terça-feira, 22 de julho de 2014

Nordestinês

Se você não é nordestino, pule este post. Se você não gosta de palavra pornográfica, faz favor, que aqui tem algumas que escapuliram...

Minha mulher conseguiu uma proeza sem querer.

Se vocês digitarem uma certa palavra nordestina no Google, vocês vão direto para o seu blog, exclusivamente. Se vocês escolherem imagens, vão ver só imagens do seu blog.

Ou seja, a tal palavra não existe, só no blog dela. 

Xilogravura, arte tradicional nordestina
Mas como isso é possível? Pelo menos eu e minha mulher conhecemos a palavra. Aprendemos com os nossos pais, o que já soma 6 pessoas.

Como é que esta palavra ainda não deu o dom da graça na poderosa internet global e planetária, a não ser por vias de seu humilde bloguinho?

Pois bem, ela conseguiu este record.

Provavelmente esta palavra é mais uma nordestina, do sertão, só conhecida pelos caipiras, como "tosco", "vôte", etc. Eu ia fazer uma lista aqui, mas muitas pessoas já fizeram isso, então peguem o arrego aqui, se quiserem saber mais:

http://culturanordestina.blogspot.com.au/2007/11/dicionario-nordestino.html

Este paraibano aí compilou mais de 1400 palavas exclusivamente sertanejas, embora, convenhamos, tem muita palavra forçada. Mesmo assim, praticamente é uma nova língua sub-portuguêsa. Se cada região do Brasil tem similar número de palavras regionais, é o samba do crioulo doido. Tirem fora as milhares de línguas indígenas que ninguém nunca ouviu falar antes dos jogadores alemães divulgarem fotos no meio dos Pataxós. Minto, hoje em dia até que se tem divulgado muito sobre nossos índios, principalmente depois que eles foram manipulados para aparecerem na mídia estrangeira e marcharem pelos gramados de Brasília a fim de tentarem desestabilizar o governo. 

Nordestinês
Mas vejam só o que fui capaz de fazer. Segue-se uma estorinha pra vocês se divertirem, porém, só se vocês forem nordestinos, caso contrário não vão entender patavina e vão ficar a ver navios. Usei a maior parte das palavras regionais que conheço, mas sei que muitas outras ficaram de fora, principalmente as forçadas e as mais pornográficas, por uma questão de princípios, perdão. Mesmo assim, tem palavrãozinho, portanto, crianças, retirem-se.

Depois que fiz a estória, percebi que a grande maioria das palavras nordestinas são depreciativas, zombeteiras e de baixo escalão. Podem ser engraçadinhas, mas acho que a maioria não é recomendável, vôte!

Uma Estória Nordestina

Oxente, cambada, não gosto de zuruós xeleléus zambetas enxeridos e dementes, que gostam de fazer zoada não, visse? Muito menos quando eles gostam de xumbregar e só pensam em xibius o tempo todo.

Xeleléu, puxa-saco, bajulador
Vixe Maria, vôte, eles podem ser varapaus de ventas grandes, ou tamboretes-de-putas que não me impressionam. Prefiro um trancelim ou uma tuia de traques de massa do que triscar nesses caras tronchos, roçando neles de ficar com a roupa esgarçada, acostumados a soltar rajadas de traques dentro de casa. Eu, esta peitica sibite baleada de oveiro baixo, sei muito bem como pegar eles de supetão, que ninguém vai se servir de mim não nem me levar pras bimbocas nas carreiras.

Mas rapaz, repare só, como eles gostam de ficar rentes. Não respeitam nem muié de resguardo, nem a réstia de um rabo-de-saia, nem muié dando lance nem quando ela está incomodada, de boi. Estão sempre com tudo em riba. Ai deles, não adianta fazerem munganga nem pelejarem pra eu aceitar pistolão na marra de arrumar emprego quando estou na pindaíba, na lona, porque vou peitar eles e dou-lhes um pipôco tão grande que eles vão ficar latejando e tudo lanhado. Viver comigo é peia, não gosto de pregar prego sem estopa nem de me misturar com a mundiça morta-fome.

Pride!
Mai tá, eu ficava matutando e calava a matraca quando via um homem massa adepto da maromba. Mas quando ele aparecia com uma marmota enrabichada nele, eu manjava que a manjuba dele era manobrada por ela. Depois eu ficava mangando dele, eu, Sebastiana, desarnada mais minha prima maluvida e lerda, Tonha, maldando o casal malamanhado. O cara não era dono da macaxeira, eita lasqueira! A gente era um grude danado, até ficar de mal, quando minha prima ficou entufada, falando nome feio e o escambau. Ela com seus cambitos finos e suas calçolas brancas.

Tava ca peste, com a bexiga lixa e a gota serena, quando um destes tabaréus tava de fogo depois de várias talagadas, eu me armava com uma tabica sem taliscas pra lhes arrancar o samboque e tirar o tampo, deixando-lhes cheios de ronchas, que não brincassem comigo não que sou parada dura e adoro topar tudo. Não interessa se eles eram jegues de torar o aço, eu não ia me acabar nem me amarrar num seboso, eles que fossem se lascar. Se batesse em mim uma loucura, eu me aviava e me fazia de morta, mas se brincassem, iam ficar alatanhados e se lenhar. Não ia me bater pra me livrar e nem sarrar sacolejando e sacudindo com nenhum saliente roto e esfarrapado enquanto o açude estava sangrando.

Para muitos, isso é uma praga
Nestante eu não conseguia ligar meu telefone peba, o pitoco tava de rosca. Tuve que pedir penico, fui pêga de surpresa e agora não posso me inteirar das coisa, estou enfadada.

Antigamente, pra chegar no terreiro do meu tio, que era do tempo do ronca lá nas brenhas, onde o vento faz a curva, nos cafundós do Judas, uma lonjura a léguas de distância, a gente tinha que atravessar uma tramela e cruzar uma pinguela onde tinha um pé de planta e um pé de pau pra pegar um tiquinho de caminho e rumar para a casa. Era um rugi, rugi, um parangolé e um rapapé danado naquela casa, mãe do céu. Lá eles adoravam um racha e, no meio do sertão, era uma quentura danada, enquanto as quengas se juntavam que pareciam as tripas gaiteiras, balançando os quartos e dando sopapos no quengo dos zé.

Minha meninice foi naquela casa, quando eu tomava lambedor e fazia estripulia, e o bom era beber água da quartinha, friínha, enquanto botava a roupa pra quarar. Naquela época mulé cozinhava, engomava e lavava roupa e eu era a caçula. 

Meu tio puxava da perna mas era cabra macho e adorava uma presepada. Suas camisas eram cheias de goma, ele vivia todo engomado e adorava ficar entertelado e fazendo hora fumando que nem uma caipora. Eu dizia, bença tio, e ele me colocava no caçuá e me levava na casa da velha cachimbeira pra caçoar da minha tia. Ele cabuetava tudo que minha tia fazia, o cabra safado, enquanto eu fazia bunda canastra com o filho dela buliçoso e a filha bujão.

Um dos filhos do meu tio é meu primo carnal, uma pomba lesa e presepeiro pra danar, que vivia gazeando aula. Outro dia deixou uma muié prenha no oitão e foi fazer a precisão na latrina, obrando do lado de fora, daí meu tio foi ligeiro, olhou no caroço do olho dele e lhe deu uma pisa de chibatadas, enfiando-lhe papel de enrolar prego goela abaixo. Disse que ia cortar a pitoca pixototinha dele pra ele não botar mais pomba na xereca e também ia pocar suas bolas. 

Ele era um frangote leso e invocado, frôxo e de calça folote, cheio de grude e pano branco, com inhaca de bode, o desgraçado. Meu tio tinha uma pança enorme que parecia a moléstia dos cachorros. Meu tio deixou ele liso, sem um tostão no bolso e mais alesado ainda, era uma leseira danada, mas às vezes parecia que tinha pimenta no butico. 

Mantenha distância no nordeste
Entre uma bufa e outra, meu tio saia de bucho cheio porque a véia cachimbeira brocoió era bronqueira mas passava a mão nele. Vai ver que os bruguelos dela que hoje são cabras brôcos nasceram porque meu tio deixava ela buchuda, antes de ficar brocha como hoje. Ele adorava brechar uma brega e se a muié não botasse cabresto, ele botava banca e arrastava a asa.

O bebê do meu primo nasceu cheio de goga, de moleira mole, e foi enrolado nuns molambos pra proteger das muriçocas e mutucas. A gente tinha que usar cortinado pra nos livrar das picaduras dos maruim. Como minha tia era muié-macho chegada a fazer sabão, ficava enchendo miolo de pote com a quenga dele mode ficar mais tempo com ela, massageando o mocotó dela, mesmo já envergada e com a espinhela caída que não tinha mais jeito de endireitar. 

Acabou que meu primo batoré ficou largado, lascou-se todo e sua vida gorou. Sorte dele que lavou a burra e ia tomar lapada no fiteiro, todo descabriado com a lapa de manjiroba que tinha, dando no gogó da finada e fumando góia, acabando sempre cheio dos pau e todo chumbado.

Proposta de bandeira nordestina encontrada no "fêice"
E não é que a galinha catraia era gasguita? Aquela feiúra enguiou tanto que acabou se esgoelando e arrumou um galalau galego fio da peste cheio de grana, esfarrapado e escroto, deu uma gaitada e escapuliu escangalhada para engolir mais gala até ficar com gastura. 

O gaiato construiu uma casa fulera e botou um gato nela, criando gabiru. Ele gostava de futucar na fundura do furico no fiofó e acabou frescando com a gasguita de cabelo frisado, criando um forrobodó, aquele filho do cabrunço que acabou estuporado por uma derradeira estrovenga no espinhaço e também na caixa dos peitos, e foi assim que ele bateu a caçuleta.

Adoro comer paçoca, papa e uma penca de tarecos pra tapear o gôto e comer titela de galinha até o sabugo, com manteiga de garrafa, jerimum e feijão-de-corda com fato, gostoso como o quê, pra ganhar sustança, diretamente da panela quando está pelando, ficando toda melada. Depois fico dando pinotes pra comida descer e acabo com os pés pinicando. Também adoro comer uma palma de bananas quando não estão passadas, carradas de mangas, e laminha de côco.

Para o ano vou dar uma guaribada e voltar a usar uma pastinha pai d'égua, num sabe, essa menina? Antes de me findar engicada ou enricar de vez. Agora que estou adulta e enjeitada, adoro fazer mercadinho e ficar espiando os estrupícios estrilados que passam na praça, mas não sirvo mais de engôdo, não sou mais engabelada nem caio mais em esparrela de esmolér esmolambado e desgramado. Vou toda empiriquitada e não estou a fim de encafifar nem encasquetar com ninguém, emburacando sem pedir licença, pra não ficar encruada, encangando grilo dentro de casa, senão acabo encostada. 

Os estados na lonjura do nordeste do Brasil
Abro a luz, coloco meu batom encarnado descorado, tiro a blusa encardida, encarco um sapato, um capote que comprei à prestação mas só paguei a chave, e pego minha amiga com quem ando encangada a fim de encandear o mundo balançando as cadeiras por aí. E quem quiser empombar comigo, vai ficar empesteado pelo meu fedor, enquanto o trânsito vai ficar empatado. Vou emparelhar com as beldades que isso é pinto. Só tem o perigo de acabar embuchada, mas pelo menos posso ficar empanzinada de guloseimas, né não? 

Diacho. Agora fiquei distrenada e cheia de nove horas. Se eu correr desembestada, fico com dor-de-veado e destrambelhada, daí dá a bobônica, vai desmantelar tudo e virar mó desgraceira. Sem falar que uma cambada de calungas vem atrás e eu vou parar na caixa-pregos.

Eu queria entrar numa loja, mas me barraram na porta. Daí eu falei, sai, arreda, e entrei a pulso, e como eles queriam avacalhar comigo, acabei marretando um saco de confeito, bem feito pra aqueles tabacudos daquela zona.

Se eu tivesse um porrete, ia causar um bafafá tão grande, que ia poder marretar muito brebote e bregueço pra dar um trato na minha casa. Foram bulir comigo, daí eu fiquei zuretada, e ainda puxei o pixaim do xoxinho zarolho. 

Virei pra essa minha amiga e caí de pau, ora deixa de pantim sua debochada, senão vai dar chabu. De hoje a oito tu pega no tranco e a gente vai ter um agrado, senão lhe dou um carão, uma prensa. Tá beleza, de lascar o cano que não tá dando vencimento. A gente vai dar parte daquele maldito xumbregador e depois ficar pregada. Depois a gente vai dar no couro até ele ser condenado, dando um grau na nossa vitória, isso se a gente não der na fraqueza nem der o gostinho pra os cabras da peste. Vou dar com a mão pra o ônibus parar e não espero dar fé de nada faltando até chegarmos lá e dar fim nos caras. Vai ser uma danação da bexiga lixa, um cú-de-boi.

Já tuve Copa, ôme
Mas esse buzu está custando e eu tenho um cotôco, não paro em pé como couro de pica, não sou de ficar de flozô. Vou dar um cocorote, um cascudo e uma chapuletada nesse motorista cafuçu chinfrim. Se ele conseguir escapar de mim, vai ser um cagado. Ele que não se atreva a passar por cima de catabís. 

Não quero ser cricri, mas com esse seu chapéu no cucuruto, você não carece de mais nada no cangote. Não seja bocó e não bote banca que eu faço boca de siri, senão cabueto que você pegou na bimba do pirralho da professora depois daquela bicada, pobrezinho do bichinho, sua bexiguenta. Eu vi quando você perguntou, ôxe minino, tá bestando por aí? Vem pegar no batente, vem, vem pra banda de cá e não bota banca. Mostra que você é o bamba e não um baitola, vem tirar o queijo. Me passa a cuia, seu bacurim. Pára de ser babão azuado, que eu tou avexada, avalie? Vem me arrudiar que eu tou afim de ser arrochada, seu arretado. Pára de arengar que tu me deixa apurrinhada. Não tá vendo como estou aprumada, tá afim de me apoquentar? Apois, tu tá me deixando aperriada, seu amostrado. 

E eu vi quando tu amolegou o rapazote e nem pagou, sua amarrada. Nem bem deixou de ser amancebada, já estava alteando a voz no meio da rua.

Casár norrestin
Eu também vi as alpercatas do muleque do lado de fora da sua porta e fiquei agoniada. Tive que adular o teu pai que estava abuletado na carroça, pra ele não ver. O guri é pequeno mas é afeiçoado e deve ter lhe deixado afolozada. Também vi quando ele saiu todo abilolado, abufelado. Saiu à pulso, aquele abiscoitado. Tu é uma xexeira.

Agora minha estória já ficou pensa. Sou muito avuada e não gosto de ficar boiando, nem de ser corta-jaca, então, antes que você se meta a cavalo-do-cão, venha encarcar comigo, me dê uma doideira e eu lhe dê uma cipuada, pra você não ficar empaxado de tanta conversa, vamos entrar numa conchambrança que eu vou chegando.

Daí Eu Fui no Ceará

Estava um bafafá escalafobético, tomei tanta branquinha que fiquei amarela, judiada e toda abestada. Não consegui sequer dar um pitaco e fiquei segurando vela. Tirar pestana nem pensar, solta na bagaceira. Quando dei fé, levei uma mãozada no peduvido. Minha moleira ficou ardendo, os beiço inchado e a zurêia zunindo. Mas dei um chute na viria e uma chibatada na queixada de volta, meti o dedo no zói e quase arranquei os bofes do camarada.

Praia de Jericoacoara, Ceará, Brasil
Daí voltei pra tomar umas. Ôce pensa que sou coió? Não bula no que tá queto que fico estribada. Vá frescar pra ver, num se meta a besta. Tem que pelejar comigo, gosto de comer gororoba desembestada. 

Asdispois Eu Fui pras Alagoas

Cheguei lá, tava todo mundo acoloiado. Eu tentando alumiar o caminho, e eles me preparando uma arapuca. Arregacei as mangas, arroxei o nó, funguei o nariz, e acabei toda arrombada e amolegada. Não podia nem altear a voz, aí foi que fiquei afolosada.

Piscinas naturais em Maceió, nas Alagoas, Brasil
A porra da birosca me deixou baqueada do balacubaco, mas como estava cheia de cachaça, me arrancaram o cabaço com uma caninana na carniça. Acabei carrasquenta, coxa e capenga numa cangalha, mais calibrada ainda. Aquilo me deu uma caganeira que voltei pra casa chutada feito um corisco. Levei um croque do meu pai, e fui tomar meu banho de cuia ficando toda engilhada. Meu pai então me fez uma desfeita tão grande que fiquei desinxavida. Morrendo de vergonha, fiquei embiocada o resto do dia e acabei entrevada. Dormi enviezada e acordei escangotada, cascavinhando a casa a fim de mais mé.

Maceió, nas Alagoas, Brasil
Como não encontrei, comecei a esculhambar tudo, perdi as estribeiras e acabei estatelada no chão. Estrebuchei e acabei toda estrupiada de novo. Minha mãe, faceira mas que já deu o tiro na macaca, se meteu no furdunço e danou-se a futricar no fuzuê. Peguei a fubica do velho gagá, fiz uma gambiarra pra ela pegar no tranco, botei o cachorro na garupa e, com a minha lábia, acabei pegando na lapa de peito da vaca do vizinho sem querer, antes dela me dar uma maçada. Depois fiquei môca com o trompasso que levei no muquifo da vizinha. O macho dela queria me comer com a piroca cheia de pereba, mas o jeito foi morrer na punheta. Tuve que me abrir que minha desgraça era pouca.

Dali em diante não conseguia mais dormir, parecia um tetéu. Minha mãe me botou da porta pra fora e tive que me esconder numa touceira de mato, pois não tinha mais tutano. Daí toda vez que cai um toró eu aproveito pra xiringar sem ninguém ver.

E o Australiano?

Sim, tem australiano no sertão que também tem vocabulário especial e só dele. Mas não é tão rico quanto o nosso...

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