sábado, 20 de junho de 2020

Eu Sou Australiano



Esta é uma música muito cantada na Austrália, principalmente em eventos nacionais, que são muitos durante o ano. Eu diria que alí é preciso, porque a nação é formada por muita gente de fora, que trás e mantém suas tradições e culturas, então seria necessário incutir na cabeça de todos que, além de suas nações, eles também são australianos. Na realidade, poucos estrangeiros assumem sua australianidade assim, integralmente. Por exemplo, chineses e asiáticos não fecham suas lojas ou restaurantes nos dias consagrados à nação australiana. Antes de considerá-los arredios, nós costumamos considerar que eles gostam de trabalhar e trabalham mais do que todas as outras nacionalidades.

A música é "Eu Sou Australiano" (I Am Australian), e pela primeira vez em 20 anos, resolvi esmiuçar o que ela diz com precisão, daí passei a apreciá-la "very much". Isso porque ela fala de todas as origens dos australianos com respeito mesmo para os criminosos, que no caso nunca o foram em termos de pura maldade, mas por contingências, como é o caso do herói maldito Ned Kelly e dos prisioneiros políticos. Se todos os prisioneiros eram políticos, não sei, é preciso pesquisar mais, porém, prisioneiros políticos nunca são criminosos, mesmo que tenham matado ou assaltado, porque eles têm um objetivo nobre que nunca é apenas para si próprios, quando são bons.

A música emociona, principalmente aqueles que tiveram a oportunidade de viverem na Austrália e tenham conseguido se livrar do encantamento inicial para cair na real. Sim, aquele país tem o que se admirar, por mais que o critiquemos, assim como todos os países do mundo, suponho que até os piores, há sempre que haver alguma coisa boa, como a Síria, cujos fugitivos são forçados por uma guerra provocada por interesses financeiros de fora, mas amam sua terra onde cresceram suas famílias e sonham retornar quando a deixarem em paz.

A música começa dizendo que nós, australianos, somos todos um só, justamente porque somos uma panela que se dissolve, como se canta Nova Iorque, "a melting pot". Isso porque viemos todos de fora, com excessão dos aborígines, e nos misturamos, mesmo que não na mesma proporção do Brasil, e principalmente porque na Austrália tem poucos negros, sabe-se lá por que razão, motivo de outra pesquisa. No Brasil somos todos misturados com negros e índios, mas na Austrália, os índios, ou aborígines como são conhecidos, têm a pele escura, de forma que as feições dos miscigenados são diferentes dos brasileiros, além de manterem o cabelo liso ou cacheado, quando os brasileiros miscigenados têm cabelos crespos. Com excessão de parte dos sulistas racistas e alguns núcleos familiares, o resto do Brasil é miscigenado.

Apesar de achar bonitas as diferencas raciais e culturais, não apoio o racismo ou ufanismo, mas a tendência é que, com tanta miscigenação, o planeta se torne global e as culturas particulares de cada nação acabem se fundindo numa só num futuro longínquo ainda. Mas se esta é a direção da evolução, então vamos em frente.

Aborígines australianos são o povo mais antigo do planeta
Mais um Hino

Considero esta música um hino australiano também, pela sua difusão e respeito. Só falta as pessoas colocarem a mão no peito quando a escutam ou cantam em conjunto. Esta música foi largamente difundida pela companhia de aviação australiana, a Qantas, o que a popularizou para os estrangeiros récem-chegados através da televisão.

Em seguida, a música diz que somos um, mas também somos muitos, porque viemos de diversos cantos do mundo, veja letra lá embaixo. Contudo, todos compartilham o sonho de serem felizes e viverem em paz, e por isso o cantam em uma só voz, que todos são australianos.

A seguir, retrata vários tipos de origens dos australianos, como um verdadeiro hino deveria ser. Fala dos aborígines primeiro, porque foram os povos originais por 40.000 anos, que um dia viram os navios chegarem para tomar-lhes parte de suas terras e relegarem sua cultura a segundo plano. Crianos no barro dos quase desertos, conhecem a terra como ninguém até os dias de hoje. Para quem pensa que deserto não tem nada, engana-se, é preciso ser especialista para sobreviver nele e sair vivo. E por isso tantos turistas perdem a vida quando resolvem se embrenharem achando que é tudo divertido apenas.

O "continente" australiano que na realidade é uma ilha enorme e sem fronteiras com país nenhum, assemelha-se a um prato, cujo centro é mais baixo do que o nível dos mares que a cercam. Embaixo desta vastidão de terra existe um imenso lençól freático de água potável de difícil acesso, mas está lá. Vasto percentual da terra é desértica, mas por incrível que pareça, chove, e nascem flores que a embelezam vez por outra anualmente. Entretanto, pode-se dizer que a terra é um nada, uma imensa planície horizontal, como se a terra fosse plana, que pode ser cortada por uma linha de trem que não acaba mais, que as pessoas utilizam como hotel enquanto viajam de uma ponda à outra, horizontalmente no globo terrestre. Nunca fizemos esta viagem caríssima para ver nada, fica para os amantes das bizarrices que nâo têm com o que gastar. Assim mesmo é conhecer o deserto. Me poupem... nada contra quem gosta...

Dizem que, para conhecer a Austrália, é preciso embrenhar-se no mato e conviver com os aborígines. Não tivemos este prazer também não. O problema aborígine na Austrália merece vários capítulos à parte, como só agora estamos vendo o problema dos índios no Brasil, que sempre viveram como se não existissem para as populações das cidades. Só agora estamos cientes da dimensão da comunidade indígena brasileira e dos problemas que elas sempre enfrentaram por várias causas atuais que fogem deste post.

A música então fala dos australianos seguintes que chegaram como prisioneiros em navios, permaneceram presos na colônia até se tornarem livres e começarem suas vidas no mato, se tornando australianos, aprendendo a cultivar a terra seca e a criar animais cujo maior contigente e mais tradicional é o das ovelhas.

Os australianos seguintes são os filhos daqueles primeiros imigrantes forçados, mocinhas filhas dos mineiros em busca de minerais preciosos as quais se tornaram mulheres e procriaram, populando o país, e também os filhos da Depressão no exterior, fugidos da pobreza em busca de oportunidades seja onde fosse. Com muita batalha eles fizeram a Austrália crescer.

Então vieram os românticos em busca de vida nova que criaram uma cultura difícil de ser dissociada da européia, mas com toques aborígines acabou por vingar e tornar-se característica. A música cita um representante autêntico da cultura aborígine, outro da literatura, Ned Kelly que foi o herói Robin Hood do deserto, onde roubava para alimentar os imigrantes empobrecidos e por isso era um procurado, e finalmente sobre a expressão "Waltzing Matilda", que representava a caminhada dos andarilhos livres à procura de trabalho temporários nas fazendas do interior brabo agarrados com seus sacos de dormir que serviam de sacola de parcos pertences, que eram suas Matildas.

Esta cena do filme Priscilla tem grande conteúdo
cultural australiano, o deserto, o espírito explorador,
o estardalhaço dos anos 70, a discriminação contra
os gays, e a equipe de drag queens
Por fim, a música fala das particularidades da terra australiana, como seus desertos quentes e quase inabitáveis se não fosse pela tecnologia, como a do ar condicionado, das terras escavadas pelas minas em busca de riqueza mineral, das parcas montanhas virgens e dos poucos vales de cascatas, das constantes enxentes imensas naqueles planos por causa de chuvas torrenciais inesperadas quando a terra não tem capacidade de absorver e chupar aquela água toda com a velocidade de evitar inundações que costumam dar muita dor de cabeça aos batalhadores do interior e às companhias de seguro.

E fala dos rios, quando eles existem, pois muitos são sazonais, dependem das chuvas, enquanto outros são tão rasos e largos que evaporam, e finalmente do espírito da terra cultivado pelos aborígines com respeito.

A música termina lembrando que somos todos um só, mesmo que tenhamos vindo de todas as partes do mundo ou ainda estejamos vivendo fora, temos este elo de ligação que não se dissolve, uma vez experimentado. É mais fácil apreciar o país da gente quando estamos fora. Como se costuma dizer, damos valor ao que tínhamos só quando perdemos, quando estamos longe, quando não podemos curtir mais do jeito que deveríamos ter curtido quando estávamos lá. Aconteceu comigo, brasileiro na Austrália, e agora acontece comigo de novo, como australiano no Brasil. Para minha sorte posso manter as duas cidadanias até segunda ordem, quando mudarem as regras, mas o ideal é esse mesmo.

Descendentes de aborígines miscigenados ainda são considerados
aborígines na Austrália. Primeiro oftalmologista aborígine
cuida de uma autêntica aborígine idosa
Para quem um dia me perguntou, se houvesse uma guerra entre o Brasil e a Austrália, que lado eu tomaria, sempre respondi que estaria do lado daquele que tivesse razão e justiça, não interessa onde meu coração esteja. Neste preciso momento não seria difícil escolher, mesmo sabendo da dimensão das pessoas maravilhosas que ainda povoam o Brasil, no momento elas estão colhendo terríveis resultados de sua falta de cuidado com o rico país que elas possuem. Trabalhei lá para melhorar o país para eles, que se tornou meu também por reconhecimento, e hoje trabalho para tornar o Brasil melhor, como nunca arredaria um pé caso jamais tivesse saído do Brasil para morar fora.

Por isso se diz que viajar dá cultura. Só viajando é que se olha pra trás e tem-se noção das diferenças para valorizar o que se tem em casa. Viajar se assemelha a ler muitos livros, com a vantagem de se viver as cenas e não imaginá-las. E viajar para morar em alguns lugares é muito melhor e diferente de apenas dar uma de turista. O turista não absorve a cultura, ele apenas assiste como a um espetáculo e tudo o que é estranho é motivo de deslumbramento. Absorver a cultura é entender porque as pessoas são diferentes e aprender o que é melhor em cada uma para implementar na outras, sempre na tentativa de melhorar todas elas. Viajar é esquecer que existe preconceito pois não há tempo e não tem significado. Você entende que todos os povos são generosos e amigáveis, que o amor está em toda parte, expressado de várias formas não tão diferentes assim, e que no mundo somos todos passageiros como num ônibus ou num avião, convivendo uns com os outros apenas por um período limitado de tempo. Um tempo que deve ser aproveitado para amar, e não se perder tempo odiando.

Coloquei as letras da música em Inglês e Português no vídeo demonstrado aqui para todos entenderem a profunidade e particularidade da cultura daquele país que parece uma quimera distante.

I Am Australian
Eu Sou Australiano

The Seekers

I came from the dream-time
Eu vim dos tempos ancestrais

From the dusty red-soil plains
Das planícies poeirentas de terra vermelha

I am the ancient heart
Eu sou o velho coração

The keeper of the flame
O guardião da chama

I stood upon the rocky shores
Eu permaneci nas margens rochosas

I watched the tall ships come
Eu vi os grandes navios chegarem

For forty thousand years I've been
Por quarenta mil anos eu fui

The first Australian
O primeiro australiano

I came upon the prison ship
Eu cheguei num navio prisão

Bowed down by iron chains
Alquebrado por correntes de ferro

I cleared the land, endured the lash
Eu limpei a terra, aguentei o chicote

And waited for the rains
E esperei pelas chuvas

I'm a settler, I'm a farmer's wife
Sou colono, esposa de fazendeiro

On a dry and barren run
Em uma corrida seca e árida

A convict, then a free man
Um condenado, e depois um homem livre

I became Australian
Me tornei australiano

I'm the daughter of a digger
Eu sou filha de um escavador

Who sought the mother lode
À procura do veio principal

The girl became a woman
A menina tornou-se uma mulher

On the long and dusty road
Na longa estrada poeirenta 

I'm a child of the Depression
Eu sou um filho da Depressão

I saw the good times come
Eu vi os bons tempos chegarem

I'm a bushie, I'm a battler
Eu sou do mato, sou um lutador

I am Australian
Eu sou australiano

We are one, but we are many
Nós somos como um só, mas somos muitos

And from all the lands on earth we come
E de todas as terras do mundo viemos

We'll share a dream and sing with one voice
Compartilhamos um sonho e cantamos em uma só voz

"I am, you are, we are Australian"
"Eu sou, você é, nós somos australianos"

I'm a teller of stories
Sou contador de histórias

I'm a singer of songs
Eu sou cantador de canções

I am Albert Namatjira
Eu sou Albert Namatjira

And I paint the ghostly gums
E eu pinto os caules fantasmagóricos

I'm Clancy on his horse
Eu sou Clancy em seu cavalo

I'm Ned Kelly on the run
Eu sou Ned Kelly em fuga

I'm the one who waltzed Matilda
Sou quem dançou a valsa Matilda

I am Australian
Eu sou australiano

I'm the hot wind from the desert
Eu sou o vento quente do deserto

I'm the black soil of the plains
Eu sou o solo preto das planícies

I'm the mountains and the valleys
Eu sou as montanhas e os vales

I'm the drought and flooding rains
Eu sou a seca e as enxentes chuvosas

I am the rock, I am the sky
Eu sou a rocha, eu sou o céu

The rivers when they run
Os rios quando correm

The spirit of this great land
O espírito desta grande terra

I am Australian
Eu sou australiano

We are one, but we are many
Nós somos um, mas somos muitos

And from all the lands on earth we come
E de todas as terras do mundo viemos

We'll share a dream and sing with one voice
Vamos compartilhar um sonho e cantar com uma só voz

"I am, you are, we are Australian"
"Eu sou, você é, nós somos australianos"

We are one, but we are many
Nós somos um, mas somos muitos

And from all the lands on earth we come
E de todas as terras do mundo viemos

We'll share a dream and sing with one voice
Vamos compartilhar um sonho e cantar com uma só voz

"I am, you are, we are Australian"
"Eu sou, você é, nós somos australianos"

"I am, you are, we are Australian"
"Eu sou, você é, nós somos australianos"

Source: LyricFind
Songwriters: Bruce Woodley / Dobe Newton
I Am Australian lyrics © BMG Rights Management

https://www.youtube.com/watch?v=uBI3xiDzxMM

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