imaginar Paulo Freire, patrono da educação brasileira, deveras decepcionado com os rumos tomados na educação pela sociedade brasileira.

Por José Barbosa Junior, Revista Fórum

Quando se fala em "fundamentalista" no Brasil, é comum a gente logo imaginar um pentecostal ou neopentecostal bradando nas ruas ou nos programas da TV aberta, e geralmente associamos essa imagem à falta de formação e informação. Isso pode não ser tão verdadeiro quanto pensamos.

Ministro da Educação Weintraub e Bolsonaro falaram isso, juro!
O fundamentalismo como movimento surge na mudança entre os séculos XIX e XX como reação do protestantismo mais conservador (não pentecostal) ao chamado liberalismo teológico, que propunha uma interpretação da Bíblia em diálogo com outras ciências e com base na crítica histórica e literária. Esse movimento de reação lança, então, uma série de documentos chamados "The Fundamentals: a Testimony to the Truth" (daí a alcunha de fundamentalistas), que tem vários alvos dentro do liberalismo teológico e o principal seria a aceitação do darwinismo por parte desses teólogos. Logo, a conclusão que os fundamentalistas chegam é que "ciência boa é a que confirma a Bíblia".

Faz-se necessário e importante entendermos que o negacionismo científico, o racismo "trabalhado hermeneuticamente", a legitimação da escravatura (os primeiros missionários no Brasil eram escravagistas), a homofobia e até, pasme, o sionismo dentro da igreja evangélica (entendem agora as bandeiras de Israel nos protestos?) são construídos ou reforçados por esse movimento fundamentalista. Sem contar o capitalismo, filho direto do calvinismo protestante, logicamente reforçado nesse momento.

É bom lembrar também que uma das principais formas de disseminação desse protestantismo se dá através da… educação! É a época da explosão de escolas e universidades protestantes no Brasil como, por exemplo, os colégios batistas, institutos metodistas e presbiterianos (como a Mackenzie).

Mas, como são mais "discretos" e polidos, como têm um discurso aparentemente dialogal, belo, recatado e do lar, não são tão atacados quanto os neopentecostais, que são apenas a face extremada e midiática daquilo que sempre circulou nos bastidores do conservadorismo evangélico brasileiro.

Portanto, não me espanta que, para agradar a bancada evangélica e a ala conservadora (há muitos não neopentecostais nas bases de apoio ao governo Bolosonaro) o novo Ministro da Educação venha de um dos polos mais fundamentalistas e retrógrados no Brasil, onde, por exemplo, ainda se discute se a mulher pode ou não exercer o pastorado.

E tudo isso com a face polida, branca, aprovada e comprovada no Lattes. É o fundamentalismo em sua mais alta elaboração: a acadêmica.

É o MEC ajoelhado diante da cruz vazia do protestantismo. Neste caso, totalmente vazia. Sem nenhuma alusão ao pobre de Nazaré, assassinado por um sistema religioso fundamentalista aliado ao poder opressor do Estado.

A história, mais uma vez, se repete.

*José Barbosa Junior é teólogo, pastor da Comunidade Cristã da Lapa, escritor, membro do Comitê Estadual de Defesa da diversidade religiosa de MG.

Postagem original:

https://revistaforum.com.br/debates/o-novo-ministro-da-educacao-e-a-face-oculta-dos-fundamentalistas-por-jose-barbosa-junior/

Espíritas à Esquerda, Por um Novo Movimento Espírita

"Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil."
(Mateus, 5, 25 e 26.)

Foto ilustrativa
Uma grande instituição do movimento espírita brasileiro anunciou mais uma de suas palestras sobre temas comportamentais, temas que ocupam a maior parte do seu calendário proposto para as atividades chamadas "doutrinárias". O tema em questão era uma abordagem sobre o distanciamento geracional e recomendações genéricas sobre o comportamento esperado de pais e filhos espíritas.

Primeiramente, apenas para contextualização, o distanciamento geracional é imanente aos grupos sociais desde que o homem se entendeu como tal. E isso é um dos motores que fazem as comunidades transformarem-se. É óbvio que esse aspecto social e evolutivo não foi tratado na palestra citada, porque o objetivo das exposições nas grandes instituições do movimento espírita não é levar seus assistentes à reflexão de seu papel social, mas à pura emoção temporária e à comoção evangélica de pouco resultado transformador.

Palestras, congressos e eventos que abordam apenas o aspecto comportamental do indivíduo são de pouca efetividade, porque não são capazes de mexer com o cerne do problema das relações sociais, que se traduz no imenso abismo existente entre os dramas e necessidades daqueles que são capazes de pagar por um caro evento federativo e aqueles que representam a maioria absoluta do povo que é pauperizada e incapaz sequer de alcançar as propostas daquelas falas impolutas, arrogantes e alienadas da realidade social brasileira.

Ao se falar do perdão, por exemplo, a essa minoria social que frequenta as grandes casas espíritas, em vez de se falar da briga miúda com o vizinho ou da última confusão com o familiar próximo, deve-se ressaltar que o maior problema para se solicitar o perdão por essa parcela diferenciada da sociedade é o privilégio econômico e social. Enquanto essa gente come e dorme nas melhores condições, muita gente passa fome e não tem um abrigo minimamente decente para repousar seu corpo cansado, e a culpa é justamente do sistema econômico perverso que explora o trabalhador e impede seu acesso a melhores condições de vida, mantido a partir dos privilégios da classe economicamente mais abastada. E é importante destacar essa relação para que não se argumente a falta de vínculos entre essas situações.

Isso quer dizer que a culpa pela indignidade nas condições da vida do outro é exatamente o privilégio da minoria. Ao se contratar, por exemplo, um trabalhador doméstico e recusar-lhe direitos e dignidade, está-se cometendo não apenas uma infração legal, mas uma injustiça social e moral que exige não apenas o perdão, mas a reparação. Ao se lutar por uma reforma trabalhista, em nome do lucro e do aumento do faturamento, que expõe o trabalhador a toda sorte de inseguranças, incertezas e problemas sociais, assume-se o lado perverso do indivíduo que precisa ser mais bem trabalhado nos espaços do movimento espírita. Ao se apoiar uma reforma previdenciária, vendo-se nela um mero balanço atuarial e econômico, que joga o velho e o incapaz na miséria social, mostra-se toda a crueldade de pessoas que não trazem em si nenhuma humanidade ou empatia com o outro.

E esses problemas, muito maiores, infinitamente maiores em escala e em conteúdo, merecem um foco comparativamente muito maior nas discussões tratadas nas casas espíritas, porque enquanto essa classe distinta que frequenta as instituições espíritas achar que o perdão, por exemplo, refere-se apenas à última discussão na reunião do condomínio, o espiritismo não estará cumprindo seu papel transformador e revolucionário.

Também é por conta desse tipo de discurso anódino e insosso, sem alcance transformador e que encolhe o tamanho das propostas espíritas, que o movimento espírita não consegue expandir-se e adentrar as classes economicamente mais vulneráveis; e qualquer análise estatística dos dados demográficos nacionais mostra essa triste realidade: os espíritas são privilegiados econômica e socialmente.

O movimento espírita precisa levar o discurso potente e transformador do espiritismo aos mais necessitados. Seu foco precisa ser mudado urgentemente dos problemas superficiais e quase pueris dos abastados para a indigência material e social dos desvalidos. O movimento espírita precisa conversar com os pobres, dialogar com os deserdados, ouvir e falar com os abandonados pela sociedade, e não apenas dar-lhes um pão eventual que apenas sacia a fome de sentido de vida dos exploradores. O espiritismo precisa tornar-se popular, falar a linguagem do povo, para que não continue a ser essa tolice diletante que hoje cheira a naftalina nas casas e instituições espíritas sem um real objetivo transformador.

Um novo movimento espírita, reinventado, repensado a partir daquilo que hoje é apenas latente dentro das obras espíritas, precisa ser libertado das amarras que intentam conservá-lo impotente dentro duma ortodoxia sem frutos, seca, para que alcance seu propósito precípuo: a transformação do homem e da sociedade em que se vive, porque, afinal, o espiritismo é uma ferramenta poderosa de libertação e conscientização.

Afinal, "os sãos não precisam de médicos"...

https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1058329021228088

Espíritas à Esquerda, Marxismo

Texto de Mônica Lanes sobre marxismo e espiritismo publicado originalmente na página "Puebla - Espiritismo para o povo".

Marxismo, Espiritismo e o Tempo Presente: Porque "Amar e Mudar as Coisas Me Interessam Mais"

Por Mônica Lanes, Puebla

"Entre eles não havia ninguém necessitado pois todos os que possuíam terras ou vacas vendiam-nas,
traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos apóstolos. E a cada um era distribuído
de acordo com a sua necessidade."
(Atos dos Apóstolos, 34:35)

"[...] o comunismo é simultaneamente a realização do humanismo – apropriação da
essência humana pelo homem."
(Netto, 2015, p. 90)

A conjuntura atual, que conjuga crise do capital e crise sanitária (o coronavírus é, além de um produto do capitalismo, um amplificador de sua crise mais recente), contribuiu para explicitar a dinâmica de funcionamento de nossa sociedade de modo bem didático. Um exemplo claro é que até pouco tempo atrás era muito comum os meios de comunicação e os ideólogos das classes dominantes afirmarem que grande parte dos trabalhadores é desnecessária para o processo produtivo, podendo ser substituídos por maquinários e novas tecnologias. Logo, os lucros que os capitalistas se apropriam, supostamente, não teriam origem no trabalho humano, mas da maquinaria e tecnologia.

Mas a realidade explicitou o contrário. O combate ao vírus exigiu como estratégia para não propagação o isolamento físico, incluindo, obviamente, os trabalhadores. Entretanto, quando isso foi feito, os donos do processo produtivo, em todo mundo, tensionaram o quanto puderam para flexibilizar as regras de isolamento social dos trabalhadores, em favor das grandes empresas, pois, segundo eles, caso o isolamento se mantivesse as economias iriam quebrar, explicitando, assim, que a origem do lucro do patrão está nos braços e mentes dos trabalhadores.

Esse é apenas um dos elementos. Poderíamos citar ainda que nesse contexto a sociedade, para a continuidade da reprodução de vida, precisa de determinados insumos e produtos (alimentos, remédios, utensílios de segurança de saúde e outros), requisitando uma reorganização da produção (reconversão da produção) para atender à demanda urgente da coletividade para assegurar a sobrevivência do maior número possível de pessoas. Mas, a resposta, de um modo geral, não foi essa, uma vez que o objetivo da produção capitalista é o lucro e não a produção para a satisfação das reais necessidades para a reprodução da vida. Além disso há outras questões igualmente urgentes que foram explicitadas nessa conjuntura, tais como os impactos da privatização da saúde, da educação; bem como os impactos da destruição dos direitos trabalhistas, com a crescente uberização do trabalho. Esses elementos deixaram os trabalhadores ainda mais fragilizados para enfrentar as consequências que a pandemia nos colocou.

Essa breve contextualização tem o objetivo de reforçar que a teoria social marxista já descreveu, e há bastante tempo, as categorias e mediações que nos permitem não só conhecer como nossa sociedade está organizada, bem como pensar estratégias para sua superação[1]. Foi partindo dela que pensamos as questões apresentadas acima.

Entendemos, desse modo, que o pensamento marxista é um importante aporte teórico, filosófico e político para pensar nossa realidade, que no caso brasileiro inclui ainda o aprofundamento dos elementos da contrarrevolução preventiva permanente, nos termos de Fernandes (2005). No entanto, entre nós espíritas, mas não só entre nós, a teoria social crítica ainda hoje encontra dificuldades rudimentares em sua apropriação[2], o que é compreensível, pois, a teoria social marxista exige não só estudo, mas, sobretudo, um engajamento para a transformação social, o que demanda posicionamento crítico e político radical. Esse não é lugar fácil e agradável.

Uma das recusas ao pensamento de Marx, na atualidade, entre nós espíritas, tem se dado ou pela questão do materialismo (aqui a palavra materialismo parece assumir mais importância do que o movimento de tentar apreender o real significado dela na teoria social marxista) ou pela crítica que Marx fez à religião, quando ele a classifica como ópio do povo. Nesse artigo trataremos apenas dessa última questão, a primeira ficará para uma próxima oportunidade. Para entender a crítica marxiana à religião em que essa frase aparece é preciso apanhar não só essa afirmativa, por isso reproduziremos o texto mais amplo:

"[...] A religião é a teoria geral deste mundo, seu compêndio enciclopédico, sua lógica em forma popular, seu 'point d’honneur' espiritualista, seu entusiasmo, sua sanção moral, seu complemento solene, sua base geral de consolação e de justificação. Ela é realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui uma realidade verdadeira. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião. A miséria constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo. A supressão ['Aufhebung'] da religião como felicidade ilusória do povo é a exigência da sua felicidade real. A exigência de que abandonem as ilusões acerca de sua condição é a exigência de que abandonem uma condição que necessita de ilusões. A crítica da religião é, pois, em germe, a crítica do vale de lágrimas, cuja auréola é a religião. A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem suporte grilhões desprovidos de fantasia ou consolo, mas para que se desvencilhe deles e a flor viva e desabroche. A crítica da religião desengana o homem a fim de que um homem desenganado, que chegou à razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo, em torno de seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não gira em torno de si mesmo. Portanto, a tarefa da história, depois de desaparecido o além da verdade, é estabelecer a verdade do aquém. A tarefa imediata da filosofia, que está a serviço da história, é, depois de desmascarada a forma sagrada da autoalienação ['Selbstenfremdung'] humana, desmascarar a autoalienação nas suas formas não sagradas. A crítica do céu transforma-se, assim, na crítica da terra, a crítica da religião, na crítica do direito, a crítica da teologia, na crítica política." (MARX, 2013, p. 151-152).

A citação é extensa, mas é necessária para tratarmos de alguns elementos importantes que pretendemos olhar um pouco mais de perto. Não se trata de uma análise ampla de quais são os objetivos de Marx nesse texto, nem tão pouco de sua metodologia. Trabalharemos essa citação apenas para atender aos objetivos desse texto.

O primeiro ponto que destacamos é que apesar de aparecer várias vezes a palavra religião, o autor não está fazendo apenas uma crítica à religião, mas o seu objetivo principal é a crítica às formas de ideologia[3] presentes na sociedade burguesa, e dentre elas a religião, pelo menos às formas de religião que se apresentaram historicamente até aquele momento. Cabe aqui uma primeira questão: O espiritismo é uma religião (no sentido tradicional e da forma como historicamente foram construídas as religiões)? Ou o espiritismo seria um meio de conexão, ou de reconexão, com o divino, o sagrado, o espiritual? Não aprofundaremos o tema aqui, para tal feito sugerimos a leitura do artigo "Política e espiritismo: perspectivas da regeneração e o difícil parto civilizatório" de Raphael Faé. Acreditamos que esse é um debate que cedo ou tarde precisaremos enfrentar, isso se quisermos superar alguns limites que nos impedem de avançar enquanto filosofia e ciência.

Relembramos, ainda, que Kardec também se posicionou contrário à alguns posicionamentos da religião de sua época, inclusive vivenciou alguns enfrentamentos diretos com a Igreja Católica. Um desses posicionamentos resultou na negação da máxima católica que afirmava que fora da Igreja não há salvação, para afirmar que fora da caridade não há salvação. Hoje, entre os espíritas progressistas, já existe um movimento de superação dessa afirmativa por outra que melhor atende ao nosso tempo: fora da justiça social não há salvação, e quem sabe em futuro breve não cunhemos outra.

O segundo aspecto que destacaremos na citação é o duplo caráter, ou o caráter dialético, com que Marx trata da religião. Ao contrário do que o senso comum afirma, o autor não está dizendo que religião é apenas o ópio do povo, mas, sim, que ela é também o ópio do povo. Ela é e não é ao mesmo tempo[4], e essa interpretação faz toda diferença. Quando ele afirma, em uma linguagem extremamente poética, que a religião é simultaneamente expressão da miséria real e o protesto contra essa miséria, o suspiro da criatura oprimida, ele está demonstrando que a religião pode assumir uma forma ideológica, logo de opressão, como historicamente foi e é, mas também pode assumir, contraditoriamente, a forma de protesto e lutas em favor e ao lado dos oprimidos e explorados, como a história também demonstra[5]. Importante lembrar aqui que apesar de Marx e outros pensadores e militantes da tradição marxista serem ateus eles, em sua maioria, não se recusaram a lutar lado a lado dos religiosos[6], o que nos leva a pensar que talvez alguns espíritas sejam mais dogmáticos do eles supõem.

Ser opressora ou libertadora não é algo já dado de imediato ou predeterminadamente, é parte do processo de luta de classes, ou seja, é preciso disputar a religião também como um campo progressista, como campo que faz a opção e defesa da classe trabalhadora e de seus interesses. Não a disputar pode significar não só perder espaço para reacionarismo que se espraia e enraíza no campo religioso, mas também, perder a oportunidade de ganhar corações e mentes para a transformação da sociedade, contribuindo para a manutenção das formas de opressão e exploração.

Corpo, alma e espírito
O terceiro elemento se conecta diretamente com o primeiro. Quando Marx afirma que a religião é apenas o sol ilusório que gira em torno do ser social, enquanto o ser social não gira em torno de si mesmo, ele abre o caminho para analisarmos o aspecto que diz respeito à nossa relação com Deus (o divino, o sagrado, a divindade), sobre a possibilidade e a necessidade de realizarmos essa conexão direta com ele.

Esse é um pressuposto que é apresentado por Jesus, quando afirma que "quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê um lugar oculto, recompensar-te-á" (Mateus, 6:6). Aqui Jesus está propondo algo inteiramente inovador para sua época, ele está indicando que entre cada um de nós e Deus não é necessário o rabino, o padre, o pastor, o médium ou qualquer outra liderança, ou seja, que não há necessidade de instituições para intermediar nossa relação com o sagrado[7], democratizando ao máximo nossa relação com o divino.

Em nosso entendimento essa interpretação também foi apropriada pelo espiritismo. Esses temas estão presentes em "O livro do espíritos", especialmente quando aborda a questão da adoração, particularmente na questão 656 que trata sobre a adoração individual. Mas, não está, em nosso ponto de vista, restrita a "O livro dos espíritos", mas é parte de uma proposta original cujo objetivo principal é o estudo e a pesquisa.

Podemos dizer assim, que o espiritismo em sua origem, buscou essa aproximação da religião que se aproximava mais dessa relação democratizada com o sagrado, e que se distanciava desse sol ilusório que a religião pode ser, como apontado por Marx. Entretanto, esse processo está no campo de lutas de classes (que é dinâmica e contraditória)[8], logo ainda está em disputa.

Sátira
Após esses breves apontamentos, sem nenhuma pretensão de tratar integralmente da temática, ainda pode ficar a questão: Por que a interlocução científica e filosófica entre marxismo e espiritismo é importante e necessária em nosso tempo? Poderia responder de várias formas. A primeira delas seria apontar que ambos têm o mesmo objetivo final, o mesmo horizonte: transformar a sociedade. E não se trata de uma transformação qualquer, ambos almejam uma transformação substancial e radical, em que a vida (em sua totalidade), a liberdade, a justiça sejam os valores mais importantes. Se temos os mesmos objetivos por que não lutarmos juntos?

Em segundo lugar poderíamos reafirmar que se Marx sozinho não explica a nossa realidade contemporânea[9], tampouco sem ele seremos capazes de entender e transformar o real em nosso tempo. Como apontamos no início desse artigo a teoria social marxista nos ofereceu ao longo da história, e ainda oferece, categorias e mediações para entender e transformar o real. Não sem razão ainda as debatemos, questionamos, verificamos suas validades, e as reafirmamos.

Mas prefiro me valer da resposta dada por Marta Harnecker que quando questionada sobre a relação entre cristianismo e marxismo disse: "Eu sempre disse que existe algo em comum entre o cristianismo e o marxismo; e é que o cristianismo te orienta a amar as pessoas, e o marxismo te dá os instrumentos para que esse amor seja realidade; transforme as circunstâncias, transforme a sociedade, para que o amor possa ser real"[10], o que significaria dizer que o marxismo é o instrumento de luta para construção de uma sociedade em que seja possível amar de fato.

Só um movimento com disposição para amar de fato (um amor que nos conecte ao humano genérico[11]), e, justamente por isso, que tenha os pés fincados em uma ciência e uma filosofia comprometidas com a superação da exploração e opressão será capaz de contribuir para transformar a sociedade. Belchior em sua música "Alucinação" fala que amar e mudar as coisas lhe interessam mais. Nós tomamos emprestado a ideia dele para dizer que é porque amamos que devemos lutar para transformar a sociedade (mudar as coisas), pois só assim poderemos amar por inteiro.

"Mas é nelas (bocas, mãos, sonhos, greves e denúncias) que te vejo pulsando, mundo novo, ainda que em estado de soluços e esperança."
Ferreira Gullar

Referências:

BATISTA, Raphael Faé. Política e espiritismo: perspectivas da regeneração e o difícil parto civilizatório, 2020. [No prelo].

FERNANDES, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: Ensaio de interpretação sociológica. 5 ed. São Paulo: Globo, 2006.

HARNECKER, Marta. Diálogo com Marta Harnecker: 45 anos do golpe no Chile e seus ensinamentos [Entrevista cedida à Vivian Fernandes]. Jornal Brasil de Fato. São Paulo: 13 de setembro de 2018. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2019/06/15/morre-aos-82-anos-a-educadora-marxista-chilena-marta-harnecker. Acesso realizado no dia 01/06/2020.

IASI, Mauro L. Ensaios sobre consciência e emancipação. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Herculano Pires. 66ª ed. São Paulo: Lake, 2006.

LUXEMBURGO, Rosa. O socialismo e as igrejas. [1905]. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/luxemburgo/1905/mes/igrejas.htm

MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. ENDERLE, Rubens; DEUS, Leonardo de (Trad.). 3ª Ed. São Paulo: Boitempo, 2013.
_______. Cadernos de Paris e manuscritos econômico-filosóficos de 1844 de Karl Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2015.

MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo. Expressão Popular, 2009.
NETTO, José Paulo. Apresentação: Marx em Paris. In:____ Cadernos de Paris e manuscritos econômico-filosóficos de 1844 de Karl Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2015, p. 09-181.

Notas:

[1] Talvez aqui esteja o grande diferencial entre a teoria social marxista e as demais teorias. A proposta do pensamento marxista não é apenas conhecer a gênese, dinâmica e funcionamento da sociedade burguesa, mas, é de conhecer para transformar. Outras teorias podem apresentar elementos importantes para entender a organização de nossa sociedade, mas poucas se propõem a transformá-la.

[2] É preciso registrar, no entanto, que o diálogo entre o pensamento espírita e o pensamento marxista não é recente. No Brasil e na América Latina vários pesquisadores e pensadores buscaram essa interlocução, especialmente nos anos 1960. Como todo processo de construção de pensamento científico, é necessário contextualizar e submeter à crítica também essa produção, com vistas a construir um pensamento que seja capaz de responder ao nosso tempo presente.

[3] Partilhamos do entendimento de que ideologia não é uma interpretação do real, mas é parte do processo em que a classe dominante, em uma sociedade de classes, utiliza de mecanismos para ocultar, naturalizar, inverter, justificar o real a seu favor (lembrando que nas formas ideológicas também podem existir uma dimensão do real) e apresentar como interesse universal os seus interesses particulares. Por isso Marx afirma que as ideias dominantes são as ideias da classe dominante. Importante ressaltar ainda que concordamos com Iasi (2007, p. 20-21), quando ele afirma que a "ideologia não pode ser compreendida apenas como um conjunto de ideias que, pelos mais diferentes meios (meios de comunicação de massas, escolas, igrejas etc.), são introduzidas na cabeça dos indivíduos. Isso levaria ao equívoco de conceber uma ação anti-ideológica como a simples troca de velhas por ‘novas’ ideias. Quando, numa sociedade de classes, uma delas detém os meios de produção, tende a deter também os meios para universalizar sua visão de mundo e suas justificativas ideológicas a respeito das relações sociais de produção que garantem sua dominação econômica [...]". Apreender que ideologia não é apenas um conjunto de ideias nos aproxima do entendimento de que a superação da ordem burguesa requisita disputar não só as esferas da educação ou o campo das ideias, uma vez que ideologia tem base na materialidade da reprodução da vida, logo é preciso destruir as bases materiais que reproduzem a ideologia.

[4] Um dos elementos fundamenteis do pensamento marxiano é a dialética, ou o materialismo dialético, ou ainda o materialismo histórico-dialético. Esse é um tema muito complexo, que certamente não cabe em uma nota de rodapé, mas podemos sinteticamente dizer que a categoria contradição é extremamente importante para compreender a dialética marxiana, que afirma que um fenômeno pode ser e não ser ao mesmo tempo. Pensando no campo religioso, que estamos observando no momento, se olharmos para determinadas organizações religiosas hoje veremos apenas reacionarismos, conservadorismo, e alguns casos roubo, pilhagem e violência. Mas, contraditoriamente, há também em nosso tempo diversas organizações religiosas que se colocam e que fazem o esforço para permanecer no campo progressista, e alguns são declaradamente de esquerda. Isso não quer dizer, contudo, relativismos, mas reconhecer as dimensões contraditórias de um mesmo fenômeno na realidade concreta.

[5] Há vários exemplos das experiências históricas, citamos apenas algumas para ilustrar: Ação Operária Católica; Revolta de Canudos; o movimento da Teologia da Libertação, que inclusive inspirou algumas guerrilhas na América Latina.

[6] Existem diversos documentos, de vários marxistas, em que esse ponto fica evidente. Destacaremos aqui apenas o de Rosa Luxemburgo no texto "O socialismo e as igrejas", de 1905: "Todo homem pode ter aquela fé e aquelas opiniões que lhe pareçam capazes de assegurar a felicidade. Ninguém tem o direito de perseguir ou atacar a opinião religiosa particular dos outros. Isto é o que os socialistas pensam. E é por esta razão, entre outras, que os socialistas animam todo o povo a lutar contra o regime czarista, que está continuamente a violentar a consciência das pessoas, perseguindo católicos, católicos russos, judeus heréticos e livres pensadores [...]".

Isso é inadmissível num mundo afluente como o nosso...
[7] O Pastor Henrique Vieira aprofunda essas e outras questões sobre Jesus no vídeo "Fé, amor e revolução", disponível nesse link: https://www.youtube.com/watch?v=Kr5ju9XbNps.

[8] Não temos condições de desenvolver a questão aqui, mas é importante ressaltar que os movimentos espiritas, seja como campo religioso, ou como organização social, não pairam acima da sociedade. Eles são parte da sociedade e como tal estão sujeitos às mesmas legalidades tendenciais que a organizam, incluindo a luta de classes. Negá-la não elimina sua existência.

[9] Dentro da própria tradição marxista há diversos pesquisadoras e pesquisadores que se propuseram a pensar categorias que Marx, por questões objetivas, não pôde tratar. Na América Latina, por exemplo, há algumas escolas de pensamento que partindo do pensamento marxista buscam pensar a realidade latino-americana, com intuito de transformação radical da sociedade.

[10] Entrevista reproduzida no Jornal "Brasil de Fato" disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2019/06/15/morre-aos-82-anos-a-educadora-marxista-chilena-marta-harnecker

[11] Entendemos que a generidade, ou a essência, do ser social, ou seja, aquilo que há em comum entre os seres sociais, se dá na reprodução da vida. Logo, ela não existe em abstrato, mas é na objetivação da vida (intelectual e operativamente) que nos reconheceremos como humano genérico. Ver mais em: Marx (2015).

Publicação original:

https://www.puebla.com.br/post/marxismo-espiritismo-e-o-tempo-presente-porque-amar-e-mudar-as-coisas-me-interessam-mais

RESUMO DA ÓPERA

O mundo antes da pandemia...
O Espiritismo tem tudo para amparar e guiar o mundo pos-pandemia.

O Espiritismo visa a transformação do homem e da sociedade em que vive porque trata-se de uma ferramenta poderosa de libertação e conscientização.

Poderosa porque explica e refaz conceitos como o da morte e do sofrimento aliviando as pessoas de seus traumas e revoltas e conscientizando-as de seus valores ligados aos outros.

Máxima contida em "O evangelho segundo o espiritismo": "Espíritas, amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo!".

O mundo pos-pandemia...
O movimento espírita precisa conversar com os pobres, dialogar com os deserdados, ouvir e falar com os abandonados pela sociedade, e não apenas dar-lhes um pão eventual que apenas sacia a fome de sentido de vida dos exploradores. O espiritismo precisa tornar-se popular, falar a linguagem do povo, para que não continue a ser essa tolice diletante que hoje cheira a naftalina nas casas e instituições espíritas sem um real objetivo transformador.

Espiritismo não é religião, é filosofia e ciência.