sábado, 12 de março de 2016

Tou Vendo Tudo

Tou de olho em você...
Se você não gosta de spoiler (o estraga prazeres que conta o final de um filme antes de você assistí-lo) então pule pro próximo post. Eu não me importo porque, mesmo que eu saiba como é o filme, jamais vou saber como foi filmado sem vê-lo, além do que a percepção de cada um é diferente. Por isso gosto de spoilers principalmente pra saber como cada um percebe as coisas.

Se você não é disléxico, pode pular também.

Se você não gosta de gays então dê três pulinhos.

Este é um post pra disléxicos(*), vai pra frente, vai pra trás, vai no meio, volta pra trás... é como o filme Memento, para você montar o quebra-cabeça... bem, nem tanto. Foi porque fui enxertando críticas da internet para completar meu entendimento, e acabou virando uma colcha de retalhos.

Colcha de retalhos, passeata Mães pela Igualdade, 2013
No filme Tou Vendo Tudo (Eyes Wide Open, ou Olhos Bem Abertos pra Enxergar), o cara tem um açougue e aparece por lá outro cara a fim de emprego. Ele não dá, mas depois fica pensando, e quando encontra o cara dormindo no banco da igreja, ele pergunta se ainda está interessado, coitadinho. Ele está a fim de fazer uma boa ação e conduzir o jovem para o aprendizado na vida. E aí começa um relacionamento entre os dois homens onde um ensina tudo o que sabe para o outro que nunca pegou numa faca pra cortar carne, enquanto contribui com carne nova, força nova, capacidade de trabalho dinâmica, e outras coisas mais, capaz de consertar até a lâmpada piscando...

Traduzido no Brasil como Pecado da Carne
A arte da faca na carne é uma arte manejada com maestria no filme, a qual quem não sabe cozinhar aprende a cortar carne também através do desenrolar do filme, apesar dos constantes receios de um acidente sangrento. Sim, este é um filme sobre dois homens, mas eles estão muito longe de serem homens comuns. Eles são judeus ortodoxos que vivem em Israel.

O filme é "Eyes Wide Open" (Tou Sacando), traduzido para o Português como "Pecado da Carne", numa ironia inteligente e brilhante, difícil de se conseguir no Brasil ao relacionar-se o assunto do filme ao fato dos protagonistas serem açougueiros, distorce a seriedade do filme levando-o à vulgarização sexual à primeira vista, o que é bem típico de brasileiros, destruindo a charada.

Neste post inclui várias frases obtidas de outras críticas, mas como foram pequenas frases, não coloquei seus créditos. Se alguém se ferir e pedir ressarcimento, por favor, deixe uma mensagem que faço o que a pessoa quiser. Bem, nem tudo...

Introdução

Num bairro ultra-ortodoxo de judeus hassídicos chamado Mea Sharim em Jerusalém (que, devido à desaprovação inevitável da comunidade hassídica, o filme foi principalmente filmado em Jaffa e Tel Aviv) vive Aaron Fleishman (Zohar Strauss), pai de quatro filhos e administrador do negócio da família, um açougue kosher, herdado depois da morte recente de seu pai. O mundo observador das regras de Aaron vai se transformando com a chegada do jovem estudante Ezri (Ran Danker) à procura de uma yeshivá (escola para estudo da Torá) visitando a loja para usar o telefone. Depois de recusar a oferta de Ezri para ajudar em torno da loja, mesmo consertando a lâmpada piscante, mais tarde o açougueiro encontra Ezri dormindo na sinagoga local e oferece-lhe espaço para ficar temporariamente no sótão da loja. Aaron toma Ezri como aprendiz e incentiva seus estudos religiosos e seu talento para o desenhoO rapaz está ferido afetivamente por ter sido desprezado pelo ex-amor. Por gestos e olhares do novo amigo, Aaron percebe o desconforto da situação.

Jardins Bahai, em Haifa, Tel Aviv, que não é só Mea Sharin assim
como o Brasil não é só favelas
Ambos começam a passar tempo juntos, e por períodos cada vez maiores, levando Aaron a ter que decidir se volta a dedicar-se à morosidade solitária de seu casamento ou se continua tomando cada vez mais tempo com o rapaz. Apesar de Aaron ser casado, o filme mostra claramente que ele se sente sozinho quando marca presença como uma figura solitária ao abrir o seu açougue diariamente. 

Através deste filme também tomamos conhecimento de como é uma vida normal naquela cultura e naquele lugar, e vou dizer pra vocês, com licença e mil perdões, mas a vida alí é, sinceramente, perdôe...

Pecado da Carne é um filme israelense notavelmente dirigido por Haim Tabakman, um filme comovente em um ambiente que normalmente não temos acesso. É muito bem filmado, com boas atuações que permanecem com você por longo tempo. Tabakman consegue transmitir muitas coisas sobre o judaísmo ortodoxo e com aparente facilidade. Você realmente sente-se mais inteligente depois de ter visto este filme (ou pelo menos mais experiente). Além disso, Tabakman e o escritor Merav Doster conseguem alcançar um equilíbrio perfeito entre nem condenar o judaísmo ortodoxo, nem a homossexualidade, mas sobriamente mostrando onde eles simplesmente não se encaixam.

Ezri nos tenebrosos becos estreitos e escuros de Mea Sharim.
Homossexualidade? Epa, contei o fim do filme. Agora perdeu a graça de verdade e muita gente vai parar de ler agora, enquanto outras que conseguiram chegar até aqui, vão definitivamente ler até o fim.

Pois bem, enquanto o rapaz é sozinho e andarilho, mas estudou e sabe desenhar, o dono do açougue tem família, mas queria ter estudado. 

O açougueiro tem uma mulher, 4 crianças, uma loja e uma perua Volvo caindo aos pedaços. A família mora num apartamento bem surrado e bastante simples e humilde. O rapaz, que parece pobre, mas tem porte de príncipe, então se instala num quarto no sótão do açougue.

O contraste entre o senso de liberdade e independência juvenil de Ezri é, então, habilmente comparado com a austeridade resignada de Aaron. 

O começo dessa relação é amistoso. Ezri, mais bem resolvido, desenvolve empatia e começa a investir em Aaron, que acaba se esquivando do assédio. Sem conseguir se conter, no entanto, mergulhado em um casamento frio e obrigado a cumprir uma série de regras religiosas insuportáveis, Aaron se entrega ao relacionamento com o rapaz numa cena no mínimo corajosa – dentro de uma saleta do açougue. [Bem, eu não gosto deste termo "se entregar" usado por esta crítica parcialmente copiada, e este é o problema de copiar-se, nem tudo casa com a sua (minha) opinião. Ninguém se entrega a ninguém, a pessoa curte o que é para curtir e essa coisa de "você é minha", "você é meu" é coisa de posse, não sentimentos.] A partir daí, Aaron tenta a todo custo esconder o relacionamento, que se desenvolve a tal ponto de começar a incomodar o bairro onde mora. Ezri é visto como uma ameaça, um pecador, que vai comprometer a vida não só de Aaron mas como a de todo mundo no local – que os líderes religiosos do lugar acabam por tentar contê-la a todo custo.

Mas me diga uma coisa, como foi que a coisa transpareceu para o povo? Era tudo tão privado e discreto. Fantasia de um povo que não tem mais o que fazer além de invadir, censurar e infernizar os outros com suas suspeitas. Tá vendo, eu não disse? É dono do triplex no Guarujá, 1 bote e 2 pedalinhos de $9000 reais...

Pobreza

O que eles têm muito é livros. Porém não devem ser nada atraentes visto que devem ser todos sobre judeus e sua religião, ou seja, dezenas de versões do mesmo assunto, mas posso estar errado. Assim devem falar dos livros espíritas também, ao ponto de queimá-los em praça pública na França dos anos 1800... Apesar de alguns guardados numa estante, esta não tinha prateleiras tal a penúria, e eles ficavam jogados uns por cima dos outros no chão da estante. Este é só um detalhe da "simplicidade", pra não falar "pobreza" do ambiente.

Favela israelense? Nããããããão, vida simples.
As ruas parecem de favelas com esgoto no meio (não devem ser esgotos, apenas canais para escorrerem água, quando ela aparecer um belo dia, mas bem que choveu no filme...). De acordo com outros filmes que tenho visto em países muçulmanos africanos do norte ou do Oriente Médio aqui na Austrália, a vida nestes locais me parece muito parecida. Pobres, mas com dignidade a um custo alto, embaixo de muita repressão, sendo que o que mais impressiona é a quantidade de grades nas portas e janelas, que nos lembra muito o Brasil de hoje, fora dos condomínios fechados. Não sei se são os mesmos lugares ou as mesmas religiões, mas pena para ladrão é perder as mãos.

A coisa que mais notei nesta área foram os cadeados, as chaves e fechaduras em profusão, o que denota muito roubo e cafajestice. Ora, num lugar com tanta gente espiritualizada que reza o dia inteiro e praticamente respira religião, como é que alguém se atreve a roubar o outro, ou pior ainda, se atreve a trancar as merrecas que tem pra ninguém sequer sonhar em repartir ou surrupiar? É quando você vê que tem coisa errada naquele ambiente.

Diferentes

Gosto de "caçar" filmes diferentes na TV do governo australiano, e frequentemente descubro alguns bastante estranhos. Este foi um deles. O que me atraiu no filme foi o siliêncio e o ambiente sombrio totalmente diferente de tudo o que conheço. Ele me atraiu pela penúria, pela pobreza, pela atmosfera árida, fria e obscura, pelo silêncio minimalista e angustiante, mas mostrando como se as pessoas conseguissem viver com dignidade, e até bem vestidas, considerando-se nossas diferenças culturais. Carnaval ali nem pensar... e eu não sabia que o filme era gay, só descobri no andamento dele, quando já estava cativado.

Parece uma feliz fraternidade masculina, mas são intolerantes,
vingativos e racistas
São tantas coisas diferentes, que vou ver se enumero algumas aqui.

Roupa Masculina

A primeira delas é a roupa dos homens que impressionou muito este fã de shorts e camiseta regata. Eles se vestem invariavelmente de preto, dos pés à cabeça, literalmente, pois além de usarem uma boinazinha preta no cocuruto, ainda usam um chapéu preto de abas por cima, cobrindo-lhes as madeixas. 

A boinazinha é obrigatória. O Talmud afirma: "Cubra sua cabeça, a fim de que você tenha medo do céu." O rabino Hunah ben Joshua nunca andou 4 côvados (6,6 pés ou 2 metros) com a cabeça descoberta. Ele explica: "... Porque a Presença Divina está sempre sobre a minha cabeça". Isto foi compreendido pelo rabino Yosef Karo no Shulchan Aruch como indicando que os homens judeus devem cobrir suas cabeças e não devem andar mais de quatro côvados com a cabeça descoberta. Cobrindo a cabeça, como através do uso de um kipá, é descrito como "honrar a Deus". Outros judeus hoje em dia usam kippot preto em forma de casamata. https://en.wikipedia.org/wiki/Kippah

Eu diria que não preciso de um kipá para me lembrar que Deus existe, mas vai ver que sou super-dotado ou um idiota completo... 

Pêlos

Patilhas ou costeletas usadas na década de 70, não era pra quem
queria, era pra quem era peludo, mas não se enganem, as coisas
evoluem e hoje existe implante de barba e até dos pelos do peito...
cuidado com a lebre por gato siliconado...
Sim, os homens usam madeixas, mas só na metade da cabeça. Ela é mais raspada do que cabeluda, mas tem uns rabichos pendurados que variam de acordo com o tipo de cabelo de cada um. 

Como se essa coisa estranhíssima pendurada e balançando não fosse o bastante, eles também usam barbas negras enormes, cada um com a quantidade que a genética de Deus lhe permitiu. Isso faz com que todos fiquem muito parecidos, se a cor da barba não variasse, e também o peso dos caras, o que torna alguns mais gordos do que outros, mais velhos do que outros, e assim, depois de muito prestar atenção no filme, você começa a identificar os caras, que não são todos iguais nem se parecem tanto quanto pensávamos.

A tal coisa pendurada é uma costeleta encaracolada.

Judeus ultra-ortodoxos, mas isso não é histeria
O Torá ensina ao homem a "não cortar o cabelo dos lados de sua cabeça..." (Leviticus 19:27). Um homem judeu deve deixar as costeletas ou patilhas (peyot) crescerem a partir das articulações da mandíbula que se acham em frente às orelhas, aproximadamente a um terço do caminho abaixo delas (Talmud – Makkot 20a)

Em segundo lugar, o costume de usar longas costeletas é mencionado no comentário talmúdico de Tosefot (compilado em Touques, França, aproximadamente em 1300 DC: "O homem tem que ser extremamente cuidadoso para não remover suas costeletas muito menos com uma tesoura, porque ela também é como uma navalha, portanto, o costume aceito tem sido o de deixar longa costeleta nos meninos desde pequenos, quando eles têm seu primeiro corte de cabelo" (Nazir 41b) [e aparar a barba com barbeador elétrico, porque com tesoura ou navalha na carne não pode]. 

O rabino Samson Raphael Hirsch em seu comentário sobre a Torá sugere que a costeleta comprida forma uma separação simbólica entre a parte frontal do cérebro e a parte traseira. A parte da frente é intelectual, a parte traseira é a mais física, mais sensual. O portador da costeleta longa está fazendo assim uma declaração de que ele está ciente de ambas as facetas de sua mente, e tem a intenção de mantê-las às suas tarefas designadas. Porquê os Homens Usam Costeletas? Em Inglês, aqui: http://ohr.edu/ask_db/ask_main.php/5/Q1/

Veja como são complicadas as regras judias que regulam seus fios de cabelos aqui, em Português, O Uso da Barba e Costeletas, Leis e Costumes:

http://www.hierophant.com.br/arcano/posts/view/100000758807792/3765

Mas nada como uma regra pra ser quebrada, um procedimento pra ser ingorado diante da humanidade livre e descontraída criada por Deus. Assim, o protagonista Ezri não parece muito ciente do significado de suas madeixas. Eu também não preciso de costeletas pra controlar meus desejos mais vis, mas vai ver que é porque sou super-dotado ou um idiota completo.

Roupas Masculinas II

"Tophat" é o chapéu negro de abas dos Judeus Ortodoxos que chega a lembrar uma cartola.

"Payot" são costeletas deixadas crescerem encaracoladas. Os diferentes estilos de payot entre os judeus Haredi, Iemenita, e Hassídico também servem para diferenciá-los das outras comunidades não-judias. Os Haredi escondem os cachos atrás da orelha, enquanto os outros os deixam bem longos. Várias regras regulam o uso deste estilo de cabelo de acordo com os tipos de judeus e suas idades. Se você não for judeu e quiser usar uma coisa assim, pode? O que eles vão dizer? Meu Torá! Pra variar, como fui "fashionista", já usei cabelos longos, curtos à militar (Jack Dempsey) como meu pai, com pastinha, divididos ao meio, de lado estilo "emo", surfista, encaracolados (foi sacanagem do cabelereiro invejoso), careca (ao passar no vestibular), de chapinha (não, esse não), com diadema (não), coque samurai (não), rabo-de-cavalo (não), trança (não), louro platinado (também não) mas esta liberdade toda foi graças à era hippie ou deve ser porque sou super-dotado ou um idiota completo.

"Bekishe" é um longo casaco de seda preta que lhe faz assemelhar-se a um corvo.

"Tzitzit" são franjas de lã em um "talit" judáico, que é um manto de quatro extremidades usado pelos homens judeus durante certas orações. De uns anos pra cá comprei umas calças de brim esportivas muito práticas com grandes bolsos nas pernas que estava na moda aqui na Austrália, e elas vieram com umas cordinhas penduradas que sempre me embatucaram, para que serviriam? Nunca vim a saber pra que serviam e sempre as escondi por dentro, mas agora suponho que seja mais uma influência da moda muçulmana do Oriente Médio, como a barba grande e as calças de fundilhos arriados.

Mulheres

Já as mulheres nem aparecem no filme. Elas mal são projetadas no fundo das cenas, tal como as mulheres nunca têm valor nestas culturas, elas só servem pra cozinhar e ter filhos. O inferno das feministas. Nem sequer se empiriquitam como as ocidentais, e ao invés disso, se cobrem embaixo de panos e véus. Tornam-se assim totalmente sem graça, sob meu ponto de vista, mais por suas personalidades incapazes de se imporem do que por viverem cobertas como móveis velhos ou tralhas emboloradas.

Vemos no filme que o judaísmo exclui as mulheres. Aliás, não é privilégio do monoteísmo judaico. As religiões, em maior ou menor grau, excluem as mulheres e reservam para elas papéis e funções subalternas. O poder nas religiões é masculino! É da dominação masculina que se trata. E viva o Espiritismo também por isso, que não é religião mas muita gente acha que é. Vai ver que religião só foi inventada para escravizar a mulher.

Ravit Rozen faz a esposa de Aaron, Rivka
A mulher do açougueiro, Rivka, por exemplo, usa peruca. Fiquei pensando, porque raios esta mulher está usando peruca, já que aparenta não ter câncer, ser jovem e até bonita para os padrões fora do esquema ocidental midiático? Durante o filme ela aparece alourada, escovando seus belos cabelos naturais. Vai ver ela tem vergonha de ser loura. Sem nenhuma maquiagem, o que é um alento, não se pode ter a menor noção de como é o corpo dela, mas afinal, quem quer saber, não é mesmo?... A outra mulher que aparece, fica na porta de sua loja enquanto é examinada pelo açougueiro que se deparou com ela saindo com o amante, o vagabundo Israel, envergonhada, enquanto ele saia de seu açougue de onde acabara de cair no pecado com o ajudante, pior ainda. Ela aparece embaixo de um casaco comprido e pesado. Ela é Sarah, que vai se casar seguindo costumes da família que arranjou o marido para ela, mesmo estando envolvida com outro homem e o casal pareça se amar.

Roupas Femininas

"Sheitel" é a tal peruca usada pelas mulheres judias de acordo com a lei que exige que as mulheres casadas cubram seus cabelos, ora que coisa. Não é só cobrir os cabelos, mas os cabelos naturais também não podem passar de certo comprimento abaixo dos ombros. Não pode, não pode, não pode.

Saias tem que ser dos joelhos para baixo.

Clube do Bolinha, aqui só homem, mulher não entra (entrada
estritamente proibida para mulheres). No homo, man. Mulher é 

peçonha.
"Tichel" é um lenço de cabeça usado pelas mulheres judias de acordo com a lei que exige que as mulheres casadas cubram seus cabelos de qualquer jeito, nem que seja com os cabelos de outras, vejam que coisa.

"Tzniyut" é uma palavra hebréia que significa a mulher trajar-se com modéstia, sendo a blusa cobrindo as clavículas e as mangas passando do cotovelo. Ia ser muito difícil para aquelas mulheres escolherem roupas no exterior. Tal medida deve ser para evitar os pais tomarem tempo das orações para ralhar com as filhas pelo tamanho dos shorts com que elas pretendem sair à noite, como aqui na Austrália.

Sexo

Essa história é de homens, para homens, tal como me parece ser estas culturas do Oriente Médio, onde as mulheres são apenas objetos de uso pessoal e descartáveis, proibidas sequer de falar, e muito mal podem encarar as pessoas de soslaio, têm que viver cabisbaixas, e isso é chamado de respeito e discreção. Para mim isso é inferioridade mesmo, mas devo ser um completo idiota ignorante.

Pelo que deu pra entender, o sexo (não gay, naquela família) é feito assim: deitam-se os dois em duas camas colocadas juntas naquela hora já com a intenção de fazerem aquilo, pois normalmente não é cama de casal, são separadas, mas pelo menos no mesmo quarto, pois não são ricos pra cada um ter o seu. Cobrem-se totalmente com um lençól achado em algum lugar e cada um tira a sua própria roupa embaixo do lençól, uma peça por vez, tudo muito pudico, sendo que eles se deitaram com as roupas em que se encontravam em casa. 

Todo mundo igual tal como em 1984 de Orwell
São muitas roupas pra tirar, que às vezes engancham. Uma vez pelados, suponho, então deve acontecer alguma coisa que não apareceu no filme. Preconceito ou porque o filme é gay? Deve ser só 3 vezes e pronto, 3 vezes e pronto, 3 vezes e pronto... 

O ritual me pareceu bastante "brochante" para um brasileiro ou brasileira, por exemplo, imagina, ter ritual pra fazer sexo! Tudo com muito respeito e provavelmente sem dar um pio. Mas fazer filhos eles sabem, até porque reza a religião que eles têm que povoar o mundo com o povo escolhido por Deus. Porém, no caso desta família, tudo era muito enfadonho, e não havia nem alegria nas crianças, nem um relacionamento alegre entre eles e os pais. Ao contrário, todos pareciam sempre muito sorumbáticos e cheios de obrigações e até as crianças pareciam encafifadas. Deve ter sido exagero do diretor passar esta imagem sombria demais...

Veja tradução e explicação ao longo do post.
Gay

Mas a história tinha algo mais que não estava me cheirando muito bem. Tinha alguma coisa no ar e eu não sabia identificar, ao mesmo tempo em que me recusava a achar que tinha algo de gay entre os dois homens tão sérios. Afinal, não me constava que se tratava de um filme gay.

Pois não é que tinha? Eles estavam se aproximando "demais" e ficando silenciosos demais um com o outro, o que denotava que havia algo mais rolando naquela "energia química". Mas o filme foi tão discreto, e tratou do assunto homossexual com tanta classe e bom gosto, que consegui assistir até o fim. Não que eu tenha preconceito, obviamente, não senhor, não, pois não sou Donald Trump, trata-se apenas de "preferências". Por exemplo, comecei a assistir a um filme na Netflix chamado Tenured (palavra que nos Estados Unidos e Canadá significa que um professor não pode ser demitido do emprego depois do período de experiência sem justa causa) e não aguentei a babaquice do mangina que apanhava dos alunos e vivia pelos cantos choroso porque sua mulher o havia deixado. Abandonei no meio. Será que eu tinha que aguentar aquilo? Foi preconceito? 

Relação pai-e-filho sem fantasma de pedofilia
"Quando você vê os dois homens ortodoxos com suas barbas se tocarem, há então um sentimento estranho, mas quando a cena se prolonga, você pode sentir toda humanidade e a beleza que nasce", indica o diretor numa entrevista, e "os judeus ortodoxos não dizem nem que o homossexualismo é ruim, eles consideram que não existe", ressalta Haim Tabakman em outra entrevista à AFP (Agência France-Presse). [Coisa semelhante se dizia de Brokeback Mountain, já ouviram falar neste filme? Essa de barbas se tocando só excita quem nunca teve intimidade emocional com o pai.]

Consegui também sublimar a visão gay da coisa e conduzir minha percepção pra o que eu achava que devia ser e que seria aceitável para mim, a identificação entre dois homens solitários, a abertura de dois homens para seus sentimentos numa cultura absolutamente frustrante e esmagadora, capaz de matar qualquer ser vivo em vida, arrasando com todas as suas forças de vontades etéreas, desejos e sonhos. Tudo em pról de uma estranha religião que os faz repetirem várias coisas o tempo inteiro, criando um verdadeiro círculo masculino, que seria sublime se não fosse falso, roubando-lhe todo o tempo de pensarem em outras coisas, como sobre suas solidões. Porque tantas pessoas se submetem a tantas repressões? Porque são ingênuas e acham que estão sendo bem cuidadas?

Manipulando a carne, o nervo, o osso...
Machismo

Dentre as coisas estranhas, o rapaz era desenhista. Mas o açougueiro quando foi ver seus desenhos, só havia desenhos de homens. Tudo bem que ninguém estava pelado, mas o fato de só haver rostos de homens sérios, nem mulheres nem cachorros nem árvores, fez minha orelha começar a coçar, e talvez a dele também, mesmo eu sabendo que aquela cultura é masculina e para os homens. O jovem então diz que pode desenhá-lo, se ele quiser. Ele olha pra o cara e pensa, oxe, eu hein? Ficar olhando pra mim e examinando meus detalhes, sai pra lá, daqui a pouco eu tou querendo coisa...

O lance de repetir-se as ladainhas dos rituais, os grupos de estudo que acabam em cantoria, todos os homens abraçados, não chegam aos pés do que seria desejável em termos de fraternidade masculina naquele ambiente hostil e artificial. As atitudes são tristes arremedos do nada para o nada, um sonho de vida e alma e não realidade, e o que resta são homens dominados e totalmente destituídos de alegria ou vontade de viver, com valores totalmente distorcidos, reprimidos, machos frustrados em pele de cordeiro, entretidos e carregados por hábitos ingênuos e... esmagadores.

Brincar de roda, todos abraçados, parece tão ingênuo, mas você 
não tem o direito de ser diferente, só se não descobrirem. Me 
engana que eu gosto...
Na minha santa ignorância, eu pensava que talvez aqueles ritos masculinos tornassem o ambiente agradável onde a verdadeira e pura fraternidade masculina brotasse, mas não foi exatamente assim que o filme me passou como "realidade" daquela vida daquele jeito, e não é isso o que nenhum filme do gênero repassa também, assim como sempre fui excluido dos grupos judeus em vida no Brasil por não ser parte dos escolhidos por Deus... que na realidade sou, mas é uma longa história... isso porque amigos eu começava a ter, mas logo eles "me desprezavam". Eu não sentia o "desprezo", para mim alguma coisa estranha havia afastado o meu amigo, e ficava por isso mesmo, sem entender, que fazer, né? Só vim a entender depois de velho. Ao contrário das cantorias alegres, no fundo, no filme todo mundo é bem amargo e acabrunhado. 

Final

O filme me deixou muito melancólico e bastante decepcionado com tudo. Até porque o final foi o pior possível, o mais triste, e o mais covarde.

Gay II

Os dois homens vão se entendendo e fazendo companhia um para o outro, e apesar de mal conversarem sobre quem são ou sobre os problemas que têm, o que paira no ar é um sentimento de irmandade, uma necessidade emocional e física de companhia, algo que talvez os dois jamais tenham tido em toda a vida deles. Na realidade, isso acontecia com o açougueiro, vivendo no automático como no filme Click com Adam Sandler, mas o outro rapaz já deveria ter provado alguns prazeres da vida, pois parecia bem senhor de si, sabendo o que estava fazendo, decidido e paciente. Ele apenas não tinha se desenvolvido profissionalmente, talvez por problemas escolares que parecem ser intrínsecos àquela sociedade mantida sob o relho da religião castradora, e também por ter experiência de ser enxotado com frequência daqui pra ali.

Pecados da carne do Naco na Pedra, Sintra, Portugal
http://www.naconapedra.pt/
Pobreza II

Para encurtar a história, o filme é sobre a descoberta de um homem pela presença diária e íntima de outro homem em sua vida árida no meio do deserto e num subúrbio que parece mais um cemitério caindo aos pedaços, cheio de corredores estreitos. Pra se ter uma ideia, pra se chegar no teto do prediozinho onde está a loja, é preciso pular uma janela. Lá em cima é amplo e, ao invés de telhado, tem um grande terraço sem telha, sem nada, apenas com bagulho velho. Uma velha carteira escolar vira sofá para o jovem desenhar enquanto fuma, ou de lá se pode ver o panorama de tijolos ao redor, apartamentos pobres do mesmo feitio, que formam a vista lá de cima, com um janela aqui e outra acolá.

Pintando a Sedução

É nesta "varanda" que o açougueiro resolve ceder à sedução lentamente e ser modelo para o outro desenhá-lo, conforme ele o havia convidado, e estes minutos de estagnação entre os dois homens próximos um do outro acabam naquilo. Não, não pensem nunca em nada explícito nem chocante, apenas carícias, carinhos, algo que homens que se gostam deveriam ser livres para fazê-lo sem se envergonharem de serem tomados por gays, sem medo de serem gays. E eram estes carinhos que me deixavam mais feliz, pois era disso o que eles precisavam tanto, e pelo menos tiveram um pouco de coragem de levar adiante. O jovem tanto fez que quebrou a capa de gelo do açougueiro, amolecendo a carne e endurecendo o nervo... desculpem, eu não tenho jeito mesmo... fechem os olhos para as seções de beijos que são curtas bem como as vistas da cama de solteiro, porque o banho no barreiro dá pra encarar.

Depois que Arão, digo, Aaron pede a Ezri para desenhar o seu retrato, Ezri faz um avanço sexual, que Aaron repele com um sermão. [Eu não usaria "avanço sexual" como nesta frase que copiei, eu diria "avanço afetivo" pois ele é impulsionado a dar um beijo no outro que o pega no voo, calma aí, meu santo.]

Esse lance não nos seria dado se não tivéssemos a capacidade de
contê-lo... Palavras, são palavras, nada mais que palavras e ambos
acabaram sucumbindo de cúbito...
Mas não foi fácil. Naquela ocasião ele disse, cara, tu tá vendo porque é que a gente tem que se controlar, isso é Deus nos expondo ao pecado, meu fio. A gente tem que vencer a tentação, bicho. E quando ele dá-lhe as costas, de uma janela, uma vizinha observa e viu um chegar perto do outro. Foi o bastante. Relatos anônimos denunciando "uma infâmia" circulam pelo bairro sem televisão, internet ou celular. Folhetos começam a circular no bairro, levando muitos a boicotar o açougue. Ah é? Então, já que é assim, mano, vamos aos finalmentes, assim eles têm o que falar de verdade, diria eu, mas não era eu, gaguejou fu..., como cantaria Lucas Lucco.

“Por que Deus criou o desejo?”, pergunta o Aaron. Ele próprio responde: “Para a purificação da alma”. A sua teoria é que o pecado é um desafio e evitá-lo é uma missão. Pois que, segundo ele: “Deus não fez criações falhas, a “falha” não existe”. E, portanto: “O desafio de um homem que deve ser superar ele mesmo”. Se o desejo carnal induz ao pecado, a culpa é da criatura e não do Criador que a criou enquanto um ser desejante. Pobre criatura, dividida entre a carne e a alma, o desejo e a salvação. No torvelinho das suas emoções e sentimentos, da contradição entre a realização e anulação do desejo, ele/ela precisa superar o que lhe é inerente à condição humana. Sua crença e o medo da condenação exigem a auto-repressão. Sua alma dilacera-se, mas, como expressa o personagem do filme, é necessário que vença o desafio. E se não tiver forças o suficiente? O desenlace tende a ser trágico! [Este outro trecho copiado é uma ode gay...]


O que há de tão interessante nestes becos?
A fala de Aaron significa atribuir ao indivíduo a responsabilidade para superar o pecado da carne, em outras palavras, reprimir o desejo, “superar-se”. Eis a sua missão. O desejo é visto como uma espécie de doença, impureza da alma, que deve ser “curada”, “purificada”. [Ibid acima]

Blá, blá, blá, mas eles capitulam nesse capítulo...

Os coitados precisavam apenas de abraços, só isso. Mas não se pode dar só abraços, meu bom Deus... só se for pai e filho, e se você perdeu esse bonde, nunca mais vai conseguir fraternidade assexuada com um estranho, com excessões, é claro. Porque facilitar quando a gente pode complicar?

Família

O jovem acaba partilhando da vida em família quando convidado especial para jantares com a mulher servindo, e passa os dias inteiros trabalhando como ajudante de açougue, o que nos mostra a dureza da profissão para cabra macho. 

Banho

É quando o jovem parte para a sedução do casado. Diz que está a fim de um "banho para purificar-se". Eu não vi aquilo como uma sedução, afinal dois homens podem muito bem ir tomar banho pelados num lago, qual é o problema? Eu ainda não sabia que o filme era gay, e me mantinha ingênuo como sempre tenho tendência a ser, o que já me levou a muitos quiprocós. 

Tudo o que eles fazem é com rituais. Até pra entrar em qualquer casa, eles pegam alguma coisa na armação da porta e dão um beijo na mão. Eu não aguentava ver mais tantos rituais, estava ficando psicótico. Deve ter ritual até pra usar papel higiênico... 3 pedaços dobrados e beijados...

Não existe trilha sonora para induzir o espectador a sentimentos. Os atores e a força da história já são suficientes para prenderem a atenção.

Embaixo da árvore antes do strip-tease
Ele chama o outro para tomarem banho juntos, o outro rejeita mas depois acaba cedendo, e ambos vão de Volvo por estradas de barro através do deserto cheio de pedras onde mal se enxerga uma planta, um ambiente completamente hostil, uma cena de guerra. Lá pras tantas, estacionam no barro mesmo, na poeira, e descem uma pequena ladeira onde sentam-se sob uma árvore. Sim, eles conseguiram uma árvore ali. Passam alguns minutos (o filme é muito devagar, haja paciência, se isso não nos fizesse ficar calmos também, e desacelerasse nossa vida, o que é bom para combater o stress) e daqui a pouco o jovem começa a tirar a roupa.

Aí é um espetáculo de se ver. Não, não se alegrem, não estou falando do físico dos caras, estou falando do desfile de roupas que ele vai tirando, de como os coitados dos homens se vestem naquelas paragens, pelo amor de Jeová.

Roupas Masculinas III

Começando o strip-tease...
Tira o chapéu, tira a boina, tira o paletó, tudo preto. Tira a camisa, tira uma bata com tirinhas penduradas que fica por baixo da camisa e por cima da camiseta, todas brancas. A bata parece uma túnica, ou um avental, pois cobre a frente e atrás, mas é aberta dos lados, cheia de cordinhas. Aliás, estas cordinhas estão sempre do lado de fora nas vestimentas masculinas, quatro cordinhas brancas dependuradas nas laterais das calças pretas. São os "Tzitzit", franjas do "talit" judáico. Único toque gay.

Eles parecem gostar muito de coisinhas dependuradas, como suas mechas de cabelos atrás das orelhas, e estas cordinhas. No mais, fiquem imaginando...

Depois de tirar essa mini-bata ou talit, tira a camiseta sem mangas, branca. Finalmente chega-se na pele do homem. Agora sapatos (não vi se tinha meias), tira o cinto, tira a calça, e parece que não tem nada mais além de uma cueca de malha tamanho grande estilo "trunks" (calções de banho), branca.

Sei que vocês não gostam de ver isso, mas eu gosto de incitar,
não dá pra ver direito mesmo...
Ele sai andando de cuecas e sem sapatos, mancando naquele terreno cheio de pedregulhos, e chega numa beirada com o maior sacrifício. É quando identificamos que alí adiante parece ter água. Quando a câmera chega mais perto, ele tira a cueca, se perfila de pé para mostrar bem o material peludo ao outro que ficara só olhando lá da árvore (na realidade também não vi isso como exibicionismo ou sedução, pois quem vai ser seduzido por uma cena destas? Entre homens não existe isso, então era apenas parte do ritual do banho sagrado. Ezri então desce para o pequeno barreiro, um tanquinho artificial minúsculo de água escura rodeado de pedras. Pra variar, este deve ser também um ritual só para homens naquela cultura hiper-masculina, onde mulher não passa nem a 3 quilômetros de distância. Eles estão no paraíso para ficarem nus o quanto quiserem e como quando vieram ao mundo. Eu preferiria de sunga numa praia brasileira cheia de outros tipos de frequentadores...

Strip-tease consumado e o banho sagrado e purificador
Nada de nadar, mergulhar ou pular. Ele entra na água sagrada com medo de perturbá-la, calmamente, e quando chega a certa altura, de olhos fechados, se abaixa e mergulha 3 vezes, em mais um ritual. Só então é que pode ficar à vontade e olhar para os lados. É quando ele chama o outro para juntar-se a ele. Vem, bicho!

O outro pausa, mas resolve vir bem devagar, tira toda a roupa, mas entra de cuecas, e só a tira já dentro dágua, não expondo nada de suas partes púbicas pudicamente. Bem, no final do filme ele resolve ousar e entrar sem cuecas... 

Final II

Pois bem, no final do filme, depois de separado na marra de seu amor, ele resolve matar as saudades no lago onde os dois começaram a se "entenderem", e resolve ficar por ali mesmo para todo o sempre. Alí submerge-se sob a água por um período prolongado antes que a câmera escureça e o filme termine, dando a entender suicídio. Estava contando essa estória pra minha filha e adicionei que acho muito difícil alguém conseguir se matar desse jeito, se auto-afogando. O instinto inconsciente de sobrevivência impede isso, a não ser que a pessoa se amarre num bloco de concreto com cadeado e não seja uma contorcionista. Mas valeu a intenção...

Hora de desenhá-lo, mas tinha neguinha olhando pela janela do
outro lado do telhado desta construção. Ela deduz tudo que não 

existia ainda apenas porque os dois estão juntos num teto, um 
pintando o outro, e se o pintor ajeitando o modelo tentou 
aproximar-se mais do que o normal, e foi negado com um sermão,
nem isso a vizinha perdoôu, para ela, já estava tachada a situação.
Ela estava de olhos bem abertos pra ver o que não era da sua 
conta.
Fofocas

Antes desse suicídio simulado, o povo se mete no meio do relacionamento deles, e começa a falar mal, e como se não bastasse, começa a ameaçar o pai de família, impregnando-o com os piores tipos de confrontos. Eles não têm provas, os caras são muito discretos, mas só pelas suspeitas eles já querem banir o gay e salvar o pai de família que se submete a tudo, o banana covarde. 

Naquele bairro, existia uma “patrulha da decência”, um grupo de jovens, que observava e vigiava a vida alheia e uma vez que esta não estivesse de acordo com os valores do seu admirável mundo antigo, eles invadiam casas, espancavam pessoas com a finalidade de fazerem valer sua moral e bons costumes. Assim, também interferem no relacionamento de um casal com a mesma propriedade que interferem em qualquer outra coisa que não esteja em sintonia com as malditas tradições. Ezri é um proscrito, um sem lar, sem família, sem teto, sem nada, mal falado e ainda abandonado pela pessoa que fora encontrar, precisa ser banido o quanto antes como um câncer ao invés de, como logicamente deveria, ser amparado.

Engraçado, justamente quem mais precisa de ajuda... é o caso dos pais que dizem que não tem mais filhos justamente quando eles precisam mais de seus pais. O que está errado com esse povo?

Depois da surra, a chuva, claro, pra ficar bem dramático e depressivo
A certa altura Ezri re-encontra seu ex-amante que já o tinha enxotado nas ruas de seu bairro, tenta entregar-lhe um desenho que é jogado fora, então desta vez ele pega o amante e o carrega para o beco onde tenta agarrá-lo, seu mal educado ingrato, mas outros percebem o que está acontecendo e a cena acaba se transformando em Ezri sendo atacado fisicamente por alguns moradores, levando murros e pezadas, mas como são civilizados, eles não o apedrejaram nem lhe cortaram as mãos. 

Aaron testemunha o ataque, mas não intervém, o covarde, deixando o rapaz apanhar sozinho. Não precisava defender o Ezri gay, mas defenderia seu ajudante no trabalho. Depois ele tenta consolá-lo, mas ambos já sabem que é hora de Ezri deixar a comunidade. Aaron havia sido visto discutindo com um sênior rabino (Tzahi Grad) sobre como na vida religiosa não se trata de aproveitá-la, mas da superação das dificuldades de ser um "escravo de Deus".

Esposa

A devotada esposa de Aaron, que havia recebido com prazer, inicialmente, o aprendiz de seu marido em seu círculo familiar, se torna suspeita quando seu marido começa a chegar tarde em casa e cada vez mais preocupada, certa vez ela os vê sair da loja juntos e tarde da noite. Imaginando tudo ela diz para Aaron que ficará de acordo com o que ele decidir.

Separação

Ao decidir ir embora, o açougueiro não tem nem força para segurá-lo, nem capacidade de ir também, nos deixando indignados, mas que cara pulsilânime! A não ser que você tenha mais ódio de gay do que de injustiça. Ele fica com sua mulher divina e purificada que já está entendendo tudo, mas começa a entrar em parafuso ao ponto dela perguntar "pra quem você anda rezando tanto, meu marido?" Eu nem posso adivinhar... Ele não diz, mas era para si mesmo, para desculpar-se por ser tão covarde e livrá-lo dos pensamentos pecaminosos e de depressão os mais nefastos...

Durante

Nesse meio tempo a coisa havia se desenvolvido e eles haviam passado a terem mesmo muitos momentos de "carinho" e até um sexo que pode ser considerado tórrido para os padrões deles, mas só uma vez na câmera, é só você fechar os olhos naquela hora. Todas as outras vezes os mostram em situações discretas e nem beijo aparece. Tudo o que você imaginar é por sua conta e risco, mas não é o que você está vendo, e por essa discreção foi que não desliguei a TV, pois aquelas coisas não estou a fim de ver. Não me chamem de homofóbico porque não gosto de ver cenas sexuais nem entre casais heterossexuais nos filmes também não. Acho uma perda de tempo estar-me excitando por causa de um filme pra ficar só naquilo mesmo, e também não preciso me excitar com filmes antes de partir pra real, me poupe. Não preciso deste tipo de fantasia na minha vida, a realidade já é bastante satisfatória, muito obrigado. Você precisa?

Ajeitando o modelo pra desenhar... homens que não estão 
acostumados com o "toque" físico tendem a subvertê-lo... e viva o
Rugby... o quê? Quando? Sim, o Rugby é um esporte com full-
contact que elimina qualquer carência e torna os homens tão 
machos que eles sempre estão metidos em encrencas envolvendo 
violênica sexual e estupros... aí já é demais também, né? Tem 
muito homem que acha que pra ser homem tem que ser 
cafajeste.
O casal gay então agora fica muito tempo depois da hora de trabalho no quartinho, enquanto o casado acaba chegando tarde em casa todo dia dizendo que anda muito ocupado, minha filha, e ainda tem que dar conta dela. Pelo menos não tem aquela sessão "não sei o que está acontecendo comigo"... Ela lhe serve o jantar quentinho e o espera pacientemente e quentinha também, mas com o olhar perdido sabendo que não pode competir, hiper-amargurada e triste que dá dó, resignada, ótima para uma transa sádica. Ela suspeita de que tem coisa no ar, que mulher sempre sabe das coisas. 

Peruca

Como se não bastasse ela usar peruca preta, tendo os cabelos louros tão belos e espessos, ela quando não está de peruca, está de véu ou Tichel, uma espécie de pano grosso que já vem pronto para encaixar os cabelos e fica parecendo uma espécie de chapéu também, no estilo das toucas usadas pelos jamaicanos para esconderem seus fartos cabelos rasta-fari. Não se pode dizer que aquilo é sexy, mas pode até ser bonitinho e diferente, pelo menos é algo feminino, e tudo o que é feminino cai bem para o gosto dos homens, mesmo nesta vida deles tão escassa de atrações.

Tabakman não significa homem tabaco ou atabacado, mas o 
sobrenome de um cineasta sensível e impressionante.
Orações

Quando eles querem espargir, vão para o templo e ficam repetindo aqueles refrões, balançando pra frente e pra trás, e não venham me dizer que esta não é uma condição catatônica que beira a posição fetal. Era no templo que o casado dava umas olhadas puras e cândidas no jovem, todos repetindo aquelas palavras que ele se referia como "estudo". Eles tinham que estudar muito, e seu propósito ao ter contratado o ajudante era ensinar-lhe as coisas, colocá-lo no bom caminho, tirando-o das ruas. Há quem critique o filme dizendo que ele sabia e que queria "recuperar" o cara, curá-lo de sua doença gay, mas eu não entendi assim, talvez porque, como já disse uma vez, não dá pra confiar no meu gaydar (radar gay), que está sempre em curto-circuito. Havia alguns outros rapazes assim por ali como aquele chamado Israel, naquele minúsculo bairro, ou seja, aquele sistema de vida gera muita gente estilo zumbi, que vive só vagando como almas penadas, sem vida, e na contra-mão. Também, quem pode sentir-se bem num ambiente empedrado e cheio de criaturas de preto a vagarem em grupos pelas ruas estreitas e cheias de cadeados?

Canta comigo
Pobreza III

Deus que me perdôe, mas é nestas horas que tomamos consciência de que vivemos quase no paraíso, inclusive aqueles que vivem no Brasil, e até mesmo nas favelas, que são muito mais alegres e cheias de vida do que estas vielas pobres e radicais de Tel Aviv, sem novelas de TV nem carnaval.

Num documentário filmado por uma repórter no Afeganistão, foi mostrado como são as escolas das crianças. No chão, centenas delas lêem o Corão balançando-se de frente pra trás ao mesmo tempo e por horas. O "professor" então, de vez em quando, pega um para recitar de cór o que aprendeu. Azar de um garotinho que não sabia ler e só ficava repetindo o som que ouvia. Ele foi expulso da escola e fez sua mãe ir implorar colocá-lo de volta porque aquilo seria a desgraça final da família. Isso faz você odiar opressão, falta de liberdade e falta de justiça...

Minha mãe... aproveite que você vive no Brasil porque cá fora não
tem essa boquinha da carne não, só se for em churrascaria 

brasileira...
Em outros filmes de Israel notei que o povo de lá parece viver ainda nos anos 70.

Fofocas II

Quando tudo estava estabilizado, açougue andando muito bem com o novo ajudante trabalhador e carregador do pesado, as pessoas chegam para enfernizar a vida do pai de família e acabar com a felicidade dos outros. Começaram a dizer que "todo mundo estava vendo", que eles estavam "em pecado", que aquilo era contra as leis sagradas, e tudo o que você provavelmente conhece ou dá pra desconfiar. Ou seja, que qualidade de vida onde a "polícia" de plantão dos vizinhos se mete na sua vida a esse ponto de ameaçar lhe enxotar do templo e da vida familiar, e ainda tomar-lhe a mulher e os filhos se ele não parasse com "aquilo" ("aquilo" o que, pois era entre quatro paredes muito bem trancadas de cadeado?), só o que eles imaginavam, e querendo mandar o jovem embora, um jovem que provavelmente muitos outros deveriam ter desejos escondidos por ele também...

Nem tudo é tão sombrio em Tel Aviv
Quando seu amigo rabi "comovai" Vaisben (Tzahi Grad), um dos mais velhos da comunidade chega e, cheio de autoridade, pergunta porque é tão difícil para o açougueiro mandar o jovem embora, ele diz que "só agora eu estou vivendo, antes eu estava morto". Leva uma chapoletada do velho que até pra isso ele tem autoridade, de assaltar fisicamente uma pessoa e o outro achar que merece e não revidar. Valha-me.

O velho quis dizer, "sua bicha louca".

Separação II

Mas a "bicha louca" não resolve ir com seu amante, prefere ficar em casa com a mulher, seu cadafalso, onde aí é que ele se dana a rezar que ela faz a pergunta, "por quem você está rezando tanto?". Era pedindo para ele mesmo, para afastar-lhe as ideias de dar cabo da vida que ela não valia à pena e era uma desgraça afinal, a mulher podia ser até razoável, mas era uma morta viva sem vontade nem personalidade, um depósito de esperma, fábrica de crianças. Não tinha culpa, pobre moça... e os filhos? Havia amor? São muitas perguntas...

O lance dos becos é complicado, não acho que eu tenha "entendido"
a mensagem. Aqui Ezri ataca um colega com quem parece já ter tido
algo, mas o outro não quer mais, muito menos em público. Ezri chega
a dar-lhe um desenho de presente que é recusado. Triste dos gays
não correspondidos que se humilham por tão pouco, por uma 

migalha de atenção de outro ser semelhante... depois, ao ler
diversas críticas na internet, fiquei sabendo qu ele retornara 
àquela cidade a fim de reatar com o velho amor, que era o cara
arredio do beco, o qual tinha se curado, digo, se purificado e não 
queria mais brincar daquilo.
A "bicha louca" então parte para se purificar dos pensamentos hereges e contaminados naquela beleza de lago sagrado, e chegando lá, ao mergulhar mangalô 3 vezes, da terceira vez ele não emerge mais... e o filme acaba assim. 

Nem foi feliz com o amor de sua vida, nem o fez feliz, nem ficou feliz, se acovardou tanto que nem sequer foi capaz de manter-se vivo, e muito menos pensou na mulher e no trem de filhos. 

Terrível conclusão de filme, principalmente pra quem tinha tantos deveres. Seu amante, provavelmente, continuou nas ruas sendo escorraçado pelos donos das virtudes divinas, uma vez que ele parecia ter prática com os corredores estreitos, um território famoso no mundo inteiro por portar "gay affairs" (encontros gays). Becos são os melhores lugares para este tipo de amor porque é só o que resta para eles, lugares em que ninguém se envereda por nenhum outro motivo exceto quando estão subindo pelas paredes e loucos por um contato humano desvairado para aliviar a necessidade física...

Difícil de resistir aos prazeres da carne, não é não?
Conclusão

Minha nossa, deu pra escrever isso tudo sobre aquele filme proscrito? Sim, gostei muito do filme.

Principalmente por expor uma das maiores mentiras do mundo, não exatamente envolvendo o relacionamento gay, mas uma vida que deveria ser tolerante e paradisíaca se fosse assim por causa das religiões, mas não é, é justamente o contrário, não é a pior vida possível mas também não é nenhum paraíso, e pode ser pacata em termos diários, mas que lhe matam enquanto indivíduo pensante, original e criativo. Você não pode m...jar fora do tacho, camarada. Já contemplou ser ateu?

Mais carne, por misericórdia! Aproveite que, quando você for pro
céu, lá não tem carne pra comer não...
Aliás, isso é dito para outro destes "rapazes" rebeldes e Mavericks (que fazem o que querem naquele ambiente solapante). Este outro rapaz que não era nem tão novo assim mas era tido como rebelde, Israel, que não obedecia as "leis", era amante de uma mulher da comunidade, mas não podia ser porque ela ia casar num casamento arranjado pela família, que eles também têm destas coisas e não apenas os indianos. 

Eles se encontravam também provavelmente nos fundos da loja dela. Este rapaz recebe uma visita da comitiva dos "cidadãos decentes" da comunidade para dar-lhe uma descompostura e proibir-lhe de continuar sua vida de prostituto indecente, deixar a mulher em paz, que ele diz que ama. Dizem que ali ele não podia fazer o que queria, oxente. Tá pensando o quê? Aqui tem moral, meu fio, tu tem que fazer o que a gente quer, morou? Senão, vai-te pra o diabo que te carregue. Deixa-nos em paz que esta macheza toda, independente e rebelde, mexe muito com a gente e nos desestrutura todinhos. Sai daqui, Satanás! (Esta última parte foi criação minha, claro).

Religiões

Em anos mais recentes, as religiões em todo o mundo têm vindo a diminuir. De acordo com o Washington Post, na década de 1950 aqueles que se identificavam com religião nenhuma eram de cerca de 2 por cento de toda a população. Em 1970, esse percentual cresceu para 7 por cento. Agora, a percentagem aumentou para cerca de 20 por cento da população.

Tudo ou nem tudo está perdido? Parada Gay Pride em Tel Av.
De acordo com o Pew centro de pesquisas, 74 por cento daqueles que não se identificam com uma religião cresceu sem nehuma crença religiosa.

É difícil localizar a origem do problema. Com as novas gerações, parece que religião e fé têm sentado no banco traseiro. Mais crianças estão sendo criadas sem fé nos Estados Unidos do que antes. O declínio da religião remonta à década de 1990, quando a confiança na instituição religiosa tornou-se questionável. O escândalo não é estranho à religião, incluindo escândalos sexuais de líderes da igreja e oposição da igreja ao casamento do mesmo sexo.

Disléxico: Determinado, Sólido, Versátil, Inteligente,
Pioneiro, Excepcional, Brilhante, Criativo!
Dislexia

(*) Disléxicos, portadores de dislexia, do grego Δυσλεξία, dis-distúrbio, lexis palavra) é um transtorno na área da leitura, escrita e soletração, que pode também ser acompanhado de outras dificuldades, como por exemplo, na distinção entre esquerda e direita, na percepção de dimensões (distâncias, espaços, tamanhos e valores), na realização de operações aritméticas (discalculia) e no funcionamento da memória de curta duração. A dislexia costuma ser identificada nas salas de aula durante a alfabetização, sendo comum provocar uma defasagem inicial de aprendizado. Não é uma doença, mas sim uma formação diferenciada do encéfalo que acarreta problemas na aprendizagem escolar, pela dificuldade em decodificar os códigos que lhe são enviados durante os estudos.

Eu diria que a pessoa aprende de formas diferentes das outras, geralmente porque é mais inteligente, mais dinâmica, e não consegue se concentrar em pouca coisa de cada vez, ela vê o tudo, o conjunto, e por isso processa as mensagens de forma diferente, adaptando-as ao contexto geral, ao invés do contexto limitado do jeito como todo mundo aprende, uma coisa de cada vez. Ela aprende muitas coisas ao mesmo tempo, fazendo as ligações em tempo real. 

Mas posso estar errado, claro. Não sou nenhum especialista em coisíssima nenhuma com relação a ciências humanas. Apenas tenho sido um pai... disléxico...

Pontos fortes dos disléxicos:

  • Altamente criativos com frequência
  • Persistentes
  • Podem facilmente captar novos conceitos
  • Enxergam padrões, conexões e semelhanças que os outros não conseguem
  • Excelentea em resolver quebra-cabeças
  • Holísticos: eles vêem a imagem global, não se perdem nos detalhes, a fim de obterem os aspectos realmente importantes
  • Excelente compreensão das histórias lidas ou contadas
  • Fortes habilidades de raciocínio
  • Compreenção de idéias abstratas
  • Inclinação para pensarem fora do padrão

Sou disléxico?

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