quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Pulando Brejo ao Dispor

Moda sertaneja (estou brincando
 mas bem que poderia ser, não?)
Eu ia no meu caminho à pé para o trabalho outro dia quando passou na minha frente um senhor do meu tamanho, careca e mais largo do que eu. De costas parecia um mafioso, mas estava muito bem vestido, talvez com um terno italiano, impecável, eu não sei a diferença. Porém havia algo errado, suas meias cor-de-laranja estavam aparecendo. Comecei a observar direitinho como é que ele não havia percebido aquilo. O terno era azul marinho, quase preto, os sapatos pretos, mas as meias de um laranja berrante. Observei que era só o calcanhar delas e talvez alguns detalhes alaranjados. A calça era coronha mesmo, pulando brejo, mas não era por estar na moda.

Acontece que se o terno não foi feito sob medida, dificilmente se encontra todos os comprimentos de calças nas lojas, então cada pessoa improvisa, pois custa caríssimo mandar fazer a bainha. Ou ela é curta demais ou comprida demais. Você paga mais caro para consertar a calça do que pela própria calça, e nenhuma loja faz o serviço como eu era acostumado no Brasil.

Então todo mundo usa o que comprou do jeito que veio, e de vez em quando aparece um destes pulando brejo. No meu caso, para as calças compridas demais, uso sapatos de saltos altos... quer dizer, tipo botas com solados de pneu... não confundam a obra do mestre Picasso com a pica de aço do mestre de obras... (será que isso é pornográfico?)

Para as calças do meu tamanho, uso sapatos normais. Mesmo assim às vezes minha mulher encurta alguma calça para mim, além de pregar meus botões, que ela detesta, mas faz. Talvez seja isso o que faz as australianas parecerem estranhá-la, é porque ela faz as coisas para o marido. Na Austrália é o marido quem tem que fazer as coisas para a mulher, não basta ser provedor, que ela costuma ser também, e se uma mulher age ao contrário, ela é traidora da raça.

Brasileiros em Copacabana protestando contra
a visita do Papa. O que será que tem uma
coisa a ver com a outra? Não morei na
história. Aprenderam esta com os australianos
que adoram se vestir de mulher?
Case com uma australiana se você é macho.

Laranja Azeda

Antes de sair atrás daquele homem-laranja, quando eu vinha saindo do estacionamento, vi que alguém vinha na minha direção, ou seja, contrária a quem estava chegando. Era a secretária do nosso escritório, e na imensa ala coberta só estávamos os dois de almas vivas naquele momento. Parecia uma estranha, e quando resolvi focar pra ver se conhecia, a reconheci mesmo embalada para presente (com casaco e enxarpe... também alaranjada). O que seria normal de se esperar seria no mínimo um sorrisinho de qualquer brasileira, mas ela é britânica, ou seja, pior do que as australianas. Ela passou direto, virou para seu carro, e "fez" que não me viu. 

Esse pessoal pensa que engana a gente. Eles fingem que não vêem, mas qualquer coisa, se admoestados, eles dizem, ah, nem vi, "sorry"! Era de se esperar que ela dissesse, "vim pegar uma coisa no carro, espera aí que volto com você" e ir conversando. Mas jamais vi tal coisa na Austrália. Pode acontecer com homens, com mulheres, mas com mulheres e imigrantes, a mistura é impossível. Certamente que há excessões, estou falando do comportamento padrão em geral, mas serve pra você saber o que pode esperar (ou não esperar dos anglos).

Hipo-críticas, hipopótamas críticas hipócritas
Como é que brasileiro vê todo mundo mas australiano não vê ninguém? O pior é que eles disfarçam muito bem, para todos os efeitos ninguém vê ninguém, mas todo mundo vê tudo. Se você conversar com eles descontraidamente um belo dia, vai ver o quanto eles observam até o que não deve ser observado. E o que é pior, eles deduzem "inteligentemente" o que geralmente não é verdade também. Estas pequenas atitudes moldam uma sociedade inteira e suas gerações... de hipopótamos hiper-hipócritas.

Outro dia ficamos observando uma mulher levando seu cachorro pra passear. O cachorro galgo, magérrimo e esguio igual à dona, queria porque queria chegar perto de um poste enquanto ela esperava o sinal de pedestres abrir para ela atravessar a rua conversando com um homem igualmente esquálido. O cachorro puxava a cordinha, ela puxava de volta, trazendo ele para seus pés. Ora, que maldade. Ela não prestava a menor atenção ao cachorro, ou seja, era daquelas que usam o cachorro para caminhar e não se sentirem sozinhas, mas eles são apenas acessórios. O coitadinho estava até com o rabo entre as pernas.

Lago artificial Burley Griffin em Canberra, capital da Austrália
Lendo um artigo no jornal este fim de semana vi que uma senhora de Canberra, Austrália, descasou-se e resolveu matricular-se num destes sites de arrumar namorados. O primeiro não deu certo, mas o segundo está com ela até hoje. Ao se conhecerem, marcaram para um passeio em volta do lago Burley Griffin em Canberra. Ela disse que se encantou com o almoço que ele trouxe estilo pique-nique e que, por causa disso, gastaram seis horas conversando e caminhando. Fiquei pensando, você vê um casal conversando e caminhando na beira do lago por aqui, mas jamais vai imaginar que eles acabaram de se conhecerem e é por isso que parecem tão "unidos".

Estas são impressões bem australianas, você pensa que está vendo uma coisa, mas está vendo outra. Você traduz como se fosse na cultura brasileira, e então tudo parece muito normal, porém só muita perspicácia e muitos anos de convivência é que vão lhe dizer que as coisas não são bem assim.

Está com fome? Por favor, disponha do lixo à
vontade e adequadamente... não! Por favor,
desfaça-se do lixo corretamente.
Disponha, Meu Bem

Hoje meu chefe estranhou uma palavra escrita num documento projetado na parede. A palavra era "disposition". Ele achou ridículo ela ser usada para indicar que algo havia sido jogado fora, quando "dispose" se refere principalmente a "disposição" física, estar-se "indisposto", estas coisas. Ainda bem que ele saiu-se com este comentário porque assim não me sinto tão sozinho nas minhas conjecturas sobre como o idioma Inglês muitas vezes é bem "silly" (doido). "Dispose" em geral não significa "disposição" como nós, brasileiros, tendemos a entender. Trata-se de "jogar fora". 

Quando você "dispõe" de algo, você não tem a coisa "disponível" em Inglês. Então, se você diz que que "dispõe de muitos amigos" e traduz assim, "I dispose many friends", as pessoas vão sair de perto de você e ficar olhando com cara de rejeição. Como é que alguém diz que joga muitos amigos fora? Do jeito que eles são carentes...

Quer dizer, muitas vezes, as mesmas dúvidas e dificuldades que temos com certas palavras em outra língua não é por causa de nenhum parafuso faltando na nossa cabeça, os nativos costumam ter dificuldades também, porque a coisa é doida, tronxa ou errada mesmo. 

Muito obrigada. Disponha.

F-e-r-r-o-a-d-a  T-r-i-v-i-a-l

Existe uma competição na Austrália para crianças que é para elas soletrarem as palavras. Ora, esta competição jamais poderia acontecer no Brasil, pois ia ser muito fácil soletrar as palavras em português, pois fala-se o que se ouve e se escreve. O lance é que no Inglês não é assim.

Além de ser preciso você ouvir uma palavra pela primeira vez antes de sair falando ela por aí pois você será muito sortudo se acertar pela primeira vez apenas pela intuicão, nem ela se escreve como se pronuncia, nem se pronuncia como se escrete, e nem como as outras de escrita semelhante.

Abelhas alfabetizadas
Isso aumenta muito mais a dificuldade de se advinhar como é que se escreve ou se soletra uma palavra em Inglês. Por isso existe a competicão que leva as coitadinhas das crianças lá pra frente de um palco com um microfone só para fazerem a tarefa de... soletrar. No fim, elas são realmente heroínas. Para nós parece uma coisa imbecil, mas para eles realmente é um desafio. As coitadinhas são chamadas de "spelling bee" (abelhas soletradoras). Vai entender de onde foi que tiraram isso e provavelmente você vai acabar indo parar num velho filme de Monty Python que parece que todo mundo assistiu quando era criança menos você.

Mas, deixando a preguiça de lado e pesquisando o Google por um segundo, descobrimos que "bee" não é só abelha, é também encontros comunitários onde as pessoas fazem alguma coisas juntas, palavra norte-americana, gealmente ajudando a alguém, como um esforço comunitário, um mutirão, o que não deixa de ter semelhanças com uma colméia. (http://spellingbee.com/origin-term-spelling-bee)

Hoje também me deparei com uma nova expressão, "then you are it". What the hell? Que diabos quer dizer isso? "Então você é 'ele', você é o tal", ou "Então você é aquilo, aquela coisa". Na realidade ela significa "então você está sozinho" (no escritório de manhã cedo). Oh, não, fulano está também mas deve estar fumando lá fora. 

Saco pardo com garrafa de bebida dentro,
hipocrisia inexplicável para brasileiro
Além disso, os australianos (e os anglos em geral, lembre-se que quando falo deles, falo de toda esta cultura inglêsa similar pelo mundo) tem outra brincadeira que achamos totalmente sem graça, que só tem graça para eles. Advinhar o título de um filme através de mímica.

Lembro que já brinquei disso no Brasil, mas não parecia tão "weird" como aqui. Nós temos uma dificuldade absurda de participar destas brincadeiras tão comuns entre eles, porque simplesmente nós provavelmente assistimos a todos os mesmos filmes que eles, porém com título em português, e jamais iríamos gravar o título em Inglês. E o pior são os códigos que eles usam, os gestos, como fazíamos com as mãos no Brasil para indicar proximidade da advinhação, estas coisas. Melhor não se meter a fazer.

É por isso que perdemos muitas oportunidades de nos "sociabilizarmos" com eles, porque eles adoram "noites de trívia" (trivialidades). Nosso filho acabou tornando-se mestre campeão em trivialidades. Só perdoo ele porque sempre foi primeiro de turma, senão ele não ia ter sossego pra participar destas coisas sem as censuras do pai e da mãe.

As pessoas comuns adoram falar abobrinhas, e como não perdemos tempo com estas coisas, também não nos sentimos bem participando destas centenas de "noites" de trivialidades. Claro que um dia nos convidaram e fomos pagar mico. Voamos em quase todas as perguntas, mas até que cheguei a acertar algumas. Pra ganhar garrafas de bebida, claro. A cultura do alcoolismo aqui na Austrália é ostensiva. 

Loura bebendo do presente que o marido ganhou num bar em San
Diego da Califórnia
O Pardo de Saco Pardo

E por falar neste assunto, sabe como se carrega uma garrafa de "cana" pela rua com "educação"? Embala-se num saco de papel pardo e bebe-se do saco... ora, porque tal tradição? Saco plástico não funciona? Não, tem que ser de papel e pardo. Então todo bebum no meio das ruas carrega seu saco, e encontra-se sacos em toda parte, abandonados. Os homens australianos não têm amor aos seus sacos pardos... pelo menos nunca vi uma mulher carregando um saco. Elas ainda não descobriram esta particularidade masculina? Não acredito. As feministas andaram roubando todas as "virtudes" masculinas e se apoderando delas, mas esqueceram desta.

De novo, 1 minuto de pesquisa e a razão é norte-americana de novo (somos ou não somos o quintal da América aqui também, na Austrália? Lembram quando tal quintal era o Brasil? Ah, não lembram não, desculpem...)

Cultura surfistinha: enquanto os homens gostariam de mostrar seus
"brown bags", as brasileiras se passam por p... mas não são.
Anos atrás inventaram uma lei chamada lei da garrafa à mostra, ou "recipiente aberto" ("open container") a fim de diminuir-se o número de bebuns em áreas públicas, proibindo-se portar garrafas de bebidas em público. O remédio parece ter sido muito simples, botar a garrafa no saco marrom. Suponho que acabou virando tradicão e símbolo de orgulho, não sei porque não sou bebum em nenhuma língua.

Mais uma bu..., sorry, faceta da hipocrisia.

"Brown bag" também significa apresentação no trabalho. Você faz uma apresentação para dar na sala de conferências, e espalham que você tem um saco marrom para mostrar pra todo mundo. O termo vem das refeições levadas para o trabalho em sacos de papel antigamente, e tais apresentações eram consideradas como sessões rápidas na hora do almoço... e haja diferenças culturais... brasileiro nunca levou almoço em sacos para o trabalho mas com toda certeza adorariam mostrar os seus em público na hora do almoço...

Um dos carros mais feios do mundo, a Toyota FJ Cruiser 4x4 tem seu
charme, até eu já dei uma olhada por dentro, com aquela porta
traseira pela metade que só abre quando a outra está aberta e seu
pára-brisa tão reto que precisa de 3 limpadores.
 As mulheres adoram
o que lhes parece uma fortaleza sobre rodas.
Quer Brincar com a Minha Toyota?

E para finalizar, acabo de assistir uma propaganda sinal dos tempos na TV australiana: asiático faz propaganda de Toyota 4x4 bem no estilo do homem sendo passado pra trás pela mulher australiana, uma constante antipática na TV, nos jornais e nas revistas. só que com uma diferença. 

Depois de levar lama na cara por empurrar o carro da dondoca, ele decide que tem que comprar uma 4x4. Então passa a elogiar uma tremenda Toyota na frente da loja e balançando a chave, quando a namoradinha passa e arrebata-lhe a chave. A diferença é que ele puxa uma cópia das chaves do outro bolso e sorri como quem diz, a idiota pensa que me pegou. 

E agora? Isso aqui é Mandarin ou Cantonês?
A diferença é que os asiáticos ainda não se submeteram às mulheres como acontece na Austrália, onde os homens se passam por idiotas sem reagirem. Ele reagiu. 

Uma luz no fim do túnel para a macacada masculinista, salve os asiáticos que estão comprando tudo na Austrália. E viva a China. Você já pensou que algum dia a sua torcida ia ser toda dos chineses?

Eu já comecei a aprender Mandarin... manda aí!

Igual é um caminhão de japonês: Dekotora, decorado ao extremo,
a do japonês me deixa completamente alucinado

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