segunda-feira, 23 de março de 2015

Ópera Bufa II

Segundo Vídeo

Por Favor, Chame o Alto Comando


Sinceramente, essa turma de repórteres da revista Trip é classe "A".

Entre as primeiras cenas, um homem com cara de garoto sem barba, branco, portando faixa dizendo "Military intervention now! SOS ONU (Intercenção Militar - Nações Unidas, Socorro)", na frente de um batalhão de militares jovens impassíveis enquanto esbraveja frases. Quando acha que acabou a filmagem, sai de fininho como menino travesso encabulado dos policiais.

Revista Trip publicou: Tanques de guerra em Brasília? A Trip passou o 15 de março na cola de quem quer intervenção militar. Para essa ala, impeachment é pouco e um ex-agente do Dops é celebridade. Pessoas repetindo um líder num microfone rezando o Pai Nosso de mãos dadas para o alto e no final dizendo "livra-nos do mal... e do PT, Amén, ééhhhhh!". O logo da Trip está em todas as imagens.

Trip é uma revista de surfistas, a qual foi a primeira a publicar o beijo entre dois homens surfistas gays em sua famosa capa. Mas que reviravolta é essa? Não se tomarmos como um vídeo de espetáculo, para divertir, que não é coisa séria, o que estas passeatas não são mesmo.

Como disse minha amiga, realmente eu achei esses vídeos imperdíveis. A seleção foi perfeita. É exatamente o que você falou, foram editados de maneira crítica, para mostrar o quão ridículo é um movimento onde nem quem participa se entende.

Enquanto isso, no metrô...
Refrão: "Ei, Dilma, vá tomar no c..."

Loiro careca estilo urso gordinho de cavanhaque, portando cartaz muito bem impresso (importado da América?) dizendo "Socorro FFAA, Intervenção Militar Constitucional Já, ou viver a pátria livre ou morrer pelo Brasil" dentro do metrô cercado de gente fotografando e vestida de verde-e-amarelo. Mais do cartaz: "For Constitutional Military Intervention" em Inglês que é para sair no exterior, "Be a free country, or die for Brasil, Help FFAA".

Convenhamos, preso ele jamais será por esta diatribe, ao contrário dos ativistas da época dos militares. Acho que alguma coisa mudou no Brasil.

É muito interessante como de repente o brasileiro achou de fazer os cartazes agora em Inglês, eles mal sabendo a língua, ou melhor, só quem sabe são os riquinhos, e são eles que estão fazendo as cenas para serem televisionadas e mostradas no exterior conforme eles acham que a mídia internacional vai mostrar e acreditar. Tudo trata-se de uma grande cena mesmo, de acordo com a globalização, mas sem que o povo saiba, coitadinho. Isso é maldade, judiação.

Junte-se a isso a verdadeira onda massificadora da contratação de repórteres brasileiros para escreverem artigos nos melhores jornais do mundo sob o ponto de vista brasileiro, que é totalmente contaminado e comprometido, ao contrário de ser imparcial como deveria realmente ser o jornalismo mundial, eles achando que brasileiros sabem falar melhor sobre o que está acontecendo porque conhecem a cultura, uma vez que eles mesmo não entendem patavina. 

E os brasileiros deitam e rolam dizendo, tá vendo? Aqui quem manda sou eu, eu digo o que quero, e os estrangeiros engolem tudo como se fosse verdade. Eles não tem a menor cancha de virem discutir comigo, mesmo que eu fale um monte de asneiras, todas comprometidas, sou o máximo e eles não sabem disso então reproduzem tudo do jeito que eu digo e pronto. Brinque comigo.

Tenho falado tanto sobre isso que vou começar a tomar notas e fazer uma lista.

O projeto de punk que, mais de perto, não é louro mas oxigenado, com tatuagem no braço, fala para acabar com todos os partidos do país. "Eu não sou bandido, não sou maconheiro", com se todo partidário do PT fosse. Apesar da aparência de cara brabo, a voz era macia como uma garota, nada parecida com a de um revolucionário de "mermo".

Herói nacional, candidato ao trono do capitão Nascimento (do filme
Tropa de Elite)
Uma mulher que parece mais uma das que agora estão chamando de "vadias" modernas (me desculpe, é só aparência), dizendo, "é o maior prazer receber o herói nacional de 1964, o Dr. Carlos Alberto Augusto, vulgo carteira-preta, ex-agente do Dops". A mulher fala com sotaque de apresentadora de TV ou artista de teatro cansada de guerra, claramente tendo experiência com as câmeras. "Carlinhos Metralha foi o apelido que os comunistas me deram porque me 'respeitam' até hoje", diz o personagem portando chapéu estilo capacete militar da primeira guerra mundial e um cartaz dizendo "quero ser ouvido pela omissão da verdade". "Me infitrei na organizacão terrorista VPR, conheci de perto alguns dos delinquentes que estão aí, não metralhei porque não tive essa oportunidade, se eu tivesse, fazia com o maior prazer".

Trio elétrico não deve ter cobrado...
Pode uma coisa destas? Liberdade de expressão, minha gente, e ninguém vai preso pro isso, mas falar um absurdo destes em público? Metralhar não é a mesma coisa que Petralhar.

Uma voz num microfone em cima de um palanque móvel estilo trio elétrico num caminhão escrito "Apoio Incondicional ao Exército Brasileiro" fala "porque eles querem impor ao Brasil um governo comunista com terrorismo de estado".

Então começa-se a gritar, "hino nacional" e o povo entra em êxtase bonitinho, e começa a cantoria. A câmera mostra em close uma mão estendida para frente como os nazistas faziam. Em cima de outro caminhão, este um trio elétrico de verdade, um sujeito berra "eu fui cara-pintada" e está pintado de novo. Trata-se de Fábio Pereira Simão, conforme legenda do vídeo, manifestante pró-intervenção. "Eu lutei pela saída do Collor, mudou alguma coisa? Nãaaaaoô!"

Ooooódio!
Se ele fosse um favelado, haveria de ter mudado.

Cena mostrando o herói brasileiro ladeado de duas louras, esposa e filha? Mulher parecendo "vadia" posando com o herói pra tirar fotos, com caras e bocas. O cara do palanque esbraveja como um possesso, "queremos pedir tanques de guerra em Brasília" (claro, bem longe dele em São Paulo, né?)

Cena agora mostra um grande cartaz de 3 metros dizendo "Linha sucessória presidencial, o impeachement resolveria mesmo? 1. Michel Temer - PMDB, Vice Presidente, 2. Eduardo Cunha - PMDB, Presidente da Câmara, 3. Renan Calheiros - PMDB, Presidente do Senado, 4. Ricardo Lewandowski, Presidente do STF. Ronaldo Brasileiro pergunta: "Qual deles é o melhor do que a atual 'presidenta'? Precisamos da INTERVENCÃO CONSTITUCIONAL ou os bandidos vão fazer a festa. Movimento #Alô Brasil, Acorda!"

Mulher fala "quero que as forças armadas vão tomar no c... é porque eles nunca tiveram um parente preso", indignada. Junto com ela, algumas garodas começam a vaiar o cara no palanque. Um rapazinho bonitão risonho, louro, fala "elas estão confundindo qual o propósito da passeata... porque tem muita gente bonita, as meninas são lindas, e... vamos aproveitar, cara". 

Cara em clima de carnaval, com bebida e tudo, gritando "olha o coxinha", sendo ele o próprio coxinha, em cima de uma caminhonete, "acabou o PT, acabou, vai embora, vai embora", em gestos largos.

Olha o coxinha... em clima de carnaval
Casal se prepara para tomada, sob o fundo sonoro de uma marcha militar sendo cantada, levanta os cartazes muito bem impressos, coloridos e com fotos, escritos "Fora Comunismo, Fora Impostos Destrutivos", então ambos sorriem para as câmeras.

Cena mostrando os pés do herói nacional marchando parado ao som da marcha militar na beira do meio-fio da calçada junto com mais um bando de gente que pelo menos não marcha com ele. No final, já anoitecendo, o herói fala "aviso para o povo que está escutando que foram mais de 800 'selfies' nesta tarde..." (olha os valores dele) enquanto um sujeito com jeito de punk descobre que finalmente vai ser filmado, pára, e faz continência para a câmera, usando um boné padrão camuflagem, daí começa a falar "Ajuda, vamos tirar os bandidos do poder" com voz rouca e quase afônico. "Não é só Dilma, são todôs, todôs, chegáh, bastáh". Daí ele se cala, fecha a boca e continua posando. Num vislumbre de seus olhos sob o boné dá pra notar que o que parecia um soldado trata-se de mais um garoto classe média alta.

Famosa foto da revista de surfistas Trip, a primeira a ousar tal coisa
no Brasil.
O cara estava na frente do Comando Militar do Sudeste, SP, em frente a uma grade com espirais de arame farpado em cima, daquelas que dão cipoadas mortais se cortadas, daí ele continua, desta vez virado para dentro do comando: "Ei..., pedimos ajuda..., por favor... chame... o alto comando". Ele pára pra pensar sobre o que vai dizer, faz continência, dá meia volta e vai embora, a câmera mostra suas costas cobertas por uma bandeira brasileira lustrosa que vai até os pés, o próprio artista que só estava esperando sua vez de sair nas câmeras. Missão cumprida.

A câmera então mostra quem estava escutando ele do lado de dentro do comando: um soldado de plantão lá no fundo, dentro de uma pequena guarita, tudo meio escuro.

Produção e Reportagem de Diógenes Muniz

Revista Trip 

Ora, quem não conhece a revista não sabe que ela é do estilo MTV, ou seja, do deboche surtista e anarquista, um sarro, com muita inteligência. Para mim, a reputação da revista Trip subiu como um foguete.

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