domingo, 22 de março de 2015

Eu Odeeeeeeio!

Minha mulher conseguiu falar com uma prima no Brasil depois de algum tempo sem conseguir através de telefone. Somos radicais e só usamos email ou telefone, já que carta nem o correio quer entregar mais.

Mal começaram a conversar e ela se saiu com esta frase de arrepiar os cabelos: 

"Eu odeeeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiio Dilma!"
Repita o rosário comigo

Minha mulher tentou descobrir porque ela odiava, então ela desfiou o rosário de todos os classes-médias tradicionais brasileiros que repetem sempre o mesmo refrão. "É a corrupção, é a aposentadoria sendo postergada..." minha mulher falou, "tu já é aposentada, mulher". E tudo o que ela falava, minha mulher rebatia com sabedoria até que ela resolveu se calar, sorrir, e começaram a conversar como antigamente. Passara o ódio momentaneamente.

Ora, esta prima é classe média alta, mora em condomínio fechado. Minha mulher disse "tu é rica, mulher", ela arrebatou, "não sou rica coisa nenhuma", mas não teve como provar que não era. Nem mesmo um carro velho ela tem no fundo do quintal pra dar de exemplo, um prato rachado ou uma toalha desfiada.

Deixa pra lá, mas quando minha mulher me contou, fiquei chocado porque conheço a pessoa, alguém que sempre esteve de muito bom humor, a organizadora das inúmeras festas anuais da família, uma pessoa de alto astral que levanta qualquer um que esteja alquebrado e sentindo-se em direção à depressão. Como é que até ela caiu neste mal humor coletivo? Ela não tem nem motivos, e achou de "importar" os motivos que vê os outros falarem. Velhice chegando e ela virando rabugenta, mas não é só isso.

Pois bem, é assim que está todo mundo de certas classes neste país nestes dias, velho e rabugento, querendo um absurdo "impeachment" de uma presidenta que não fez nada de errado, querendo até a volta dos militares, rogando para eles "salvarem" o povo. Está uma salada por demais analfabeta, só mesmo assim dizendo.

Dando meus passeios nas notícias internacionais fui cair num artigo em Inglês que me surpreendeu mais pela fonte do que pelo conteúdo. E agora minha mulher me enviou outra reportagem ainda mais surpreendente. Ambas foram publicadas pela Folha de São Paulo, uma em Inglês, cuja página é grátis, e outra em Português, que exige cadastramento ou assinatura...

[Oh! Ao tentar acessar a página em Português uma semana depois, fui agraciado com a permissão positiva. Perdi meu tempo traduzindo, mas foi bom porque decorei. Aqui está ela, tem mais informação lá: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603286-protestos-contra-o-governo-reune-quase-1-milhao-pelo-pais.shtml]

Viva a Folha

Cadastre-se, me diga nome, endereço, telefone, marca da cueca
Fiquei com uma pulga atrás da orelha. Porque é que a Folha agora resolveu defender Dilma de repente? Siga a trilha do dinheiro, diriam meus conselheiros, então vou logo desconfiando que o artigo em Inglês é para nos atrair, e quando queremos acessar o mesmo artigo em Português através de um link na própria página para divulgar, não podemos porque temos que nos cadastrar ou assinar pagando dinheirinho.

Bem, me recuso a sair me cadastrando por aí, não quero ninguém com meus dados de graça assim não, sem necessidade, que me perdoem, o que eu puder fazer pra dificultar, estou fazendo, mas sei que estou com meus dias contados, não poderemos lutar contra os invasores de privacidade que querem ficar donos da nossa vida como Deus. Assinar então, isso é coisa do passado. A internet ainda oferece 500% mais informação de graça do que os jornais brasileiros de rabo preso, nos quais não se pode confiar.

Mas diante de trabalho tão bem feito nestes últimos dias, sou capaz de pensar realmente em assinar a Folha... vamos pra frente pra ver se continua desse jeito, daí valeria à pena.

http://www.insightinteligencia.com.br/65/PDFs/pdf1.pdf
http://www.cartacapital.com.br/revista/807/a-burguesia-rejeita-
dilma-8009.html
Que outro interesse haveria de ter a Folha em virar a casaca de repente? Descobrir quem são os leitores para estes novos tipos de artigos que ela nunca escreveu pra ver se eles pagam mais do que os idiotas cabeça feita de cérebro lavado? Verdade que a Folha nunca foi das piores... 

Ou então pegar quem está propagando tais notícias boas a fim de processá-los por pirataria? Alguma coisa ruim tem que estar escondida por trás deste novo apoio deste órgão de mídia a Dilma.

Será que Dilma deu uns milhõezinhos roubados pelos Petralhas pra Folha falar bem dela? Este é o raciocínio "lógico" atual da sociedade brasileira, um raciocínio que contaminou todo mundo. Quando era para as pessoas pensarem assim, elas não pensavam, agora que justamente não é para pensar mais pois tudo mudou, é que elas estão pensando. É tudo meio atrasado e meio fora de tempo no meio da sociedade brasileira que custa a se adatar às novidades, são gerações de atrasos.

Então, para quem não viu, aqui estão os dois artigos positivos (mas que milagre, justiça seja feita, Amén).

Comecemos com esta reportagem sinistra da Globo, o prenúncio da reviravolta na mídia. Ah, lembrei: será que Dilma ameaçou acabar com a imprensa livre?

Juristas Comentam Pedidos de Impeachment e de Intervenção Militar, e aqui eles dizem porque é tudo contra lei e não tem o menor sentido:

http://globotv.globo.com/rede-globo/bom-dia-brasil/v/juristas-comentam-pedidos-de-impeachment-e-de-intervencao-militar/4037681/

Análise: Protestos Foram Carreados por Ricos Mas Podem Ganhar Apoio dos Pobres Brevemente, em Inglês:

http://www1.folha.uol.com.br/internacional/en/brazil/2015/03/1603505-analysis-protests-were-made-by-the-rich-but-could-gain-support-of-the-poor-soon.shtml

Em Português:

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603286-protestos-contra-o-governo-reune-quase-1-milhao-pelo-pais.shtml

Dilma, A Hora É Agora

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ricardomelo/2015/03/1603377-dilma-a-hora-e-agora.shtml

E aí, gostaram? 

Ok, tá bom, vou traduzir e reproduzir aqui para vocês estes trabalhos impecáveis. Afinal, se tirarem do ar por arrependimento, ainda restará uma chance de ler por aqui.

Primeira Reportagem

A primeira reportagem não posso reproduzir pois é vídeo.

Segunda Reportagem

Só uma dica, ao ler o artigo abaixo, é preciso exercer um pouco de bom senso inteligente a fim de identificar-se as sátiras e ironias não óbvias.

Nearly One Million People Protest Against the Government in Brazil
Those who took to the streets in São Paulo seemed to be more representative of the rich class, of the less than 15% of the families who make over US$ 1,077 a month in Brazil (only 5% earn more than US$ 2,154).
Quase Um Milhão de Pessoas Protestam Contra o Governo no Brasil

Aqueles que tomaram as ruas em São Paulo pareciam ser mais representativos da classe rica, dos menos de 15% das famílias que ganham mais de US$ 1.077 por mês no Brasil (apenas 5% ganham mais de US $ 2.154).
The protesters main demand was the impeachment of President Rousseff; they also accused the PT of being responsible for the corruption at Petrobras.
The other 80% make much less than that, below US$ 1,077 per month. Not many of them seem to have attended the protests.
A demanda principal dos manifestantes era o impeachment da presidente Dilma Rousseff; eles também acusavam o PT de ser responsável pela corrupção na Petrobras.

Os outros 80% fazem muito menos dinheiro do que isso, abaixo de US$ 1.077 por mês. Não muitos daqueles parecem ter ido aos protestos.
It was clearly a protest of a rich, well tended Brazil, similar to what we see in protests in developed countries or during international arrivals. The poor and toothless, apparently, did not go.
The richer Brazilians who live in big urban centers have reasons to complain. They earned less (proportionally) during the PT administrations.
In the ten years prior to the middle of Rousseff's first administration, the per capita revenue (discounting inflation) among the poorest 10% rose 70%. Among the richest 10% (the recent protesters), the increase was only 12.6%.

Era claramente um protesto do Brasil rico e bem cuidado, similar ao que vemos protestar em países desenvolvidos ou durante recepções internacionais. O pobre e desdentado, aparentemente, não foi. [Minha nota: "pobre e desdentado" é uma expressão bem brasileira, tornando óbvio que quem escreveu foi um brasileiro]

Os brasileiros mais ricos que vivem em grandes centros urbanos têm razões para se queixarem. Eles ganharam menos (proporcionalmente) durante os governos do PT.

Dos dez anos anteriores até o meio da primeira administração de Dilma Rousseff, a receita per capita (descontada a inflação) entre os 10% mais pobres aumentou 70%. Entre os 10% mais ricos (os manifestantes recentes), o aumento foi de apenas 12,6%...
The latter also have been under the greatest pressure in recent years due to a continuous inflation of services. Those services range from housekeepers to parking in the middle-class Vila Madalena neighborhood, as well as private schools and health insurance.
Among the poorest, not only income has risen much quicker. Social assintance programs such as "Bolsa Família", "Minha Casa, Minha Vida" and "Luz para Todos" have proliferated. That has guaranteed victories for the PT in the past two elections due to the preponderant results in the poor northeastern region.
Estes últimos também têm estado sob pressão maior nos últimos anos devido a uma inflação contínua nos serviços. Esses serviços vão desde os donos de estacionamento no bairro de classe média de Vila Madalena, bem como as escolas privadas até os seguros de saúde.

http://www.conversaafiada.com.br/pig/2014/11/22/
dilma-desmoraliza-veja-de-novo/
Entre os mais pobres, não só a renda aumentou muito mais rápido. Os programas sociais de assistência como "Bolsa Família", "Minha Casa, Minha Vida" e "Luz para Todos" têm proliferado. Isso garantiu vitórias para o PT nas últimas duas eleições devido aos resultados preponderantes na pobre região nordeste.
The richest classes, concentrated in the South and Southeast, have replied sharply with the reelection of São Paulo Gov. Geraldo Alckmin in the first round of the 2014 election, despite the water shortage crisis. And now, with this kind of protest, sparked by corruption.
But although the poor classes didn't attend en masse this time, they are still the majority in Brazil. And, for the first time in many years, they are starting to fall behind.
The latest IBGE data show that the poorest 10% have had a big decline since 2013. Their income rose only 2.1% in 2013, half of the national average and well below that of the richest 10% (4.4%). The decline in the pace of improvement for the poor is brutal. One year earlier, their income had risen 9.2%.
If the scenario continues, the rich will certainly gain the reinforcement of the poor in the streets in the coming months.

As classes mais ricas, concentradas nas regiões Sul e Sudeste, responderam afiadamente com a reeleição do Governador Geraldo Alckmin em São Paulo no primeiro turno da eleição de 2014, apesar da crise de escassez de água. E agora também, com este tipo de protesto provocado pela corrupção.

Mas, embora as classes pobres não tenham comparecido em massa desta vez, eles ainda são a maioria no Brasil. E, pela primeira vez em muitos anos, eles estão começando a ficar para trás.

Os últimos dados do IBGE mostram que os 10% mais pobres tiveram um grande declínio desde 2013. Sua renda aumentou apenas 2,1% em 2013, metade da média nacional e bem inferior aos 10% mais ricos (4,4%). A queda no ritmo de melhoria para os pobres é brutal. Um ano antes, seus rendimentos haviam subido 9,2%.

Se o cenário continuar, os ricos certamente vão ganhar o reforço dos pobres nas ruas, nos próximos meses .

Traduzido por Thomas Muello

Read the article in the original language
Leia o artigo na língua original

http://www1.folha.uol.com.br/internacional/en/brazil/2015/03/1603485-nearly-one-million-people-protest-against-the-government-in-brazil.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1603286-protestos-contra-o-governo-reune-quase-1-milhao-pelo-pais.shtml

Terceira Reportagem

Dilma, A Hora É Agora

Atenção, as ilustrações aqui são da internet e não são as mesmas da Folha.

Por Ricardo Melo, Folha de São Paulo, 16 de março de 2015

Manifestações deste domingo apontam o caminho para a presidente não virar um Sarney de saias

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ricardomelo/2015/03/1603377-dilma-a-hora-e-agora.shtml

Tão equivocado quanto subestimar o impacto das recentes manifestações é ceder à histeria relembrando golpe de 1964, suicídio de Getúlio Vargas, impeachment de Collor etc.

Teve gente que foi mais longe: desastre como juiz, o advogado Joaquim Barbosa mostrou-se um fiasco também como historiador. Traçou paralelos com a Revolução Francesa, quando qualquer ginasiano associaria o período ao da reação thermidoriana. Cair nestas armadilhas tem a mesma inteligência de acreditar na "espontaneidade" das manifestações deste domingo (15).

Sem falar da Guerra Fria, a situação de 1964 era totalmente distinta. Perto do governo Goulart, o programa atual de Dilma Rousseff soa como ópera para o establishment. Jango defendia, ao menos em palavras, a reforma agrária, tinha aliados como as Ligas Camponesas de Francisco Julião, pregava aumento de salários e endossava a estatização de multinacionais. Coisas de deixar qualquer grande empresário, na cidade e no campo, apavorado, ainda mais com a efervescência na área militar.

http://www.blogdilmabr.com/e-com-a-democracia-que-se-
vencera-o-odio-e-o-golpismo-afirma-dilma/
Hoje a elite está mais perdida que cachorro em dia de mudança. "O governo petista é uma quadrilha de ladrões. Abaixo a corrupção." Aí, quando se examinam nomes envolvidos, aparecem Camargo Corrêa, Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão e gente que divide a mesa ao lado em caros restaurantes. Ou Pedro Barusco e Alberto Youssef, ladrões confessos. (Curioso: até agora não se encontrou uma conta verdadeiramente milionária assinada por figurões do PT. Até agora.)

Conta pra mim, porque o assunto é mesmo de polícia. Vamos à lista do HSBC. Entre traficantes, criminosos e sonegadores contumazes, surgem sobrenomes da fina flor do capitalismo tropical. São culpados? Inocentes? A Justiça que decida. A da Suíça, provavelmente, porque a brasileira adora esconder papéis e trocar gavetas. "Bem, mas tem o pessoal do PSDB e PSB para nos salvar." Risos. Eduardo Campos, Sérgio Guerra, Anastasia, Aécioportos, trensalão, Metrô paulista etc. dispensam comentários.

Os banqueiros, esses, então, assistem a tudo de camarote. Instalaram um representante no Ministério da Fazenda que festeja o corte de direitos trabalhistas, vibra com a alta de juros e faz pouco das políticas sociais. Ano após ano, os lucros dessa turma engordam enquanto a indústria local definha. Por que diabos a banca iria querer trocar de presidente?

Aí chegamos ao Parlamento. Os presidentes das duas casas aparecem na mira da Operação Lava Jato. Ambos fazem parte da linha sucessória. E os dois são da "base aliada". Estão com Dilma, mas também contra ela - o sinal positivo ou negativo depende da proximidade do cadafalso. Escolha em quem confiar.

Em momento de rara sinceridade, a presidente afirmou no último dia 12: "Esgotamos todos os nossos recursos de combater a crise que começou em 2009 [...] Trouxemos para as contas públicas e o Orçamento da fiscal da União os problemas que, de outra forma, recairiam sobre a sociedade, os trabalhadores."

Fez muito bem. Usou dinheiro social para salvar milhões de famílias da fome, assegurar empregos e impedir que o Brasil virasse uma Grécia ou Europa em decomposição. E, veja só, deixou os ricos ainda mais ricos!

O problema é daqui pra frente. Ou bem o governo adota uma linha obrigando os milionários a dividir o custo da crise que eles mesmos criaram e avança no projeto da Constituinte ou bem vai passar quatro anos num processo de sarneyzação, como assinalou o filósofo Marcos Nobre em artigo recente.

Quanto a impeachment, Dilma fique tranquila. O pessoal de cima pode querer muita coisa, menos mexer num vespeiro em que é quase impossível achar inocentes. Basta ver quem são os bastiões do pedido oficial. Um é Paulinho "Tequila" da Força, do SD, que abriga em suas fileiras gente como Sérgio Argôlo, queridinho de Alberto Youssef. O outro é o "democrata armado" Jair Bolsonaro, do PP - partido campeão em acusados na Lava Jato. 

Minha Nota

Folha e Globo estão de parabéns aqui nesta página. Ah, como eu gostaria de falar isso mais e mais vezes...

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