domingo, 9 de novembro de 2014

Cachorro Quente

Anos atrás, quando eu trabalhava mais próximo aos clientes em Canberra, Austrália, no mesmo andar, estes costumavam promover um café da manhã toda sexta-feira, e na maioria das vezes, eles cozinhavam salsichas para todos se servirem de cachorros-quentes.

Caldeirão social de salsichas para encher linguiça
Durante uma meia hora ou mais, as pessoas se reuniam, comiam e conversavam potoca, e vez por outra, os clientes também promoviam churrascos ao ar livre, quando Deus dava bom tempo, o que não é muito frequente naquela cidade onde, ou está muito frio, ou está muito quente.

Pois bem, naquela equipe da empresa existe um costume tradicional de que, em toda reunião geral "fortnight" (ou seja, de duas em duas semanas), quem queria, participava de um grupo que providenciava docinhos, bolinhos e salgadinhos a fim das pessoas permanecerem mais um pouco no salão da reunião enchendo linguiça e interagindo "socialmente", como forma de promover o caráter de comunidade amigável no escritório. 


Grupos de 5 pessoas se revezavam e sempre tinha alguém que se encarregava dos "sausage rolls" (rolinhos de salsicha), a sensação das reuniões, que são talvez a única iguaria salgada australiana, fora as inevitáveis salsichas de churrascos que na realidade não tem gosto, pra variar. Nada de empadinhas, pastéizinhos ou coxinhas e raríssimas carnes nos churrascos. Dalí a alguns meses, os grupos recomeçavam o rodízio e assim por diante.

Porém, nos últimos tempos tais grupos foram se reduzindo tanto, que nas últimas  vezes só restaram grupos de 3 pessoas para quase ninguém ficar pra comer. 

Não sei bem o porque disso, já que o número de funcionários é sempre na casa dos 50 ou mais, mas dentre outros motivos existe o de que a cada dia que se passa, mais gente fica doente ou alérgica de não poder comer qualquer coisa por causa das dietas, então sei que algumas pessoas que deixaram os grupos foi porque não podiam comer o que era servido. Outros motivos podem ser porque o povo não gosta de conversar, o que é uma grande verdade na Austrália, ou não quer perder tempo pra sair mais cedo. Aliás, eles só gostam de conversar sobre trivialidades.

Lanchinho na sala de conferências
O fato é que chegou a um ponto em que se decidiu parar com os grupos porque eles haviam sido reduzidos para 3 pessoas mas mesmo assim estas estavam tendo que fornecer comida a quase cada 3 reuniões e assim era demais. Então, parou-se para escolher uma alternativa. 

Os Cachorros dos Clientes

Foi quando lançou-se numa das reuniões a idéia de reviver os cachorros dos clientes.

Os cachorros dos clientes eram servidos na cozinha do andar, e cada um levava seu cachorro pra comer na mesa, se não estivesse a fim de conversar um pouco na sala de conferências contígua. Além disso havia os bolos das reuniões semanais que reuniam os clientes funcionários públicos e os funcionários da empresa contratada. Durante esta reunião semanal havia até um sorteio baseado em carteado, e algumas vezes cheguei a levar uns dólares para  casa, pagando os gastos com os bolinhos que eu levava.

Nem me perguntem se eu levei cochinhas brasileiras alguma vez. Claro que levei, mas como ninguém se atreveu a comer e tive que voltar com elas pra casa, jamais levei qualquer coisa brasileira de novo, nunca mais. Eles simplesmente não sabem o que é bom e nem merecem. O mesmo acontece com quem se atrever a levar uma novidade de seu país de origem. Os australianos só comem suas granvanhas e pronto. 

Dobradinha com bofes, o pavor dos australianos
Certa vez fomos a uma festa multi-cultural e uma amiga nossa havia instalado uma barraquinha para servir guloseimas brasileiras. Permanecemos lá um pouco conversando com ela e sua família ajudando, e depois pegamos pratos de feijoada e fomos comer sentados na amurada da pracinha. 

Tanto na barraquinha quando na amurada, pudemos observar a cara dos australianos passando, olhando e torcendo a cara. Certamente eles acharam feia a cor do prato de feijão preto com linguica boiando, e não devem ser atraídos pelo cheiro delicioso para nós pois não conhecem. Sei que eles também tem paranóia de sanitarizacão se bem que de higiênicos eles não tem muita coisa. Certa vez ouvi alguém dizer que jamais comeria dobradinha (dobrada em Portugal) porque não podia sequer pensar naqueles bofes de porco. Eles não sabem o que é bom e não costumam confiar em ninguém sem "provas científicas".

Diga-se de passagem que a muito tempo que eles perderam o paladar pelo excesso de pimenta, um hábito herdado da influência asiática. Se você come muita pimenta, não se satisfaz mais com os sabores naturais, e tudo pra você é pimenta e pronto. Pense em pimenta, não esta pimentinha a que estamos acostumados nas comidas baianas. Isso é pinto.

Infalíveis rolinhos de salsicha (sausage rolls)... com catchup
Então aqueles bolos semanais do trabalho se chamavam "cakes" (bolos), e o nome da reunião também era "cakes".

Depois que a empresa foi para seu próprio prédio e os clientes mudaram de estado, só restaram os cakes de duas em duas semanas, enquanto a reunião mudou de nome para "munchies" (barriga roncando ou lanchinho). E agora nem mesmo isso.

O fato é que, para resolver o problema da frequência de comilões, o diretor da equipe resolveu promover uma cachorrada similar à dos velhos clientes, em homenagem aos bons tempos. 

Diferença Cultural

Pois bem, este preâmbulo enorme é só para explicar como é a mentalidade "cultural" do australiano, se é que vocês vão ser capazes de entender.

Ficou resolvido que, no dia seguinte à reunião geral, seria servido os hot-dogs na copa do enorme escritório. As pessoas se serviriam lá, colocariam as moedas no vidro, e comeriam lá mesmo a fim de baterem um papinho. 

A primeira vez foi legal, muitas pessoas reunidas conversando, incluindo um casal de "convidados" que na realidade era uma funcionária em férias de maternidade com seu marido e seu bebê, pois aqui na Austrália existe este costume das mães levarem os bebês para exibirem no escritório inteiro por obrigação. É diferente do Brasil quando eventualmente são os funcionários que visitam a mãe na maternidade ou em sua casa. Como aqui ninguém gosta de visitas pra darem nota sobre a bagunça de suas casas, então eles preferem levar o bebê pra exibir como um produto, coitado.

O mais simples possível
Porém, houve quem não pagou pelos hot-dogs quando as contas foram feitas, apesar de que, para os dois convidados foi cortesia. Parece que tudo ficou resolvido no final, porém haveriam mudancas na próxima vez, a famosa vingança australiana/inglêsa seria malígrina.

Diga-se de passagem que quem liderou a organização destes eventos "comestíveis" foi uma ex-secretária que não gostava de ser chamada de secretária, sutilmente, e se enfezava de fazer tudo o que uma secretária devia fazer. Se ela ler isso, há de se vingar de mim... 

Típica australiana não só na aparência, vocabulário, arrogância ou maneirismos, apesar de boa e eficiente profissional mesmo sendo campeã em licenças e faltas, ela sugeriu de comum acordo com outras mulheres, algumas opções antes de partir-se para os tais cachorros-quentes, mas na votação eletrônica, os hot-dogs ganharam por serem baratos, práticos e rápidos, se bem que nem um pouco saudáveis. Diga-se de passagem que os cachorros dos clientes eram organizados por homens, e você não podia contar com eles pois de vez em quando faltavam. Os cachorros, não os homens.

Dim-sims asiáticos. O molho de soja dá a cor...
Da segunda vez, os hot-dogs com ketchup e mostarda foram substituídos por dim-sims asiáticos ao molho de soja, que são pastéizinhos cozidos no vapor na forma de bolinhas ou saquinhos, coisa que também era utilizada pelos clientes esporadicamente. 

O conceito de "delícia" australiano não chega aos pés do brasileiro, portanto, podemos considerar que, para os padrões locais, os dim-sims são bem gostosinhos.

Porém, da terceira vez, tudo foi substituído por um almoço "ordered" (encomendado) de um restaurante turco. O valor a pagar simplesmente quadruplicou. 

Resolvi não participar por causa do displante, e fiquei simplesmente na minha, sem falar nada, por enquanto, pois pretendia botar a boca no trombone. Me contive. Parecia o Brasil de antigamente, com gastos impostos pelos mandões e a pobreza que se explodisse.

Ora, aquela opção havia perdido na eleição, como é que ela agora estava de volta livre, leve e  solta, à revelia da vontade dos participantes? Deixa estar. Planos da ex-não-secretária que primeiro assumiu fazer as coisas, e depois aborreceu-se e se livrou rapidinho, pela sua própria vontade, sempre com um sorriso maroto nos lábios, acostumada a manipular.

Ao confabular com uma gerenta sobre este lance, ela lembrou que houve votação na reunião, as pessoas levantando a mão. Realmente, mas foi algo assim tão rápido e mal feito que eu nem me lembrava e eu mesmo não votei. Não é a mesma coisa que votação eletrônica.

Quer dizer, o propósito humanitário de reunir as pessoas acabou virando uma reunião de abastados. Falei "abastados", não "abestados". O conceito de uma Austrália igualitária nem sempre é verdadeiro se as pessoas não são lembradas disso constantemente.

Não quero isso não...
A idéia da substituição deve ter sido desta pseudo-secretária que não gostava de ser chamada assim até finalmente mudar de cargo, pois ela é a mais metida nestes eventos, e tem essa capacidade de querer impor as coisas de vez em quando, imagina se ela tivesse o "poder"? 

Incrivelmente, depois de organizar tudo, ela passou a tarefa de coletar dinheiro e encomendar os pratos para o substituto de uma segunda secretária, cujo cargo leva outro nome, a qual estava de licença para ter bebê, e também da secretária de verdade, que estava naqueles 3 dias de "doença" que todas as mulheres tiram mensalmente, garoto sendo treinado, e ela própria faltou no dia do almoço, simplesmente assim. 

Diga-se de passagem que o serviço dela atualmente costuma ser assumido por qualquer um do time de suporte ao cliente, por isso ela pode faltar quanto quiser, por vários dias ou partes dos dias em que resolve trabalhar. Certas pessoas tem muitos privilégios, mesmo não sendo funcionárias públicas nem louras nem top models...

Secretária Burra Não

Realmente, esta área de "secretariado" é bem polêmica e difícil de se achar alguém competente aqui na Austrália. Suponho que as mulheres australianas arrogantes por natureza não suportem a imagem do cargo de secretária que inclui aquelas famosas cenas sensuais que elas acham degradantes por fazerem as mulhers submissas aos homens, seus chefes. Valha-se dizer também que uma das recentes secretárias não durou 6 meses e acabou sendo demitida. Como o motivo da demissão repentina não foi divulgado mas coincidiu com roubo de equipamento, a conclusão é óbvia. A figura era insuportável e de vez em quando tinha rusgas com as outras mulheres. Aquela sim, era loura...

Seu currículo sucinto. Na Austrália tem disso não, não existe carteira
de trabalho, só contratos. Você se sente inseguro, não sabe 
se o tal 
contrato vale mesmo, mas pode mentir à vontade. Você depende 
de suas referências. Eles telefonam e perguntam até a marca da 
sua calcinha... certa vez ligaram para mim e fizeram perguntas tão 
inconvenientes sobre uma colega minha brasileira que eu falei 
"eu não conheço ela assim tão bem não, me perdõe". Ela conseguiu 
o emprego. Outra vez me perguntaram o que havia de errado num 
candidato. Eu não sabia o que dizer e falei, ele tem 2 filhas gêmeas 
novinhas, e por isso falta muito. Ele também conseguiu o emprego.
Aliás, por falar em demissão, nesta década e meia na Austrália, já vi pelo menos 3 pessoas serem demitidas, e em todas 3 fiquei chocado. Como uma delas, uma mulher que vivia escanchada no telefone fofocando, sentava colada comigo, pude assistir de camarote quando chegaram os leões de chácara (dois funcionários parrudos) e fizeram ela empacotar tudo dela, o que ela fez reclamando pelos cotovelos, para sair dalí imediatamente xingando todo mundo. 

Ora, realmente jamais vi uma cena destas no Brasil, e eu não tinha nem 1 ano na empresa australiana cujo cliente era um serviço público. Naquela mesma empresa outro cara foi demitido do mesmo jeito. Aquele era porque preenchia as planilhas de horário que não correspondiam à sua frequência, pois ele vivia ausente.

Voltando aos lanchinhos, da última vez, com os dim-sims, a ex-não-secretária que hoje é "controladora de serviços" mas já foi "técnica em relatórios" teve que sair por aí circulando para oferecer os dim-sims que sobraram, e provavelmente não gostou da atividade extra de sair babando o povo, daí praticamente impôs esta solução do almoço e resolveu seu problema. "Vocês escolhem no menu (enviado via email), pagam com antecedência, que eu faço o pedido pelo telefone que será entregue na porta" (ou o substituto de secretária faz o pedido, coisa que ela não disse pois ia faltar). Assim não sobraria nada para ela sair por aí oferecendo. Visão prática de escritório, é ou não é?... para ela.

Oportunismo

A maioria dos australianos é assim, extremamente "prático", não está nem aí para os propósitos das atividades, como no caso, o propósito da reunião dos cachorros. Eles fazem o que se manda mas, brincou, estão jogando o trabalho pra cima dos outros, aliviando a carga deles e desvirtuando as coisas, com muita inteligência e malícia. 

Vale a lei de Gerson, de tirar vantagem em tudo. 

Mas eles são tão dissimulados, tão hipócritas, que levei mais de 10 anos pra sacar todos os lances e não conheço ninguém que compartilhe comigo desta conclusão. Deve ter alguém equivalente a Gerson por aqui... a grande diferença para muitos brasileiros semelhantes é que eles reclamam de cara feia enquanto os australianos sorriem e nada é problemas para eles, porque eles resolvem assim, enfiando-lhe a faca pelas costas e sorrindo com belos sorrisos inocentes.

Patty McCormack faz Rhoda Penmark no filme The Bad Seed (A Tara Maldita)
de 1956, não tão inocente assim nesta foto.
Pense numa atriz de cinema que faz papel de garotinha inocente, com aquelas carinhas de ingênuas, olhares lânguidos e ar infantil, enquanto suas personalidades são insuportáveis, diabólicas e as envolvem com drogas, bebidas e interesses financeiros. Tornar-se celebridade é uma psicose australiana e por isso a indústria da fofoca ganha muito dinheiro.

Isso é uma coisa que tenho notado nesta tal cultura australiana. O povo tem mania de jogar as responsabilidades para cima dos outros, livrando-se delas devagarzinho, sem ninguém notar, assim o outro não perceba. Isso acontece em todos os setores, em toda parte, em todos os departamentos, é da cultura da exploração deles mesmo. Só que é muito disfarçado e um brasileiro demora muito para "pescar" esse jeitão deles, ou talvez não pesque nunca e continue achando tudo sempre uma maravilha. "Levando" e sorrindo... O sorriso e a cortesia deles lhe engana por um longo período de vários anos. Você suspeita que tem algo errado mas não sabe o que é, pensa que é paranóia de sua cabeça, pois não pode ser verdade. "Se for verdade, eu vou me arrasar", pensa você. E com que cara vou dizer isso pra minha família no Brasil ou meus amigos? "Vou manter a mentira", pensa você. E os parentes e amigos destes brasileiros imigrados vão acreditar piamente, e sonhar em fazer a mesma coisa...

No meu trabalho, é comum de vez em quando recebermos um email dizendo "daqui pra frente vocês tem que fazer isso e isso". Geralmente sou um dos que dão um pipoco pra cima, mas como raramente sou bem sucedido (mas eventualmente sou), o que acontece é que as pessoas não atendem, com algumas excessões, e a "ordem" tem que ser substituída por algo mais prático e eficiente. E o que não faltam são idéias espertas. Porém a idéia de jogar pra cima dos outros está sempre em preponderância. Caso o povo acate sem gritar, está passada a responsabilidade. 

Curso para trancar o escritório
De Olho no Ferrolho

Imaginem que, para a obrigação de trancar o prédio, existe até um procedimento e um "curso". Aqui não tem vigilante para trancar o prédio, é o funcionário que faz isso, o último a sair do trabalho. 

Marca-se uma aula, junta-se um grupo e sai-se explicando o que fazer a cada passo, periodicamente, o que preencher no formulário e o que assinar, qual percurso fazer, quantas portas fechar, como ligar para a segurança, o que examinar e futucar, etc. 

Tal "curso" ou treinamento acontece várias vezes por ano, pois sempre tem gente nova sendo contratada para substituir quem vai embora, ou para projetos específicos. A tarefa de trancar o prédio faz parte de um rodízio que envolve todos os funcionários que tem que ficar até depois do horário comercial só para esta função, em geral a cada 4 semanas, o qual repassa a tarefa para alguém que porventura fique trabalhando até tarde. O coitado trabalha mais e ainda ganha esta tarefa extra de graça.

Fora do trabalho e na sociedade em geral, faz parte da transferência de trabalho para os idiotas o fato de que hoje você não recebe mais extratos ou contas pelo correio. Você tem que abrir uma conta no web site da companhia de luz, gás, bancos, cartões de crédito, benefícios médicos do governo, departamento de trânsito, companhia telefônica, companhia de seguro, aposentadoria, e até na sua própria empresa, cada uma exigindo um código de usuário, quando não é o número de sua conta ou seu endereço de email, com uma senha diferente pois as fórmulas de senhas variam (exigindo certo número mínimo de 8 caracteres, por exemplo, com letras maiúsculas e minúsculas, incluindo números, que não podem se repetir ou se assemelharem por uma dezena de vezes, um verdadeiro pesadelo pra você, o idiota, controlar) a fim de obter seus contracheques e seus extratos online, e imprimí-los na sua impressora com a sua tinta, caso você não queira perdê-los quando seu computador quebrar, ou seja, todo o trabalho e custos foram jogados nas suas costas e você tem que engolir pois não existem alternativas. 

Até onde vai a apelação? Salve uma árvore ao optar por extratos
online ao invés de recebê-los em papel pelo correio. Todo mundo
cai nessa, com sua "consciência ecológica". Ou então opte por
extratos online de graça e economize $10 reais mensais. Ora,
antes tais extratos pelo correio eram de graça, agora são pagos,
então os online é que são de graça agora. O feio é bonito, e o
bonito é feio... ténicas de lavagem cerebral e controle da mente.
Duplipensar!
Caso você ainda insista em receber papelada, tem que pagar extra por isso, quando disponível. Seu trabalho agora é muito maior, e você não obtém nada em troca por isso, foi tudo repassado pra você, empresa por empresa, em nome da modernidade. Você que se organize para gerenciar esta parafernália. Algum lucro pra você? Sonha, macaco. A era da eletrônica veio para penalizá-lo ainda mais.

Hoje você paga suas contas até por celular, e está nos planos futuros escanear o celular ao invés do cartão de crédito, quando fizer seus pagamentos nas lojas, super-mercados ou postos de gasolina, em toda parte, lhe obrigando a ter um celular de última geração. Perdeu ou roubaram o celular, lascou-se, mas isso é problema seu. 

Fui procurar fotos de velhinhos frente a estas tecnologias novas para ilustrar este post e só vi velhinhos felizes. Tudo mentira, propaganda para fazer as cabeças e ficarem de acordo.

E quem tem o computador quebrado? E quem perdeu o celular? Problema seu, meu querido.

O sonho deles é que você caia na armadilha do débito direto de sua conta bancária. Você nem vê quando o dinheiro sai, mas em compensação, caso falte fundos, prepare-se para irritação com multas altíssimas e recorrentes além das explicações. O problema do pedágio já resolveram: todo mundo é obrigado a grudar uma aparelho no vidro do carro que, quando passa no pedágio, registra seu débito em sua conta. É claro que você paga pelo aparelhinho e é muita confiança de sua parte. Eles não confiam em você, mas você é obrigado a confiar neles. Se você não tem a maquininha, tem que pagar online ou pelo telefone dentro de 3 dias, recebendo cobrança pelo correio, que muitas vezes atrasa ou extravia. E o que é pior, você paga para ficar preso no trânsito do mesmo jeito, pois sempre tem acidentes e consertos. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Para não dizer que tudo está perdido, uma das saídas da cidade com pedágio dá o direito a moradores de Sydney de reaverem o que gastaram. Isso se deve à quantidade de moradores que trabalham nas cidades ao redor.

Segurança Agora É Sua Responsabilidade

Você tem que memorizar todos os códigos de usuário que você escolheu ou não, e todas senhas e "PINs" de cartões que substituíram as assinaturas, além de códigos extras de acesso pelo telefone, porque se você anotar e for roubado, ba-bau. Se você usar a mesma senha para tudo e descobrirem, melhor suicidar-se. Agora, além de código de usuário e senha, você ainda tem que responder a várias perguntas que supostamente só você sabe as respostas, perguntas íntimas estas que você escolheu dentre uma série oferecida, como nome do meio da sua mãe, nome da sua escola primária, cor do seu primeiro carro, nome da sua banda preferida quando era adolescente, primeiro cachorro, primeira marca de cueca, quantas vezes vai ao toalete por dia, quantas doencas venéreas você pegou entre os 14 e 30 anos, o que você come de manhã, nome da cachorra da sua secretária... imagine os velhinhos tendo que arcar com estas atividades? (Nem tudo citado aqui é real, obviamente. Faz parte do sarcasmo, para quem não notou)

Usuário e senha até pra abrir a geladeira... Mel Gibson tinha
cadeado na geladeira no filme Teoria da Conspiração
Não pode dar certo... por isso cada dia mais gente desiste e vai morar nos parques, gente que inclui homens fortes e bem nutridos que desistem de se submeterem a este "mundo novo", à burocracia moderna e inútil. Inútil? Atreva-se a dizer isso, a resposta é imediata, "é para sua própria segurança!" Se entupa.

Através de tais perguntinhas, se mal utilizadas, as empresas que juram privacidade saberão de detalhes íntimos de sua vida, justamente aqueles cruciais que ninguém sabe, exceto você e sua mãe, talvez. Um prato cheio para a NSA (National Security Agency) norte-americana que anda coletando e armazenando tudo e para os espíritos zombeteiros virem se apresentarem nas sessões mediúnicas se passando por parentes mortos só porque sabem detalhes que "ninguém mais poderia saber, tenho que acreditar que é ele mesmo, meu filho falecido"...

Para cada medida de segurança, sempre tem um espertinho para
burlá-la. Mais barato comprar uma roda do que uma bicicleta

(a bicicleta foi roubada sem roda).
Hoje em dia o tamanho da senha é livre e você pode usar versos de sua poesia predileta, como é recomendado. Que poesia? E quem não gosta de poesia como eu? Como lembrar o que vai e aonde, com vírgula e tudo? Cada 3 tentativas erradas bloqueia sua conta e você tem que se pendurar num telefone por 15 minutos, respondendo a perguntas idiotas de uma voz automática que não entende o que você diz, ou não aceita os números que você digita, para cair numa pessoa que repete todas as perguntas de novo, e se você errar em algo, ela não lhe atende, lhe obrigando a ligar outra vez porque nunca cai na mesma pessoa e desta vez você pode ter mais sorte. Já aconteceu comigo.

Já tive várias contas de Gmail e Hotmail que fiquei sem acesso porque esqueci as senhas. Senhas estas que, por exemplo, poderiam ser "brasil", mas eu posso ter escrito "Brasil" ou "braz1l", ou "brazil" em Inglês. Posso ter colocado os dois nomes da primeira escola primária, ou um deles, o primeiro ou o último, com inicial maiúscula ou não. Tenho que gravar estes pequenos detalhes. Imagina numa senha maior do que isso.

Não fiz o dever de casa porque esqueci usuário e senha
O que acontece quando sua mãe latina tem 5 nomes e já casou 4 vezes, qual é o nome do meio que você escolheu? Dá vontade de mandar eles socarem no meio da mãe deles. Isso é porque o padrão australiano é de dois nomes próprios e um sobrenome apenas. Os idiotas se esquecem da quantidade imensa de estrangeiros, principalmente de chineses que costumam ter apenas dois nomes sem nome do meio, um próprio e um sobrenome do tipo Kim Lee ou Jo Ho. E parece que todo mundo no Vietnã se chama Nguyen, nome ou sobrenome. Pior do que Silva no Brasil... e quem tem uma mãe brasileira chamada Maria Neusa Botelho de Azevedo e Cunha Lima da Silva Filha?

Por incrível que pareça, os piores sistemas de identificação da Austrália são aqueles relacionados a benefícios sociais (piores para os usuários, bem entendido). É um verdadeiro exercício de paciência entrar neles ou sequer conseguir se identificar pelo telefone. Deve ser de propósito para você desistir. Esta é a maior prova de fraudes contra o sistema cometidas pelos australianos que não querem trabalhar e que prejudicam todo mundo. 

Recipientes do Bolsa Família no Brasil que não merecem são pintos em vista disso. 

40 Empregos por Mês

A última do governo australiano é tentar obrigar a todo mundo que hoje recebe benefícios por desemprego a se candidatarem a 40 empregos por mês, senão tem os benefícios cortados, e para cortar eles são extremamente eficientes, é no mesmo dia. 40 tentativas? Onde se vai arranjar 40 ofertas de emprego por mês que sirvam?

Ainda têm coragem de dizer que o governo brasileiro é mesquinho?

Se você esqueceu a senha, certos sistemas mandam uma mensagem para seu celular. Se você trocou de celular... também podem mandar pra seu endereço de email. Se você trocou de email... e quem não quer celular nem email? Vai ver que é por isso que anda aumentando o número de suicídios... ainda não publicam seus débitos no Facebook, mas isso é só uma questão de tempo... certa conta bancária lhe dá um gerador de senhas eletrônico bastante misterioso. 

Antídoto à tecnologia de reconhecimento de face. Outros truques é
inclinar a cabeça, usar barba ou cabelo de emo cobrindo metade
da face. Será por isso que o número de emos (emocionais, 
depressivos) anda aumentando tanto?
Ora, as corporações estão sempre muito bem sintonizadas, e até um celular de geração anterior é providenciado "de graça" quando você assina um plano de telefone por 2 anos. Você recicla seu celular a cada dois anos de graça, ou melhor, pagando embutido no plano de valor mínimo mensal. 

Do contra, meu celular ainda não entende as minhas dedadas, mas mantenho meu plano baratinho por vários anos...

Uma outra opção é colocar débito direto no cartão de crédito, mas isso torna-se um pesadelo para você quando tem que renovar os cartões com todos os débitos pendurados, trocando os números em todos os web-sites ou quando falta dinheiro na sua conta, se for débito em conta bancária, quando cada pagamento "desonrado" incorre em no mínimo $18 reais de multa! É mole? Venha viver num país como este que você vai adorar...

Não é à toa que tanta gente está indo à bancarrota e tornando-se sem-teto ou "surfista de sofá" (aqueles que dormem nos sofás dos outros). O oportunismo australiano acaba de lançar no mercado mini-trailers para você morar no jardim de alguém. Neles tem camas para 3 pessoas e uma rede, banheiro com chuveiro e cozinha, mas o guarda-roupa é mínimo. Custam o preço de um carro pequeno, mas você pode morar, ter endereço fixo e já está pago. Não sei como fazem para ligar água ou eletricidade...

Impressões digitais como senha. Use o dedo do outro...
Para resolver todos estes problemas, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas, como identificação por senhas biométricas como impressão digital (e quem não as tem porque queimou a mão ou não tem mão?), scanner da íris (que acarreta em roubo de olhos como no filme Minority Report), identificação de rosto. Quantas pessoas são gêmeas ou parecidas umas com as outras, e os novos barbudos? Qual será a senha para entrar no céu?

Esqueci a senha do arquivo onde mantenho
todas as minhas senhas...
Para resolver meu problema, criei um documento com a história das senhas da minha vida. Qualquer dia publico este livro. Hoje ele tem mais de 400 senhas... Este documento tem senha de acesso. Certa vez esqueci esta senha... 

Não pensem que, se por acaso você tiver acesso a este meu precioso documento, vai entender minhas senhas. Elas estão todas codificadas também, e só eu sei o que significam. Me torturem... não vou lembrar sob stress...

Outra forma de me lembrar das novas senhas foi criá-las com pornografia da pesada, uma forma de satirizar a anonimidade delas, já que só eu sei o que estou escrevendo, e haja putaria... fica mais fácil de lembrar, engraçado e desafiador. Quem vê eu digitando minha senha com um sorrisinho maroto fica pensando o quê? Mas não chego a digitar só com o dedo do meio...

Tempos atrás, para entrar no prédio em que eu trabalhava de manhã cedo era preciso um crachá eletrônico especial para acionar do lado de fora do prédio, fora o outro crachá eletrônico para entrar no escritório dentro do prédio. Nos era avisado para evitar entrar quando tinha gente por perto que podia se aproveitar da sua permissão e você não ia ter cara de barrá-la (e nem arma). Você era responsável pela segurança. Se o cara fosse um terrorista, você iria pra corte responder processo porque havia deixado ele entrar, mas isso ninguém lhe avisava, era só dedução minha.

Certa vez havia um homem disfarçando e esperando na pracinha em frente ao edifício quando cheguei. Que fiz? Fui obrigado a fazer a palhaçada de fingir que estava futucando no meu celular a fim de permanecer do lado de fora num frio abaixo de zero até que o cara decidiu para onde ia e eu pude entrar sozinho com o meu crachá especial turbinado. Quer dizer, até a função de ator estava sendo repassada pra nós.

Câmeras fotográficas termais podem descobrir até a sequência em
que você digitou sua senha numa ATM bancária. Se você não
acredita em Deus para entregar tudo a Ele, tem que controlar 
seus 
acessos de pânico. http://gizmodo.com/5831837/stealing-atm-pin-
numbers-using-a-thermal-camera-is-dead-easy
Nos caixas eletrônicos (chamados ATM) tem avisos para cobrir sua mão enquanto digita sua senha. Alguns já provêem cobertura e tudo, o que lhe dificulta ver o que você mesmo está fazendo. Enquanto digitam suas senhas de cartões de crédito nos caixas das lojas, certas pessoas também cobrem a mão com a outra. 

Algumas pessoas ainda têm as senhas dos vários cartões de crédito escritas na carteira, até decorar, todas diferentes. Tem gente que tem mais de 20 cartões, e mais de 20 débitos também e tais débitos são extratosféricos e uma praga na Austrália. 

Medo, pânico, pavor, paranóia da vida moderna. Não dá pra
relaxar e curtir o paraíso da era da eletrônica.
E ainda dizem que é a classe média brasileira que vive individada. 

Ora, com tanta câmera de alta definição em toda parte, é facílimo dar um "zoom" na filmagem pra ler tais senhas, ou até mesmo analizar os movimentos dos dedos das pessoas digitando suas senhas em câmera lenta através de várias repetições e tentativas. 

Quando é que vai parar esta briga de gato e rato? Qual é a senha do céu?... Pare o ônibus que quero saltar! Eu disse "saltar", não "assaltar"... ainda.

Apesar de não gostar de poesia, sei fazer versos: 
Me levem para o sertão, lá só tem um ferrolho no portão.
Incitando a Criminalidade

Um maravilhoso exemplo da passagem do trabalho para a gente, pessoas comuns, é o tal dos caixas automáticos de super-mercados em que você paga você mesmo pelas pequenas compras que fizer. Eles vem sendo introduzidos na Austrália sistematicamente, e logo não existirão mais caixas humanos em lugar nenhum, assim como agências bancárias já são uma raridade, substituídas pelas máquinas ATM ou telefonemas, sendo que alguns bancos já são totalmente online, exclusivamente. 

Você imagina um banco que não existe, que não tem agência com pilares jônicos? Só quando você lê o nome do banco no alto de uma das torres no centro de Sydney, é que dá pra confiar que ele existe mesmo. Por incrível que pareça, ainda se consegue retirar dinheiro da máquina ATM, dinheiro de verdade.

A doideira das senhas e os coitados dos idosos
Seu moço, me dê o enderêço de sua empresa de mudanças. Pra que, meu senhor? Ora, pra eu ter, em caso de extravio. Use o telefone. Porque você não quer me dar o enderêço, tem alguma coisa errada com essa companhia? Não... é que somos uma empresa familiar... Pois, mesmo familiar, tem que ter um enderêço, não é não? Bem, é o enderêço da residência da minha mulher, ela é a dona da empresa. 

Pelo Google street view (vista da rua) fui dar na frente de sua casa, super-chique, de dois andares, em bairro daqueles tipo sonho ocidental. É uma empresa mesmo? O jeito foi confiar na simpatia dos carregadores, todos da família.

Seu moço, me dê o enderêço de sua empresa para eu pegar a antena de rádio anunciada na internet. Para que você quer nosso enderêço? Quero ver a antena de perto primeiro, antes de comprá-la, pra não ter que devolver. Ah, só trabalhamos online, mas se você quiser vir na nossa loja, é aqui em Hornsby, a cinquenta quilômetros de distância.

Um amigo fez o pedido de uma calça online. Eles mandaram um curso para ele aprender a tirar suas próprias medidas e enviá-las via email. Pagou pelo banco online (PayPal) e recebeu. Serviu na medida, vinda de Bangladesh, ou então ele teve vergonha de dizer que não caiu bem. Meu filho não teve tanta sorte. Recebeu um objeto quebrado. Reclamou e eles mandaram dois. Mas tem gente que não recebe nada. Na revista GoodWeekend do jornal The Sydney Morning Herald, outro dia um leito escreveu para o guru da cultura e costumes australianos perguntando o que devia fazer porque havia encomendado algo para chegar em 3 semanas e levou 3 meses, porém, eles receberam 3 produtos, cada um referente a uma reclamação deles. Devolver ou ficar por isso mesmo?

As coisas agora são assim em Sydney.

Trabalha, trabalha, trabalha, nêgo.
O trabalho dos caixas passou todo pra você, cliente idiota deste país que aceita tudo sem reclamar em nome da arrogância de serem modernos e à frente do resto do mundo. Para realizar esta façanha, os bancos, em comum acordo com as grandes cadeias de lojas e super-mercados, foram automatizando os cartões de débito ou crédito paulatinamente, primeiro introduzindo um chip de identificação eletrônica neles, depois obrigando o cliente a usar uma "PIN" ou senha no lugar da assinatura e depois automatizando as máquinas leitoras para aprovarem sem senha nem assinatura até $200 reais de compras, o paraíso das esposas sem-vergonha que surrupiam os cartões dos maridos. Não se esqueçam que os cachorros já tem chips de identificação sob a pele há mais de 10 anos, o nosso futuro de cachorro chipado é só uma questão de tempo.

Me dá seu cartão aí que preciso fazer umas compras no super-mercado, diz minha mulher. Deu mais de $100 dólares, então passei o cartão duas vezes, assim não tive que entrar com senha, he, he. Quer cobertura caso roubem seu cartão e façam compras em seu nome? Pague mais por um seguro. Onde vai parar esta esperteza? Tem vaga no parque? Aqui não se pode morar embaixo da ponte nem em tendas ao longo do rio como no Japão.

A partir de agosto deste ano, não se podia mais assinar nota de cartão de crédito, mas na verdade ainda se pode pois nem toda loja atualizou seu equipamento. O passo final foi a introdução dos caixas automáticos em que o cliente faz tudo sozinho, sendo apenas supervisionado por um único funcionário para cada 6 ou 8 caixas, por exemplo. Pra variar, a maquininha é irritante e burra, mas com o tempo acaba tornando-se suportável quando você aprende as idiossincrasias e manias dela, como se fossem esposas. 

Apesar de eu ser contra a iniciativa, fui obrigado a utilizá-las porque chegou a um ponto em que simplesmente não havia alternativa. Meu protesto de um dia ter largado tudo lá porque havia uma fila enorme serviu para absolutamente nada, ninguém pode com as corporações. Engula e sorria... você está sendo filmado...

Caixas self-service, pague você mesmo, embale você mesmo, 
encha seu saco e não me encha o saco
A coisa agora chegou a um ponto em que filas enormes se formam constantemente para as pessoas pagarem por si próprias, ou seja, o propósito foi de novo desvirtuado por causa da exploracão dos sabidinhos gananciosos. O que era para facilitar e agilizar, de novo agora está lhe penalizando com filas de espera, e pior, agora você tem que fazer tudo sozinho. Povo imbecil que engole tudo.

Veja aqui como estes caixas self-service estão tornando as pessoas em criminosas na Inglaterra simplesmente porque elas, se podem enganar as máquinas, não titubeiam em fazê-lo (reportagem em Inglês, sorry):

http://www.thisismoney.co.uk/money/bills/article-2135371/Nation-shoplifters-One-admit-cheating-self-service-checkouts.html

Dou uma idéia do teor do artigo aqui.

O que foi criado para facilitar os pagamentos de pequenas compras sem que você tenha que esperar em filas de pessoas com carrinhos lotados de compras, e agilizar o processo de você entrar, comprar, pagar e sair, tornou-se um pesadelo. Frequentemente a máquina entra em curto e fica lá "quem é você, quem é você?". Estou exagerando, mas é mais ou menos assim. "Bote sua compra aqui, não me enrole, bote aqui, bote aqui" quando você passou da leitora direto pra sua sacola. Não pode, ela tem que "ver" e pesar o que você está levando. Daí as pessoas pesam os produtos baratos e passam os caros diretos pra sacola, e esta é uma forma de burlar, segundo a reportagem. Quanto mais fecham o cerco, mas as pessoas inventam "jeitinhos brasileiros".

Ônibus pre-pago 
Minha senhora, pode descer, este ônibus só aceita cartão pré-pago. Mas meu senhor, eu tenho dinheiro. Não senhora, pegue outro ônibus, esse não. 

Para pegar certos ônibus, você tem que ter comprado um ticket de uma semana, no mínimo, numa loja credenciada. E que loja é essa, raios? 

Já presenciei neguinho botando o ticket na maquineta e segurando ele pra não descer, daí ele não é marcado como uma passagem a menos. Mas não é pouco e bem empregado? Isso porque motoristazinho também está cansado de ter que calcular trôco em moedas, e passa a tarefa pra o passageiro porque a empresa acabou com a raça dos cobradores. Na Coréia do Sul não se paga ônibus com dinheiro mais nem que a vaca tussa, foi o que uma coreana falou bem do Brasil durante a Copa do Mundo. Porém, ninguém toca fogo em ônibus lá por este motivo, no Brasil tocam fogo por bem menos. Eles tocam fogo em carros, como aconteceu dois dias atrás em 3 bairros de Sydney: 5 carros incendiados nas ruas em 50 minutos. Eu falei, Sydney! Não foi protesto nenhum, deve ter sido pra a garotada se divertir.

Foto de Cole Bennetts/Fairfax Media
Outro dia ficamos estatelados e presos num sinal de tráfego assistindo um camarada sem camisa salpicado de sangue ser preso pela polícia saindo de um prédio cercado de ambulâncias, carros de polícias e bombeiros. O que raios teria acontecido ali? Passamos dois dias atocalhando as notícias online e na televisão e não falaram absolutamente nada sobre esse caso. 

Falaram sobre outro que aconteceu na mesma hora, de um cara que esfaqueou uma mulher, jogou ela no carro e fez um tour pelas rodovias da cidade, seguido de carros de polícia escandalosos e helicópteros filmando até suas dedadas pelo teto solar do BMW, até a Harbour Bridge que havia sido bloqueada, um furador de pneus jogado na transversal, que estourou os pneus do carro chique e o cara não conseguia mais acelerar. Cena de filme, mas não era um filme. Ou será que era?

Vocês ainda acham que isso é o paraíso?

Voltando ao caso dos caixas pessoais, menos empregos, e mais trabalho jogado nas suas costas. Já não chega ter que pagar por sacolas plásticas ou de lona em Canberra, pois não são mais oferecidas de graça com a desculpa de que é por causa da ecologia, para não poluir o ambiente. Em Sydney ninguém engoliu esta desculpa, e ainda recebe sacolas plásticas de graça, embora algumas pessoas tenham voltado ao hábito dos meus pais de levarem sacolas de lona de casa. Na sacola branca de lona de uma senhora estava escrito outro dia no super-mercado, "não é de plástico". Seria um protesto surdo?

Dúvidas e Decisões

Uma prova do abuso da transferência de responsabilidades para os mais elos mais fracos da cadeia profissional são as responsabilidades dos caixas das lojas que ainda restam e dos atendentes, praticamente sem gerentes à vista porque estes repassaram todas as suas responsabilidades para eles e sumiram das vistas. Tente achar um gerente por aqui. Chame seu gerente, minha filha. O que é gerente, meu senhor?

Você pensa que o funcionariozinho é valorizado porque lhe é dado o poder de decisão em seu pequeno cargo mixuruca e acha que esta é uma sociedade avançada e de pessoas com educação acima da média, mas a realidade é outra. 

Roxo não está nos procedimentos. Como vou decidir?
O poder de decisão é jogado nas costas deles, e eles não reclamam com medo de perderem o emprego, mas acabam fazendo um trabalho displicente de cara emburrada, porque simplesmente estão sendo explorados, tem que engolir e não gostam disso. Eles tem "procedimento" decorados a cumprir.

Cara emburrada mas perguntam saltitantes, "como foi seu dia hoje?" Com isso, por exemplo, os caixas que restaram machucam suas bananas jogando-as de qualquer jeito nas sacolas misturadas com desinfetantes, e poucos ainda seguem o que aprenderem nos cursos de embalagem, reunindo produtos com características semelhantes e colocando os frágeis em cima. Seu pão de forma chega em casa achatado e suas bananas machucadas, coisa que minha mulher odeia, por isso ela protege as bananas e o pão, de olho nos caixas embaladores apressados, do início ao fim do trajeto até em casa, sacolas separadas neles.

Acaba que o funcionário torna-se sobrecarregado e não dá conta do serviço a não ser que trabalhe demais. Daí quando dá a hora dele, fecha tudo e não quer saber. Odeiam clientes brasileiros que teimam em fazer compras na última hora, acostumados com os funcionários brasileiros que, por uma compra a mais, não se importam de atrasar 10 minutos em seus jantares com os namorados.

Só em raríssimas ocasiões de super-lotação é que aparecem funcionários extras para embalarem as compras ou abrirem mais caixas. Daí a "cultura" de que "povo superior" trabalha muito. Na realidade eles são escravos brancos, bonitos e maquiados, presos na cadeia profissional. Caixa tem que embalar, motorista tem que cobrar, programador tem que trancar prédio, etc.

Fila de desempregados de primeiro mundo
Os computadores vieram para aliviar a carga das pessoas, mas devido à exploração dos ricos inerente ao sistema capitalista de tirar vantagem em tudo, o que aconteceu foi que a carga de trabalho não foi reduzida, as pessoas é que foram reduzidas, enquanto que a carga de trabalho das poucas que restaram na realidade aumentou. 

Tudo por simples exploração dos gananciosos, como sempre, pra variar. O que deveria melhorar no futuro, só piorou, aumentando inclusive o número de desempregados ou trabalhadores de meio-período, cujo salário não dá para sustentar família. Aumentou também o número de sem-tetos nas ruas, e isso já é bastante visível na Austrália onde ainda não existem favelas. Se você ver muitos trailers na frente das casas, estas são as favelas australianas, portáteis e vistosas, mas sem as vistas das favelas do Rio de Janeiro.

Favelas de Hong Kong

Favelas não, mas está começando a aparecer prédios no estilo dos de Hong Kong em Sydney: apinhados de apartamentos chiques mas minúsculos, construídos por chineses, com um quarto só... uma conhecida nossa nos disse que os chineses mudaram a face de Vancouver, Canadá, onde nem cana dá, mas para o mundo, aquela cidade é o melhor modelo de perfeicão. Não se pode generalizar...

Tem um trocado? Eu ia lhe perguntar a mesma coisa...
Enquanto os visionários criam coisas mirabolantes para resolver os problemas da humanidade, os safados exploradores usurpam as idéias a fim de obterem mais e mais lucros para si próprios.

Já falei pro diretor várias vezes que ter obrigação de trancar o prédio é uma função extra para os profissionais, que não está no contrato inicial de trabalho, e implica em muita responsabilidade. Falei que no Brasil tem uma pessoa para cada função destas como trancar o prédio, atender visitantes e acompanhá-los até o objetivo de suas visitas, limpar cafeteira, geladeira, máquina de lavar pratos, ninguém é obrigado a fazer rodízio de tais funções como nós. Pelo menos a única coisa que se faz aqui através de empresas contratadas é a limpeza. Naturalmente eu escapo de tudo porque não tomo café, não sujo pratos nem talheres e mal uso a geladeira, além de que jamais vou atender à porta, a não ser que esteja sozinho no escritório, coisa bem difícil de acontecer.

Não é preciso o diretor desculpar-se dizendo que qualquer pessoa extra é cara demais porque eu sei disso, mas também não é justo jogar estas tarefas pra cima dos outros. O que acontece é que muita gente foge da "obrigação" e não trabalha mais por isso, contanto que não fique além da hora de trancar porque senão vai ter que cumprir o ritual de trancar o prédio. 

A "transferência de tecnologia" neste país igualitário é mais bem representada pelas mulheres que só casam se os homens fizerem todas as tarefas domésticas, incluindo as tarefas com os bebês, o que elas substituem pelas lidas de jornais, chás e programas com as amigas, a cervejinha ou o vinho diário, ou o controle remoto da TV. Dificilmente elas escolherão um homem brasileiro como marido ou parceiro sexual, não amestrados. Você só vai ganhar uma loura australiana se tiver aquele negócio enorme e deixar ela ser dominatrix... e mesmo assim vai ser por um ano e pouco, só.

O Livro da Vida (The Book of Life), comédia norte-americana
animada, a história de Manolo, entre as expectativas da família e
suas aspira
ções. Com as vozes de Diego Luna, Channing Tatum,
Zoë Saldanha, Chistina Applegate, Ron Perlman e Ice Cube.

A ser lançado em 2015.
O Livro da Vida

Enquanto o livro da vida nos reinos dos céus trata da presença das pessoas, o correspondente livro lá no escritório trata dos faltosos.

Quando alguém vai faltar ou chegar tarde, tem por obrigação avisar aos chefes, ou a um outro funcionário, na falta deles. A pessoa que recebe o recado então envia um email geral avisando a todos que aquela outra pessoa vai faltar ou chegar atrasada. Porém, criou-se um tal de um "livro da vida" que fica no balcão na frente da secretária do diretor a fim de escrever-se tudo o que acontece em termos de frequência diária pois, quando algum diretor ou chefe quer saber quem está ou quem não está presente, vai lá e vê. 

Só que, para se escrever nesse livro, é preciso que você saia de sua mesa a 20 metros de distância só para fazer esta tarefa beócia sobre alguém que lhe comunicou que vai se atrasar. É diferente de quem sai mais cedo, por exemplo, porque quando está saindo, vai e escreve lá. A secretária tem como uma de suas funções anotar tudo o que recebe por email com relação a faltas ou atrasos no tal livro, mas ela está a fim de escapar desta pequena tarefinha, então o diretor a liberou, passando pra os funcionários, assim elas podem gozar seus três dias de faltas obrigatórias mensais.

Controle de faltas e atrasos
Veja como as coisas estão hoje em dia. A secretária número dois, mais especializada, entrou de longa licença para ter bebê. Para substituí-la, contratou-se... um rapaz! Ora, rapazes não tiram licença para ter bebê nem precisam de 3 dias de faltas mensais, mas ele é apenas um substituto temporário que irá embora assim que a rainha voltar. Quer dizer, salários altos mais excesso de faltas e licenças dá no que? Tudo custa caro neste país.

Vantagem do Brasil? Ainda tem mais emprego pra todo mundo e preços são muito mais baixos, apesar das reclamações da populaça ignóbil atual. Sobre a situação da mulher? É uma coisa muito polêmica... é justamente quando a mulher se estabelece no emprego que engravida. Depois engravida de novo e de novo. Para contrabalançar, agora tem licença paternidade para o pai também. Mas quem paga por isso tudo? Todos nós. E o preço da justiça, compreensão e igualdade social sobe...

A única coisa que eu sei é que raramente falto ou chego atrasado, e mais raramente ainda preciso de licença por causa de doença. Sou um idiota? Vantagem: se eu precisar de longas licenças pagas para cuidar de pessoas, não terei problemas por causa da quantidade acumulada de dias reservados para doença através dos anos aos quais tenho direito. Mas quem é igual a mim?

Reclamão, pavio curto
Porém ultimamente recebemos um email dizendo que agora é nossa obrigação ir lá e anotar no tal livro. Pergunta se alguém faz isso? Mas é muito displante transferir esta obrigação para todo mundo. O diretor não faz nada, acha justo, não se coloca no lugar do funcionário que está trabalhando concentrado e tem que interromper seu raciocínio primeiro para receber um telefonema ou ler uma mensagem no telefone e depois mandar um email geral avisando a todo mundo, e ainda quer que a pessoa desconecte o computador (pois não pode ficar ligado por questões de segurança), caminhe 20 metros para escrever baboseiras num livro quando ela já fez sua obrigação, retorne e conecte o computador de novo pra se lembrar o que estava fazendo e recobrar o ritmo. No caminho pode pegar um cafezinho e ir conversar com alguém, que é melhor, e a produtividade? Eles simplesmente não se colocam no lugar das "vítimas", e se a coisa prossegue desse jeito, acaba se tornando insuportável, não fossem pessoas como eu, as únicas capazes de confrontar esta prática de transferência de obrigações

Tinha que ser um brasileiro!

Um dos primeiros conselhos que os próprios australianos me deram mal coloquei meus pés num escritório neste continente foi "não faça tudo o que lhe pedem senão você é explorado". Pensei, o quê? Saí do Brasil ou não?

O que o Brasilieiro Tem a Ensinar ao Mundo

Qual a vantagem do brasileiro nesta comparação de culturas? 

Caso se imponham regras idiotas como estas, ninguém faz, então é preciso mudar de tática e contratar alguém pra fazer, se a coisa for importante mesmo. Não pensem que, por sermos brasileiros relaxados, somos inferiores, muito pelo contrário. Nós é que somos os inteligentes. Com isso os salários caem porque os empregadores precisam empregar mais gente para funções mais idiotas, porém emprega-se mais gente também, e cada um tem sua carreira dentro da empresa, bom para um país com tanta gente.

Uma pitada de safadeza para quebrar a monotonia. Incensatez.
Não reclamem nem metam o pau na camisinha. Façam o contrário...
Eu mesmo fiz isso durante vários anos, procrastinei até onde não pude mais, jogando a tarefa de trancar o prédio para outras pessoas, e só aceitei agora, depois que aprendi a fazer tudo sem estresse e depois que vi que não aconteceu problema nenhum durante todos estes anos, além de ter me certificado de que, se acontecerem problemas, vão ser só de roubo de equipamentos, sem acesso aos dados, tudo coberto por seguro. Ou seja, a responsabilidade que um vigilante tem no Brasil costuma ser muito maior do que aqui onde não é preciso tanta. 

Em outras palavras, mais trabalho, menos responsabilidade. Fórmula meio estranha, incensatez...

De que vale ter salários altos neste país de primeiro mundo se não há emprego para todo mundo, e quem tem é explorado e trabalha demais? É esta a maravilha do primeiro mundo? Vem pra cá...

Por isso tanta gente espera e aposta na aposentadoria, se não morrer ou adoecer gravemente antes de poder curtí-la, e também se o dinheiro sobreviver à quebradeira bancária frequente deixando os velhos à míngua. Por isso também não se tem tempo para as crianças, que não sei nem porque eles teimam em tê-las. Venha para este paraíso para fazer todas as tarefas domésticas, e no trabalho ter obrigação de dar uma de porteiro e servente. 

Vá, continue reclamando da sua vida no Brasil. Você vive no céu e não agradece.

Visão de brasileiro, ou como os gringos nos vêem
Atualmente minha visão "diferente" de brasileiro está sendo utilizada para dar novas idéias a fim de melhorar o ambiente de trabalho, através de um grupo especial do qual faço parte, e para onde fui fisgado sutilmente desde o dia em que resolvi soltar o verbo nas pesquisas anuais da empresa que emprega gente de todo o planeta e consequentemente de culturas diversas. Fez um efeito inesperado. Mas a minha visão não é só de brasileiro que valoriza as pessoas, é também de socialista e espírita, que é tudo coerente e interligado. Mas eles não precisam saber desta última parte, é demais para eles. Omitir não é mentir.

Acorda, ô!
Vantagem de Ser Australiano

Aparentemente existe uma grande vantagem nos australianos. Quando alguém tem coragem de dizer pra eles onde eles estão errados, as providências costumam ser radicais e imediatas. Ninguém gosta de ser pego no erro. Eu e minha família já tivemos muitas provas deste tipo de coisa pois costumamos reclamar de tudo, como bons brasileiros. Eles realmente resolvem o problema rapidinho, quando a gente tem razão, o que é surpreendente. 

Enfim, em matéria de negócios, eles costumam ser bem eficientes. Afinal, aqui é a terra do capitalismo puro. Eu falei "puro" e não "puto"...

Eles só precisam acordar e nada melhor do que um brasileiro para fazer isso. Acorda, ôoouu!

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