terça-feira, 23 de junho de 2015

Alemão Dominado

Se eu chorasse, teria chorado pra caralho depois de ter assistido ao filme Alemão e escutado o rap do Mc Marechal - É a Guerra Neguin no final. Sozinho, no meu laptop, encontrei este filme inteiro no Youtube, imagem terrível mas deu pra assistir e entrar inteiramente no clima.

Desculpem o palavrão, mas depois de ter escutado tantos em tão pouco tempo, eles ficaram encrustrados no meu ser neste momento.

Aquele não é o meu Brasil, não fui criado em favela, não falo aquele linguajar, mas aquele é meu povo, por mais diferente que eu seja, todos somos brasileiros. O filme é tensão do princípio ao fim, mas é filme de macho para macho. 

Cauã Reymond na favela do Alemão é Playboy, o drug lord da maior
e mais perigosa favela do Rio de Janeiro
Me deixou exaurido, como se tivesse levado uma surra, cá no silêncio do meu quarto, escutando através de headfones, na tela maior acoplada, panorâmica, para ver a desgraça, balas, tiroteios, palavrões o tempo inteiro, uns em cima dos outros, e verdades cruas, vidas expostas, heróis camuflados. Quase dava para sentir o cheiro do suor dos malandros.

O filme é sobre o processo de tomada da polícia e do exército ao morro do Alemão no Rio de Janeiro pelas tropas brasileiras. Uma polícia corrupta que quando subia ao morro era para extorquir, provando que nem todo mundo é corrupto neste país abençoado por Deus.

O filme é tido como ficção, mas é baseado em pesquisas, relatos e matérias jornalísticas. A operação iniciou em 2007 como a retomada das favelas cariocas através da ação militar do Estado. Já vi outros documentários que passaram na TV australiana, inclusive mostrando assistentes sociais hoje em dia que foram ex-traficantes, como se tal coisa pudesse acontecer. Pois é, aconteceu, e tudo é possível nesta pátria do Evangelho.

Um thriller de verdade, nas suas portas
Quando eu vivia no Brasil já sabia que vivíamos uma guerra civil, mas eu não conseguia sequer citar estas palavras porque as pessoas da minha classe eram todas alienadas. Para elas era como se favelas não existissem. Podíamos viver nossas vidas inteiras em luxo sem sequer tomar conhecimento delas. Para gente de nossa classe média, as favelas eram apenas um quadro colorido de decoração do Rio de Janeiro, enquanto circulávamos lá embaixo nos lugares sofisticados e cercados de gente bonita. Viveríamos a vida sem colocar os pés ali.

E onde havia pobres, desviávamos do caminho cotidianamente, porque alí com certeza haviam crimes. Aquele Brasil nós não conhecíamos e talvez jamais viéssemos a conhecer, apesar da insistência de muitos cineastas que teimavam em mostrar apenas aquele lado de nossa sociedade, como se o Brasil fosse inteiramente uma favela analfabeta, violenta e miserável. 

Tanque brasileiro no Alemão
Mas eles estavam certos, aquele Brasil não só existia como era o mais evidente e chocante, o mais inadmissível e absurdo, o que mais chocava os estrangeiros. Se fôssemos azarados podíamos ser acertados pelas famosas balas perdidas das guerras do narcotráfico, bem ao alcance das piscinas dos prédios ricos das orlas marítimas, onde mora a fina flor da sociedade aristocrata que dos morros só compra drogas e talvez se atreva a ir a um baile funk só pela paixão pelo perigo exótico como um esporte radical regado a adrenalina.

As coisas mudaram como ninguém nunca jamais esperaria que mudassem. Mudar como? Haveria de existir heróis que se sacrificassem para salvar a maioria das garras da dominação dos traficantes de drogas sempre muito bem armados, os donos do pedaço, os donos da vida e da morte.

Comboios com centenas de policiais libertadores do Alemão
E estes heróis apareceram, com o apoio de um governo onde a honestidade e decência estavam na frente, libertaram o Alemão e outras tantas favelas igualmente dominadas pelos marginais, pelo demônio, e hoje aqueles lugares são subúrbios onde as famílias que alí moravam podem voltar a viver como todo mundo, normalmente. As favelas viraram atração turística, e o próprio Alemão recebeu um bondinho suspenso que por si só já é a própria atração turística.

O que eu tenho a ver com aquele drama? Mesmo sendo das classes abastadas, eu sofria. Eu via aquilo acontecendo e não podia esquecer, estava dentro da minha alma. Cada notícia ruim que saia daquele ambiente me chocava, me prostrava, me fazia me perguntar, meu Deus, como é que vamos dar um jeito nisso? Parecia não haver mais jeito. Foi quando o partido dos trabalhadores ganhou o poder através do povo, e tudo mudou. Levou um tempão, mas 3 mandatos foram capazes de mostrar que o Brasil tinha jeito, e tudo de ruim que lhe acontecera por tantas décadas podia ser revertido.

O choro de amargura de viver num país daquele jeito, guardado
a sete chaves, pois homem não chora, homem quebra as coisas,
dá gritos e porrada...
A reviravolta começou justamente quando eu deixei o Brasil. Todo este tempo, todos estes anos, e eu longe, assistindo de camarote, sem participar.

O objetivo do governo do Rio de Janeiro, sintonizado com o governo federal nos objetivos, foi pacificar as comunidades dominadas pelo tráfico, e implementar a política das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

O complexo do Alemão era considerado o lugar mais difícil de ser ocupado devido à extensão do território e da superpopulação. O Serviço de Inteligência do Estado então decidiu colocar policiais infiltrados, espalhados pelo Complexo.

Com Caio Blat, Gabriel Brasa Nunes, Marcelo Melo Jr., Milhem Cortaz, Otávio Müller, Mariana Nunes, Jefferson Brasil, Antônio Fagundes e Cauã Reymond, produtor associado, o playboy líder que acabou deixando o morro em paz, com roteiro de Gabriel Martins, ideia e produção de Rodrigo Teixeira, produção executiva de Raphael Mesquita e Ângelo Defanti e direção de José Eduardo Belmonte.

 Os heróis, futuros veteranos da guerra do Alemão
Mas, e os nomes dos heróis de verdade? Estão numa parede lá no alto do morro? Se fosse aqui na Austrália, eles seriam lembrados para sempre em um monumento reverenciado todo ano. Tais lutadores mereciam muito mais respeito pela guerra ser dentro de casa, e não no Iraque.

Então porque aqueles lugares tem muita gente feia, mal vestida, pobre, mal educada, grosseira, fora de forma fisicamente, aqueles lugares não prestam? Sempre tive consciência de que tudo se dá por mera falta de dinheiro. Se as pessoas pudessem viver normalmente, elas haveriam de se cuidarem, e todos os seres humanos se tornariam bonitos e felizes como os anjos. Tal como as novas classes médias que vejo nos aviões hoje em dia. As mesmas novas classes médias que infelizmente estão se deixando influenciar pelos seus ídolos de classe média alta, e tomando partido contra o governo que lhe deu poder. É assim, só tem cachorro no mundo... mas o que é teu tá guardado...

Alemão, o filme
No meu período de vida ainda fui presenteado de ver tal coisa acontecendo, o Brasil renascendo das cinzas, da destruição, dos roubos, das falcatruas e da corrupção, pois esta guerra contra a corrupção nacional já deveria ter acontecido desde que nasci, mas só pode acontecer com o PT no poder, quem mais

O Brasil em que eu vivia, o Brasil de antes do PT, eu não queria ver, não queria fazer parte, me envergonhava de ser brasileiro. Hoje eu me orgulho de ter nascido no Brasil e de jamais ter perdido minha brasilidade, a qual nem mesmo eu tinha consciência de que ela existia. 

Foi vivendo na Austrália enquando o Brasil arrumava a cama que me descobri brasileiro demais, como jamais viria a supor se não tivesse saído daí. Foi observando esse povo daqui, esta sociedade tida como avançada, que comecei a dar valor ao que deixei pra trás, aonde ainda tinha ficado todas as minhas raízes, minha família, meus amigos, as famílias e os amigos dos amigos. E como tem gente boa no Brasil.

Mas também tem muita gente ruim. O momento atual é justamente dessa separação do joio do trigo, e ela está acontecendo mundialmente.

Trailer do filme Alemão

Novembro de 2010

Cinco policiais trabalham infiltrados no Complexo do Alemão, uma área que reúne diversas favelas e é considerada um dos locais mais perigosos do Rio de Janeiro. 

Desmascarados pelos traficantes, eles agora estão presos e aguardam que ou sejam executados ou resgatados pelas forças policiais, o que significaria na divulgação de uma missão clandestina realizada pela polícia militar. É uma tensão filha da puta...

Eu tinha vergonha de ser brasileiro quando saí daí em 1999
Eu acho que sou gay. Muita gente pensava que eu era gay quando era jovem. Não sei se quebraram a cara, mas sei que não me tornei gay como quanta gente queria. Este preâmbulo é para misturar aqui o quanto os homens podem fazer de coisas boas quando eles se amam, sejam eles gays ou não, pois homens não-gays também se amam. 

Uma prova está no pai, um delegado de verdade, que perdeu o filho que foi um dos infiltrados na favela do Alemão. Um filho de quem ele vai ser orgulhar a vida inteira, mesmo que não tenha recebido as honrarias como se fosse um veterano de guerra num país de cultura inglêsa que cultua os seus soldados. Verdade que não deixei meu filho ser soldado pra não passar por uma destas...

Eurovision 2015

A mistura que quero fazer é com o festival de música européia chamado Eurovision deste ano, 2015, que aconteceu a cerca de um mês atrás, e do qual participou a Austrália, que é asiática mas tem sangue ocidental e deu um jeito de se infiltrar assim como Israel e até o Canadá já participou com uma cidadã francesa. O festival é uma casa de Noca.

Nadav Guedj - Golden Boy (Israel) - LIVE at Eurovision 2015 Grand Final

O festival este ano me impressionou mais do que nos anos anteriores, exceto por 2012 que para mim foi o melhor que já assisti (acho que só assisti a uns 3 ou 4). Uma das músicas que mais me chamou atenção foi a dos israelenses. Com batida muçulmana, típica do oriente médio, e misturando danças masculinas com certos trejeitos femininos, a música se chamou Golden Boy com um carinha de 16 anos que mais parecia ter mais de 30, Nadav Guedj, vencedor de um concurso ao estilo do Australian Idol, American Idol, X-Factor, estas coisas, lá de Israel. O cara arrumou três dançarinos que criaram certos passos que até os soldados na caserna gravaram e postaram no Youtube, sendo penalizados por isso. Gostei tanto que até esqueci momentaneamente que existem muros da vergonha na faixa de Gaza...

Como dançar como um golden boy israelense

Ontem recolhi algumas músicas para meu MP3 de alguns discos que tenho em CDs, e algumas do Eurovision deste ano, incluindo remixes que são meus preferidos, e então revi a dança dos Golden Boy. Acabei descobrindo a identidade deles, e também que o mais simpático, Dor Raybi, é um bailarino de vanguarda que tem um vídeo próprio no Youtube. O que parecem rapazes comuns na verdade são dançarinos com prática. Sim, eu gosto de balé por isso casei com uma bailarina... eu falei "bailarinaa"... e Dor Raybi não é dor no rabin...

Dor Raybi "Still In Motion" videodance by Nimrod Peled & Alon Shafransky

Isso é para contrabalançar a barra pesada do filme Alemão. Não recomendo ninguém assistir a este filme sem antes se preparar psicologicamente e despojar-se de todos os preconceitos que possa ter na vida. É um filme muito realidade demais, muito bem trabalhado, onde os machos convencem...

Olha que eu não gosto de rap, mas esta Guerra Neguim do Mc Marechal me tocou profundamente como o grito que sempre esteve preso dentro da minha alma e que nunca botei pra fora. O grito de viver num país em que existia tal coisa sem que eu conseguisse sequer sensibilizar quem estava à minha volta.

Parte do elenco de Alemão, a bela miscigenação brasileira
Praia do Futuro

E por falar em gays, também comecei a assistir ao filme Praia do Futuro com meu ídolo Wagner Moura. Ora, pois não é que me decepcionei com o meu ídolo? 

Valeu seu esforço, mas infelizmente não consegui nem chegar ao meio do filme. Ele é extremamente devagar, e não aguentei. Tentei avançar um pouco, mas desisti. Não me pareceu ter muito pé nem cabeça. E só me lembrei dele agora porque também tem um alemão na jogada. 

Me parece que Wagner é gay no filme, pelo menos ele faz muito bem uma cena de sexo "por baixo" em matéria de sons. Assim, do meio do nada, transa-se como se fosse dar uma mijada. Faltou contexto completamente, além de que de gay ele parece não demonstrar quase nada, exceto por uma maneira levemente afetada e uma voz suave de adolescente. Salva-vida não é exatamente uma profissão adequada...

De repente já estão lá na Alemanha. Como? Porque? Bem, desisti de querer saber. Detestei a fotografia muito cheia de closes feios e extremamente demorados. Me desculpem, não deu pra aguentar. Tem uma dica: ele não conseguiu salvar um alemão de morrer afogado, e acabou se enrabichando pelo namorado do alemão, outro alemão. Será que Warger queria se vingar por ser o herói brasileiro da série Tropa de Elite mas não ter participado das tropas no filme Alemão? Não funcionou, ele deu um gay muito pífio...

Wagner faz um gay totalmente fora do contexto, que tem "bond"
(ligação emocional) até com o irmãozinho mais novo. Suponho que
esse pessoal precisa estudar mais para parar de divulgar coisas
irrealistas... eu falei "irrealistas", não "israelitas"...
Como consolação posso dizer que também não aguentei assistir a mais uma pá de filmes na vida, como Thor, como o ator revelação australiano Chris Hemsworth, a série O Senhor dos Anéis, qualquer filme do Monty Python, a série Dr Who, e uma fieira de outros, etc. Até esqueci a série mais insuportável, Sex in the City, onde os homens não existem.

Até a paisagem mostrada no filme Praia do Futuro foi a pior possível e parecia mais uma praia sem futuro. Quando eles começaram a cantar uma música francesa que também detesto, com voz de tarágua rachada, aí foi que deu a gota serena e piorou tudo, e acelerou meu dedinho para adiantar o filme. Larguei o alemão da Praia do Futuro para assistir ao Alemão da favela que estava ali do lado, na prateleria virtual do Youtube. Sem a menor comparação. Me arrasei emocionalmente mas valeu, saí renovado, totalmente chorado. É a guerra neguin...

Mc Marechal, É a Guerra Neguin, com cenas do filme Alemão

2 comentários:

  1. Israel participa do Eurovision pq não pode participar de nada com "seus vizinhos" do Oriente Médio, por motivos óbvios, inclusive até para as eliminatórias da Copa.A Australia entra como convidada, por transmitir à 30 anos o festival(uma das normas para concorrer) e também por fazer parte da Comunidade Britânica, com o privilégio de ir direto à final.

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