domingo, 6 de setembro de 2015

Qualidade do Jeitinho Brasileiro VI

Todos nós somos iguais
Como mais um episódio da série Jeitinho Brasileiro, gostaria de acrescentar aqui outras implicações, não propriamente do "jeitinho brasileiro no exterior", porém mais pelo lado do "Espiritismo brasileiro no exterior".

Porque o Espiritismo respeita as pessoas e nos ensina a tratar todo mundo igual, do mesmo jeito, não importando raça, cor, credo, cultura nem vestimenta. Me gabo de conseguir fazer isso sem esforço já faz muito tempo desde que deixei os cueiros e de achar que pobre era outra raça no Brasil, logo ao entrar na adolescência como um conservador branco, racista e reacionário (direitista) cheio de titica-de-galinha na cabeça e uma jactância de quem já se considerava adulto aos 14 anos.

Pois bem, aqui no exterior, e no meu trabalho, de vez em quando aparece um bicho papão anglo do cliente que todo mundo fala mal dele como intragável e intolerante. 

Grumpy, o anão Zangado de Branca de Neve
Geralmente são os caras que lidam mais de perto com os contratados como nós, são caras especialistas que conhecem o trabalho e o sistema muito bem e muito mais do que os outros que geralmente são bonzinhos e tolerantes por causa disso, com muitos anos de conhecimento e experiência, e o principal fator do cara ser antipático é porque ele com frequência discute com os contratados que geralmente não conhecem tanto o ambiente quanto ele, o que o faz detectar quando os outros estão mentindo ou inventando desculpas, o que o irrita profundamente. A constância das tentativas de ludribiá-lo com meias-verdades anos após anos acabam formando sua fama de "grumpy" (enfezado), que espanta todo mundo.

É quando chega o brasileiro "espiritualizado" com seu "jeitinho" à tira-cólo e entra em cena. Seu princípio de vida é o da transparência, ou seja, ele diz o que sabe e o que não sabe sem medo de represálias ou de falsas avaliações porque acredita na honestidade de princípios. É o preto-no-branco, ele é ele mesmo, autêntico, mata a cobra branca e mostra o pau preto (ou seria o contrário?).

Daí, este brasileiro vai descobrindo que o bicho papão, de animal selvagem, não tem nada, que ele não consegue se indispor com o apregoado antipático, e ao contrário, parece que sempre é muito bem recebido e merece boas e autênticas explicações, com direito a piadinhas e tudo, sobre seja o que forem suas indagações, vindas de um real especialista que conhece do negócio, sabe das coisas e sabe explicar também. O cara conhece o negócio dele e sabe como levantar... polêmicas.

Então, quando alguém relembra de novo a antipatia do sujeito numa reunião, o brasileiro diz, humildemente, ué, comigo ele nunca foi antipático, muito pelo contrário. 

Olhos em brasa lhe fitam de cima abaixo a dizerem em silêncio, quem é este mexicano insolente, mal-educado, atrevido, prepotente, ensimesmado, arrogante, orgulhoso, indômito, emproado, túmido, empafiado, snob, ventoso, topetudo, desdenhoso, esnobe, rompante, ostensivo, metido, jupiteriano, inflado, prepotente, convencido, jactancioso, fátuo, entufado, amaneirado, nojento, pedante, presumido, assoberbado, sobranceiro, pretensioso, presunçoso que se atreve a nos desdizer em público, na frente de todo mundo?

Ora, ele sempre é legal comigo, desculpem, perdoem, clemência...

O barbudo velho Karl Marx
Certa vez fui exposto a uma clara altercação com um destes sujeitos considerados crápulas emproados e aterradores. Fui jogado numa sala fechada a fim de discutir um assunto altamente polêmico em que ele não se convencia de jeito nenhum que estávamos fazendo a coisa certa. 

Sem me alterar, porque para mim todo ser humano é sempre igual, é só esperar o efeito do ecstasy passar, depois que ele, bem enfezado, expôs o problema no quadro-negro-branco com seus riscos e arabescos irritados e do alto de seu porte gordo e imenso, ocupante de um grande espaço físico no meio daquela barba branca de Papai Noel, comecei a minha explicação humildemente, riscando aqui e ali, porém assertivamente alfa e sem titubeio, porque eu sabia do que estava falando.

Discussão vai, discussão vem, tendo suas várias tentativas de me derrubar nalfragado, e a fera vai amansando. Vai enxergando a razão das coisas, ligando os pontos com sensatez, enquanto, para todas as questões levantadas por ele em cima do seu mal humor, eu tinha uma resposta clara e lógica na ponta da língua para arrotar, de quem sabia das coisas... também. 

Se atreva a provar que estou errado...
O bate-boca não durou muito, e logo o leão está manso, e chega até a esboçar um sorriso e dizer uma piadinha no final. Quando acabamos, ele fica de acordo com meus argumentos e reconhece que não havia pensado a coisa sob aquele ângulo... pra esquerda. 

E assim eu provo mais uma vez que não existe bicho papão no trabalho, apenas chefes que se irritam com as tentativas dos subordinados de enganarem eles achando que chefes não trabalham e não sabem de nada, aquela velha crença dos perdedores.

Mas é verdade, todo mundo que é sensato e tem fama de intragável, comigo amansa. 

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