quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Chão de Estrelas

Esta é talvez a expressão mais bela que tenho na minha mente com relação a ser brasileiro. 

Trata-se de ver poesia até debaixo d'água.

Até debaixo da maior desgraça, que no caso é ver a felicidade através das frestas do telhado de um barracão numa favela, no meio da miséria (de antes das pacificações), e ainda sonhar com a felicidade, uma característica que talvez só os brasileiros sejam capazes de esboçar, ser feliz de qualquer jeito.

São aquelas mesmas pessoas que anualmente se fantasiam de reis, rainhas e artistas, protagonizando o maior espetáculo da terra que é o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro (e agora em outras capitais), pessoas pobres, trabalhadores sofridos que moram nos arrabaldes das cidades grandes brasileiras, os desprivilegiados.

Imagine você enxergar poesia e beleza naquelas condições de miséria morando num barraco, um mocambo, cujos furos no teto de lata que lhe enchem de goteiras na chuva, projetam fiapos de luzes obtidas da escuridão da noite, por intermédio da luz da lua, e imaginar que você está rodeado e pisando nas estrelas. Você seria capaz de inventar tanta beleza?

Ala Almirante Pop da Escola de Samba Mocidade Indepedente, Rio,
2013, em homenagem ao time de futebol Vasco da Gama
Chão de Estrelas sempre foi uma das minhas músicas prediletas e mais inspiradoras desde que me entendo de gente. Trata-se da obra prima de Orestes Barbosa, que possui o verso mais belo "Tu pisavas os astros distraída...", disse o poeta Manoel Bandeira em 1956. O poema representa a sensualidade e o conflito entre o homem emocional e o homem combativo.

Música com tendências misoginistas "A ventura desta vida é a cabrocha... (mulata jovem, viçosa e feliz)", o que significa que mulheres não têm direito a esta ventura se não forem lésbicas, ela tem sido cantada por muitas mulheres (Elizeth Cardoso, Maria Betânia, Maysa) que provavelmente aceitam o "cabrochismo" machista como normal.

As Leoas do Samba, cabrochas da Escola Imperadores do Samba
O par cabrocha e malandro tem povoado o imaginário brasileiro como casal padrão nacional assim como o baião de dois (arroz com feijão) representa a refeição básica da população brasileira em geral, principalmente por ser barata. Representar um padrão não significa representar a todos.

Ao ouvir de novo a pomba-rola a cantar do lado de fora de nossa varanda, o som me transportou no tempo e na nostalgia da vida no Brasil, e desta vez me veio à mente um verso desta música, uma das minhas mais queridas músicas de todos os tempos, "Da mulher pomba-rola que voou...".

Como pode esta música ser minha querida, se nunca vivi numa favela? Bem, nunca vivi, mas já visitei para saber o que ela significa na vida de muita gente, além do que para a arte e a beleza, não interessa onde elas estão ou quem as criou, elas são patrimônio da humanidade.


Favela de Kolu Kaen, na Tailândia
Vivendo num país sem favelas por tanto tempo, confesso que desenvolvi uma atracão por grandes conglomerados de gente. A vida é assim, a gente sempre deseja a grama do vizinho que é mais verde. Vivendo no Brasil, para mim o sonho era viver numa cidade com Washington com aqueles parques infinitos. Vivendo em cidades australianas que possuem tais parques me dão uma saudade louca das grandes aglomeracões brasileiras, principalmente as favelas, as quais visito via internet no mundo inteiro. Elas possuem uma mágica, e eu diria que a mágica são as pessoas, muitas pessoas, juntinhas. Deve ser por isso que favelas encantam tantos os estrangeiros.

Cabrocha e Malandro, Raíssa de Oliveira e Neguinho da Beija-Flor.
Chamá-lo por seu nome de Neguinho é preconceito?
É uma prova do quanto todos nós somos belos por dentro, mesmo que a vida transforme algumas pessoas momentaneamente em demônios.

Demônios como Pablo Escobar, o maior traficante de drogas colombiano, personificado pelo ator Warner Moura como numa continuação da série Tropa de Elite, quando no final do segundo filme seu personagem pressagia que, dali em diante, o buraco é mais embaixo, e a corrupção envolve governos e elites nacionais e internacionais, muito mais difícil de serem retratadas num filme, principalmente no próprio país acometido deste mal. 

Pablo Escobar, por Mario, el patron del mal
Portanto, foram retratar a situação histórica e verdadeira da Colômbia como exemplo. Estou assistindo a esta série e vou no décimo episódio pela Netflix, dirigida por José Padilha. A saga de um homem que assassinava todo mundo a sangue frio, mas tinha uma imensa ternura por sua família. 

Mais um exemplo de até onde vai a psicopatia e a mesquinheza de certas pessoas milionárias quando, ao terem algum dinheiro desviado por seus comparsas, os assassinam com requintes cruéis de torturas. 

Como se pode dividir as pessoas em dois tipos, família e estranhos de uma forma tão oposta? Psicopatia me parece um termo adequado...

O filme é um banho de Espanhól colombiano.

Mas não tem agente do mal que apague a beleza de ser feliz.

Chão de Estrelas
Sílvio Caldas e Orestes Barbosa

Como uma pessoa feliz vê uma janela de barraco...
Minha vida era um palco iluminado
E eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões

Cheio dos guisos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações

Meu barracão lá no morro do salgueiro
Tinha um cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou

E hoje quando do sol a claridade
Cobre meu barracão sinto saudade 
Da mulher pomba-rola que voou

... pisavas nos astros destraída...
Nossas roupas comuns dependuradas
Nas cordas qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival

Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco
E a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão

E tu, tu pisavas nos astros distraída 
Sem saber que a ventura dessa vida
É a cabrocha, o luar e o violão

Agora minha versão livre em Inglês, só pra dar uma ideia, sem rima.

Starry Floors

My life was like in a lit stage
I used to dress golden garments
Like a clown of the lost delusions

Tired with the false handcuffs of joy
I walked singing my fantasy
Among the clapping fever of hearts

My miserable shed in Salgueiro hills
Was like a happy singing cage
Before you sent that sound away

And now when the sun in the morning shines
Covers my shed with missing feelings
Of the turtledove women who flew away

Our common clothes usually hanging
In the wires like waiving flags
Looked like an exquisite festival

A feast or our colored hanging rags
Showing that in those poorly dressed hills
It's always like a never ending public holiday

The shed's door had no locker
And the moonlight across our zinc
Sparged stars all over the floor

Distracted you stepped in those silver stars
Not knowing that the venture of life
Is simply a brunette, a moonlight and a guitar

Pisando nas estrelas como a cabrocha pomba-rola
Starpath

Traduzido como Chão de Estrelas, ele aparece na vida real através do novo produto da Pro-Teq Surfacing UK Ltd que pavimenta um parque em Cambridge, Inglaterra. O material espuma de poliuretano elastomérico do pavimento é alimentado a energia solar e brilha durante a noite, tornando desnecessária a iluminação dos parques e economizando nos custos com energia.

Poliuretano (denominado pela sigla PU) é um polímero que tem memória elastomérica, isto é, ele pode ser tencionado mesmo com altas durezas a um alongamento significante e retornar à sua dimensão original.

http://www.pro-teqsurfacing.com/press-release/

Neste site tem um vídeo em Inglês sobre a aplicação do produto. Atente para o impecável Inglês que todo mundo entende.

http://www.homesandhues.com/STARPATH-Glow-in-the-Dark-Pathways/

Tatuagem

Se você ainda insiste em ser contra os gays, pule pro próximo post. No filme pernambucano Tatuagem, de Hilton Lacerda, Chão de Estrelas é o nome da casa de espetáculos gays. Ainda não assisti ao filme todo, mas parece coisa séria, apesar do deboche característico dos gays. Veja o trailler aqui:


Do site http://soulart.org/cinema/tatuagem/ extraí que o filme abrange "as novas configurações de família, a maconha, a recepção da imprensa, o confronto com o poder, o desbunde, o intelectuais cheios de ideias fora de lugar."

O enredo gira em torno dos jovens dos anos 70 em Recife, e toca num ponto nevráugico da cultura nacional ao inserir na repressão militar os espetáculos da contra-cultura que a desafiavam ao retratarem a estória de um soldado seduzido pela trupe do grupo Vivencial.

Originais Dzi Croquettes no Teatro Vivencial
Diversiones
"Tatuagem estabelece um diálogo explicito com o Cinema Novo (que está lá atrás, e que é matriz, pois está obviamente muito adiante do que está sendo feito). Parodicamente, um falso Glauber e uma falsa Glauce/Gláucia aparecem na plateia do espetáculo. Mas muitas são as referências que se sobrepõem: a vida em comunidade (à la Novos Baianos), o papo-cabeça dos intelectuais de esquerda, a mistura tropicalista. Principalmente, por focar o “teatro”, está dionisiacamente projetada no protagonista a figura de Zé Celso, fazendo com que possamos ver no Chão de Estrelas o sol do Teatro Oficina. Está ali também Dzi Croquettes, a produção marginal da Boca do Lixo, e está tudo de melhor que anda vindo de Pernambuco."

No filme, Chão de Estrelas é "um grupo/teatro que no Recife dos anos de chumbo da ditadura cria espetáculos com transgressões, travestismo, nudez e iluminados discursos intelectuais de resistência (da arte) e libertação (à opressão do regime, dos costumes e das ideias)", provavelmente o Vivencial Diversiones.

O filme "Tatuagem vai ao teatro para mostrar o cinema e põe no centro o gueto, afastando-se da estética e da televisão – onde atores replicam cacoetes de interpretação, num realismo constrangedor de reclame publicitário. Um Brasil que não se mostra ao grande público, e por isso é perseguido: pela sua potência libertária, subversiva. A história de gente que entregou-se à utopia de realizar Arte num país fechado, tacanho, reacionário."

Dedicado aos jovens de hoje que acham que podem tudo, não têm a menor noção do que é repressão e ainda clamam pelo retorno dos militares ao poder.

Asa Branca

Pesquisando mais na internet, descobri que o canto do pássaro que ouço na vizinhanca de Sydney se parece mais com o de uma pomba asa branca! Asa branca na Austrália!

E agora 3 pérolas para enriquecer o seu humor.

Pérola é uma ferida. Foto do site
http://www.clipperpearls.com.au/products.html
Pérolas

Pérolas são produtos da dor, resultados da entrada de uma substância estranha ou indesejável no interior das ostras, como um parasita ou um grão de areia. Na parte interna da concha é encontrada uma substância chamada nácar. Quando o grão de areia penetra as células do nácar, estas começam a trabalhar e a cobrir o grão com camadas para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, uma linda pérola vai se formando ali no seu interior.

Uma ostra que nunca foi ferida nunca vai produzir pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada. Em outras palavras, suas feridas são pérolas.

Sentimentos em ondas cerebrais que valem pérolas
Já se sentiu ferido pelas palavras rudes de alguém? Já foi acusado de ter dito coisas que não disse? As suas ideias já foram rejeitadas ou mal interpretadas? Já sentiu duros golpes de preconceito? Já recebeu o troco da indiferença? Então, você já produziu uma Pérola!!

Cubra suas mágoas com várias camadas de amor. Infelizmente, são poucas as pessoas que se interessam por esse tipo de sentimento. A maioria aprende apenas a cultivar ressentimentos, deixando as feridas abertas, alimentando-as com sentimentos pequenos, não permitindo que cicatrizem. Assim, na prática, o que vemos são muitas 'ostras vazias', não porque não tenham sido feridas, mas porque não souberam transformar a dor em pérolas, incapazes de perdoar, compreender e transformar a dor em amor.

Texto reproduzido da página inspirada da bruxinha marinheira a seguir:

http://umjeitoqueesoseu.blogspot.com.au/2007/08/serei-prola.html

Casinha de Sapê
Tim Maia

Casinha de sapê, de Idalina Masson
Não estou disposto
A esquecer seu rosto de vez
E acho que é tão normal
Dizem que eu sou louco
Por eu ter um gosto assim
Gostar de quem não gosta de mim

Jogue suas mãos para o céu
Agradeça se acaso tiver
Alguém que você gostaria que
Estivesse sempre com você
Na rua, na chuva, na fazenda

Ou numa casinha de sapê

Thatched Little House

As pessoas não sabem que são doidas. Eu sei que sou
doido, então eu não sou doido. Isso não é doido?
I am not in the mood
To forget your face at all
I think it's a lot normal
But they say I am crazy
Because I have this taste
Of liking who dislikes me

Raise your hands up to heaven
And be grateful if you have
Someone who you would appreciate
Being always by your side
In the street, in the rain, in the farm


Or in a humble thatched house

Kid Abelha - Na Rua, Na Chuva Na Fazenda (Casinha De Sapê) com Lenine

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